sábado, 8 de novembro de 2008


"J'aime les notes au goût de miel/
Dans le prénom de Raphaël/
Je les murmure à mon réveil/
Entre les plumes du sommeil/
Et pour que la journée soit belle/
Je me parfume Raphaël/
Peau de chagrin pâtre éternel/
Archange étrange d'un autre ciel/
Pas de délice, pas d'étincelle/
Pas de malice sans Raphaël"

(Carla Bruni)

Se a primeira-dama da França diz isso, quem sou eu para desmentir?
WPC>

EM BREVE, TOM ZÉ EM SERGIPE!


Não é fácil escolher o melhor álbum deste artista definitivo que atende pela alcunha de Tom Zé. Como ele estará realizando dois dias de concerto em nosso Estado, no final deste mês de novembro, não custa nada escutarmos em Gomorra várias e várias de suas obras-primas musicais, para nos esgoelarmo-nos quando fomos juntos ao ‘show’.

O álbum que ilustra este comentário, “Todos os Olhos” (1973), famoso por sua polêmica capa da bola de gude no meio do cu, talvez seja aquele que eu mais goste, assim de supetão, em virtude de como cada uma das faixas do álbum homenageia um gênero musical diferente. Senão, vejamos:

A álbum começa com a antológica e experimental “Complexo de Épico”, que zomba desta “mania danada, desta preocupação de falar tão sério, de parecer tão sério, de sorrir tão sério, de chorar tão sério. (...) Ah, meu Deus do Céu, vai ser sério assim no Inferno”. Tudo a ver comigo e com preocupações recentes de Gomorra.

Segue-se: uma antológica versão orgânica para “A Noite do Meu Bem”; a onomatopaica “Cademar”; a faixa-título, em que o sábio compositor diz que não pode ser Deus porque não tem chicote (hehehe); o clássico neo-caipira “Dodô e Zezé”, que responde à pergunta “por quê? Por quê?” com a frase “é porque, é porque”; e “Quando eu Era sem Ninguém”, cujo título perfeito dispensa maiores explanações.

Minha faixa preferida, a sétima, “Brigitte Bardot”, é “a estória de minha vida”, linda canção que explica, num tom chistoso, o que a falta de amor pode fazer a uma pessoa, respeitada como mito por outros seres, mas solitária e muito sofrida por dentro. O resto do álbum é genial também, mas peço permissão para abandonar a minha crítica faixa-a-faixa neste momento, utilizando, inclusive, uma frase divina do álbum anterior, “Se o Caso é Chorar” (1972), na faixa “Dor e Dor”, que tem tudo a ver com o que precisarei dizer quando um dado baiano voltar para sua terra natal: “o brilho do teu riso é mais quente que o sol do meio-dia e mais, e mais...(...) E depois que você partiu, o mel da vida apodreceu na minha boca, apodreceu na minha boca”.

Só mesmo o baiano Tom Zé para saber o impacto que outro baiano tem em nossa vida (risos)

Wesley PC>

“VIVER” (1952). Direção: Akira Kurosawa


Às 4h da manhã de ante-anteontem, tive um esquisito ataque de carência. Inventei de responder de madrugada às duas primeiras questões do “Ataque Soviético” em meu nome da comunidade do Orkut e, não deu outra, entrei em pane. Tive que me convencer de que posso não ter tudo o que quero, mas tenho o que preciso. Tenho que me convencer disto ainda...

Dentro deste processo de convencimento, lembrei do filme ilustrado na imagem, cujo DVD está na Gomorra há mais de 2 semanas e parece que ninguém assistiu ainda... Pensei em recomendá-lo: arrisquem passar 2 horas e 20 minutos diante desta verdadeira obra-prima do cinema japonês que eu garanto que vocês não vão se arrepender. Nunca um filme conseguiu dignificar de forma tão nobre a vida de um burocrata preguiçoso. Sei que eu repito isto o tempo inteiro, mas admito: “Viver” é “a história de minha vida”!

Amo-vos!
Wesley PC>

ESPETACULARIZAÇÃO DESTRUTIVA X ESPETACULARIZAÇÃO CONTRA A DESTRUIÇÃO


(Dedico este texto a Paulo Bruno)

Enquanto uma jovem loira cantarolava canções divulgadas pela voz de Vanessa da Mata e pedia aplausos para o curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, eu e alguns amigos sentávamos num canto oposto, divertíamo-nos com as composições tristes e reflexivas do jovem capaz de tocar violão que atende pelo nome de Rafael Coelho. Sempre que alguém vinha perguntar se estávamos a nos isolar propositalmente da festa, dizíamos que não, que não precisávamos correr atrás sempre que alguém toca um tambor. Fiquei pensando nisso... e concordei!

Alguns minutos e horas depois, nesta ordem, meus amigos bebiam ou utilizam-se de alguma “substância estimuladores do músculo mental”. Lembramos fatos da infância [Rafael Maurício, por exemplo, viu um aleijado sair ileso da sessão cinematográfica do filme “Titanic” (1997, de James Cameron), aos 8 anos de idade!], realizamos uma enquête sobre se as pessoas gostam mais de macaxeira ou de inhame (a macaxeira ganhou, mas como só tínhamos inhame cozido, todo mundo comeu isso mesmo) e fizemos um inventário das atividades já realizadas por cada um de nós em Gomorra (sabiam que Rafael Maurício ficava completamente nu quando tomava banho lá?). Foi divertido.

Em dado momento, Rafael Torres comentou algo que me fez pensar: “devemos fazer o melhor de nós, visto que, como Wesley costuma dizer, o mundo está mesmo acabando”. Rafael Maurício ficou brincando com a noção de “juventude perdida” e, em dado momento, tento repetir os gestos dos personagens do filme “Trainspotting – Sem Limites” (1996, de Danny Boyle). Glauco e este último haviam conversado e bebido cerveja a tarde inteira. Havia sido bom. Enquanto isso, pessoas eram assassinadas no mundo. A fotografia que acompanha esse texto (de um crime contra um criminoso praticado em Sergipe no ano passado) talvez pudesse ser novamente exibida nos telejornais sensacionalistas que tanto chamam a atenção das pessoas. A culpa é nossa?

Wesley PC>

CONSCIENTIZAÇÃO PROLETÁRIA, AINDA?


Como todos sabem, a Reitoria da Universidade Federal de Sergipe ainda está ocupada pelos estudantes, que exigem medidas administrativas que favoreçam os alunos do Campus de Laranjeiras e os bolsistas do Campus de São Cristóvão, entre outros, prejudicados pelo desempenho relapso dos funcionários responsáveis pelos órgãos destacados. Até aí, tudo de bem, concordo com a luta deles, até esqueço que muitos dos participantes envolvidos na tal reivindicação só visam um treinamento político-partidário... Ontem, porém, inventei de me sentar diante de uma das rodas de discussão política do grupo ocupado. Que decepção!

Quando digo decepção, não quero dizer que me oponho por completo ao que foi feito/conseguido por eles ou às boas intenções coletivas, mas frustro-me ao perceber duas grandes disfunções organizativas:

I – Em muitos casos, as intervenções grupais priorizam questões privadas em detrimento de exigências públicas. Explico: as pessoas que passeiam pela Reitoria com pedaços de papelão com a palavra “ocupado” pendurados no corpo agem como se fosse um grupo de amigos num acampamento de escoteiros, vivendo num ambiente repleto de descontração e humor popularesco (vide a fonte musical requerida para muitas das paródias utilizadas como “canções de protesto”), simulando uma disciplina militar sempre que alguns dos organizadores vinculados ao PSTU está com um microfone nas mãos. Reclamo disso particularmente em virtude das primeiras palavras dos depoentes a que assisti ontem, um sindicalista da construção civil paraense com nome de grego e um petroleiro de renome em Sergipe e Alagoas, que tem 53 anos de idade. Ambos iniciaram seus contraditórios discursos com piadinhas pessoais, seja falando sobre por que um deles não fez vestibular (ou melhor, porque desistiu da Universidade pública quando não passou no vestibular) seja vangloriando-se de ter visto o pai, figura amada e querida que trazia dinheiro para casa, perseguido pela ditadura militar brasileira. Nos discursos, o particular era mais relevante que o geral. Isso são seria problema se fosse uma particularidade assumida, mas... Infelizmente, não é!

II – O tipo de discurso de protesto utilizado por ambos os discursantes citados no parágrafo anterior e pelos excertos de decorada plataforma política juvenil a que assisti (tão declamado que parecia o texto daqueles meninos que vendem jujuba no ônibus e dizem “boa tarde, gente, não perguntei nem para um, nem para dois, nem para três, boa taaaaaaaaaaaaaaaaaarde!”) recaía num anacronismo clássico: o apelo à classe trabalhadora. Classe trabalhadora: o que quer dizer isso? Gente que se submete a uma série de medidas e exigências a fim de ter o que pôr na mesa de seus descendentes e que dedica pelo menos 8 horas de seus dias a atividades emburrecedoras ou mantenedoras do sistema capitalista que os reivindicantes pareciam criticar. Na palestra a que assisti, os discursantes elogiavam o fervor de um grupo de grevistas que invadiu uma empresa para exigir 13ºs salários atrasados. Noutro momento, eles reclamam que o Governo Lula não está abrindo tantos concursos para funcionários públicos quanto eles queriam. Pergunto: não são justamente funcionários públicos aqueles que estão sendo impedidos de trabalhar, por inépcia, pelos estudantes ocupados? Não seria mais interessante elogiar greves que requerem modificações na própria estrutura trabalhista ao invés de necessidades monetárias discriminadas em constituições estatais. Não sei se eu ando abobado demais ultimamente, depois que – olha só, que coincidência! – fui despedido da Universidade Federal de Sergipe, mas... Não sinto orgulho nenhum de ser trabalhador, no sentido empregatício do termo. O tal aforismo de que “o trabalho dignifica o homem” está sendo violentamente deturpado por esse tipo de discurso. Temos que abolir o emprego e valorizar o trabalho como enxergava Friedrich Engels, enquanto potencializador das capacidades humanas e não enquanto mero proporcionador de salários.

Abrandando minha decepção: acredito nas boas intenções, admito que as exigências semi-atendidas pela Reitoria são causas ganhas pelos estudantes, mas este anacronismo socialista (?) subjacente aos discursos das pessoas com microfone nas mãos neste tipo de ato de revolta só alimenta o Capitalismo contra o qual eles/nós acreditam(os) que estão lotando!

Wesley PC>

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Enquanto eu cagava...

No meu último texto eu comentei sobre uma elucidação que tive enquanto cagava, em seu comentário Wesley falou da boa combinação entre o cagar e o pensar, e eu só tenho a concordar com isso. Eu mesmo, várias vezes, iniciei uma composição de letra de música enquanto estava no trono. Por isso que quando algumas vezes me perguntaram como é o lance de compor, eu dizia que é como cagar. Não adianta forçar, tem que esperar a vontade bater. E se prender faz mal!

Leno de Andrade

JOGO DOS 7 ERROS


Conforme prometido, um passatempo.


Encontrem as semelhanças e diferenças entre a primeira imagem (Marcos Vicente, mostrando toda a sua aptidão física numa praia) e a segunda (um fotograma do filme "Os Filhos do Medo" - 1979 - de David Cronenberg)


Quem se arrisca? (risos)
Wesley PC>

NÃO ESTOU NA FOTO PORQUE ESTAVA ATRÁS DA CÂMERA


Pois é, tive que escolher um lado.
Infelizmente, a tênue iluminação do ambiente prejudicou a qualidade das fotografias, que não ficaram tão nítidas quanto queríamos. Mas nada que estrague a pretensão de papai Coelho e mamãe Charlisson (ou seria o inverso?) em mostrar o quão numerosa e divertida é a nossa família (risos).

Recorde de público em Gomorra, na noite de ontem.
Pena que Ayalla não foi...
E, venhamos e convenhamos, de todos os presentes, o que mais surpreendeu foi Marcos Vicente, que, a cada pergunta que lhe faziam, respondia com um indefectível “vai se foder”! Ser criado por pais evangélicos é mesmo uma coisa muito complicada (risos)

Wesley PC>

CADA UM DE NÓS SEGUE A ESTRADA DE TIJOLOS AMARELOS QUE MELHOR NOS APRAZ!


Nunca pensei que uma sessão de “O Mágico de Oz” (1939, de Victor Fleming) pudesse causar a reverência que causou na Gomorra ontem: Lucas Ferreira, o “cobra” que solta piadinhas lascivas de 10 em 10 segundos de filme, parecia transportado a outra era, em que a permanente nos cabelos do Leão Covarde surgia como aviso de que sua infância seria diferente da dos outros meninos baianos que o circundavam; Rafael Coelho confessou lembrar de lapsos do filme, ficando satisfeito com a simplicidade da moral defendida pelo roteiro; Rafael Maurício parecia estar num de seus famosos transes lisérgicos, tanto que até brincou comigo: “este filme é a ‘estória de minha vida’, Wesley”! Eu sorri.

Sorri bastante, aliás. O filme é lindo e foi ainda mais lindo ver tantas pessoas interessadas naquele libelo em prol do “bom conformismo”, em defesa da necessidade de valorizar os bens e os amigos que já possuímos, que, como diz Charlisson de Andrade, são a base de nossos interesses e de nosso ser. Foi lindo brincar com as inflamações homicidas contidas no filme, com aquela profusão magnética de cores, com aqueles refrões trava-língua dificílimos de cantar. Foi divertido ver Lucas Ferreira e Rafael Torres fazendo competição de bundas, ter Marcos Vicente dormindo de um lado e Rafael Maurício acordado do outro, escutar as gargalhadas de Charlisson de Andrade e perceber que Anderson Luís realmente conhece o álbum “The Dark Side of the Moon” (1973), do Pink Floyd. Foi uma linda sessão!

“Não há lugar como a nossa casa”, constata Dorothy ao final do filme.
Por estas e outras é que considero Gomorra a minha segunda casa!

Wesley PC>

“FELICIDADE SERVE PARA QUÊ?”


Macabéa não sabia.
Não tinha tempo nem lhe deram oportunidade de descobrir.
Macabéa não sabia.
Todos nós sorrimos de Macabéa porque somos um pouco Macabéa também.
Quando zombamos de Macabéa, é como se expurgássemos todos aqueles traumas que já renderam conversas inflamadas nas madrugadas de Gomorra...
Macabéa sou eu!

“O senhor me desculpe”, repete Macabéa o tempo inteiro.
Macabéa submetia-se, reagia às agruras do mundo moderno com o melhor olhar apalermado de sempre. É violentamente destratada pelo metalúrgico bobo por quem se apaixona e é morta depois que cria mudar definitivamente a sua vida, após visitar uma cartomante.
Macabéa compra um vestido novo e passeia pela rua, ouvindo valsa.
Macabéa fui eu!

Wesley PC>

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

HÁ QUEM DISCORDE, MUITOS ATÉ... EU GOSTO (APARÊNCIAS SÃO IMPORTANTES PARA MIM!)


E hoje é dia!
E hoje Ayalla vai...
Se tudo der certo, hoje tem:
- O MÁGICO DE OZ;
- A NOITE DOS MORTOS-VIVOS;
- SEM DESTINO;
- O PANACA; e
- A HORA DA ESTRELA.
Haja tempo!
...E, nem que seja por alguns minutos, "ele" sempre aparece por lá...
Oh!

Toda quinta-feira, eu ponho em prática os melhores vícios de minha vida...


Salve Gomorra!

Wesley PC>

Eu sou Interesseiro

Ontem eu estava com Baiano e Wesley no "Império do Baiano". (Preferi falar "Império" invés de "República", porque o Baiano mora só, sendo um monarca em sua casa).

Estávamos conversando sobre um monte de coisa e entramos num assunto que se falou do egoísmo, e eu dei minha posição quanto a isto.

Eu, elogiando o egoísmo, disse que o egoísta pra mim não tem a ver com aquele tipo de pessoa que vive isolada, e que seria capaz de passar a perna em qualquer pessoa pra conseguir algo. Na minha opinião o egoísta é aquela pessoa que não se mede por outros, e seu comportamento e pensamento parte do "Eu". Então, eu disse que eu poderia ser egoísta e ter muitos amigos, sem precisar fazer juramentos, apenas por livre associação e INTERESSE. É, quando eu uso o termo "Interesse" pra definir minhas relações pessoais pode causar um certo estranhamento. Na hora, eu disse que essa palavra é ambígua, mas também não consegui explicar, ou demonstrar sua ambiguidade. Entretanto, hoje de manhã enquanto cagava, eu consegui fazer a separação e entender a razão do estranhamento que eu posso causar a falar isso. Entendi que atualmente a palavra "interesse" significa mais um interesse por algo material, apenas objetos, o interesse pelo "Ter". E o sentido que eu queria explicar quando eu usei a tal palavra é o interesse pelo "Ser". Creio que no mundo de hoje várias pessoas tem mais o interesse pelo "Ter", se interessam pelo o que a outra pessoa tem e não pelo que é.

Agora digo sem nenhum medo de mal entendido, que eu quero vocês como amigos, por um interesse pessoal. Interesse pelo o que vocês são.

Leno de Andrade

PARA QUE NÃO DIGAM QUE SÓ FALO DO MESMO ASSUNTO (OU MELHOR, DA MESMA PESSOA)...


Vai um pouco de outro assunto repetitivo (o que não quer dizer que nenhum deles seja desimportante):

Como é sabido, alguns setores da Universidade Federal de Sergipe foram ocupados pelos estudantes. Antes de explicitar aqui a minha concordância em relação ás reivindicações dos representantes estudantis que tomaram a frente da ocupação, preciso contar duas anedotas (reais), vivenciadas nesta segunda-feira, dia 3 de novembro de 2008:

a) precisava entrar no prédio da Reitoria para resolver um assunto pessoal. Quando estou abrindo um dos portões de acesso, um garoto bonito e com fala robotizada me pára e pede que eu leia um cartaz. Dispenso a leitura e pergunto: “quer dizer que eu não poso entrar por aqui?”. Ele insiste para que eu leia o cartaz. Eu desdenho e repito a pergunta. Ele insiste na mesma frase, até que alguém grita lá de dentro: “ele pode passar”. Eu pude passar. Por quê? O que me deu este direito, este poder súbito? Logo eu que trabalhava até pouco tempo num daqueles burocráticos da Universidade? Seria porque eu conheço e simpatizo com a maioria dos estudantes ocupados? Isto não seria misturar assuntos privados e causas públicas? Depois eu volto a tocar no assunto...

b) antes de voltar para casa, fiquei espiando as atividades dos alunos. De repente, uma das funcionárias da Instituição tenta penetrar numa das salas ocupadas, ao que é advertida por um militante: “a sala foi ocupada pelos estudantes”. Ela exclama, então: “Deus é mais!”. O aluno retruca: “neste momento, os estudantes é que são mais!”. A mulher trata o estudante como se foge um herege e vai embora, esbravejando. Surpreendentemente, o estudante é repreendido por uma colega, por ter “criado conflitos desnecessários”. O estudante em pauta, nosso amigo muito coerente Bruno/Danilo então questiona: “conflito desnecessário? Só porque eu incluí Deus no meio?”. Ai, ai, como é complicado mobilizarmo-nos grupalmente!

E é isso! A UFS está sendo gradualmente ocupada e, para além de qualquer defeito organizacional, eles têm razão em fazer o que fazem. Acabo de ver um filme político de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin, no qual eles se referem à universidade como sendo nada mais que “um jardim-de-infância para adultos”, logo em seguida ensinando como se fazem bombas caseiras para se utilizar em lutas armadas. Às barricadas, urgente!

Na foto, uma brilhante captação de momento durante a tentativa de boicote ao REUNI.
Vemos Rafael Torres em destaque, algumas pessoas conhecidas e queridas em posição de ataque, um segurança em posição de aguardo, um garoto com uma máquina fotográfica (demonstrando a importância metalingüística do evento) e o Pró-Reitor de Assuntos Estudantis com um olhar inane. Eis o que chamo de captação ativa de primeira qualidade!

Wesley PC>

“SABIA QUE PODEMOS SER FELIZES, EU, VOCÊ E A CIBERNÉTICA?”


Quando eu me sentei numa cadeira de cinema para assistir a “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1967, de Roberto Farias), esperava muita coisa: esperava que o filme fosse deveras ingênuo, mas que refletisse bem o espírito de uma época obnubilada pela ditadura militar; esperava cantar em voz alta todas as canções do filme, visto que possuo um CD com a trilha sonora; esperava me divertir ao lado dos bons amigos que me acompanhavam na sessão...

Para além de minhas expectativas terem sido saciadas, surpreendi-me bastante com a psicodelia do filme, que, para além de ser ingênuo, é extremamente metalingüístico, uma reflexão perene sobre o que é um filme, de maneira que o personagem principal passa o tempo inteiro gritando que aquilo ali é um filme, ao passo em que perguntava o que fazer depois. Sempre que ligava para o diretor do filme (vivido pelo filho do diretor do filme na vida real, Reginaldo Faria), poderosas avaliações sobre as divergências de poder entre diretor e roteirista eram despejadas na tela. A partir daí, citações a Glauber Rocha, vilões pedindo para não morrer no final, câmeras subjetivas turístico-citadinas e até mesmo imagens espaciais pululam na tela. Conclusão: o filme é extraordinariamente bom!

Saí da sessão em transe, com os versos de canções como “Quando”, “De Que Vale Tudo Isso” e “Você Não Serve Prá Mim” latejando em minha cabeça. Depois de uma sessão de fotos nos espelhos de um banheiro, eu e meus amigos caminhamos pelas ruas aracajuanas, comemos pizza com café e, ao final da noite, ainda tive a permissão de conceder um abraço unidimensional na pessoa que hoje considero “a mais linda do mundo”. Tive um domingo feliz!

Por isso, repito, em meu coração, alguns versos pedintes:
“Quem me dera, meu bem, eu pudesse outra vez te abraçar/
E afastar para sempre a tristeza do meu coração/
[...] Eu estarei sempre a esperar/
Que um dia essa tristeza tenha fim”
(Roberto Carlos em “Você Deixou Alguém a Esperar”)

Wesley PC>

69 VEZES LINDO!


Lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo lindo!

Wesley PC>

THE STROKES: “Room of Fire” (2003)


Não gosto de cerveja. Não bebo. Mas fico feliz ao saber que tal bebida é diurética e que os meninos que a bebem precisam ir ao banheiro com uma freqüência maior que a habitual.

Num intervalo entre as suas idas ao banheiro, as canções do álbum em pauta começaram a ser executadas no aparelho de DVD da casa em que eu me encontrava. O habitante da residência então me disse: “não gosto de músicas em inglês, mas The Strokes é uma das poucas bandas que cantam neste idioma que eu gosto”. Não deu outra: cheguei em casa e escutei o álbum em questão como se fosse um mantra, prestei atenção em cada uma das canções como se contasse as pedras de um rosário enquanto realizava uma prece. Sou um homem apaixonado, pensei mais uma vez.

Na primeira canção, o belo vocalista Julian Casablancas pergunta “O que foi que aconteceu?”, ao passo que repete que quer ser esquecido. Ele avança, passando pela música do grupo que Charlisson de Andrade mais gosta (“Automatic Stop”), até chegar às duas magistrais canções finais: a penúltima diz que “o fim não tem fim”, enquanto a última intitula-se “I Can’t Win” (“Eu não Posso Vencer”, em bom português). Neste momento, eu aproximo o meu nariz do corpo de alguém que eu rezo para que um dia pronuncie o nome da 7ª canção deste álbum: “Meet me in the Bathroom” (“Encontre-me no banheiro”).

Ah, se minhas preces fossem atendidas...
Wesley PC>

A MASTURBAÇÃO ENQUANTO COMPONENTE IDENTITÁRIO


Quando tinha 12 anos, minha mãe lutava deveras para me ver em processo masturbatório. Motivo: na cabeça dela, se eu me masturbasse, seria heterossexual. Conclusão: ela vivia inventando histórias sobre minha suposta virilidade, ao passo que eu sempre pensava em homens quando extraía meu próprio sêmen por vias solitárias.

Em minha cabeça, os banheiros nunca tiveram portas. Até hoje, não possuem portas. Conclusão: masturbar-se no banheiro de minha casa é uma impossibilidade – salvo para quem é exibicionista ou para pessoas que, como eu, aprenderam que brincar com os órgãos sexuais enquanto a mãe assiste à missa no rádio é um excelente truque.

Ao contrário do que muitos psicólogos de direita nos fazem crer, a masturbação não é um substituto nem uma mera preparação para o sexo. É um processo de experimentação, admito, mas não é completamente suplantado pelo ideal contato sexual entre duas ou mais pessoas. Tenho um irmão caçula que é casado e com vida sexual muito ativa. Ontem à tarde, gotículas de seu sêmen puderam ser encontradas na parede do banheiro sem porta de minha casa.

Desde que passei a freqüentar Gomorra com freqüência, masturbo-me bem menos que o normal. Estou apaixonado, penso – incapaz de confundir as coisas –, bem mais preocupado em saciar desejos psicológicos do que necessariamente físicos. Não era assim quando eu era um tolo fanático católico, consumido pela culpa. No ano 2000, por exemplo, quando entrei na Universidade, masturbei-me exatas 490 vezes. Hoje eu não preciso mais contar...

Na foto, uma bela cena de masturbação no filme alemão “O Desejo Liberado” (2006, de Matthias Glasner), sobre um estuprador que, após 9 anos confinado num hospital psiquiátrico, é posto em liberdade. Os desejos continuam ativos. Ele utiliza filmes pornográficos como possível catarse. Mas não é tão fácil assim...

Não, prezado Rafael Maurício, não é tão fácil assim...
Wesley PC>

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AS VERDADEIRAS INTENÇÕES SÃO AS MELHORES?


Há algumas semanas, Rafael Coelho tachou alguns de meus atos desejosos de indignos, no sentido de que minhas intenções ao cometê-los não são as mesmas que aparentam. Em outras palavras: ele chateia-se porque eu sempre faço tudo com “segundas intenções”, porque desrespeito a suposta noção idealizada de reciprocidade que deve acompanhar qualquer interação entre pessoas... Queria eu que fosse assim, mas algumas coisas independem de minhas vontades, meu bem!

Lembram daquele desenho de rosto na parede de Gomorra? Pois bem, o mesmo Rafael Coelho disse que gostou dele, no sentido de que parece uma versão cômica e infantil do quadro “O Grito”, do Edward Munch. Fiquei orgulhoso com a comparação, mas tive que confessar que, ao fazer o desenho, tudo o que pensava era numa demonstração prática de sexo oral. Isto muda o resultado da contemplação? Interfere na composição do produto?

Olhem para a imagem que acompanha esse texto. Dois homens dançam juntinhos, enquanto um terceiro executa uma romântica peça de violino. Por este motivo, pela ternura que a fotografia emana, ela é considerada a mais tenra imagem do que é chamado de ‘queer cinema’ (‘cinema bicha’). Não é mais bonito pensar nela desse jeito do que no que ela realmente representa, um mero fotograma científico de um protofilme, com menos de um minuto de duração, no qual a única coisa que importava era demonstrar que o som poderia ser futuramente captado pelas câmeras de cinema?

Ai, ai...
Seja lá qual for a interpretação escolhida, “Dickson Sound Experimental Film” (1894, de William Dickson) é uma obra-prima do pré-cinema!

Wesley PC>

UMA ORANGOTANGA HOLANDESA DE 31 ANOS COM UM FILHO RECÉM-NASCIDO NOS BRAÇOS


E que a imagem fale por si mesma, que cada um pense o que quiser!

ANEDOTAS E FETICHES


Existe uma famosa estória atribuída a Albert Einstein. Versa sobre uma experiência psicológica com macacos. È mais ou menos assim:

Puseram um grupo de macacos numa sala – 5, para ser exato.
Escolheram um deles como cobaia. Sempre que este ia buscar comida, os outros quatro eram eletrocutados. Várias e várias vezes seguidas. Depois de várias sessões de eletrochoque, os quatro macacos vitimados perceberam que espancar o macaco-cobaia seria a solução para seus males. Assim fizeram: quando ele foi buscar comida, espancaram-no violentamente. Mataram-no, para falar a verdade.

Trocaram o macaco-cobaia. O mesmo foi espancado e morto.

Assim foi feito até que 4 macacos eram diferentes, em contato com um macaco-cobaia sobrevivente. Os choques cessaram, mas ainda assim, sempre que o dado macaco ia buscar comida, ele era espancado.

Daí saiu o egrégio aforismo: “Triste época nós vivemos. È mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito!”

Na foto, “A Montanha Sagrada” (1973), do gênio latino Alejandro Jodorowsky.
Afinal de contas, crenças (religiosas) podem ser meros fetiches, mas, de vez em quando, o que tem de mais em prestarmos atenção nelas?

Luiz Ferreira Neto, este texto é em tua homenagem, ok?
Beijinhos,
Wesley PC>

O AMOR É ALGO QUE APRISIONA?


Pergunto a mim mesmo em meu Fotolog pessoal e não tenho muitas dificuldades para responder de imediato que NÃO, que o que chamamos de aprisionamento é outra coisa, um conjunto de nossos próprios erros e incapacidades em lidar com aquilo que sentimos e que tanto nos assusta...

Não consegui dormir hoje, precisei me deitar na cama de minha mãe para ver se ficava mais tranqüilo, mas, apesar do mais delicioso dos abraços familiares, não consegui, estava tenso: de um lado do cérebro, lembranças e esperanças afetivas absolutamente temerosas; no mesmo lado, pavores e cobranças temerárias; do outro lado, preocupações e planos... Uma mistura perigosa às 3h da madrugada!

Incapaz de achar um culpado legítimo para a minha agonia que não fosse eu mesmo, pus a culpa no ótimo filme que vi antes de dormir. Repito: ótimo. “O Albergue 2” (2007, de Eli Roth), em que jovens que viajam pela Europa são capturados pela inebriante cultura tcheca e por milionários que se comprazem em torturarem pessoas até a morte. Além de ser impactante por si mesma, a trama do filme guarda importantes reflexões sobre o quanto nós, espectadores, não legitimamos as torturas deslindadas no filme. Queria conseguir o DVD deste filme e vê-lo discursivamente em Gomorra. Ah, eu queria...

Quanto à pergunta lá de cima, acho que Billie Holiday responde melhor do que eu através da canção “Solitude”:

“In my solitude/
You taunt me/With memories/
That never die/

I sit in my chair/ And filled with despairTheres no one could be so sad/With gloom everywhere/I sit and I stare/I know that Ill soon go mad/In my solitude/I’m afraid/Dear lord above/Send back my love”

Wesley PC>

terça-feira, 4 de novembro de 2008

TADZIO TROPICAL


“A amizade não é mais do que a forma singular e muito sutil do imenso sentimento de amor que todo homem predestinado, nos seus escaninhos íntimos, descobre para sua glória interior”:

Li esta frase na página 51 de minha edição do livro “O Milagre da Rosa”, de meu pai Jean Genet. Escrevi tais versos na parede de Gomorra, mas não achei suficiente. Continuei a ler o livro e, na página 85, estava lá:

“Aquele homem era o coração de uma estrela. Convergindo para a sua braguilha, as pregas que a calça forma até nas coxas quando a gente se senta, pareciam os raios muito agudos de um sol de sombras. Erguendo os olhos, vi o olhar brutal, irritado, do jovem malandro. Eu tinha apagado o cigarro entre os dentes. Não saberia dizer que dor foi mais forte: a queimadura nos lábios ou no coração”.

Os olhos do garoto da foto são ternos e eu não fumo.
Todo o resto é verdade!

Wesley PC>

É MUITO BOM PODER ESCOLHER!


É ótimo, é possível...


Às vezes, eu olho para o lado e fico tão feliz em poder escolher, em não precisar fingir promiscuidade para parecer "descolado", em aprender gradualmente a respeitar...


Todas estas pequenas e essenciais atividades me mostram que sexo é interação, é muito mais que esta interpretação equivocada das sensações físicas que, quem julga a Gomorra de fora, pensa...
Na foto, uma das cenas do Círculo do Sangue em "Salò ou os 120 Dias de Sodoma" (1975), clássico do Pier Paolo Pasolini, exibido numa sessão problemática de universidade, em que muitos me acharam conservador...
Acho que é isso mesmo: sou um conservador!
Wesley PC>

“A MORTE É UMA INVENÇÃO DA DIREITA!”


Atendendo a pedidos, eu felizmente consegui recuperar o texto com o qual pretendi homenagear Helenilza, nossa amiga, namorada de Bruno/Danilo, que faleceu em Gomorra. Luto reivindicativo para ela:
Em 27 de outubro de 1976, o cineasta que pronunciou a provocativa frase que dá título a esta postagem soube, através do rádio, que o corpo de seu amigo Di Cavalcante estava sendo velado no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Sem pestanejar, pegou uma câmera, reuniu alguns amigos de equipe e partiu para o velório, onde, sem qualquer permissão da família do pintor (ou de quem quiser que estivesse lá), fez uma grande baderna, filmou o cadáver em primeiríssimo plano, com seu rosto inchado, entupido de algodão, enquanto gritava poesias de que ambos gostavam. Algum tempo depois, este tumulto transformou-se no magistral curta-metragem “Di” (1977), que possui uma infinidade de títulos, além desta simples apelido com duas letras.

Além das polêmicas imagens do velório e do enterro, em que o referido cineasta Glauber Rocha desrespeita as convenções burguesas do luto e proclama em alto e bom som que seu amigo não deve ser lembrado como morto, mas sim como vivo e ativo, o curta-metragem “Di” também utiliza canções de Lamartine Babo, Jorge Ben e Paulinho da Viola para honrar a memória do pintor Di Cavalcante, cujas imagens cadavéricas foram captadas e mostradas em meio a uma narração futebolística de caráter radiofônico. O filme até hoje tem sua exibição pública proibida pela família do pintor, mas, para mim, é uma das mais extraordinárias demonstrações de amizade já realizadas através do cinema. Se um ia eu morrer e algum de meus amigos estiver vivo, quero que façam o mesmo em meu velório – supondo que me concedem esta execrável e comumente hipócrita cerimônia burguesa.

Trouxe esta bela evocação da amizade à tona porque, em 20 de outubro de 2008, enquanto punha potinhos repletos de fezes e urina em meu bolso, recebo um telefonema chocante, dizendo que uma jovem extremamente meiga, de apenas 28 anos, havia falecido, havia tombado em virtude de um infarto fulminante. Não pude ir ao enterro, na cidade de Moita Bonita, em virtude do exame demissional de sangue a que estava sendo submetido mas, ao invés disso, fiquei pensando na garota. Lembrei dela sorrindo, com seu jeito tímido; lembrei que ela não se esquivava de passar a noite fazendo sexo, se isso agradasse também a seu namorado militante; lembrei que, num momento de desconcentração, ela puxou uma faca para mim, na última sexta-feira, emulando os filmes de terror que eu trazia para que ela visse, quase toda quinta-feira; e lembrei que havíamos marcado sessões de dança, a partir da próxima segunda-feira, para que ela nunca mais se envergonhasse quando eu a puxasse freneticamente para dançar, ao som de “Twist and Shout”, de The Beatles. Lembrei dela VIVA!

Na foto, uma imagem anódina do velório, antes de o furacão Glauber Rocha chegar...
Wesley PC>

SITUAÇÃO-LIMITE


Como todos devem saber, possuía um Fotolog até bem pouco tempo. O mesmo, porém, foi deletado pelos administradores virtuais, sob ameaça de perigo contra os bons costumes dos leitores. Creio que foi esta foto e o texto abaixo que causaram a minha ruína moral (risos). Por isso, transcrevo-os novamente:

Zapeando pela Internet, descobri que Gerard Damiano havia morrido. Não sei quando, não sei de que ainda, mas li que ele havia morrido. Para quem não associou de imediato o nome à figura, o ítalo-americano Gerard Damiano (que também utilizou o pseudônimo Jerry Gerard) é um diretor de filmes pornográficos muito conceituado, responsável por pelo menos dois clássicos: o primeiro deles me ensinou que a felação pode salvar a vida de pessoas que, até então, se consideravam frígidas; o segundo é este que vemos na fotografia, “O Diabo na Carne de Miss Jones” (1972), obra-prima.

Na primeira cena do filme, a personagem-título, vivida por Georgina Spelvin (aos 39 anos de idade!), corta os pulsos numa banheira, depois de se masturbar. Não temos tempo de saber o porquê de ela não mais desejar viver. Ao contrário disso, somos chocados pela quantidade de sangue e dor sintetizada em 5 minutos do filme. Morta, a personagem é enviada ao Inferno, visto que, diz a lenda, suicidas não merecem o Paraíso. Porém, a personagem é virgem. Morreu sem ter feito sexo com ninguém! Sendo assim, é novamente enviada à Terra, a fim de que corrompa o seu corpo com o máximo de experiências sexuais possíveis. Ressuscitada, Miss Jones fode com homens, mulheres, cobras, mas jamais atingirá algo semelhante à Salvação. Encerra o filme repetindo um mantra que é executado sub-repticiamente durante toda a obra: “Eu vou conseguir, nem que seja sozinha!”. Quando vi o filme, identifiquei-me de imediato!

Tentei rever esta obra-prima pornograficamente dolorosa recentemente, mas as brigas recorrentes de minha família e os traficantes de drogas que ficaram em frente à minha casa, cobrando um dinheiro que meu irmão caçula ficara devendo numa perigosa boca-de-fumo, impediram o êxito de minhas atividades culturais, com exceção da leitura de um livro de Jean Genet que me faz sentir cada vez mais e mais apaixonado por um dado estudante de História. Pensei comigo mesmo: “Será que esta situação de perigo por mim vivenciada será freqüente?”. Senti medo, mas acho que possuo algo bom para me concentrar...

Descanse em paz, Gerard Damiano (1928-2008).
Wesley PC>

'MEA CULPA, MEA CULPA, MEA MÁXIMA CULPA'!


Senhoras e senhores,


Chamo-me Wesley Pereira de Castro e sou grafômano.

Escrevo o tempo inteiro, lamento-me sempre que possível!

Por isso, volta e meia aparecem minhas lamúrias aqui, mas, como eu disse antes, sou um ser que se apaixona, sou um ser que se envolve, sou um ser que se desespera, sou um ser que ama!

Por isso, peço desculpas se estiver ocupando tempo e espaço demasiado com minhas "subjetividades", mas gosto de fazer parte de Gomorra e sinto-me na obrigação de pagar através de elogios, reflexões e metáforas de veneração mauriciana tudo o que ela me causa de bom...

Obrigado, portanto - E desculpem qualquer coisa.

WPC>

CHARADINHA:

Onde é, onde é?

È um lugar de festa, no qual as pessoas vão para se divertir.
Tem muita gente, muita bebida, muita música.
Todos vão animados, esperando encontrar seus pares, mesmo que estes já estejam comprometidos com outras pessoas...
Vale tudo: vale dar em cima de homem casado, de menina comprometida...
Pelo jeito, só não vale prestar atenção naquele que dança sozinho...
E naquela mulher que se masturba no banheiro para ter prazer...
E naquela outra que paga para obter um pouco de atenção...

Inebriados pelas próprias vontades, as pessoas que aproveitavam a festa não percebiam que gente sofria ao seu redor... Além daquelas pessoas que comemoravam e se conformavam com as horas de prazer obtidas através do sexo (que chegavam a tornar dispensáveis conceitos mais apurados de amor), há quem se lembre do passado, quem lamente romances perdidos, quem sabe que uma declaração de amor sincero é maior que qualquer repente de orgulho...

Estou falando do ótimo filme “Chega de Saudade” (2007, de Laís Bodanzky), mas a carapuça pode ser bem mais ampla...

“E os meus olhos ficam sorrindo/ E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim/ Foges de mim”

Wesley PC>

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

DIANA - CLAMOR ADICIONAL


“Uma vida tão vazia, sem amor, sem esperança, fez de mim uma descrente de viver/
E durante as minhas férias, eu pensei numa viagem e assim os meus problemas esquecer/ [...]
Fatalidade/ O amor surgiu tão de repente/ Até mesmo quando traz uma esperança, é uma fatalidade”

Ontem eu repetia e repetia esta canção na Gomorra...
Rafael Torres se opunha, Rafael Coelho cantava comigo e Rafael Maurício ocupava cada segundo de meus pensamentos enquanto me esgoelava durante aquelas canções maravilhosas... Esta mulher é divina! É brega, é fatalista, é derrotista, mas também sabe se erguer. Ela conta como ninguém todas as histórias de minha vida: “já sei de solidão, das lágrimas que eu vi surgir/ E até você, meu bem, me diz que vai partir”...

Recentemente, eu e Charlisson cantamos algumas de suas obras-primas musicais numa praia. Digo de coração: qualquer pessoa no mundo precisa tirar uma tarde e ouvir este disco cuidadosamente, prestando atenção minuciosa em cada uma das letras. Sério. Querendo, eu empresto... “Quero te ver sorrindo/ Vou te fazer muito feliz/ basta te ver sorrir (...)/ Pois todo mundo vê que eu não sou feliz/ Se acaso estás longe de mim”...

E tem uma cópia na Gomorra também...

“No fundo de minha alma/ eu guardo um sentimento/
Embora eu já saiba/ que não devo te amar/ [...]
Eu sei que um outro alguém/ Já tem o seu carinho/
Eu sigo o meu caminho/ Que é de solidão”

Obra-prima!

Wesley PC>
“No fundo de minha alma/ eu guardo um sentimento/
Embora eu já saiba/ que não devo te amar/ [...]
Eu sei que um outro alguém/ Já tem o seu carinho/
Eu sigo o meu caminho/ Que é de solidão”

Obra-prima!

Wesley PC>

"DEATH TO BIRTH":


Esta é o nome da canção que o ator loiro Michael Pitt compõe e canta em “Últimos Dias” (2005), maravilha cinematográfica do Gus Van Sant, que versa metaforicamente sobre a angústia que ceifou a vida de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana. Gosto de suas canções tristes, “Something in the Way” sempre mexe com meu coraçãozinho machucado e, como vi este filme entre amigos, no último Cine Gomorra, não custa nada expor aqui a tradução da canção, com a qual muito me identifico agora:


“É uma longa, longa viajem da morte ao nascimento (4X)

Devo morrer de novo? /

Devo eu morrer em torno do peso dos corpos que lamentam através do espaço?/

Eu sei que eu nunca saberei até que eu fique cara a cara /

comigo mesmo, e a minha vida sem conteúdo/

É o meu testamento, é o meu testamento, meu testamento/
eu espero....não, não, não/

É uma longa, longa viagem da morte ao nascimento”

Ai, Deus, por que eu me apaixono?
Wesley PC>

"BOCETA VIRGEM DO CÉU!"


Quem já me ouviu invocar esta entidade genital e não tiver suficiente conhecimento mariano talvez não saiba o que estou querendo dizer com isso... Como sou religioso e – cof, cof – tenho certo arcabouço artístico, exponho aqui um dos quadros mais belos com que já me deparei nestes 27 anos de existência. Repito: um quadro!

Sim, gente, isto na imagem é uma pintura, datada de 1866, pintado pelo anarquista francês Gustave Courbet (1819-1877), chamada “A Origem do Mundo”. Poucas vezes na vida vi um título de obra de arte tão apropriado! É incrível como o Gustave Courbet diz a que veio assim de imediato!

Deixo esta imagem pensando em todos de Gomorra.
Amo-vos e foi de uma vagina parecida com esta que eu saí...
Não sei se voltarei para ela antes de morrer, mas, admito, não tenho nada contra!

Abaixo a misoginia e a heterofobia!
WPC>

OH, DEUS, O ANACRONISMO!


...e ele não estava lá...

Ontem á noite (ou de madrugada, para ser mais preciso), revi "Persepólis" (2007, de Vincent Parinnaud & Marjanne Satrapi) em Gomorra.

Para quem não conhece, este é um desenho animado em preto-e-branco que narra, num tom dolorosamente autobiográfico, todas as agruras e sofrimentos da roteirista/diretora/cartunista Marjanne Satrapi. Em outras palavras, é uma estória de fracassos, é uma ode á necessidade de ERRAR, desde que isto se configure numa conseqüência das tentativas...

Tento tanto, que já aprendi a louvar o erro e os tais “cárceres” que o Charlisson descreveu no texto anterior...

Antes fomos à casa d’ele (escrevo com minúsculas, mas a veneração é a mesma) e futuquei as coisas que achei sobre sua mesa... Descreio em intimidade, o que talvez não seja correto! Fiquei imaginando-o vendo filmes pornôs, dormindo saciado, enquanto aquele sorriso tropical impregnava todo o ambiente mundial pelo qual ele já havia passado... Bem-aventuradas aquelas bêbadas de ônibus que puderam penetrar em seus ouvidos e virar assunto alguns minutos depois...

Desviei do assunto, desculpa!
Quero mais é recomendar “Persepólis”, seja o filme, seja o livro em quadrinhos, seja lá o que for...
Afinal de contas, pode parecer um desvio ocidental, mas ouvir Iron Maiden no Irã é, no mínimo, um ato de protesto! (risos)

Wesley PC>

domingo, 2 de novembro de 2008

APENAS UMA CANÇÃO

Muita gente pode se enganar, achando que vai encontrar a liberdade na Gomorra.
Afinal, o que é ser livre? Do que podemos nos livrar? Inevitavelmente, sempre estaremos preso em algo, não acredito na liberdade plena. Há de pensar que sou triste! Não, não! Sou uma das pessoas mais contente deste mundo, porque mesmo que estaja preso ou me prendam em algo, eu ainda tenho a mim, e isso ninguém me tira.
Voltando a falar sobre a Gomorra. A Gomorra não é um lugar de liberdade, mas apenas uma canção de liberdade. Um alemão que eu nem conheço chamado Gorch Fock dizia "Toda canção de liberdade vem do cárcere", frase que era citada por Octavio Brandão, um anarquista brasileiro do inicío do século XX.
Pois é isso, toda vontade de liberdade que existe na Gomorra é resultante de vários cárceres que existe nas pessoas que ali frequentam, embora muita gente tente disfarçar esta prisão.
Alguém pode pensar "esse Leno é chato mesmo, só sabe falar mal das coisas".

Mas quem disse que eu não gosto de música? Cantem meus amigos, cantem!!!!!!!!!!!!

Ass: Leno de Andrade

"JESUS CRISTO SUPERSTAR" (1973). Direção: Norman Jewison


Espero em breve levá-lo à Gomorra...


Afinal de contas, ideologias que parecem opostas pela má administração do Capitalismo não precisam ser excludentes!


Sou teísta, sou 'hippie', sou 75% homossexual e 25% bissexual, sou um homem apaixonado. Sempre fui!
Já basta de crucifixações!
WPC>

A LUZ QUE BRILHA NA (MINHA) ESCURIDÃO


Nem Ele sabe, nem Ele liga, nem Ele sente, nem Ele faz de propósito, mas Ele brilha, Ele ilumina, Ele irradia, Ele cura dor de cabeça...

E se eu não escrevo todas as letras de Seu nome com todas as letras maiúsculas, é porque ainda penso na Gramática, penso nos Mandamentos bíblicos, penso que tenho que respeitá-lo, penso que ainda não sei de quem é a culpa...

Mas, quando paro de pensar e vejo, sinto, cheiro... eu calo a boca e volto a escrever Ele como Ele merece, Ele merece, Ele merece...

Ele merece que compremos uma máquina fotográfica apenas para que tenhamos pretextos para mostrá-lo assim, reflexivo; Ele merece que a auto-recomendação para as “mulheres do sexo feminino” seja bem-sucedida; Ele merece tudo! Ah, Ele merece!

E que lâmpada é aquela que ousa competir com Seu brilho?
É um lembrete: Ele é humano.
Não é perfeito, como Ele mesmo disse, ao lembrar o final de MORANGO E CHOCOLATE (1993, de Tomás Gutiérrez Aléa & Juan Carlos Tabio)
“Seu único defeito é não ser ‘gay’!”
Quem disse que isso precisa ser defeito?

Não deve haver nem melhores nem piores em Gomorra...
Mas que o guri da foto brilha, ah, sim, Ele brilha!

“Amo ao senhor porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica”
Salmo 116:1.
WPC>

COMBINAÇÃO DE DESEJOS


Lembro que, desde pequeno, ficava a me indagar porque dizem "comer" quando se faz sexo com alguém... Quando descobri a masturbação, percebi que reter o gozo é quase tão difícil quanto manter o gosto de leite condensado na boca por muito tempo... O gozo é tão fugidio e prazeroso quanto o gosto, quanto a satisfação alimentícia. Pensei ter descoberto aí o teorema... Comer e comer, comer... Gozar, viver...

Em Gomorra, se come muito...
De todas as formas possíveis!
Em Gomorra se come goiabada, se comem pessoas mutuamente, se comem lembranças, se come esperma jogado no ralo, se comem odores nos pés divinos do Baiano, se come vida, se respira vida, se caga vida!

WPC>

"Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me"


(Gênesis 3: 10)


Em Gomorra, acontece o contrário!


WPC>

O QUE É GOMORRA? (MINHA VERSÃO)

Ao pé da letra, Gomorra é uma das cidades bíblicas que foram destruídas pelo Deus vingativo do velho Testamento, quando este “se arrependeu de ter criado a Humanidade”. Se arrependeu porque cria ter visto ali “tanto horror e iniqüidade”, de maneira que os humanos não mereceriam mais chance de vida. Nem humanos, nem ser vivo nenhum, pois, quando o tal Deus enviou o dilúvio à Terra, afogou éguas, galinhas, borboletas e girassóis. “Tudo o que existia e respirava abaixo do Sol”, apenas porque Ele havia se arrependido! Não é nesse Deus que creio!

Creio em um Deus – que não precisa ser necessariamente “um”, mas tudo.
Creio num Deus que cria, que ama, que perdoa e que dá livre-arbítrio.
Creio num Deus de liberdade e, assim sendo, para mim, pecado não é necessariamente aquilo que está redigido na Bíblia ou proibido através das Constituições de inúmeros países ao redor do mundo. Para mim, Pecado é quando se desrespeita o próximo, é quando se deixa de fazer aquilo que ama por achar que é errado, é quando deixamos de obedecer àquela vozinha gostosa que se localiza no fundo de nossa consciência. Isso para mim é pecado, isso para mim é errado!

O que se faz na Gomorra não... É prazer!
Por mais que digam que a Gomorra que tão bem me acolheu como ser humano imperfeito seja um lugar conservador disfarçado de libertino, eu amo este local, eu considero-o como a minha segunda casa e, com toda a sinceridade teológica que possuo, grito: AMO A GOMORRA E É LÁ QUE EU ME ENCONTRO! E foi lá também que encontrei o Amor (por mais que este assunto mereça um outro tópico explicativo e corretivo – risos)

Por isso, espero que não tomem minha intenção de iniciar este ‘blog’ com foto e textos de cunho muito pessoal como sendo algo ofensivo, mas acho que meu olhar de “santa puta” na imagem tem muito a ver com o que Gomorra representa, para o Bem e para o Mal...

Wesley PC>