terça-feira, 31 de março de 2009

“OS MEUS AMIGOS TODOS ESTÃO PROCURANDO EMPREGO”...


Por que, meu Deus, dentre os milhares de filmes existentes no mundo, inventei de rever “São Paulo S/A” (1965, de Luiz Sérgio Person) antes de dormir? Por quê? Logo este filme, que pontua tão bem a angústia passional quando atravessada pelas agruras do capitalismo? Logo este filme, em que o jovem Walmor Chagas é mostrado entre os anos de 1957 e 1961, na São Paulo desenvolvimentista, na miraculosa era dos “automóveis fabricados no Brasil”, sofrendo por amor? Logo este?

A trama é simples: Carlos é um rapaz de 26 anos que, ao graduar-se num destes cursos técnico-industriais, consegue um emprego na fábrica da Volkswagen. Apaixona-se por Hilda (Ana Esmeralda), um mulher que vive de excessos, “só quer amar” e suicida-se após repetir várias vezes que é feliz. Apaixona-se por Ana (Darlene Glória), mas esta mente, não admite que sofre, não suporta mais ter que visitar a sua mãe doente num asilo. Apaixona-se por Luciana (Eva Wilma), que é uma moça doce e discretamente ambiciosa, mas humana e realmente devotada e apaixonada por ele, em retorno. Casa-se com ela, mas o cotidiano da fábrica transforma-o em mais uma engrenagem derruída do Sistema. O casamento é falido, suas vidas são falidas. Dor e realidade. Incrível como São Paulo na década de 1960 tem a ver com Aracaju na primeira década do século XXI. O capitalismo apagou as distinções entre tempos e lugares: é tudo agora uma massa disforme de pessoas que buscam “um lugar no mundo”, enquanto zanzam de um lado para o outro, em busca de pequenos prazeres compensatórios.

Não falarei mais sobre o filme. Pedida obrigatória (e surpreendente) para o Cine-Gomorra Nacionalista deste dia 02 de abril.

“Sem trabalho eu não sou nada, não tenho dignidade
Não sinto o meu valor, não tenho identidade
Mas o que eu tenho é só um emprego e um salário miserável
Eu tenho o meu ofício, que me cansa de verdade
Tem gente que não tem nada e outros que tem mais do que precisam
Tem gente que não quer saber de trabalhar”

(“Música de Trabalho” – Legião Urbana)

Wesley PC>

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