sábado, 13 de julho de 2013

DE COMO A LUA BRILHOU SONORAMENTE NO CÉU DE UMA MANHÃ DE SÁBADO CHUVOSO:

Pretendia dormir cedo na sexta-feira, pois estava sonolento, cansado ou satisfeito com o ótimo dia que compartilhei com amigos, quando recebi um telefonema que durou mais de uma hora: o meu interlocutor precisava contar que dissera à sua mãe em tratamento para a depressão que conhecera uma pessoa exótica nos últimos meses e que queria apresentá-la a ela. Fiquei contente com a notícia, defequei enquanto falava ao telefone (maravilhas da tecnologia dialógica sem fio!) e não lembro o que sonhei em seguida. Quando abri os olhos na manhã seguinte, perguntei a minha mãe que horas eram, ao mesmo tempo em que, coincidentemente, ela dizia: “Wesley, já são nove horas, hora de levantar!”. Sorrimos ao perceber que pergunta e resposta foram pronunciadas em uníssono.

 De pé, pedi que ela esquentasse o sanduíche de queijo que eu não comera à noite, e liguei a TV em busca de algo para assistir. Deparei-me com “David Bowie – Ziggy Stardust and The Spiders From Mars” (1973, de D. A. Pennebaker) num canal fechado de TV, como parte da programação comemorativa do suposto 'Dia do Rock'. Fiquei contente: fazia tempo que eu queria ver este filme! E foi muito bom tê-lo visto...

 Apesar de a obra já ter começado já algum tempo, pude conferir o artista, aqui no apogeu de sua fase andrógino-interplanetária, emocionando a platéia enquanto cantava “Space Oddity”. Lágrimas rolavam da platéia, o que se seguiu quando ele encetou “My Death” (composta por Jacques Brel). Nos bastidores, o cantor comentava que se sentia indisposto. Volta ao palco, dispara “Suffagette City”, homenageia o amigo Lou Red através de “White Light/ White Heat” e termina o espetáculo com “Rock’n’Roll Suicide”. De repente, ao contemplar a cabeleira alaranjada do artista, lembrei de minha amiga loira Ninalcira, que hoje vive em outro Estado. Na TV, os créditos finais do filme eram apresentados, ao som de “Pompa e Circunstância”, de Edward Elgar. E eu sentia a Lua no céu, entre eu e a minha amiga querida. Viva a boa música que une, mesmo à distância, pessoas que se amam! 

 Wesley PC>

sexta-feira, 12 de julho de 2013

ARNAUD DESPLECHIN: PALMAS PARA O ALTO!


Amo "Esther Kahn" (2000) e não gosto muito - ou melhor, não entendi bem - "Reis e Rainha" (2004), mas é inequívoco que eu estava destinado a ser um fã incondicional do cineasta francês Arnaud Desplechin: em "Um Conto de Natal" (2008), eu me entreguei por completo!

Por mais difícil que o filme seja em seu estilo elíptico e plurivocal - parece que o diretor homenageia um diretor diferente (de Alain Resnais a Mike Leigh, passando por François Truffaut, Alfred Hitchock, Claude Sautet e tantos outros) cada vez que um personagem entra em cena, de tão visualmente barulhento que o filme é... Na trama, uma briga entre irmãos - nunca suficiente explicada, diga-se de passagem, o que só reforça a genialidade proposital do roteiro - é ´parcialmente suspensa quando o parente banido dos eventos familiares é, além de um adolescente com problemas mentais, o único a apresentar compatibilidade medular com a sua mãe, o que permite que ele possa chantagear o seu retorno ao acolhimento familiar a partir de uma doação á progenitora acometida por um raro linfoma. Este ponto de partida, entretanto, é subvertido em favor de pequenos atos de vida e de sobrevivência emocional, para o qual focos luminosos, fechamentos de íris, músicas árabes misturadas com músicas clássicas, amores superpostos, tudo é válido! Saí da sessão absolutamente impressionado com o quanto o filme é inusitado em sua panóplia estilística. Genial, pura e simplesmente! Além de visto num momento deveras oportuno... Preciso revê-lo!

Wesley PC>

quinta-feira, 11 de julho de 2013

E, NO RAIAR DO TERCEIRO DIA, PARECE QUE EU ESTOU SAINDO DE UMA BOLHA...!


Independentemente de o filme ser odiável, tê-lo visto no cinema foi uma experiência intensa, que me provocou sensações psicanalíticas que tendem a reformular muitas das minhas crenças mais particulares. Parir esta crítica foi um desafio confessional delicado: os meus dois companheiros de sessão amaram o filme e, tal como eles, associei a protagonista à minha própria mãe, e ri e me emocionei por conta disso. Mas, por detrás, tanto se esconde, tanto envenena... Glupt!

Repensando aqui a minha vida... Parece que eu saí de uma bolha, juro!

Wesley PC>

"EU ME SINTO NUMA PRISÃO... EU NÃO CONSIGO SAIR!"

Tal qual o faz em diversos outros filmes, em "As Intimidades de Analu e Fernanda" (1980, de José Miziara), Helena Ramos interpreta novamente uma mulher oprimida pelos vínculos matrimoniais. Casada com um homem que a trai continuamente, alegando estar trabalhando, ela se apaixona por outra mulher, depois que a narrativa do filme dá a entender que, após uma briga, o marido havia se suicidado. A mulher por quem a protagonista se apaixona, entretanto, é patologicamente ciumenta, uma mulher absolutamente perigosa. Quando a flagra fazendo sexo com um homem que a assediava constantemente, a protagonista foge por uma praia, desesperada, chorando... Acaba se entregando a um pescador rude, interpretado por Maurício do Valle, numa cena vigorosa de estupro. Ao final, a amante lésbica da personagem é assassinada, por conta das perseguições atreladas ao seu "amor doentio" (para utilizar a expressão adotada por meu sobrinho, que assistia ao filme comigo e repetia o jargão dialogístico que intitula esta publicação), de modo que a protagonista talvez vá para uma prisão de verdade, onde repetirá pela terceira vez a confissão angustiada que parece persegui-la em todos os relacionamentos amorosos a que se entregou... Tem gente que parece predestinada: o excerto literário belíssimo que pontua a aproximação entre as personagens-título que o diga!

Wesley PC>

SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DO INCESTO:

Quando a minha linda sobrinha neo-alagoana de 25 anos nos visita, minha mãe foca preocupada que meu irmão mais novo a assedie sexualmente. Como ela é muito bonita e ele tende a se embebedar, as fronteiras morais que regem a ignorância familiar da beleza erótica alheia tendem a ser quebradas, pensa a minha mãe justificadamente paranóica, que se cerca de cuidados censórios quando a minha sobrinha se hospeda por aqui...

Curiosamente, nos últimos dois dias, em que o rapaz da direita na foto esteve hospedado em minha casa, minha mãe não ostentou as minhas preocupações. Apesar de, oficialmente, ele não fazer o meu tipo (no sentido de que seu fisiculturismo evidente me distancia de uma imersão mais detida), no que tange ao terreno bruto da sexualidade aparente, o volume contido na parte baixa e seu ventre me tornaria um óbvio refém de seus encantos anatômicos. Entretanto, ele é meu sobrinho. E, como tal, ao entrar em contato com ele, estive tão preocupado em entender quem ele era (visto que não o via há mais de uma década), do que ele gostava, o que ele pensava sobre mim, etc.... Ou seja, apesar de eu ser um defensor inconteste do incesto, na prática isso é dificultado por diversos fatores, mais ou menos como acontece em relação ao canibalismo: quando temos um envolvimento emocional (principalmente familiar) com os nossos “objetos de consumo”, a relação torna-se diferenciada, particularizada, dotada de muitos mais vieses além da mera saciação fisiológica. Foi o que se demonstrou aqui!

Fiquei tão angustiado em compreender quem era aquele desconhecido que se instalou em minha casa que meus instintos básicos e onipresentes acalmaram-se, cederam espaço a outras preocupações mais amplas. Numa fila de supermercado, inclusive, eu e o meu sobrinho conversamos sobre um caso aberrante de estupro que aconteceu no município alagoano de Delmiro Gouveia, onde um homem estuprou um bebê de apenas quatro meses. Ficamos atordoados ao imaginar a cena. Meu sobrinho, que já é pai de uma criança, ofereceu uma solução prática: “puxa, prostitutas estão tão baratas hoje em dia... Por que fazer isso?!”. A resposta imediata era óbvia: perversão!

Noutras palavras, incesto e canibalismo são situações que não podem ser tão controladas aprioristicamente quanto eu insisto em defender nalguns lugares tendentes à reação alarmada diante do que afirmo. O que não me impediu de, enquanto me afligia com vontade de urinar, tive de esperar que o meu sobrinho desinterditasse o banheiro. Ou seja, ele se masturbava. Não espontaneamente, como muitos de nós o fazem, mas programadamente, levando o telefone entulhado de vídeos pornográficos para o banheiro, realizando os movimentos de carícia fálica como se efetuasse uma série de exercícios aeróbicos controlados por um instrutor de educação física. Achei aquilo tudo tão desestimulante (sim, eu o estava observando pelas gretas da porta!), mas, ao examinar isoladamente a sua ereção, não pude deixar de isolá-lo eroticamente. Ali, ele deixou de ser um parente, para se tornar um pedaço latejante de carne peniana, intumescida, suja de esperma. Ainda assim, era algo estranho... Preciso pensar muito sobre isso. De hoje em diante, quando eu falar sobre incesto, terei novos pareceres internos para expor e considerar discursivamente. Como diz o jargão, “na prática, a teoria é outra!”. Ou talvez não...


Wesley PC> 

terça-feira, 9 de julho de 2013

“O OLHAR APRESSADO” (CRÍTICA CONTRA QUEM?)

Nesta segunda-feira, 08 de julho de 2013, aniversário de setenta e um anos de minha mãe, eu e diversos de meus amigos ficamos ansiosos para a chegada das vinte e duas horas, quando teríamos a oportunidade de conferir uma entrevista com o filósofo esloveno Slavoj Zizek. O curto tempo do programa (apenas uma hora e meia de duração), aliado às perguntas nem sempre interessantes e ao frenesi do entrevistado, que parecia estar sob efeito de cocaína, causou um desconforto particular em mim, que fiquei deveras decepcionado com a desorganização do programa. Enquanto futuro jornalista, incomodei-me bastante com o debate tornado raso, tamanha a desconexão entre as perguntas, que desaproveitavam os poderosos ganchos teoréticos despejados pelo filósofo, que, ao final, se define sardonicamente como “um intelectual corrupto, como qualquer um de nós”...  

Dentre os aspectos da conversa que mais me chamaram a atenção estão as menções a Peter Sloterdijk, Fredric Jameson e Francis Fukuyama, todos aparentemente amigos do filósofo, a sua brincadeira nomenclatural com o presidente cubano, a quem ele disse permanecer “fiel à castração”, o apelo à definição básica freudiana de que, principalmente no capitalismo, “as nossas necessidades são mediadas pela inveja”, e a sua confissão pela primazia da teoria quando lhe interrogam como ele enxerga as relações entre teoria e prática na atualidade. Porém, o ponto máximo do programa, foi quando ele contou a seguinte anedota:

Num debate comunista imaginário, pergunta-se se, no regime socialista adotado, haverá ou não dinheiro. Nikolai Bukharin responde: “sim, haverá dinheiro!”. Leon Trotsky recusa: “não, em nossa sociedade não haverá!”. Ao que Josef Stalin intervém, em voz alta: “é preciso fazer uma síntese dialética: em nossa sociedade haverá e não haverá dinheiro. Alguns o terão e outros não...”.

 Era uma piada, mas diz muito sobre as contradições retroalimentadas do panorama sociopolítico hodierno. Recorrendo citacionalmente muito mais a Friedrich Hegel que a Karl Marx, por conta do lançamento de um livro recente “Menos que Nada: Hegel e a Sombra do Materialismo”, o filósofo esloveno parafraseia o filósofo alemão e alega que “a Filosofia pode apenas pintar o cinza sobre o cinza”. Achei mui peculiar tal imagem retórica, ao passo em que me decepcionava com as charges desenhadas imediatamente após os pronunciamentos do entrevistado, simplificando-os em excesso, como quando, numa comparação com uma entidade hinduísta – motivada por causa da velocidade com que Slavoj Zizek mexe as mãos – o desenhista associa o filósofo a Mahatma Gandhi. Não foi bem isso o que ele tinha em mente quando sorriu ao perceber que fora cotejado a um indiano...

Minha maior chateação em relação ao programa, para além de seus visíveis defeitos constitutivos, foi a ignorância dos interessantes comentários que o entrevistado poderia lançar sobre cinema, uma de suas especialidades. Num rápido momento, entretanto, ele pode se servir de uma idéia levantada pelo analítico Stanley Cavell para definir como prevalece (ou melhor, deveria prevalecer) o fervor revolucionário nos dias hodiernos: tal como acontece nas comédias hollywoodianas das décadas de 1940 e 1950 – as dirigidas por Ernst Lubitsch, Leo McCarey e Howard Hawks, principalmente – a instauração do divórcio e, em seguida, a sua supressão e o retorno ao bem-estar marital inicial deveria ser tomado como metáfora adequada à mudança social efetiva que se segue às comemorações empolgadas diante de manifestações e/ou conclamações públicas a respeito de uma dada situação. Havia ele antecipado que, com exceção do citado Friedrich Engels, a grande maioria dos filósofos tenta mudar o mundo ao invés de realmente analisá-lo, conforme proposto. Platão seria um exemplo primevo. E, enquanto estudante de Jornalista, eu sou apressado demais em minhas conclusões: seria a síntese ainda possível hoje em dia? Sim, foi uma piada de mau gosto... Mas valeu muito a pena ter visto esta entrevista. Por mais que isto implique em perder um amigo (ou um amante inalcançável) para não perder a piada...


Wesley PC> 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O ED WOOD GOSTARIA MUITO DESTE FILME, CERTEZA!

Waldir Kopezky é um dos piores diretores da Boca de Lixo paulistana. Ainda assim, a sua parceria com o diretor e roteirista Fauzi Mansur rendeu filmes que são, no mínimo, inusitados: já havia visto “Sexo Profundo” (1981) há alguns meses e, na tarde de domingo, resolvi ver “Em Busca do Orgasmo” (1981). Nossa, como este filme é ruim!

Além do enredo sobre um apicultor maluco que resolve criar uma sociedade de mulheres-abelhas moralistas para dirimir as orgias que flagra em seu trabalho camponês ser absolutamente estapafúrdio, tive acesso a este filme numa cópia horrenda, quer misturava o mesmo com cenas inacabadas de outro filme [“Loucura Erótica” (1983), que fora dirigido sob o pseudônimo Fernando Ferro] e enxertos absolutamente inoportunos de sexo explícito, que tornavam a audiência insuportável em seu sobejo de ininteligibilidade. Matilde Mastrangi está quase irreconhecível de tão meiga. E a extração de erotismo a partir de um contexto tão bizarro e cruel, no qual uma mulher castra um homem, ao chuveiro, com os próprios dentes e afrodisíacos de cavalos são injetados em pretensos zangões humanos é, para dizer o mínimo, infundada.

O filme me deixou perplexo: por mais odiável que ele seja, há algo ali para ser investigado com mais cautela: é um filme repleto de paixão, apesar das imposições das fodas que poderiam atrair o público. Tomara que eu encontre uma cópia intacta do que fora pretendido pelo realizador. O engano aqui é produtivo!


Wesley PC> 

domingo, 7 de julho de 2013

UMA FRASE SINGULAR, SEM MEDO DE PARECER MORALISTA, CARETA, ACUSATÓRIO:



Eu odeio esta droga de 'crack'. Odeio!


 Wesley PC>

“’TENHO SETENTA E TRÊS ANOS, POR ALTO TEREI VIVIDO, VERDADEIRAMENTE VIVIDO, UM TOTAL DE DOIS... TRÊS ANOS NO MÁXIMO’. E O SOFRIMENTO, O TÉDIO, QUANTO TINHAM DURADO? INÚTIL CANSAR-SE FAZENDO CONTAS: TODO O RESTO: SETENTA ANOS” (p. 254)

Quando comecei a ler “O Leopardo” (1957), do Giuseppe Tomasi di Lampedusa, meu intuito dominante era refrear a angústia que me tomava de assalto por causa de manifestações populacionais de cunho superficialmente político que me desagradavam em razão de sua condução manipulatória midiática. Por dentro, eu sabia que o livro ultrapassaria tal objetivo, sendo tanto maravilhoso por si mesmo quanto numa comparação com a obra homônima que Luchino Visconti realizou para o cinema em 1963 a partir dele, sem contar o efeito pessoal concernente ao enfrentamento de uma paixão violenta que me toma de assalto, sendo o seu depositário humano um rapaz que se assemelha tanto aos personagens arrivistas que circundam o protagonista que se gaba de apontar as lacerações sociais circundantes ao que ele descreveu como uma tendência aristocrática em meu olhar sobre o mundo ao meu redor. Ele não é desprovido de razão nesta acusação, mas a política do cotidiano não é algo tão dicotômico quanto uns e outros pensam...

Oficialmente, falta-me apenas um capítulo para encerrar a leitura do livro, o oitavo, posterior àquele que intitula-se “A Morte do Príncipe” e que já não constava de sua magnífica versão cinematográfica. Difícil optar pelo que é qualitativamente superior, o romance ou o filme: ambos são tão emocionantes, tão sutis, tão delicados em seus contornos políticos...

O protagonista é um príncipe altivo e decadente, que recebe o apelido do felino que consta do título. Representante de uma classe social em decadência numa Itália em transformação (a época do romance é a segunda metade do século XIX), ele acompanha com desconfiança e concomitante empolgação os feitos de seu sobrinho Tancredi, que luta ao lado dos revolucionários garibaldinos, a fim de comprovar a sua tese: “se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude”. Apesar de nobre, ele resolve despojar a filha plebéia – porém belíssima – de um novo-rico que fizera fortuna a partir de serviços rurais pouco valorativos, como coletar esterco. A noiva dele, chamada Angélica, inebria o príncipe e quase o faz esquecer-se dos motivos vis que se deslindam sorrateiramente em relação ao noivado, mas, com o passar inclemente do tempo, tudo se cala, tudo grita: o que há de ser feito é efetivamente feito, contra ou a favor da vontade de quem quer que seja!

O filme tem mais de três horas. O livro menos de trezentas páginas. Entre um e outro, o espírito adaptativo é fidelíssimo: em ambos, os protagonistas são construídos lentamente, com riqueza de detalhes emocionais e românticos, incluindo inclusive detalhes eróticos, como o fato de o príncipe nunca ter visto sequer o umbigo de sua esposa, mesmo tendo mais de meia-dúzia de filhos com ela. Numa passagem absolutamente genial do romance, inclusive, a definição freudiana do que seria um “ato falho” é antecipada em dezenas de anos. A narrativa é onisciente, conforme se constata na insigne citação que acrescentei ao título desta publicação. E, quanto mais eu avanço em relação à conclusão do livro, absolutamente inédita em relação ao soberbo filme que vi mais de uma vez, mais constato que, no que tange ao meu parecer sobre as manifestações enviesadas que motivaram o meu mergulho literário, o essencial já fora dito no primeiro capítulo: “ – Nada se consegue com pum! pum! Não é verdade, Bendicò? ‘Ding, ding, ding’, tocava por sua vez a sineta anunciando o jantar”. As onomatopéias falam por si mesmas – e Bendicò é o nome do cachorro!


Wesley PC>