sábado, 29 de dezembro de 2012

NUMA FRASE: LOUVADO SEJA ALAIR GOMES!


Ponto e masturbação!

 Wesley PC>

NOTA RÁPIDA SOBRE O TRABALHO ALAIR GOMES...

No início da madrugada de hoje, revi "A Morte de Narciso" (2003, de Luiz Carlos Lacerda) e fiquei impressionado: se, da primeira vez, o estupor positivo relacionado ao impressionante 'corpus' fotográfico de Alair Gomes (1921-1992) me impressionou pelo pioneirismo no que tange à contemplação da nudez masculina, ontem nem mesmo os defeitos estruturais ambiciosos do filme me perturbaram - muito pelo contrário, me seduziram deveras: a idéia de pôr homens musculosos para recitar poemas de Lúcio Cardoso, para ficar apenas num exemplo, encanta e seduz ao mesmo tempo. Por mais que eles sejam canastrões, aquilo excita, aquilo cheira a redenção pela arte: seus corpos intumescem com poesia, seus pênis tornam-se componentes artísticos reconhecidos exaustivamente com tais...

No filme, parceiros de criação ou companheiros artísticos do fotógrafo explicavam como era o seu processo criativo: ao longe, Alair fotografava seus "alvos" (belíssimos transeuntes masculinos que se exercitavam na praia carioca do Arpoador) e, em seguida, os procurava, mostrava as fotos reveladas e os convidava para ensaios mais elaborados, desta vez, focalizados em suas genitálias, conforme a imagem acima postada serve de exemplo... Por motivos óbvios, fiquei mais uma vez encantado diante do filme: belíssimo e, mais que isso, útil!

Wesley PC>

“ – FALTA REALIDADE! – NÃO, TEM DEMAIS... ISSO TAMBÉM É ERRADO!”

Antes de dormir, assisti, quase por acaso, a um filme surpreendente da Boca do Lixo paulistana, chamado “A Noite das Fêmeas – Ensaio Geral” (1976, de Fauzi Mansur). Na trama deste filme, vendido como pasticho erótico, um grupo de personagens bastante heterogêneos ensaiava uma peça teatral em que quatro prostitutas assassinavam a facadas o gigolô que amavam e que as explorava. Após o violento ato, elas comemoravam entre si a liberdade, brindando-a com um gole de vinho. Entretanto, alguém adiciona veneno na bebida, de modo que as quatro atrizes são internadas num hospital e um excêntrico investigador de polícia entra em cena para descobrir quem é o culpado da tentativa de assassinato...

 A partir deste pressuposto enredístico, estratagemas metalingüísticos, que mencionam a estrutura dos livros de Agatha Christie, os primeiros filmes de Alain Resnais, o hermético estilo de Peter Greenaway e muitas outras referências artísticas, são despejados num ótimo roteiro, que me deixou ainda mais intrigado e espectatorialmente satisfeito por causa do estado tenso em que me encontrava durante a sessão, visto que estava preocupado com a falta de resposta de alguns amigos em relação a algumas importantes mensagens que enviei e com uma possível ameaça processual que sofri por causa de um comentário ousado acerca de um desmazelo produtivo local, induzido a partir do texto aqui publicado, bastante moderado, afinal de contas, segundo um amigo atento com o qual muito concordo. Intimidado por causa dos humores que o meu comentário possa inflamar, tenho que estar atento e, por precaução, angariar todo o apoio externo que eu puder, pois coisas estão acontecendo, não necessariamente favoráveis a mim!

 Oficialmente, anseio para que todos os maus augúrios aventados no parágrafo anterior não passem de desentendimentos provisórios, devidamente contornados com a adesão dialogística, mas, ainda assim, estive tenso durante a tensão e permaneci assim quando me deitei para dormir, tanto que, apesar de não ter sido afligido por pesadelos, antes das 7h da manhã de hoje eu já estava desperto, apesar de ter adormecido por volta das três horas da madrugada...

 Voltando ao roteiro magistralmente escrito por Marcos Rey, o que mais me surpreendeu no filme foi como as idas e vindas no tempo não tinham o intuito de elucidar especificamente o crime, mas, muito pelo contrário, mergulhar o espectador numa espiral de informações que se confundiam cada vez mais, tamanhas as pontas soltas nos comportamentos de cada um dos personagens, envolvidos emocionalmente, em maior ou menor grau, uns com os outros: paixões mal-correspondidas, um crítico que achava que tudo aquilo era um golpe publicitário, um iluminador esquizofrênico e acostumado a envenenar os seus cães, dívidas monetárias, diretores e roteiristas que divergiam até as últimas conseqüências pela versão final dos acontecimentos da peça, um investigador que parecia Orson Welles em “A Marca da Maldade” (1958), havia de absolutamente tudo no filme!

 E, num momento genial, alguém pronuncia, antes de pisar no pé do investigador, para demonstrar a sua tese: “a realidade é o aspecto mais concerto da própria realidade”. Eu exultei: incrível como este filme do genial Fauzi Mansur é incrivelmente subestimado e esquecido pelos admiradores do cinema vanguardista brasileiro. Muitíssimo bom!

 Wesley PC>

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

“VIVO NUM MUNDO DESERTO DE ALMAS NEGRAS”...

Passei álcool nas mãos, mais de uma vez, mas a impressão de que elas continuavam sujas não me abandonava: tal qual uma lady MacBeth pornográfica dos dias atuais, ainda sentia aqueles poucos resquícios de esperma alheio, misturado a espuma de sabonete e urina, enquanto tentava aprender algo mais sobre a obra de Franc Roddam, cineasta britânico cujo longa-metragem de estréia [“Quadrophenia” (1979)], baseado numa ópera-rock do grupo The Who, eu vi na tarde de hoje – e não gostei, apesar de ter apreciado deveras o quartel final do filme, em que a música externaliza o estado de espírito atormentado do insuportável protagonista, abandonado pela família, pela namorada e pelos amigos depois que comete alguns erros recorrentes, envolvendo baderna e tráfico de anfetaminas. Na noite de ontem, eu cometi um erro, ainda que não o percebesse de imediato. E, no meu caso particular, esta impercepção era o problema: eu não olhei para trás...

 Tomado por minha fobia urbana bastante conhecida, interrompi momentaneamente o círculo comunitário no qual submergi com tamanho afinco na última semana: não por coincidência, estes dois temas (a fobia e a comunidade) não param de me perseguir através das obras cinematográficas com que entro em contato, sendo estas tão distintas quanto “A Força do Mal” (1948, de Abraham Polonsky), “Fugindo do Inferno” (1963, de John Strurges) e “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012, de Christopher Nolan)... De tudo quanto é lugar cinematográfico, meus erros e acertos recentes se mostram metonimizados diante de mim. E, tal qual ouvi por acidente há pouco: “todo mundo tem maus momentos. Por isso, não podemos deixar que estes momentos maus sobreponham-se aos momentos bons que ainda podemos viver”. Sim, é verdade: e, além do álcool esfregado nas mãos, também passei perfume Musk em meu corpo: ainda que meu parceiro parassexual favorito já tenha se masturbado durante o banho hoje, não custa nada tentar pelo menos alisar os seus cabelos crespos um pouco...

 E, sobre o título da postagem, tem a ver com uma canção composta por Erasmo Carlos e interpretada pela Elis Regina, a sétima faixa deste disco cuja capa serve de moldura [“Ela” (1971)], ao qual ouvi três vezes seguidas na manhã de hoje. E, cada vez que eu me deparava auditivamente com “Mundo Deserto”, eu pensava em mim mesmo, no que fiz de errado sem perceber, mas cuja culpa não é minha intenção negar:

 “No mundo deserto de almas negras 
Me visto de branco 
Me curo da vida sofrida, sentida 
Que deram pra mim 

No mundo deserto de almas negras 
Sorriso não nego
 Mas vejo um sol cego 
Querendo queimar o que resta de mim 

Vivo no mundo deserto de almas negras 
Vivo no mundo deserto de almas negras
 Vivo no mundo deserto de almas negras

 Na vontade de verdade
 Eu quero ficar 
E não acredito no dito maldito 
Que o amor já morreu
 Tenho fé que o meu país 
Ainda vai dar amor pro mundo 
Um amor tão profundo, tão grande
 Que vai reviver quem morrer"...

  Por essas e outras, eu peço desculpas públicas a meus amigos mais queridos: quero ter novamente o direito de reestruturar o círculo comunitário que tanto me encheu de encanto e motivação nestes dias egrégios de 2012... De coração, as minhas mais sinceras desculpas!

 Wesley PC>

JÁ COMENTEI ESTA FOTO NO FACEBOOK, MAS, POR SER SINCERO O QUE ELA ME TRANSMITE, TALVEZ NÃO SEJA DEMAIS REPETI-LA...


Texto original: "se, de um lado, eu talvez não perceba tanto problema assim em ser 'um velho que tenta se esquivar da solidão que criou para si mesmo, mas que a defende arduamente quando a percebe ameaçada', desde que compreendido por meus amigos sinceros, do outro, aquela voz temerária não se calava: 'não existe vida sexual na dor!'.
E agora?"

Ainda não sei bem se entendi o que o meu indubitavelmente melhor amigo Jadson Teles quis transmitir quando se sentiu "preocupado" ao final da sessão egrégia de "Violência e Paixão" (1974. de Luchino Visconti) no cinema, mas eu experimentava algo que, por falta de definição melhor, assemelhava-se ao que as crianças apelidam de "medo do desconhecido". Mas não era ruim, não parecia algo ruim, e sim bom. Mas era medo, e medo que é medo traz à tona a necessidade dalguma vigilância, à qual o mesmo Jadson prontamente associou uma necessidade de punição antecipada. E eu pensava: "será que estamos a perceber ou sentir as mesmas coisas?". Pelo sim, pelo não, rever este filme (em grupo)  mudou as nossas vidas!

Wesley PC> 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CULPA MINHA, QUE, ATÉ HOJE, AINDA NÃO LI “O LEVIATÔ, DE THOMAS HOBBES?

Esta é a pergunta que eu mais repetia para mim mesmo durante a sessão do execrável filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012, de Christopher Nolan), que vi na tarde de hoje. Apesar de não estar com muita vontade de ver o filme – tanto que o desdenhei quando este esteve nos cinemas, por mais elogios rasgados de pessoas confiáveis que ouvi sobre ele – esperava que fosse achá-lo ao menos mediano, mas o diretor e co-roteirista não quis o meu afeto: os 165 minutos de duração irregular, as tramas paralelas desinteressantes, as composições previsíveis e/ou forçadas dos personagens (que parecem terem regredido no tempo, em sua insistência em protelar as mortes desejadas de seus inimigos), quase tudo no filme me pareceu insuportável, mas o que me chateou mais, sem dúvida, foi a consideração do povo de Gotham City como uma entidade una e incapaz de discordar de qualquer decisão hipodérmica que a envolve. Diziam ao povo: “faça!”, e as pessoas assim faziam. Diziam: “desobedeça”, e as pessoas desobedeciam nas condições pré-estabelecidas (destruir uma prisão e assassinar policiais, por exemplo). Sinceramente, senti como se o período de estudos sobre teorias democráticas no Mestrado tivesse valido muito a pensa, visto que Christopher Nolan subestimou deveras a minha capacidade de interpretação ideológica. Péssimo filme! E talvez eu volte a falar sobre ele, por conta de um cotejo erótico que o envolve...

Conforme escrevi para um rapaz cujo delicioso esperma já foi sorvido por mim centenas de vezes, “no começo do filme, alguém pronuncia: ‘em tempos de paz, não se precisa de heróis’. O problema é que Hollywood não se interessa pela paz. Irritado ainda: odiei o filme!”. A pura verdade: mais do que tê-lo odiado enquanto tedioso espetáculo cinematográfico, fiquei emputecido com o mesmo enquanto manifestação ostensivamente ideológica , em que a mentira, mais uma vez, é requerida como estratagema pseudo-conciliatório. Se não fossem as ótimas presenças de Anne Hathaway e Joseph Gordon-Levitt, odiaria o filme ainda mais: a vilã interpretada por Marion Cotillard é absurdamente inconvincente! Por que será que gostam tanto deste filme, hein? Tenho que ler o livro do Thomas Hobbes o quanto antes!

Wesley PC> 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

29 MINUTOS PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO – E CONTANDO...

Na tarde de hoje, eu adormeci e acordei com o barulho de um caminhão de lixo, triturando o conteúdo recolhido em frente à minha casa, os meus cachorros latindo, os funcionários da empresa coletora gritando algo que não consegui discernir. Lembrei que, até alguns anos, era comum oferecer esmolas aos lixeiros, como dádiva natalina. Nos dias de hoje, até mesmo este gesto demagógico, eventualmente dotado de verdadeira filantropia casuísta, foi substituído pela vacuidade festiva e massificada: na rua em que moro, às 23h33’ da véspera de um dia que os meios de comunicação de massa propagandeiam como o do nascimento do filho de Deus, meus vizinhos ouvem músicas de péssimo calão em altíssimo som, enquanto minha mãe assiste à Missa do Galo, transmitida diretamente do Vaticano pela TV Cultura...

Por eu não ser efetivamente cristão – no máximo, sou um “cristista”, fiel seguidor dos ensinamentos sociopolíticos de Jesus Cristo, costumo alegar que detesto o dia de Natal. Inclusive, na tarde deste mesmo dia, recebi uma mensagem de celular de uma grande amiga, amargurada com o falecimento de um conhecido, anunciando suas projeções acerca do que deveria ser a referida data. Não obstante ter me emocionado/preocupado com o que ela quis me dizer, fiquei chateado com o conteúdo da mensagem: achei-a inoportuna, entreguista, visto que, em minha opinião militante, ignorar qualquer ambição natalina é a melhor forma de conter as mazelas impostas em nome deste feriado que costumava me deprimir, mas que, hoje em particular, finalmente converteu-se em uma data fingida, que não mais me afeta tão negativamente, ufa!

No exato momento em que escrevo estas linhas, sinto-me feliz, simplesmente contente por estar vivo, por estar com minha mãe comunicativa e audiente detrás da cadeira em que estou sentado, enquanto meu irmão mais novo e meus cachorros jazem num quarto. Há pouco, um amigo/vizinho do caçula Rômulo de Castro o telefonou de uma penitenciária: apesar de não gostar dele, minha mãe sentiu compaixão por seu estado, pois ele chorava enquanto conversava com ela. Rômulo estava dormindo e não pôde consolá-lo. De minha parte, estou ansioso para ver o filme mais recente do Ang Lee no cinema, amanhã pela tarde, ao lado de meus melhores amigos. Amanhã é Natal, inclusive, mas os cinemas estarão funcionando. O capitalismo muda tudo, dessacraliza o religioso em prol do monetário. “Nem mesmo o dia de Finados é respeitado!”, reclama minha mãe volta e meia. E eu contente...

Wesley PC> (23h41’)

A (IM)POSSIBILIDADE DE REDENÇÃO [UMA RESENHA APAIXONADA E NATALINA]:


“Um católico é mais capaz de mal que um outro qualquer. É possível que, por acreditarmos Nele, estejamos em contato mas íntimo com o Diabo do que as outras pessoas. Mas devemos esperar – acrescentou maquinalmente – esperar e rezar.” (página 283)

Consumi o romance “A Inocência e o Pecado” [“Brighton Rock” (1938)], de Graham Greene, com incrível velocidade: já havia lido três obras do autor e não conhecia nada sobre este livro em particular, mas estava sem sono numa terça-feira e precisei acalmar o meu espírito. Sendo fã deste autor intuía que, nesta trama desconhecida, encontraria ali o que uma crítica condensou como suas marcas registradas: “o domínio do tempo e da narrativa e a profundidade psicológica das personagens e do sentido religioso, remetendo aos romances de [Fiódor] Dostoiévski” (Ana Maria Kessler Rocha em “100 Autores que Você Precisa Ler” – página 105). Graham Greene me consola!

Por motivos mais do que óbvios, intuía que a trama com a qual entraria em contato me faria pensar num rapaz que amo, católico e conservador, supostamente decidido acerca das rédeas de sua vida mas concomitantemente absorto nas dúvidas e rasteiras que a vida nos apresenta cotidianamente – e, por causa disso, encontrei com contato com ele durante quase toda a leitura, como se ele nunca tivesse se afastado (fisicamente) de mim...

Na primeira página do livro, uma morte está prestes a ocorre: um homem chamado simplesmente de Hale, mas prenominado Fred (ou melhor, Charlie) recebera um golpe de arma branca nas costas, mas os jornais e laudos médicos lhe concederão um óbito por causas naturais, visto que ele sofria de trombose e diversas outras falências de saúde. O tal Hale era um agente de apostas, pelo que entendi, e dois personagens têm suas vidas descortinadas em decorrência do que acomete o infeliz Hale: a obstinada Ida Arnold, que estivera com ele pouco antes de sua morte e tem certeza de que ele recebera um golpe fatal por parte de alguém; e o Rapaz, um jovem gângster apelidado Pinkie, efetivamente responsável pelo assassínio. A primeira interroga várias pessoas em busca de pistas que conduzam ao desvelamento do crime. O segundo elimina quem possa se constituir como testemunha, assassinando a maioria destas pessoas e casando-se forçosamente com uma rapariga de 16 anos, chamada Rosa, que se apaixona perdidamente por ele, por mais que lhe digam – e ele próprio insista em provar-lhe – que Pinkie é mau e ardiloso. Ela o ama, ao passo em que ele sente repugnância de qualquer mulher, por ter nojo absoluto do ato sexual, traumatizado que ficara de quando, nas noites de sábado de sua infância, viu seu pai deitar-se furiosamente sobre sua mãe subserviente, que gozava e sofria em iguais medidas. O Rapaz odeia o pecado mortal do sexo, portanto, e esta repulsa se converterá no tema central do romance, para além de suas aparências e conduções policialescas.

À medida que a trama evolui, a proximidade referente ao desfecho das verdadeiras intenções do crime que vitimara fatalmente o doente Hale, a narrativa expõe os interesses, pensamentos e temores ocultos dos personagens, alternando-se entre os contextos que cercam os dois personagens-pólos citados no parágrafo anterior, eventualmente entrecruzados em seus destinos desviantes (Ida persegue, o Rapaz foge)... Porém, o que mais me encantou no livro foi, sem dúvida, a abnegação romântica da jovem e deslumbrada Rosa, que ama Pinkie mais que a sua vida miserável, entregando-se a ele de forma voluntariamente iludida, por mais que perceba, em momentos derradeiros, que ele tem a intenção de deformá-la com vitríolo ou conduzi-la a um oportuno suicídio. “Preferia matar-se a dar à língua (...), porém, sabia que não teria essa coragem” é um vaticínio que, na página 95, abrange os desígnios desejosos de mais de um personagem.

Surpreendentemente, o asco nutrido pelo Rapaz em relação ao sexo faz não apenas que ele se conserve virgem até as vésperas de sua maturidade como tema fervorosamente que precise penetrar a luxúria de qualquer fêmea, seja a rapariga carente com quem se casa ilegalmente, seja a amante de um capanga recém-falecido que flerta com ele numa festa. Detalhe adicional: o Rapaz também não bebe álcool. Conclusão: identifiquei-me plenamente com ele, ao passo em que também empurrava esta identificação para o moço que amo, igualmente abstêmio de álcool e sexo. E, sem que eu percebesse, via-me plenamente absorto nas agruras religiosas, conscienciosas e muitíssimo bem-redigidas deste romance inesperado e magistral, definida como “o primeiro ‘romance sério’ do autor” por alguns exegetas. Se eu estava apaixonado antes e deixei fingir que este sentimento estava adormecido, durante a leitura, tudo veio à tona: não sei se me atrevo a classificar “A Inocência e o Pecado” como uma obra-prima, mas a descrição do passeio pela beira-mar em que o Rapaz tenta conquistar definitivamente o carinho de Rosa, enquanto disfarça o asco em relação a seus carinhos, e percebe que a sua virgindade intumesce em si mesmo como o sexo, tornou-se rapidamente uma das imagens literárias imortais e definitivas de minha vida. Recomendo este pé com a alma trêmula (tal qual Ida, quanto visita um necromante) e langorosa (tal qual Rosa, em todas as passagens que protagoniza), mas, ao mesmo tempo, firme na manutenção de meus anseios e temores (tal qual Pinkie, do surgimento criminoso ao sumiço que lhe captura no desfecho). Um livro magistral, como tudo aquilo que o egrégio Henry Graham Greene (1904-1991) pariu em vida!

Wesley PC> 

domingo, 23 de dezembro de 2012

FELICIDADE EXTREMA: EIS O QUE ESTOU SENTINDO AGORA!

Um sorvete de mamão, uma bundinha pequena que mal cabe na calça 'jeans', um encontro precioso entre amigos que se dispõem a estudar cinema e um filme belíssimo, em que um menino e uma menina se apaixonam tão pungentemente que ela permite que ele fure as suas orelhas e enganche nela anzóis contendo besouros mortos, como se fossem brincos...

"Moonrise Kingdom" (2012, de Wes Anderson) é um filme belíssimo, ao qual associarei para sempre tudo de bom que experimentei ao lado de alguns de meus melhores amigos no dia 22 de dezembro de 2012, sábado em o CECINE/UFS, grupo de estudos do qual orgulhosamente participo, atingiu o seu brilho máximo. Que venham mais momentos egrégios como este: estou encantado, emocionado, em estado de graça, pura e simplesmente: obrigado, meu Deus! 

Wesley PC>