sábado, 3 de abril de 2010

SÁBADO DE ALELUIA!

Um dos momentos basilares de minha infância amorosa deu-se quando o garoto pelo qual eu era atraído na pré-adolescência mostrou-me uma redação escolar que escrevera, na qual relatava a conversão de um jovem loiro oprimido pelos homossexuais e negros do lugar em que morava a uma variação nordestina do Nazismo. O protagonista da historieta era, na verdade, um alter-ego do próprio garoto, loiro e desnecessariamente revoltado, mentiroso, malicioso, acima de tudo, humano e infantil, um menino de 13 anos que ainda conheceria muito da vida. No mesmo dia em que me mostrou esta redação, o garoto consentiu em filmar 40 segundos de seu pênis por R$ 10,00. Hoje, a fita VHS em que estava contida a gravação de seu pênis mofou, ele já ejaculou em minha garganta de graça e é pai de um filho com uma deficiência no átrio cardíaco. Conversamos de vez em quando, tenho sua esposa negra e muito bonita adicionada em meu Orkut e ele nem pensa mais nas bobagens proto-nazistas que escrevera na pré-adolescência. Entretanto, não consegui deixar de pensar nele enquanto via “O Jovem Hitlerista Quex” (1933, de Hans Steinhoff), quiçá o melhor filme produzido sobre a égide ministerial de Joseph Goebbels, na manhã de hoje. Pena que a proibição ostensiva sobre a difusão do filme, mesmo no século XXI, impede que o mesmo seja difundido em cópias cinematográficas latas, de maneira que tive que vê-lo numa cópia com comentário em russo sobre a dublagem alemã, legendado em inglês. Não terei como emprestar uma cópia a este marcante personagem de minha infância...

Para além deste pequeno inconveniente justificado sobre a difusão do filme (que é impressionante em suas inversões ideológicas), gostei muito do mesmo: não somente o diretor Hans Steinhoff é um artesão mui eficiente como o roteiro do filme foi deveras efetivo em mostrar a redenção do garotinho protagonista através de uma perspectiva mais ampla, em que primeiro ele é mostrado como um diligente rapazola espancado pelo rude pai socialista até ser acolhido e respeitado pelos sorridentes membros da Juventude Nazista. Minha mãe viu alguns trechos do filme ao meu lado e perguntou por que tanta gente corria atrás do garoto e eu tive que responder nos moldes ideológicos pretendidos pelo roteiro: “porque os comunistas são maus, Rosane, e querem maltratar o coitado do menino só porque ele é um defensor de sua Pátria”. O fiz de propósito. Hoje em dia, o discurso não funciona mais como na época em que fora filmado e difundido, mas a qualidade sobressalente do filme deixa-nos de sobreaviso: beleza é algo ilusório e perigoso quando regida por espíritos mal-intencionados!

Terminado o filme (belíssimo, belíssimo!), pus um CD do Padre Zezinho para ser executado e lembrei que tive que interromper uma transmissão teatral da Paixão de Cristo que minha mãe via na TV aberta. A cena que estava em voga era justamente uma das minhas favoritas na Bíblia, a que talvez eu mais me identifique: o suicídio de Judas Iscariotes. O mesmo Judas que é queimado figurativamente ano após ano no Sábado de Aleluia. A mesma Igreja que defende o arrependimento como passo supremo para o Perdão de Deus (e ninguém duvida que Judas Iscariotes arrependeu-se de fato!) estimula este ato metonímico de vingança, esta expiação forçada e alopática por crimes e pecados que os próprios ateadores de fogo relutam em assumir. “Judas traiu Jesus com um beijo. Ele merece morrer!”: eis a resposta mais ouvida quando eu pergunto o que os católicos acham do enforcamento representado na TV. O que fazer, meu Deus, o quê?

“Uns're Fahne flattert uns voran.
In die Zukunft ziehen wir Mann für Mann
Wir marschieren für Hitler
Durch Nacht und durch Not
Mit der Fahne der Jugend
Für Freiheit und Brot.
Uns're Fahne flattert uns voran,
Uns're Fahne ist die neue Zeit.
Und die Fahne führt uns in die Ewigkeit!
Ja die Fahne ist mehr als der Tod!”

Wesley PC>

CULPA DA TONALIDADE EM PRETO-E-BRANCO?

Nisso, num daqueles instantes tão premeditados quanto inevitáveis no plano do desejo físico secundarizado, ele toca o peito do rapaz à sua frente e, por debaixo das cores listradas de uma camisa de time de futebol, percebe que pêlos vistosos se destacam naquela pele esbranquiçada e arrogante quando transformada em palavras. Em qualquer outra pessoa, em qualquer outro momento, isto faria com que ele questionasse seus instintos, mas, naquele átimo de desespero e vergonha (pesava-lhe na consciência o mal-estar causado quando uma colega de trabalho zombou de sua disponibilidade em presentear o rapaz à sua frente com folhas de papel colorido amalgamados em formato enciclopédico), a doçura imaginada daqueles pêlos hirsutos fez com que ele vivenciasse mais uma ereção, a quadragésima desde que o rapaz viera trabalhar naquele setor, ereção esta que, quando anunciada, não causou a repulsa imaginada, mas um sorriso faceiro de incredulidade, tão inocente quando condenatório. Aí vem a vontade de pedir desculpas, de rezar para Deus, de tentar esquecer o incidente, de imaginar que existem outras atividades para ocupar o desejo (na falta de palavra melhor), mas... Fica na vontade. Dorme-se antes e depois.

Quisera eu que fosse pura ficção, que fosse um pretexto para citar “A Dama do Lago” (1947), magnífica adaptação cinematográfica do ator Robert Montgomery para um romance policial de Raymond Chandler lançado três anos antes, em que, quando percebe que a mulher por quem está apaixonado chora, um detetive refaz um questionamento similar à oportunidade em que a instigou quando esta fechava os olhos aguardando um beijo. A resposta dela foi incisiva: “sempre choro na véspera do natal ou quando me apaixono”. Não sou diferente – e juro que pedi permissão para usar a foto! Só esqueci de entender quando um texto é “pesado” ou não. Jamais saberei!

Wesley PC>

sexta-feira, 2 de abril de 2010

“NEM PARECE SEMANA SANTA, É COMO SE FOSSE UM DIA NORMAL”...

Assim disse minha mãe, perto do meio-dia de hoje. Não respondi nada de imediato, mas, em meu íntimo, eu concordava com ela. Tanto que fiquei um tanto receoso em ver “Teresa, o Corpo de Cristo” (2007, de Ray Loriga) ao seu lado, no sentido de que esta biografia da primeira mulher a ser canonizada como Doutora da Igreja inclui em sua trama seqüências de desejo carnal por Jesus Cristo. Não acho que isto seja necessariamente ofensivo, mas, dentro do contexto da reclamação de minha mãe, o era. Afinal de contas, foi-se o tempo em que os feriados religiosos, por mais subsumidos ao comércio que o fossem, eram respeitados como tais, como dias em que um mínimo de privação e questionamento de valores era sugerido aos fiéis. A pletora de instituições e seitas religiosas nos dias de hoje acaba com este intuito, o que só aumenta a minha agonia em não entender os desígnios de Cristo como sendo provenientes d’“o próprio Deus feito homem”. Lembro do tempo em que uma adventista trabalhava ao meu lado, no DAA, e ensinou-me a respeitar Jesus Cristo como um ente santo. Sinto saudades disto, enquanto minha mãe avalia, neste exato momento, a qualidade questionável das cantigas do padre Reginaldo Manzotti. “Hoje em dia, todo mundo quer ser cantor ‘gospel’”, reclamou ela, plena de razão. E eu permaneço agoniado... “Misericórdia de mim, oh, meu Senhor”!

Wesley PC>

quinta-feira, 1 de abril de 2010

NOTA DE RODAPÉ: CARALHO!

Puta que pariu! Eu consegui ver “Sem Cortes” (título nacional imerecidamente abreviado para “Uncut – Member Only” – 2003, de Gionata Zarantonello), filme inteligente em que um pênis murcho acompanhado por testículos imensos e vermelhos são focalizados ininterruptamente num plano-seqüência de 78 minutos, numa trama surpreendente funcional em que o escritor Ciccio (vivido pelo astro pornô italiano Franco Trentalance, mal-dotado, em minha singela opinião) é mostrado preso à sua cama, em virtude de um acidente que fere pungentemente sua perna. Enquanto tenta suportar a dor lancinante, ele telefona para várias mulheres, a fim de encontrar alguém com quem possa fazer sexo, mesmo que tenha que apelar para uma agência de sexo telefônico pago. Em verdade, ele tenciona encontrar sua namorada, a qual sumiu, deixando-o como principal suspeito de assassinato. Nem mesmo a masturbação parece funcionar para ele, visto que o pênis está flácido e cansado e não consegue ficar ereto por muito tempo, não obstante algumas visitas femininas (e uma masculina) insistirem em manipulá-lo. “Não se ama uma pessoa. Ama-se o próprio amor”, insiste o protagonista, enquanto o tempo passa, a amargura cresce e, admito, ficamos excitados diante daquela visão renitente e convidativa de um caralho. Pena que não consegui legendas para o filme (assisti em italiano mesmo) e guardarei por muito tempo a honra de ser um dos solitários espectadores deste filme, no mínimo inspirado, que consta do Livro Internacional dos Recordes como o maior plano de um órgão sexual já filmado no Cinema (risos). Recomendo de pé – e com o pau duro!

Wesley PC>

ACEPÇÕES DEMONÍACAS DO TERMO ‘CASH’:

O diálogo abaixo se deu entre eu e uma pessoa que atendi às 19h30’, no DAA, nesta noite de quarta-feira, véspera de feriado institucional:

- Ei, o que é preciso para se dar entrada em processo de equivalência?
- Trazer cópia do Histórico, pagar R$ 10,00 no Banco do Brasil e abrir processo?
- O banco ainda está aberto a esta hora?
- Não, mas tu podes pagar no caixa automático, aqui do lado.
- Eu não posso pagar no ‘cash’, não?
- Pode. ‘Cash’, em português, é igual a ‘caixa automático’ (e fiz o gesto de igualdade com as mãos). É que desgosto de falar palavras em inglês quando os mesmos possuem correspondentes em português.
- Ah!


Mal cheguei em casa, e pus “This is War” (2009), disco mais recente da banda ‘emo’ 30 Seconds for Mars, para ser executado. Todas as canções são em inglês (muito boas, aliás) e eu fiquei lá, admirando as letras revoltosas pós-adolescentes de canções como “Night of the Hunter” (que aparece em duas versões – uma delas remixada – no CD), “Kings and Queens” (cujo videoclipe inspirado no ciclismo é exibido com freqüência na VH1) e a faixa-título, “This is War”, que repito agora pela terceira vez seguida, muito fofinha, conforme atesta o trecho abaixo:

“A warning to the people
The good and the evil
This is war
To the soldier, the civilian
The martyr, the victim
This is war

It's the moment of truth and the moment to lie
The moment to live and the moment to die
The moment to fight, the moment to fight, to fight, to fight, to fight

To the right, to the left
We will fight to the death
To the Edge of the Earth
It's a brave new world from the last to the first

To the right, to the left
We will fight to the death
To the Edge of the Earth
It's a brave new world, It's a brave new world”

Dei uma pausa no CD e fui fazer um favor para minha mãe, tirar dinheiro num caixa automático (‘cash’ in ‘cash’) do BANESE, Banco do Estado do Sergipe. Lá chegando, tive que decorar uma senha numérica e outra literal, em que se podiam identificar as consoantes de um termo anglofílico para demônio. Seria um sinal? Que seja, o CD é engraçadinho. Terminei virando novamente fã do vocalista Jared Leto, melhor conhecido por um maravilhoso seriado de minha adolescência (“My So-Called Life” ou “Minha Vida de Cão”, no SBT) e por suas participações em filmes marcantes como “Clube da Luta” (1999, de David Fincher) e “Réquiem para um Sonho” (2000, de Darren Aronofsky). Sem contar que ele é mais um daqueles famosos que nos orgulham pelo veganismo. Oh, tão fofinho, “so fuckin’ cute”!

Wesley PC>

FINALMENTE E PELA PRIMEIRA VEZ, O ANTICLÍMAX NECESSÁRIO!


“Illmo Sr. Bejamim Abrahão
Saudações.
Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus sertões nordestinos.Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais.
Sem mais do amigo,
Capm Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampião”

Acabo de ver “Baile Perfumado” (1996, de Paulo Caldas & Lírio Ferreira), finalmente e pela primeira vez e receio dizer que o filme me decepcionou. Não por sua qualidade, mas pelas expectativas geradas em torno dele. Sempre ouço falar deste filme como sendo o grande xodó dos formandos em Pedagogia sergipanos, como um dos grandes e surpreendentes sucessos de público da chamada Retomada do Cinema Brasileiro e como um belo filme a reproduzir as relações intra-amistosas no bando do cangaceiro Lampião. O tema, a abordagem e as pretensões discursivas dos diretores e roteiristas, porém, são demasiado distintos, conforme atesta a cena final, passada 25 anos antes dos eventos mostrados no restante da película, quando o libanês Benjamin Abrahão (maravilhosamente interpretado por Duda Mamberti) chega ao Brasil com o intuito de “mudar o mundo”, assumindo como esta a tarefa e capacidade dos inquietos. A figura de Lampião no roteiro é um mero coadjuvante em dupla escala metalingüística, um mero instrumento dos jogos de poder midiático e tráfico de influências acessórias perpetrados pelo fotógrafo protagonista!

Analisando as biografias dos diretores, sabemos que ambos têm passagem pela Faculdade de Jornalismo, o que explica muitas dos posicionamentos ideológicos dúbios levados a cabo pelo filme, que legitima o oportunismo em favor de uma notícia, que se põe do lado dos alegados biógrafos que constroem verdadeiras reputações pessoais (para o mal e para o bem) com base na manutenção de supostas relações de amizade estendidas com os personagens biografados ou diretamente relacionados a estes. Não que eu esteja discordando da perspectiva sub-repticiamente defendida pelos produtores do filme, mas fiquei chocado ao perceber como o filme se deixa divulgar através de interpretações e chamarizes incondizentes com o receptáculo fílmico apresentado. Nem mesmo no que diz respeito à fabulosa trilha sonora que mescla os principais gênios recifenses do ‘mangue beat’ (Chico Science, Siba e Fred Zero Quatro, entre outros) a exaltação propagandística do filme é sincera, dado que as músicas pontuam anticlímaces, cenas (e vidas) interrompidas bruscamente, conforme se percebe na súbita seqüência anterior ao ‘flashback’ descrito, em que um ‘travelling’ mui rápido percorre a caatinga depois que sabemos que Benjamin Abrahão está morto para encontrarmos, após diversos cacoetes videoclipescos de câmera, o cangaceiro-fetiche vislumbrando a deslumbrante e incompreendida paisagem sertaneja sobre um exuberante acidente geográfico. Isoladamente (num ‘trailler’, por exemplo) é uma seqüência maravilhosa, mas, concatenada ao restante do filme, soou-me estranha, carregada de misteriosas ideologias, impositiva, só perdendo em impacto e assombro para a cena em que, enquanto compartilhava um jantar comemorativo com convivas, onde lê o bilhete pessoalmente escrito por Lampião que serve de epígrafe a esse texto, Benjamin Abrahão acende um palito de fósforo e fala diretamente para a câmera, depois que tudo escurece: “decerto tu se esqueceste de pagar a conta da energia elétrica”. O que isso quer dizer? Não sei bem ainda, mas que é estranho, muito estranho, ah, isso é!

De resto, o filme é um belo exemplar de Teoria Aplicada do Jornalismo e, como tal, entendo por que o mesmo é elogiado e difundido em universidades: este é um adequadíssimo local para fomentar discussões sobre obras de arte que não se esgotam na mera exibição. Este é um caso: “Baile Perfumado” é um filme que, mais ou menos do que os elogios rasgados e eventualmente impensados que recebe, carece de muita discussão sobre ele. Quisera eu ter o poder de levar este desafio à frente. Espero eu ser inquieto o suficiente no aproveitamento de minha formação acadêmica como comunicólogo... E não cometer na prática os mesmos deslizes que o egrégio protagonista profissional do filme!

Wesley PC>

quarta-feira, 31 de março de 2010

NEM TINHA ME INTEIRADO ADEQUADAMENTE DA MORTE DO COREY HAIM ATÉ (NÃO) RECONHECÊ-LO NUM FILME QUE VI HOJE PELA MANHÃ...

A imagem acima pertence a um filme de nome “A Inocência do Primeiro Amor” (1986, de David Seltzer), clássico da Sessão da Tarde que era exibido e revisto por mim sempre e sempre, tamanha a identificação que eu nutria, em minha pré-adolescência, pela trama de desolação romântica vivenciada pelo inteligente e deslocado Lucas, que se apaixona pela garota mais popular da escola, obviamente apaixonada pelo garoto mais popular do mesmo local. O protagonista do filme era um garoto de nome Corey Haim, ídolo juvenil do meu único coleguinha ‘gay’ da época, que possuía todos os cartazes e anúncios sobre ele. Eu não curtia muito seu tipo, mas o considerava um bom ator e curtia vê-lo em filmes medianos como “Bala de Prata/ A Hora do Lobisomem” (1985, de Daniel Attias), “Os Garotos Perdidos” (1987, de Joel Schumacher), “Sem Licença Para Dirigir” (1988, de Greg Beeman), “Watchers – O Limite do Terror” (1988, de Jon Hess) e “Um Trapaceiro Genial” (1991, de Spiro Razatos). Quem não viu estes filmes bobos e apaixonantes para adolescentes tantas e tantas vezes? Quem?

Pois bem, na manhã de hoje resolvi faltar aula e vi um simples romance rural chamado “O Romance de Murphy” (1985, de Martin Ritt), sobre uma mulher de 33 anos recém-divorciada que desperta a atenção amorosa de um viúvo com o dobro de sua idade, mas que tem como empecilho o retorno do ex-marido da mulher em quem está interessado, louco para recuperá-la. Ela, inclusive, tem um filho de 12 anos, que fica contente com o retorno do pai irresponsável. Não reconheci o ator que interpretava o filho da protagonista, mas, durante os créditos, o nome estava lá: Corey Haim. Lembrei que alguém tinha me dito que ele falecera e, quando fui pesquisar, lá estava a data: 10 de março de 2010, aos 39 anos de idade. Causa suposta da morte: a mesma de sempre, overdose de drogas. Um ícone (não devidamente apreciado por mim, já que desgostava dos filmes que protagonizava) de minha juventude se fora. Como estará agora o meu ex-coleguinha ‘gay’ que tanto gostava dele?

Bem que eu queria rever “A Inocência do Primeiro Amor” e sentir de novo o que eu sentia na época: que não estava sozinho em minha recepção problemática dos efeitos de paixonite que eu legava sem cessar ao mundo. Lego ainda. Saudades! E olha que eu nem lembro direito da cena que mostro em fotografia...

Wesley PC>

POR QUE A GENTE LÊ?

Sei que a pergunta é muito idiota e nem de longe deve ser respondida, mas acabo de ler a página final de um romance famoso e sinto-me agora bastante estranho, sem entender o que aconteceu comigo. Para além de o romance ser excelente e de seu autor ser demasiado célebre, uma série de coincidências me seduz. Escolhi o livro por puro acaso (encontrei-o disponível numa estante da Biblioteca da UFS, numa sedutora edição de capa vermelha, enquanto procurava o que ler numa fila) e funcionou como um oportuno consolo para dores psicológico-existenciais que me afligem. Foi publicado em 1942 (ano em que minha mãe nasceu) e suas primeiras linhas escritas são: “hoje, minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem”. Como todos sabem, minha mãe esteve (ou está) muito doente recentemente. Preocupei-me deveras com a situação, no sentido de que pressenti que, se a doença ficasse mais grave e incômoda para ela (na acepção mais lenta, dorida e terminal da situação), eu teria coragem de assassiná-la por compaixão. Assustei-me ao pensar nisso, mas cri que fosse certeza... Li o livro inteiro com o coração na boca, para, ao fim de vários capítulos, me deparar com o seguinte desfecho:

“Tão perto da morte, a minha mãe deve ter-se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, ninguém tinha o direito de chorar por ela. Também eu me sinto pronto a tudo reviver. Como se esta grande cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado da esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu abria-me pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e ainda o era. Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia de minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio”.

E assim o livro termina! Não vou dizer qual, nem o nome de seu laureado autor, mas assim o livro termina. E, ao mesmo tempo, quanto começava nesse instante... Maravilhoso! E já estou cá pensando noutro romance...

Wesley PC>

segunda-feira, 29 de março de 2010

“O PROBLEMA ESTÁ COMIGO?!” 2: SERÁ QUE O ‘PROBLEMA’ PERDURARÁ ATÉ MAIO?

Influenciado por um texto questionador de Rafael Maurício e pelos inúmeros elogios de amigos de diferentes origens acerca da qualidade desta banda cearense, resolvi baixar “Uhuuu!” (2009), álbum mais recente do grupo Cidadão Instigado. Outro fator crucial em minha aquisição virtual deste álbum diz respeito ao concerto da banda que se desenrolará no Estado de Sergipe no mês seguinte a abril, conforme anunciado pela assessoria de imprensa do grupo CineVídeoEducação, que promoveu uma exibição do filme “Aconteceu em Woodstock” (2009, de Ang Lee) nesta manhã de domingo como forma de arrecadar fundos para patrocinar o evento. Fui ver o filme achando que desgostaria. Saí da sessão completamente chapado, bailando freneticamente com o coração ultra-acelerado, como se tivesse ingerido doses cavalares de LSD. Amei o filme! Amei a abordagem contextual adota! Amei!

Ao chegar em casa, depois de ter me recuperado gradualmente do impacto da quase obra-prima de Ang Lee, ouvi novamente a banda, com cautela, para saber se eu gostaria como fazem muitos de meus amigos reais e virtuais ou se ficaria em cima do muro sonoro, conforme aconteceu com Rafael Maurício. Não consegui optar por uma opção definitiva: gostei de algumas canções e desgostei de outras. Só isso, nada que vá ficar registrado para sempre no meu inconsciente nostálgico pós-juvenil...

Fechei os olhos antes de ouvir a faixa de abertura, “O Nada”. Tive o mesmo impacto de quando descobri “Que Martírio!”, da banda carioca Nervoso e os Calmantes. Amei o frenesi da canção e gostei bastante da letra, que convida: “abram as portas das suas casas, deixe os ladrões entrarem. Eles vão levar tudo que puderem”. Fantástico! Até minha mãe gostou! Em seguida, vem “Contando Estrelas”, que é apenas mediana e a pavorosa “Doido”. Desgostei mesmo desta faixa e foi a partir daí que percebi que a voz do Fernando Catatau conciliava o que eu mais gostava entre o baiano Moraes Moreira e o que eu mais detesto no alagoano Wado: a estridência e a ingenuidade proto-psicodélico forçada. Não que isto seja um demérito, não o é, mas incomoda, faz com que tenha vergonha de escutar com seriedade os versos idiotas de “Escolher Pra Quê” (vide letra integral abaixo):

“O sol vem queimando nossas pestanas, o sol vem rachando nossas banhas
O sol não é mais o mesmo de 50 anos atrás
Ele sorri com clara cara de quem está nos fazendo medo
Eu acredito que com chuvas nada disso existiria
Apenas inundações, nada mais!

Escolher entre chuva e sol é o mesmo que sofrer de hérnia e correr uma maratona de 100 passos de animais
Pra que tanta indecisão? Se o sol está aí para nos assar
Pra quê tanta indecisão? Se a chuva invade e alaga, como um grande mar”

Aí eu faço coro com meu amigo baiano e pergunto: “será que o problema é comigo?!”. Pelo sim, pelo não, “Ovelhinhas”, “Deus é uma Viagem” e “O Cabeção” (com participação significativa de Arnaldo Antunes) são faixas muito legais e creio que estarei presente no concerto deles, tão comemorado por trocentos amigos ‘pimbas’ de Orkut. Quanto ao filme do Ang Lee que serviu de pretexto para a aquisição monetária de verbas para a contratação da banda, advirto: há uma poderosa chave interpretativa ali para se entender o que se passa durante a aceitação cultuada desta banda. Quem quiser saber, que veja a maravilha crítica que estará em exibição nos cinemas sergipanos a partir da próxima semana... E eu seguirei ouvindo Cidadão Instigado e gritando “Uhuuu!” quando me convier (risos).

PS: Rafael Maurício querido, “Dói” não funcionou muito comigo. É normal?

Wesley PC>

domingo, 28 de março de 2010

A SAFADA DA CATHERINE BREILLAT DEVE TER LIDO MEU DIÁRIO PESSOAL, NÃO É POSSÍVEL!

O nome desta mulher nua na foto é Amira Casar. Ela é a protagonista feminina de “Anatomia do Inferno” (2004), ótimo filme da francesa Catherine Breillat, de quem sou fã, que tive o orgulho de ver nesta tarde de sábado. No filme, a protagonista visita uma boate ‘gay’ e, após uma noite de abandono, tenta se matar. É salva na hora H pelo personagem de Rocco Siffredi, que pergunta o motivo de ela estar querendo acabar com a própria vida e a resposta vem seca: “porque sou mulher”. Ele, então, a leva a uma farmácia, onde ela faz um curativo, e depois é convidado por ela para observá-la, para analisar o seu corpo débil de mulher. O que se segue são sessões de feminismo invertido (uma verdadeira ode a uma estapafúrdia e preconceituosa fraqueza feminina), permeadas por bizarrices como batom passado no ânus, um ancinho enfiado na vagina da protagonista e um pênis completamente encharcado de sangue menstrual. Em outras palavras: algumas de minhas memórias famosas de infância (eu também já passei batom no cu!) e anseios eróticos de caráter heterossexual (sonho em ver uma mulher menstruando diante de mim!) misturaram-se neste filme que, com todos os seus problemas, soou-me deveras pessoal, fez com que eu me identificasse completamente, me fez desejar o Rocco Siffredi (que se revela um ator dramático e chorão competente!) e fez com que eu ratificasse o quanto eu sou fã da Catherine Breillat.

Como a maior parte das pessoas de minha geração, conheci esta artista aparentemente viciada em sexo graças ao novo clássico “Romance” (1999), em que uma mulher comprometida e bem-relacionada enfrenta uma grave crise de tédio existencial e passa a oferecer seu corpo a quem quiser, no afã por sentir-se preenchida sensorialmente, mas não consegue. Anos depois, vi “A Última Amante” (2007) no cinema e me encantei pela personagem firme de Ásia Argento, cortesã sufocada pelas opressivas convenções sociais aristocráticas e hipócritas. Descobri tardiamente “Uma Adolescente de Verdade” (1976), magnífico relato das descobertas sexuais de uma garota do interior atraída pelo pai que, numa das cenas eróticas mais geniais do cinema, tem uma minhoca dilacerada sobre sua vagina e sei que “Barba Azul” (2009) é o nome do projeto fabular mais recente da diretor, o qual está na minha lista pessoal de desejados desde já. Com todos os problemas discursivos manifestos em “Anatomia do Inferno”, permaneço um fã ardoroso dela. Parece que ela se diverte a plagiar os desejos recônditos de minha vida pessoal. Grande (e pervertida) artista!

Wesley PC>