sábado, 17 de outubro de 2009

UM PEQUENO SONHO REALIZADO OU VIVA A FLEXIBILIDADE!

“Um Vestido de Verão” (1996), de François Ozon, é um curta-metragem que, desde que eu descobri a sua existência, desejo ver com avidez extrema. Pouco sabia de sua trama, mas tinha certeza de que me identificaria na íntegra. Na noite de ontem, duas sessões do mesmo filme confirmaram-me que era verdade. Obra-prima de 15 minutos!

Resumo da obra: dois rapazes supostamente apaixonados viajam para uma colônia praiana, a fim de terem um pouco de privacidade afetiva (“os vizinhos falam muito!). Um deles canta, o outro quer descansar. O primeiro insiste em cantar. O segundo segue para a praia e se banha nu. Lindo, lindo! Enquanto dorme, aparece uma jovem, que o convida para fazer amor. Ele nunca havia transado com uma mulher. Gosta. Roubam as roupas dele. Ela empresta um vestido para que ele consiga chegar em casa. Seu amante o ama, do jeito dele, e também sente ciúmes. Ele terá que devolver o vestido. Ela irá embora...

Da segunda vez que foi projetado, havia mais homossexuais na sessão, que se manifestaram avessos a “rachas”. Gritinhos heterofóbicos foram lançados em algumas cenas, mas todos concordaram que o filme é maravilhoso. “Bang bang”: a trilha sonora ficou na cabeça de todos os presentes!

“Nous avions dix ans à peine

Tous nos jeux étaient les mêmes
Aux gendarmes et aux voleurs
Tu me visais droit au cœur
Bang bang, tu me tuais
Bang bang, et je tombais
Bang bang, et ce bruit-là
Bang bang, je ne l'oublierai pás”

Longa vida a quem se pretende flexível!

Wesley PC>

E A REALIDADE SUPRIME...

Eu e meus amigos estávamos dentro de casa. Eram quase 2h da manhã. Hora ideal para um terror/drama ‘gore’. Nem bem 10 minutos se passaram e alguém percebe que a data em que um acontecimento importante se passava e a data de ontem coincidiam. Batem na porta. Um homem ensangüentado, pedindo ajuda, chorando: “eu não fiz nada, velho, e o cara jogou uma tijolada em mim”. Ele estava bêbado, exalava um pútrido odor de material fecal, mas era um ser humano clamando por ajuda. Os presentes mobilizaram-se a buscar água gelada para estancar o sangramento da ferida, ligaram para ambulâncias e táxis (só os segundos atenderam!), aplicaram gaze na cabeça do homem, conversaram com ele, a fim de mantê-lo acordado (“está doendo muito?”, perguntava em vão Rafael Torres)... O homem reforçava que era trabalhador (“estou vindo do G-Barbosa”...), demonstrava uma polidez característica e dignificante de periferia (pedia “licença” ao entrar na residência, por exemplo, ao que os outros respondiam, “o que é isso?”), agradecia por terem-no socorrido... Ao final, percebemos que sua estória estava repleta de furos, preocupamo-nos que ele estivesse envolvido em esquemas criminais mais sérios, daqueles que podem incluir os socorrentes em rixas com bandidos, mas... O que fazer? Faria sentido ver o filme que estávamos a ver ainda depois disso? Por incrível que pareça, fez. Mas...

Foto puramente ilustrativa.

Wesley PC>

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

QUANDO DÁ PARA SE IMAGINAR O FINAL UM POUCO ANTES...

“- Nos 22 anos em que estivemos juntos, nunca te vi chorar.
- As pessoas choram quando sentem que conhecem algo e sente falta disso. Eu não te conheço. Por isso, não choro”.


Tinha tudo para ser um diálogo simples, quase banal dentre os vários embates entre homem (comerciante) e mulher (ex-prostituta) no filme “Matrimônio à Italiana” (1964, de Vittorio De Sica). Porém, sentia que este apelo lacrimal voltaria antes do crédito final. Estive certo. Ela chorará!

Wesley PC>

“ME QUEDÉ POR DOLOR Y CELOS”


Curioso que precisamente esta frase seja aquele que imediatamente me faz recordar “Abraços Partidos” (2009), novo filme de Pedro Almodóvar, o qual eu acabo de ver. Talvez eu precise de mais algum tempo para tecer juízos sobre este filme enigmático e formulaico, mas, conhecidamente precipitado como sou, arrisco: pode ser o pior filme do gênio espanhol e certamente depende de conhecimento prévio e minucioso da carreira do cineasta para ser fluído, mas ainda assim é digno de nota e muita tensão emocional.

Comecemos pelos problemas: mais do que em qualquer outra de suas produções, a forma está sobressalente ao conteúdo. Supondo que tal heresia dicotômica possa ser dita sobre uma obra de arte, aqui o cineasta realiza um trabalho que, na escrita, fica abaixo de sua pujança visual, dado que cada fotograma enaltece os sentidos do espectador, parecendo por vezes uma enciclopédia pictórica, tamanha a quantidade de referências despejadas na tela. Levando-se em consideração que o personagem principal do filme é um homem que se divide entre as tarefas de diretor de cinema e roteirista e que o filme que ele realiza em dado momento reproduza quase fielmente os diálogos e situações e caracteres de “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988), é lançado o desafio: até que ponto o protagonista é um fac-símile do próprio Pedro Almodóvar? Pessoalmente, acho arriscado partir por este viés. Prefiro assumir que não entendi o que ele quis dizer e gostei do filme mesmo assim. Modéstia e sinceridade conjugam-se bem diante de peças apaixonadas de cinema.

Se existe algo que este “Abraços Partidos” é, com certeza a expressão apaixonado pelo cinema em si resume bem: cada segundo do filme, cada frase, cada pôster mostrado nas paredes, cada naco de pele exposto diante das lentes respira e transpassa amor violento pela 7ª Arte. Conforme uma amiga querida vem me ajudar criticamente: é um filme que nos obriga a estudar!


Durante a sessão, fiquei impressionado pelo modo como o diretor/roteirista estraçalha quaisquer limites imaginários que possam haver entre os conceitos de sintagma e paradigma narrativos. O truque da história dentro da história dentro do filme dentro do filme chega ao paroxismo do brilhantismo numa das mais hipersaturadas seqüências do cinema mundial: quando os personagens de Penélope Cruz e Lluís Homar fotografam-se a si mesmos diante de uma televisão que está exibindo um filme de Roberto Rossellini enquanto “Werewolf”, música de Cat Power, é executada na trilha sonora. A quantidade infinda de signos de todos os tipos misturados nesta cena breve atesta que “Abraços Partidos” necessita de demoradas exegeses para ser digerido, consumido e respeitado como se deve. Não é um filme de instinto como o eram suas produções iniciais da Movida madrileña. É um filme extraordinariamente estruturado, tal qual o plano de vingança que é revelado em dado momento, plano este que escancara mais uma referencia óbvia e solene (ao ‘film noir’ clássico hollywoodiano) e que justifica a menção titular desta postagem á dor e aos ciúmes como motivo de permanência num contexto de sofrimento voluntário. Pode parecer hermético à primeira vista, mas as pistas estão todas lá: e são geniais, mesmo que não consigam ser decifradas!

Se “Abraços Partidos” foi acusado de conter fórmulas, é chegada a hora de corrigir tal acusação e dizer que estão lá amadurecidas todas as marcas registradas do diretor: se a obsessão pelas formas circulares é, por exemplo, metonomizada na focalização de bobinas de película fílmica que se rebobinam, estas mesmas bobinas são fundidas à imagem de um lance quadrilateral de escadas; se a sobreposição de vozes alheias aos dizeres de outrem são reproduzidos na cena em que uma especialista em leitura de lábios decifra o que um casal apaixonado e interdito diz em momentos íntimos, isto torna-se parte essencial da trama montada e não mais um artifício aparentemente gratuito de virtuosismo; se a permissividade atroz dos amores obsessivos é novamente posta em xeque, a sobriedade é agora a tônica dominante. “Abraços Partidos” pode até ser o filme menos elogiado do cineasta, mas grita, geme, urra de vontade de ser decifrado – e de confundir cada vez mais. Por isso, ele necessita ser revisto e recomentado e recomendado, em suma. Pedro Almodóvar é genial: mesmo e principalmente quando finge estar falando somente para aqueles que já o conhecem!

Falar mais qualquer coisa por ora seria estragar o prazer supracognitivo e emocional de quem ainda não viu o filme...

Wesley PC>

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OUTRA REFLEXÃO PROIBIDA OU: TENHO O DIRETO DE USAR O NOME DE PESSOAS EM COMENTÁRIOS QUE DEVERIAM ESTAR RESTRITOS ÀS PÁGINAS DE MEU DIÁRIO PESSOAL?

Demorei para obter uma coragem supérflua e confessar aqui a origem dos problemas que ora me levam à mais aguda de minhas sanhas pré-suicidas. Desta vez, achei prudente obliterar os tais motivos, dado que cheguei perto de admitir que minhas paixonites advêm de algum distúrbio psicopatológico e, como tal seria injusto acusar qualquer pessoa pelos comportamentos inevitavelmente idiotas que adotei nesta última semana. Ninguém tem culpa! Se brincar, nem mesmo eu, dado que, como antecipei, creio que sim, eu seja doente ou esteja doente. Talvez eu esteja infectado por algum vírus obsceno, talvez eu seja uma criatura inconscientemente imprestável, talvez eu esteja possuído por alguma entidade malévola, milhares de talvezes... Mas o motivo todos já devem saber qual é. Não vou re-revelá-lo, portanto. Que seja o que tem que ser!

Admitindo que sou/estou doente, que ninguém tem culpa e supondo que eu consiga sobreviver ao dia de hoje (para o qual estabeleci o lema “s’eu não me matar agora, não morrerei nunca mais”), submeterei-me ao escárnio público – caso seja necessário – e desejo de coração agradecer pela existência de duas pessoas muitíssimo queridas e violentamente importantes em minha vida: Anne Kelly Rodrigues, que, infelizmente, foi a mais injustiçada com a minha ausência dolosa nesta semana; e Américo Nascimento Silva, que mostrou ser irmão de verdade e ficou ao meu lado naqueles que foram mais alguns dos momentos violentamente tristes de 2009. Agradeço de coração a estas duas pessoas. Amo-as e amo mais e mais pessoas além deles. Estou vivo: é o mínimo que poderia fazer...

Wesley PC>, aquele que não deseja mal a ninguém, N-I-N-G-U-É-M!

ÚLTIMO COMENTÁRIO SOBRE O ASSUNTO ELÍPTICO (ESPERO!)


Constatando algumas evidências da suposta “maré de azar” que se abateu sobre mim – e que, ao que percebo, parece ser alimentada por meu próprio pessimismo – minha mãe, um tanto supersticiosa, raspou um chifre de zebu que eu guardava no quintal como lembrança de um dito ‘hippie’ que encontrei no ônibus certa vez e expôs na frente de nossa casa. Acredita ela que, assim, ficarei protegido de mau olhado, maus augúrios, “coisas feitas” e outros processos semelhantes. Tomara que dê certo. Prefiro ser cético nesse tipo de assunto e atribuir toda a culpa sobre mim mesmo, que insisto em fazer escolhas erradas (e ultra-divulgadas) nesta coisa que chamo de vida. Cabe a mim, cabe a mim – e a um cineasta espanhol de nome Narcís Bosch, o qual não conheço ainda, mas em breve estarei a divulgar o seu trabalho.

Ai, que dor, Senhor!

Wesley PC>

“O MUNDO É BOM”...


“Saudade palavra triste quando se perde um grande amor
Na estrada longa da vida eu vou chorando a minha dor
Igual a uma borboleta vagando triste por sobre a flor
Teu nome sempre em meus lábios irei chamando por onde for
Você nem se quer se lembra de ouvir a voz deste sofredor
Que implora por teus carinhos, só um pouquinho do teu amor”

De maneira que, numa quarta-feira à noite de trabalho, uma companheira de agruras me fulmina por estar ouvindo Roberta Miranda. Eu expliquei que tinha motivos para isto. Ela sabia, mas não quis entender. Levantei a voz, cantei a letra da canção e bastou para chegarmos ao choroso consenso:

“E nesta solidão, sem ter alegria,
O que me alivia são meus tristes ais
São prantos de dor que dos olhos caem
É porque bem sei, quem eu tanto amei
Não verei jamais”.

E foi faltar energia logo agora?
S’eu não me matar agora, não morrerei nunca mais!

Wesley PC>

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

TRÊS TÓPICOS SOBRE A NECESSIDADE REDENTORA DO MASOQUISMO (IM)PERCEPTÍVEL:

- Revi “Martyrs” (2008, de Pascal Laugier) no último sábado. Pela segunda vez, o impacto doloroso extremo do filme é ainda mais forte, mas um detalhe interessante sobre a sessão é que estive acompanhado pro duas pessoas que reagem diferentemente ao gênero horror: um deles desgosta do gênero, mas ficou até o final da sessão e gostou da tese geral do cineasta sobre os testemunhos da miséria do mundo atual; o segundo até que é habituado a filmes semelhantes, mas o poder ‘gore’ deste filme maravilhoso o obrigou a sair da sala, com dores de cabeça violentíssima e um incômodo crescente, de maneira que tivemos que trancar a porta da sala para que ele não sofresse mais com os violentos sons e imagens da meia-hora final do filme;

- Deixei uma cópia deste filme em Gomorra desde sábado, mas as pessoas de lá aparentemente não viram esta preciosidade malévola ainda. Pena. Além de eu considerá-lo genial (em mais de um sentido, tanto intra-roteiristicamente quanto iconoclasticamente em relação às convenções do gênero), tenho intentos mui pessoais em relação à afecção que este filme com certeza causará em alguns indivíduos. Com o tempo, admito que “Martyrs” tornar-se-á mais valorizado, mas, desde já, grito: MARAVILHA DE FILME REALISTA E PERVERSO!

- Um de meus amigos de trabalho chegou ao DAA hoje reclamando de uma forte dor na barriga. Comentei com ele que agora somos irmanados pela dor. Minutos depois, entre uma jovem mancando, com um Atestado Médico nas mãos, desejando pleitear uma reposição de prova, visto que preciso ausentar-se em virtude das dores que sentia. Tal situação fez com que eu pensasse comigo mesmo: “sinto realmente dor?”. Lembro que, sempre que recomendo este filme poderoso e extremado, costumo dizer que ele tem a ver comigo. Sou uma testemunha! Feliz de quem suportar dignamente a cena acima.

Wesley PC>

“THE QUEEREST OF THE QUEER”

E quem diria que, um dia, “Garbage” (1995), álbum de estréia do Garbage, tornar-se-ia mais do que o álbum maneiro que é para se tornar um índice pré-passional relacionado à valorização de quem sabe morrer na fogueira em defesa de seus princípios. Mas vamos devagar. Falemos do álbum: alguém me contou o boato de que a vocalista Shirley Manson (maravilhosa) fora descoberta quando propusera sexo oral a um dos integrantes da banda Foo Fighters. Creio que seja um exagero anedótico, mas a estorieta bem que poderia ser verdade: a mulher exala sexo e magnetismo por cada um de seus poros estelares!

O disco começa com a inspirada “Supervixen”, que contém um tipo de autoconfiança que nem sempre se coaduna com a minha submissão habitual, mas, na faixa 02, “Queer”, a entrega identificatória é total: amo aquele refrão, canto e me encanto sempre e sempre:

“O mais bizarro dos bizarros (ou ‘o mais viado dos viados’)
O mais estranho dos estranhos
O mais frio dos frios
O mais manco dos mancos
O mais mudo dos idiotas
Eu odeio te ver aqui
Tu chocas por detrás do sorriso
És uma farsa por detrás do medo”


Traduzi o refrão só por desencargo de consciência mesmo. A graça da canção está na magnificência com que os versos aliterados são rimados, contrastados, lançados à nossa auto-interrogação. Em seguida, o hino “Only Happy When it Rains”, obra-prima um tanto mais triste, cujos versos engrandecem-nos pela sinceridade e falta de rodeios na proposta temática (“Pour your misery down on me”). Tal primor pelo direcionamento preciso da mensagem pode também ser encontrado nas canções subseqüentes (“As Heaven is Wide”, “Not My Idea”, “A Stroke of Luck” e “Vow”), mas atingem um novo paroxismo em “Stupid Girl”, cujo videoclipe forçadamente tosco chama a atenção pela adequação à confissão contida na letra:

“Don't believe in fear
Don't believe in faith
Don't believe in anything
That you can't break”

Sobre as duas canções imediatamente posteriores (“Dog New Tricks” e “My Lover’s Box”), eu não posso falar muito, visto que a sedução advinda das canções anteriores me mantém em estágio elevado de estupor até a dançante “Fix Me Now” e aquela que talvez seja a canção que mais mexe comigo, num tom obviamente melancólico, encerrando o CD com um toque grandioso de delicadeza: “Milk”.

“Sou fraco, mas também sou forte
E posso usar minhas lágrimas para te trazer de volta”

Sim, querida Shirley Manson, também sou destes que esperam por alguém...


Wesley PC>

A EVASÃO TÍPICA (E NECESSÁRIA?) DE UM MUSICAL HOLLYWOODIANO...

Até que, depois de muito procurar (e encontrar) a mulher de sua vida, a quem já confessa amar – mesmo tendo conhecido-a há menos de 24 horas – um dos personagens principais de “Um Dia em Nova Iorque” (1949, de Gene Kelly & Stanley Donen) tem que voltar para o navio, seguir a vida trabalhadeira de marinheiro. Talvez ela não fosse quem ele pensasse que era, talvez não tão famosa (nada mais, nada menos que a “musa da catraca” por um mês), mas era a pessoa com quem ele estava disposto a dividir o restante de sua vida... Mas a vida não é assim!

Mesmo caindo de sono, minha sobrinha não conseguia abandonar a sala antes de saber o que aconteceria ao casal apaixonado. “O que será que acontecerá ao casal apaixonado, tio? Será que eles vão ficar juntos? Será que o marinheiro vai ter que ir embora?”. Será que ela assistiu a um legítimo final feliz? A história se repete ao final. Novos marinheiros saem em busca de aventura na cidade grande. E, como diz a calculadora, “tu podes contar comigo”!

“Oh If you feel downhearted
You must remember this
Things never are as bad as they could be
When friends have all departed
There’s one you'll never miss
I'll be right with you
you can count on me

You can count on me
You can count on me
As the adding machine once said
You can count on me”


Wesley PC>

terça-feira, 13 de outubro de 2009

UM RELES FRAGMENTO DA TRADUÇÃO DE FERNANDO PESSOA PARA “O CORVO” (1845), DE EDGAR ALLAN POE:

“A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que ninguém os sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais
— Eu o disse, o nome dele, e o eco disse aos meus ais.
- Isto só e nada mais!”

Mudei apenas uma letra. Por isso mesmo, sucumbo!

Wesley PC>

DA ARTE DE SER IDIOTA E INFELIZ (ÚNICO)


Pois é. Meu nome é Wesley e, dentre outras coisas, eu nasci!

Wesley PC>

DA ARTE DE SER IDIOTA E FELIZ – PARTE II

Na linha dos filmes ruins que marcaram a minha infância, “A Mosca 2” (1989), dirigido pelo maquiador do primeiro filme, Chris Walas, tem um lugar de destaque por motivos psicológicos bem definidos. O assisti ao lado de minha madrinha católica, que hoje é espírita e discordamos radicalmente sobre um episódio ultra-romântico na conclusão do filme: depois de um jorro imenso de gosma, sangue e outras secreções humanas (obviamente desprovidas do senso estético e político atrelado ao autor original, David Cronenberg), o protagonista juvenil do filme, vivido por um Eric Stoltz que me obsedava, sai de um monte de meleca e beija a garota por quem sempre fora apaixonado. Os presentes à sessão fizeram expressões de asco: “erca! Como é que ela tem coragem de beijá-lo nessa nojeira?!”. Eu, no fulgor atônito de meus 10 anos de idade, não vi nada de mais no beijo: “faria o mesmo”, pensei. “Ah, se o Eric Stoltz me desse uma chance”... Hoje, o contexto é outro. Envelhecemos Eric Stoltz, minha madrinha católica que hoje é espírita e eu.

Wesley PC>

DA ARTE DE SER IDIOTA E FELIZ – PARTE I (OU: LISA, MAIS UMA VEZ?)

Num brilhante episódio recente de “Os Simpsons”, os pais da precoce e idiotizada socialmente Lisa levam-na a um psiquiatra, cientes de que a depressão militante da moça chegou a níveis extremos e/ou insustentáveis. O médico oportunista, logo percebendo que os problemas da menina são, na verdade, “problemas do mundo”, entope a garota de remédios fortíssimos, que a inserem num estágio de completo torpor, de maneira que, ao ver mendigos suplicando por um prato de comida ou usinas poluindo largamente os céus do planeta, ela só consegue distinguir carinhas felizes e flutuantes. “É um mundo bom”, pensa ela entre gemidos entorpecentes. É esta a solução?

Wesley PC>