sábado, 8 de janeiro de 2011

OU EU VIA “PROVIDENCE” (1977, DE ALAIN RESNAIS) HOJE OU EU NÃO ME CHAMAVA WESLEY!

Há mais ou menos dois meses que eu pelejo para assistir ao clássico menos conhecido do genial diretor francês Alain Resnais, “Providence” (1977). Nestes quase dois meses, aliás, decepcionei-me um pouco – ou pensava que tinha me decepcionado, mas era uma mera impressão de quem põe as expectativas à frente da realidade – com o estilo do diretor, no sentido de que seus filmes mais recentes são preenchidos por uma noção amorosa demasiado burguesa, mui diferente daquela que saturava seus longas-metragens iniciais, mais particularmente a desnorteadora e genial trilogia emotivo-mnemônica composta por “Hiroshima, Mon Amour” (1959), “O Ano Passado em Marienbad” (1961) e “Muriel” (1963). Se, naqueles filmes, uma montagem absolutamente não-linear confunde perpetuamente o espectador ao apresentar-lhe fatos que podem ou não ter existido, que podem ou não ser frutos da imaginação de um narrador apaixonado, nos filmes mais hodiernos [particularmente, “Medos Privados em Lugares Públicos” (2006) e “Ervas Daninhas” (2009)], a montagem é paralela, no sentido novelesco do termo, e acompanha as ações de personagens riquíssimos, no sentido aquisitivo do termo, cujos amores são minuciosamente atrelados aos seus hábitos pequeno-burgueses.

Numa tarde bonita, um rapaz ainda mais belo perguntou-me que cineasta eu lamentava com mais intensidade no que diz respeito à venalidade de seus caracteres geniais. Por um momento, pensei em Alain Resnais, mas foi um engano de minha parte, logo corrigido: Alain Resnais não vendeu a sua genialidade, mas, ao contrário, aperfeiçoou-a em nível pessoal, direcionou-a em fervor próprio, e, diante do magnânimo “Providence”, visto finalmente na manhã de hoje, fiquei chocado num diálogo conclusivo, em que o protagonista envelhecido, na cerimônia de aniversário de seus 78 anos de idade, comenta que entende a burguesia como sendo “a rejeição veemente de ideologias contemporâneas”, ao que seu filho mais velho logo acrescenta: “não somente a rejeição, mas sim o temor de que estas ideologias contemporâneas possam destruir seu modo de vida”. E, neste sentido, acho que eu próprio sou burguês e, como tal, tenho mais é que desculpar e pedir desculpas ao genial Alain Resnais: ele é genial, firme, consistente, coerente e, acima de tudo, genial, genial, genial!

Por mais de um motivo, portanto, “Providence” foi o meu auto-presente ideal de aniversário. No filme, passado, tempo atual e imaginação se confundem. Eventos reais e imaginários, eventos surreais e eventos possíveis, situações de ódio e situações de amor, tudo se confunde... Um escritor moribundo imagina a sua derradeira estória, envolvendo um advogado ciumento e afetado, cuja esposa se envolve com um réu, um militar traumatizado pela guerra, que executa um velho que desejava morrer e é julgado inocente por tal. Seu irmão é futebolista e ele se torna um astronauta frustrado, enquanto o esposo de sua amante envolve-se com uma mulher mais velha e cancerosa, que se parece deveras com sua mãe, que se suicidou ao adoecer, fazendo com que seu velho marido se sentisse culpado. Sim, parece um pouco complicado de entender, mas a inebriante trilha sonora de Miklós Rózsa, o divino roteiro de David Mercer, a direção segura, as atuações dúbias e o final que sintetiza tudo numa mistureba de impressões que não se explicam, de amor que se sente e não se compreende. “Deixem-me sozinho”, diz o velho. Mas nós ficamos com ele, até o final. Obra-prima!

Wesley PC>

MILITÂNCIA HOMOSSEXUAL E MOVIMENTOS SOCIAIS – O CASO DA ASTRA (SIGLA PARA DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA GLBT) EM SERGIPE

O mais interessante da proposta inicial deste ‘blog’ coletivo é que qualquer assunto cabe em seu escopo e, neste sentido, gostaria sobremaneira de aproveitar o ensejo aniversariante para externar um de meus maiores conflitos acadêmicos, quando um professor concedeu-me a noite mais baixa do período (7,3) por eu tomar como pessoal um assunto que deveria ser focado de forma objetiva. Não creio nesta tal de objetividade e, como tal, pouco me lixei pela tal nota, visto que concordei com o que eu mesmo redigi no tal artigo científico intitulado como esta postagem. Em razão da larga extensão do mesmo, reproduzo aqui apenas o seu capítulo final, referente às tais das conclusões prototípicas, mas é mais ou menos assim que eu entendo a questão. Posicionamentos dialogísticos contrários são bem-vindos, OK?

Seja como for que se posicione acerca da questão homossexual, a luta contra o preconceito e em prol da igualdade de direitos não pode ser travada numa concepção unidirecional. Primeiro, porque a própria noção de “identidade homossexual” perpassa questões conceituais mui complexas, que torna mais do que imprescindível uma abordagem interdisciplinar entre várias proposições teoréticas aparentemente divergentes, mas que soam complementares em seus objetivos aplicativos. Segundo, porque a noção de “igualdade de direitos” não encontra amparo sequer entre as camadas heterossexuais da população, visto que uma configuração reivindicativa de classe sempre permite que se perceba uma nova sub-reivindicação de classe, tamanha a complexidade de questões relacionadas à inserção do homem no meio social que o circunda. Terceiro, porque as lutas homossexuais não agem isoladamente, mas sim atreladas a outras lutas, seja contra o machismo sustentacular de posicionamentos tacanhos de enfrentamento opinativo, seja contra o autoritarismo político que eventualmente se manifesta nas constituições nacionais, seja contra um reducionismo genérico que não mais abrange a totalidade de sub-classificações sexualistas, conforme a ampliação e/ou modificação constante que a sigla LGBT e congêneres vêm sofrendo ao longo dos anos.

Como agravante adicional, há que se destacar que, nas sociedades em que se desenvolveram as primeiras manifestações de enfrentamento contra a hostilidade direcionada aos homossexuais, aqueles que se assumiram publicamente posteriormente se envergonharam, “não tanto em razão de obstáculos precisos (família, patrões, polícia), mas devido ao fato de que, na sociedade capitalista, o homossexual é naturalmente vergonhoso” (HOCQUENGUEM, 1980: 37 – grifo do autor).
Em outras palavras: os arranjos sociais e “populares” que perpassam as questões reivindicativas modificam estruturalmente as concepções amplificadas que vinham se tendo acerca dos papéis sociais que os indivíduos desempenham ou são ensinados ideologicamente a desempenhar desde que se submetem, não de todo voluntariamente, aos aparelhos ideológicos de estado (família, igreja e escola, à frente) com que se deparam desde a infância, de maneira que o debate intensificado acerca destas questões “coloca a homossexualidade, acima de tudo, como um fato social. E, como tal, é palco das mesmas disputas, paradoxos, contradições e transformações que caracterizam a sociedade como um todo” (FRY & MACRAE, 1986; 120 – grifo dos autores).

É sabido que os estereótipos culturais adéquam-se às mudanças comportamentais próprias de cada era e, como tais, estes são necessários à manutenção defensiva de uma divisão ideológica de papéis sociais entre os indivíduos, o que explica a flexibilidade das fórmulas chistosas que, à sorrelfa, obtêm êxito na legitimação da ideologia pretendida, o que leva a concluir que “o desafio da sociedade é conseguir estereótipos que sejam fortes o bastante para proporcionar cooperação, mas flexíveis o suficiente para permitir o desenvolvimento individual” (TUCKER & MONEY, 1981: 13). É neste sentido que os militantes homossexuais, assim como outras minorias que se sintam “atingidas” negativamente pelos detentores do poder, devem manter seu senso crítico em constante reavaliação autocrítica, sendo bastante cuidadosos para não caírem nas armadilhas da satisfação imediata (ou melhor, imediatista) de suas exigências primárias e ignorando que o patriarcalismo capitalista, em sua forma mais deletéria de dominação histórica, é o que deve ser combatido, acima de tudo, enquanto esforço conjunto de todos os cidadãos que se sintam inferiorizados ou injustiçados por quaisquer que sejam as suas razões.

Transferindo estas questões para a organização não-governamental que fora estudada neste artigo cientifico, ressalta-se que, para além de discrepâncias discursivas da ASTRA (leia-se: rendição efusiva a comemorações tendenciosamente mercadológicas e/ou disfuncionalmente estereotipadas, como as dublagens de músicas ‘pop’ que a presidenta Thatiane Araujo engendra numa conhecida boate ‘gay aracajuana), no plano organizacional-midiático, a instituição peca por uma displicente preocupação estrutural com recursos administrativos essenciais como organogramas, envios de correspondências eletrônicas, clipagem e comunicação interna entre os seus colaboradores. Mas, ainda assim, ela deve ser laureada por sua significativa insistência acerca da visibilidade homossexual, pedra de toque fundamental das manifestações homossexuais hodiernas, que apregoam o seguinte jargão: nós estamos em todos os lugares”. Sergipe, incluído!

No aguardo,

Wesley PC>

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

QUEM QUISER ME PRESENTEAR COM “A MULHER DE TRINTA ANOS”, A HORA É ESTA!

Não sei do que se trata este livro e nunca li nenhum livro integral do francês Honoré de Balzac (1799-1850), mas hoje é o dia de adquirir “A Mulher de Trinta Anos”. Preciso porque preciso ler este livro! Hoje é o dia em que completo trinta anos e, apesar de não ser mulher, volta e meia me submeto a tendências comportamentais atreladas a fêmeas humanas. E, não por acaso, dizendo a mundos e fundos que preciso ler Balzac, ganhei hoje uma edição de “O Coronel Chabert” e outra de “As Ilusões Perdidas”. E fizeram festa para mim no trabalho. E eu almocei macarrão com azeite e rúcula. E, se os visitantes do ‘blog’ enfastiam-se durante o Natal com o excesso de postagens sobre tristeza, no dia do meu aniversário, o processo é inverso: não sei de onde, mas me vem uma felicidade que não se acaba. Pelo menos, até o relógio descambar para o dia 8 de janeiro. Mas, até lá, muito há para ser feito. E eu agradeço a toda e qualquer pessoa que estiver lendo estas linhas pelo que eu sou hoje, visse? Obrigado, de coração! Feliz aniversário de 30 anos para mim mesmo! Façamos de conta que eu mereço!

Wesley PC>

“- MAS O HOMEM NÃO FOI FEITO PARA A DERROTA, DISSE EM VOZ ALTA. UM HOMEM PODE SER DESTRUÍDO MAS NUNCA DERROTADO” (página 109)

Não é por acaso que o livro se chama “O Velho e o Mar”. Não “O Velho e o Menino” ou “O Velho e o Peixe-Espada” ou “O Velho e os Tubarões”, mas “O Velho e o Mar”. As interações que cerceiam o velho Santiago na obra-prima que Ernest Hemingway escreveu em 1952 têm seu foco, seu ponto nodal, no mar, não apenas o local de trabalho do protagonista, mas a zona onde ele esteve a maior parte de sua vida. E, por ser um daqueles preciosos exemplos em que faina potencialmente remunerada e a compleição das mais profundas emoções se confundem, a leitura das páginas finais deste livro foram acompanhadas por algo que experimentei no trabalho hoje. Segue descrição pormenorizada do evento, mas incapaz de descrever com fidelidade o que senti:

O telefone toca, como de praxe. Eu atendo. “Posso falar com aquele menino agitado?”, pergunta uma voz feminina do outro lado da linha. “Sou eu”, respondo. A voz começa a chorar. Por incrível que pareça, isto é comum em ligações burocráticos, de maneira que me limitei a inquirir a pessoa, que repetia que precisava de ajuda:

“– Eu preciso de ajuda! Chuif!
- Pois não?
- Eu preciso de ajuda!
- Pode falar.
- Tu lembras de mim? Eu sou Roseane, aquela que veio de Transferência Externa, da Pedagogia?
- Pois não?
- Eu estava grávida de nove meses (choro), acabo de perder o meu filho. Meu marido pode ir aí para analisar o meu processo de equivalência?
- Pode
- Obrigado, menino.
- Precisando, é só ligar”.


Este foi mais ou menos o diálogo que se deu. Numa transcrição literal do mesmo, as funções fáticas e as interrupções lacrimais seriam mais freqüentes: a mulher estava emocionadíssima do outro lado da linha, enquanto eu me limitava a demonstrar prestatividade funcional, que era o mínimo que eu podia fazer. Mas, por dentro, algo me corroia: estaria eu ficando indiferente às dores alheias? O que me consolou no evento em pauta é que a dor dela era irrelevante no auxílio que eu lhe podia prestar, mas, tendo ela confidenciado o que me confidenciou, como ficar indiferente quando, meia-hora depois, ela adentra o setor em que trabalho, acompanhada do marido, ainda ostentando uma barriga de mulher grávida, intumescida porém vazia? Fiquei condoído, mas tive que me limitar ao que eu podia fazer enquanto atendente, mas juro. O que eu pude fazer por ela, eu fiz. E, ao final, ela me agradeceu sorrindo.

Lendo o livro, gemendo de tanta satisfação diante de seu maravilhoso parágrafo final, exultei por perceber o quão superior ele é à já muito bela adaptação cinematográfico-animada realizada por Aleksandr Petrov, comentada aqui, quando eu temia não me identificar com este livro, visto que sou vegetariano e reluto em admitir que coaduno com as noções de galhardia defendidas pelo velho pescador. Para minha surpresa, choque e completa satisfação, o livro é infinitamente mais lindo, uma aula de ética supra-profissional, vida em estado bruto, via embrutecida, vida, acima de tudo, vida!

No filme, um curta-metragem animado co-produzido por Rússia, Japão e Canadá, apenas alguns trechos do livro são narrados: um breve prelúdio da relação entre o protagonista e o adolescente Manolin, a longa pendenga entre o velho e o espadarte com quem se irmana e uma lembrança de juventude, em Casablanca – Marrocos, quando participou de uma competição de braço-de-ferro que durou mais de uma madrugada. No livro, o velho fala em voz alta durante quase toda a sua extensão, de tão solitário que se sentia, se percebia e efetivamente era. E eu fiquei feliz ao perceber o quanto ele era digno enquanto ser vivo, o quanto ele respeitava as leis da natureza, até mesmo – e principalmente – quando matava um semelhante. A discussão sobre pecado que o protagonista conduz no quartel final do romance é um achado. Amei este livro, enterneci-me com o telefonema que atendi na tarde de ontem e estou vivo agora, vivo e contente por dentro. Vivo!

Wesley PC>

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A MINHA CARA É DE SEXO OU É O TELEFONE QUE TE DEIXA FANHO?

Um comentário recente e relativamente unânime acerca dos produtos culturais norte-americanos indica que a qualidade dos seriados televisivos está consideravelmente superior aos filmes produzidos por Hollywood, cada vez menos originais em ser afã por conquistar um público cada vez mais adolescentizado. Por isso, cada vez mais e mais espectadores rendem-se a séries de qualidade, como “House”, “Nip/Tuck”, “Dexter” e “Glee”, para ficar apenas em meu caso.

Pois bem, na manhã de ontem, comentei com um homossexual gripado, filho de outro homossexual, uma pessoa desagradabilíssima, que estava a me interessar pelo seriado “True Blood”, que estreou em 2008 e conquistou uma legião de cultuadores por causa de sua sensualidade inequívoca. Eu, por meu lado, relutava em admitir que gostaria desta série, mas vendo um quinteto de episódios iniciais nos últimos dois dias, fui seduzido. O rapaz homossexual não titubeou: “é obvio que tu gostarias, Wesley. Este seriado é a tua cara: tem sexo o tempo todo!”. Pensei comigo mesmo: “minha cara é de sexo o tempo inteiro?”. Meus pensamentos foram interrompidos pelo telefone que tocava: “atenda aí, Wesley, que minha voz está fanha”, disse-me ele. E eu atendi...

Mas não gostei do seriado porque ele é sexual. Não apenas, pelo menos. Gostei porque ele é coerente em sua evolução tramática. Novelesco mesmo. A protagonista é a frígida Anna Paquin, que interpreta Sookie, uma garçonete psicologicamente lancinada por ter o dom de ler os pensamentos alheios. Seu patrão é apaixonado por ela, mas ela não retribui. Ao invés disso, ela apaixona-se por um vampiro que aparece em seu bar e é quase morto por traficantes de sangue de sugadores de sangue, desejado por suas propriedades afrodisíacas. Na TV, uma reivindicante dos direitos vampirescos entra em conflito com um pároco que diz que “Deus detesta os caninos”. E um dos personagens é o irmão abobalhado da protagonista (Ryan Kwanten, este visto nu nas fotos), que ingere o tal sangue de vampiro depois que broxa durante um ato sexual e tem uma crise aguda de priapismo. Segundo o médico, seu pênis estava que nem uma berinjela, roxo e intumescido. E, penso, tem mais do que sexo neste resumo. Ou menos do que sexo em minha cara. De resto, é tudo culpa da dormência do muso!

E enquanto eu não me decido que filme ver, assistirei a mais um episódio desta série. Estou ainda no sexto episódio, a metade exata da primeira temporada. A avó da protagonista acaba de ser assassinada, um personagem se assume como traficante de sangue de vampiro, o namorado vampiro da personagem principal narra suas desventuras como imortal sobrevivente de uma guerra no púlpito de uma igreja e o dono do bar em que Sookie trabalha invade a casa dela e deita-se em sua cama, usando seus dons caninos para farejar uma masturbação interrompida. Excita-se ali mesmo, enquanto eu beiro os 30 anos de idade. É amanhã!

Wesley PC>

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

“ABAIXAREI MINHAS CALÇAS PARA QUE VEJAM O QUE A POLÍCIA FEZ COM MEU TRASEIRO: ELES ME BATERAM ATÉ NÃO MAIS AGÜENTAREM,MAS A MÚSICA ME TORNOU IMORTAL!"

Este é um dos momentos discursivos mais geniais do documentário “Fela Kuti: A Música é a Arma” (1982, de Jean-Jacques Flori & Stéphane Tchalgadjieff) exibido – e visto por acidente – ontem à noite, na TV Brasil, em que, além de descobrirmos bastante sobre o idealizador do ‘afrobeat’, aprendemos sobre a conturbada história política da Nigéria, sabemos que o genial e pioneiro músico foi simultaneamente casado com 27 mulheres, todas integrantes de sua banda e cientes de que não devem sentir ciúmes umas das outras, e testemunhamos alguns acontecimentos brutais contra a vida pessoal deste homem, que tentou ser presidente de seu País, mas tem sua candidatura covardemente rechaçada, sendo levado à prisão diversas vezes, antes de falecer em decorrência da AIDS, 15 anos depois que o documentário foi realizado. Foi uma exibição que surgiu diante de mim como acidente, mas juro que minha opção por ouvir ao disco “Zombie” (1976) foi minuciosamente estudada e que, desde já, sou fã deste artista singular e político até a genitália. Recomendo de pé, e gingando!

Wesley PC>

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

...?

DIZENDO POUCO, MAS INDO DIRETO AO PONTO:



Acho que a tirinha da Mafalda é mais do que auto-suficiente enquanto metonímia, mas... É isso: tenho que pôr dinheiro na minha carteira de passes agora, para que meu irmão possa ir trabalhar. Queria poder dizer mais, mas ainda não posso. Seria de mau tom, seria ingratidão: viver é compartilhar!

Wesley PC>

E, ENQUANTO EU PASSAVA A LÍNGUA SOBRE SEUS TESTÍCULOS E SOBRE A BASE DE SEU PÊNIS, ELE CERRAVA OS OLHOS E NÃO CONSEGUIA ESCONDER QUE SENTIA PRAZER...

O ano “útil” iniciou-se em 03 de janeiro, segunda-feira. Trabalhei tanto neste dia, que ganhei um CD do artista Zeq’ Oliver, “Nego” (2009). Ouço agora a faixa 2, “Que Dor”. É exagerada, mas gosto desta letra: “agora veja o que você fez comigo/ Me desnudou, me pôs na rua, sou mendigo/ Eu tinha casa, mas debaixo de uma ponte estou/ Você não tinha o dever de me amar/ Mas não podia, pelas costas, me apunhalar/ Me envergonhar perante os meus amigos, que dor/ Que dor, que dor, que dor, que dor, que dor, que dor, que dor, que dor, que dor!”. Que dor! É exagerada, mas gosto desta letra!

Caminhei devagar, em direção a minha casa. Estava cansado, mas me sentindo útil. Trabalhar é bom, é dignificante. No caminho para minha casa, há outra casa. Várias casas, aliás. Demorei a escolher o que ouvir. O silêncio parecia atraente. Masturbar-me na cozinha alheia é uma realidade cada vez mais acessível. Tanto sêmen, meu Deus! Isso, dentro de uma vagina, faz engravidar. Na TV, o “Programa do Ratinho”. Duas mulheres brigavam por causa de um teste de DNA. Um dado cafajeste era pai de duas meninas, geradas em mulheres diferentes, amantes traídas e férteis, Uma delas puxa o cabelo da outra. Aqueles olhos fechados, aquela movimentação clicherosa, aquele sovaco com cheiro de macho. Tanta bagunça no trabalho. É como se tudo valesse a pena, é como se tudo fosse uma grande antecipação. Estou com fome, vulgar é ser infeliz!

E, para todos os efeitos, que dia repleto de boas novas esta segunda-feira. Quantas ações bem-intencionadas, quantos presentes (além do CD e dos jorros de sêmen, ganhei uma agenda), quanta antecipação: em alguns dias, completarei 30 anos de idade. Definitivamente, não acho que Xanddy, o marido da Carla Perez, seja o garoto-propaganda ideal de uma faculdade, mas aquelas veias penianas intumescidas, aquela vontade de durar, esse bem-estar que o sexo causa... “Eu te amo, eu te amo”! (Faixa 04 do CD, “Indiferença”)

Wesley PC>

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

“EU ERA NENÉM, NÃO TINHA TALCO/ MINHA MÃE PASSOU AÇÚCAR EM MIM”: DE CONTROLADOR DAS MULTIDÕES A POSSÍVEL DEDO-DURO – E EU SÓ SEI PORQUE ME CONTARAM!

Imparcialidade e objetividade são dois termos que, no jornalismo, transitam idealisticamente entre a falácia e a utopia. No afã por noticiar o público aquilo que seria relevante, novo ou de interesse público, não raro se comete grandes pecados contra estes dois grandes ideais noticiosos, mas, agora, passadas as 2 horas da madrugada de segunda-feira, 03 de janeiro de 2011, me vejo diante de um verdadeiro dilema espectatorial: “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” (2009), filme de Micael Langer, Calvito Leal & Cláudio Manoel, é ou não é um documentário imparcial e objetivo? Pelo sim, pelo não, adianto aqui a minha perplexidade qualitativa: o filme não somente é ótimo como me lançou de supetão a uma importante passagem da história cultural de meu país que eu, pecaminosamente, ainda não conhecia. Wilson Simonal!

Não por coincidência, no ritual de encontro de amigos do primeiro dia de ano, o namorado de uma grande companheira teceu alguns comentários breves sobre este artista polêmico, dizendo que ele conheceu o sucesso absoluto e, de repente, foi legado ao ostracismo total. Eu não lembrava de conhecer nenhuma canção interpretada pelo Wilson Simonal e perguntei a um amigo mais entrosado com as raízes musicais brasileiras e este me disse que não gostava muito do estilo desse artista. Lembrei que o meu chefe gostou tanto do referido documentário que me presenteou com uma cópia do mesmo e, assistindo-o nesta noite de domingo, fiquei embasbacado com tudo o que descobri: não somente conhecia quase nada sobre este artista (sabia que ele era pai do Wilson Simoninha, e olhe lá!) como ignorava por completo as polêmicas militares em que ele esteve envolvido e, para minha maior perplexidade, os diretores do filme obtiveram um êxito sobressalente ao ouvirem vozes concorrentes no processo de acusação/defesa do cantor, que supostamente estaria vinculado aos militares, quando estes presidiam o Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970. Fiquei absolutamente chocado com tudo o que descobri neste documentário, juro!

Se, por um lado, o humorista Chico Anysio tacha de “débil mental” quem considerava o gingado de Wilson Simonal uma apologia ufanista e o cartunista Ziraldo explicava até que ponto sua colaboração com o jornal satírico O Pasquim contribuiu para o repúdio público do artista, por outro, os responsáveis pelo documentário atreveram-se a entrevistar, sem julgar ou questionar negativamente, o ex-contador que fora o pivô da decadência de Wilson Simonal, ex-contador este que teria sido seqüestrado e torturado por colegas militares do cantor, quando este último o acusou de ter desviado dinheiro de seus concertos. Quedei-me paralisado enquanto o tal contador, já idoso, contava a sua versão desacreditada dos fatos. E se for verdade? Do outro lado, o cantor Toni Tornado, o jogador de futebol Pelé e outros companheiros de época do artista defendiam-no, mas... Quem estaria realmente falando a verdade? Não tem como saber, as evidências são insuficientes.

Entretanto, o filme não é focado apenas neste futrico derradeiro da carreira do cantor, que morreu aos 62 anos de idade, vitimado por complicações hepáticas decorrentes do alcoolismo tardio e justificado por uma de suas esposas, mas apresenta riquíssimas imagens de arquivo da fase áurea da carreira do artista, quando ele literalmente regia multidões em seus concertos plenos de euforia e gingado. E, confesso: baixei um disco do artista para conferir o seu talento, mas o tipo de música ou de bailado que ele levava à frente não me conquistou não. Mas darei uma chance à sua voz privilegiada e ao seu carisma nato.

No filme, seus filhos, também músicos, Max de Castro e Wilson Simoninha, tornavam ainda mais pessoal a abordagem mnemônica do filme, melancólico e reverencial por excelência, sendo que eu desgostei bastante do primeiro e nutri uma simpatia benquista pelo segundo. E me senti tão renovado ao aprender mais sobre um capítulo da História do Brasil que eu simplesmente ignorava, como se eu tivesse me rendido propositalmente ao boicote violento que o artista sofreu depois que fora escarafunchado pela mídia, em que o suicídio em cima de um palco foi sugerido como único meio de conseguir obter novamente as palmas acaloradas da platéia. Como o público pode ser cruel com aquele que venerava até poucos instantes! Mesmo sem ter simpatia pela tal da “pilantragem” cantada por Wilson Simonal, negativamente citada por um crítico musical que presta um relevante depoimento ao filme, os vieses íntimos e públicos da carreira do cantor me pareceram escandalosamente dignos de um estudo mais depurado. Quero e preciso saber mais sobre o assunto, ao passo em que friso: “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” é uma aula (bem-sucedida?) de pretensa imparcialidade documental. Dou à equipe técnica do mesmo os mais sinceros parabéns, com tudo o de suspeito que tiver relacionado à colaboração das Indústrias Globo na produção como um todo!

Wesley PC>

domingo, 2 de janeiro de 2011

PROIBIDO ESTACIONAR: FIM!

Liguei a TV por acaso num canal pago, na manhã de hoje, e assisti a um bonito e singelo telefilme musical franco-canadense, chamado “Mágica!” (2008, de Philippe Muyl), no qual um menino solitário por causa de sua mãe triste pergunta a um grupo de artistas mambembes como se cura a depressão, como se faz alguém patologicamente melancólico sorrir. Cada qual a seu modo, os artistas respondem que sorrir não corresponde necessariamente a estar feliz, mas quando a mãe do garoto se apaixona novamente, ela fica contente, externa isso em sorrisos e canções. Porém, como o novo amor da mãe do garoto é um artista de circo, ele tem que ir embora. Preocupado com a suposta tristeza renitente de sua mãe, o garoto pergunta a um velho adestrador de cães o que fazer, e a resposta vem em forma de anedota: “tu conheces a estória do cachorro que corria atrás dos trens? Ele estaria realmente em apuros se conseguisse alcançar um deles”... Essa é a resposta!

Pois bem, como é tradição pessoal no primeiro dia de cada ano, saí com meus amigos para ver filmes e passear por lugares tarimbados de Aracaju. Numa dada esquina do Conjunto Residencial Santa Lúcia, deparamo-nos com esta placa, que proíbe o estacionamento perto do fim. Evidentemente, a mensagem transmitida por tal placa deve ter um significado topográfico específico para os moradores do local, mas, para nós que estávamos apenas de passagem, a mesma funciona em nível sobremaneira metafórico. E, enquanto metáfora, a mensagem é brilhante: viva a hermenêutica! (risos)

Wesley PC>