segunda-feira, 30 de março de 2009

CARTA ABERTA A JULIANA AGUIAR:


“Cada mulher deve levar em conta seus próprios problemas antes de agir eficazmente no seu meio; senão ela estará apenas acrescentando o peso de suas preocupações pessoais às da maioria já sobrecarregada. Sua contribuição individual, sua coragem, viram uma forma de multiplicação celular, como o crescimento orgânico. Elas se integram à síntese geral”.

Não sei se tu já leste estas frases, mas elas foram escritas por Anais Nïn (1903-1977), escritora feminista pioneira, da qual eu e tu locamos, há exatos 7 dias atrás, a compilação de artigos “Em Busca de um Homem Sensível”, onde se encontra as “Obseravções sobre o Feminismo” de que eu extraí a epígrafe acima. Impossível ler qualquer sobre esta mulher e não pensar em ti, particularmente, no pior de ti. Sei que parece muita pretensão de minha parte estar aqui falando sobre a existência de um “pior” em ti, mas com isto me refiro a alguns aspectos que considero contraditórios em seu discurso e a um problema pessoal que eu tinha em relação a ti: cara Juliana, até pouco tempo eu não acreditava em ti, em não confiava em tua pessoa, por mais que sempre me tenha sido muito agradável estar a teu lado. Não sei se já conversei sobre isso contigo e, se não, peço desculpas por estar trazendo o assunto à tona pela primeira vez desta forma, mas, é por considerar esta desconfiança superada (ou melhor, ressignificada) é que podemos aqui conversar de homem para mulher, de pessoa para pessoa.

Já leste alguma coisa do livro citado acima? Se a resposta for sim, espero que tenhas sentido o mesmo incômodo que eu no que diz respeito à organização alinear dos textos, que faz com que interessantes depoimentos da autora sejam confrontados com declarações contrárias de uma época anterior. Por exemplo, lamento muito quando ela diz que, ao ver filmes dirigidos por Federico Fellini ou Bernardo Bertolucci, ela admita ter desejado que os protagonistas masculinos (ou machistas) dos mesmos tivessem morrido o quanto antes, para, no artigo supracitado, publicado em 1972, eu pudesse ler estas maravilhosas linhas, com as quais tenho certeza que concordarás:

“Vejo muitos pontos negativos no Movimento de Liberação da Mulher. Descobrir e ler escritoras é mais importante do que atacar escritores; a crítica dos filmes feitos pelos homens conta menos do que fazer filmes de mulheres. Se a passividade das mulheres irromper um dia como um vulcão ou um terremoto provocará apenas um desastre, e mais nada. Essa passividade pode ser transformada em vontade de criar. Se ela se exprime através da guerra, está seguindo os métodos dos homens”.

Como eu concordei com esse trecho! Como eu fiquei feliz ao lê-lo e ao imaginar que, à distância, tu talvez estivesses a lê-lo também. O que me leva de volta aos meus antigos problemas pessoais contigo: Juliana querida, quando eu disse mais à frente que não confiava em ti antigamente, isto dizia respeito a uma falta crescente de oportunidade de conversarmos á sério, visto que só trocávamos palavras chistosas, embriagadas ou paranóicas (vide aquela conversa no mirante da 13 de Julho, ao lado de nosso amigo Ferreirinha). Somente depois que Marcos, grande objeto frustrado de meus desejos, passou a demonstrar interesse sexual por ti é que pudemos finalmente tocar em assuntos constrangedores, futucar zonas indispensáveis e problemáticas de nossas almas. Somente a partir daí é que eu pude perceber que, se este interesse do moço em pauta por ti fosse a causa do ódio extremo que ele sente por mim, sentir-me-ia deveras feliz em aceitar meu fardo, no sentido de que pude perceber tardiamente o quanto tu tens a oferecer num plano interior, para além de sua beleza física sobressalente e de sua capacidade louvável de nos divertir.

Ah, Juliana, como foi bom catar jamelões a teu lado, ver aquele filme fantasmagórico do Nagisa Oshima, registrar aquela bela fotografia em preto-e-branco de teu sono plácido, ouvir nosso amigo Wendell proferir os mais ternos adjetivos elogiosos acerca de ti, compartilhar palavras com Marcos no MSN sobre tua pessoa, ouvir Jadson confessar emocionado que te achou triste numa viagem de ônibus, construir memórias a teu lado. Juro, tudo isso me é encantatoriamente fascinante e espero ter muito mais o que viver junto a ti. Por ora, enquanto não dispomos de oportunidades aproximativas, te recomendo um filme: “Henry & June – Delírios Eróticos” (1990, de Philip Kaufman – vide foto abaixo), no qual a escritora Anais Nin é magistralmente biografada. Quem sabe, se tivermos sorte, veremos este filme juntos. Enquanto a oportunidade não chega, fique sabendo que te amo muito, de meu jeito egoísta e sincero, e que preciso discutir os escritos da Anais Nin a teu lado e, quem sabe, das demais severinas que existam neste planeta:

“Várias mulheres inteligentes, muitos homens potencialmente capazes de colaborar, afastam-se por causa das generalizações. Mobilizar todas as mulheres para um trabalho que só convém a algumas é pouco eficiente. Nem sempre o grupo é gerador de força, porque ele tem de agir em função do nível mais baixo de compreensão. O grupo enfraquece a vontade individual e destrói toda contribuição pessoal”.

Pense se tu concordas ou não com isto e depois me procure. Quero muito conversar mais e mais contigo, te abraçar, sentir teu cheiro e ouvir a tua voz firme em meus ouvidos. Orgulho-me de conhecê-la e ofereço a minha disposição para te ajudar no que precisares. Busquemos-nos mutuamente!

Wesley PC>

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