sábado, 29 de agosto de 2009

POR QUE EU NÃO GOSTO DE FESTAS E DE BEIJOS NA BOCA?


A esta altura, já deve ser conhecido de todos que eu não fui à festa da comemoração de formatura de nosso querido tio Charlisson (vulgo Leno de Andrade, "pinta de metro"). Por mais que eu o admire, bem como às outras pessoas que estão/estiveram/estarão lá, algo me impedia fortemente de ir. Não sei se eu não podia ir ou simplesmente não queria admitir que não estava com disposição momentânea de ir... Sei que não fui – e que isso me deixa um pouco culpado, não obstante estar tranqüilo pelo fato de existirem fatos que estão bem além de minha vontade. Se me serve de consolo, a festa de pré-pré-parada ‘gay’ em Gomorra foi-me marcante: não somente porque foi muito divertida (apesar de ser regada a canções de Britney Spears e congêneres, na maior parte de sua duração, e de alguns dos "convidados" terem agido de forma inconveniente), mas também porque marcou o regresso de nosso amado Rafael Torres. Além disso, “paradas ‘gays’” foram o que não faltaram durante todo o desenrolar da madrugada. Gomorra voltou com tudo!

Wesley PC>

QUANDO É PARA SER, É PRA SER!

Nos meus primeiros meses de Universidade, ainda bastante imaturo no plano religioso, fiquei desgostoso quando fui apresentado ao nome de Jean-Paul Sartre, de forma demeritória, pelo padre que assumiu às vezes de meu professor de Introdução à Filosofia. Por sorte, à medida que os anos foram se passando, afiliei-me a amigos queridos do próprio curso de Filosofia e ali descobri as faces elogiosas deste brilhante humanista ateu, acerca do qual, admito, ainda alimento algumas restrições desconhecidos. Qual não foi a minha surpresa hoje, ao ler capítulos esparsos de um livro do Fredric Jameson sobre “a lógica do capitalismo tardio” e trechos da biografia de Laurence Schifano sobre o gênio aristocrático-socialista do cinema italiano Luchino Visconti, perceber citações insistentes a uma mesma peça sartreana, sobre a qual nunca tinha ouvido falar: “Os Seqüestrados de Altona”, encenada pela primeira vez em 1959. pelo que descobri depois, a peça fala sobre “um seqüestrado voluntário que faz pesar em si mesmo a ameaça da vida”. Acho que tal resumo aparecer duas vezes diante de mim através de fontes tão diversas é-me um sinal definitivo. Busco tal peça. Algum dos eventuais leitores deste ‘blog’ tem como me indicar onde a encontro?

Wesley PC>

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

FOFOQUINHA TRABALHISTA:


Às 13h57’ de hoje, uma mulher batia com força na porta de vidro do local onde trabalho, cujo expediente externo só começa a funcionar a partir das 14h. Ou seja, ela insistiu por três minutos. Quando finalmente, eu a atendo, a mesma abre um sorriso cínico e disse que nos daria um relógio de presente. Minha chefa intercede e a pendenga assume ares preocupantes, tamanha a insolência da mulher, que derruba os componentes de um dos computadores do atendimento no chão (sem querer, espero) e, ao invés de pedir desculpas ou mostrar-se envergonhada, apenas retruca: “sabe de quem é este computador? É público”. (pausa) Aí, quando eu vou ao banheiro, encontro um imenso escarro de catarro no azulejo da parede. Tem gente que é assim mesmo, fazer o quê?

Na imagem, “Poltergeist – O Fenômeno” (1982, de Tobe Hooper): porque o tempo passa – e algumas pessoas (nunca) mudam!

Wesley PC>

SE EU OUVISSE UM DISCO PRODUZIDO POR JOHN CALE SEMPRE QUE UMA AMIGA FOSSE AO BANHEIRO...

No caminho para casa, na noite de ontem, Anne Rodrigues estava reclamando violentamente que precisava urinar. Eu sugeri que ela mijasse num terreno baldio. Ela preferia pedir a algum dono de bar para usar o banheiro. Por fim, ela encontrou uma igreja evangélica em pleno funcionamento e com banheiro ativo, detrás de uma cortina. Enquanto ela aliviava o conteúdo de sua bexiga, o pastor convidado na igreja perguntava aos fiéis se eles estavam a gostar de suas palavras. Atrás da cortina onde ficava o banheiro, pessoas contavam dinheiro. E, enquanto eu esperava Anne, as maravilhosas canções do álbum de estréia do grupo seminal do ‘punk’ The Stooges eram executadas em meu aparelho portátil reprodutor de MP3. E foi assim, entre as enérgicas faixas “I Wanna Be Your Dog” e “No Fun”, que eu descobri uma maravilha com mais de 10 minutos de duração chamada “We Will Fall”. A letra era repetitiva, os sons eram crescentes, a aflição de que a música fala era fácil de ser compreendida. E assim a faixa termina:

“I'll be happy, I'll be weak
And lI'll love you, and lI'll love you
And we'll fall to sleep
We'll fall to sleep
Six o'clock, dong, dong
real far, real far
good-bye, good-bye, good-bye”


Adeus,

Wesley PC>

O PRAZER QUE NÃO SE ENTENDE...


Que força estranha justifica que deixemos de acompanhar uma atividade cultural que parece urgente em favor da ingestão dos sucos provenientes de um órgão sexual masculino, acoplado ao corpo de uma pessoa que, em presença de outrem, não nos trata bem? Por mais que eu seja merecedor da alcunha de “ardiloso” que volta e meia direcionam a mim, estou dispondo-me a provar que tal rótulo é voluntário, que busco-o quando me convém, mas que posso ser lembrado também por outros adjetivos, quiçá mais meritórios. Da última vez em que estive com um pedaço de carne humana na boca (em outras palavras: ontem), tentei concentrar-me nas propriedades gustativas do mesmo, julgando a apreciabilidade do sabor que antecede o gozo alheio (e que, por uma magnífica concessão psicológica, coincide com o meu), mas a tentativa perdeu-se na simultaneidade de respirações ofegantes, na sensação de tênue completude, no prazer ‘ipsi literis’. Algumas coisas na vida não se entendem mesmo... Que bom!

Wesley PC>

“DECÁLOGO 6/ NÃO AMARÁS” (1988). Direção: Krzysztof Kieslowski


Prometi que comentaria cada um dos episódios do “Decálogo” kieslowskiano – e o farei em seu devido tempo -, mas preciso abrir um parêntese adiantado para derramar de amores pelo filme mostrado na imagem. Não consigo cumprir o mandamento. Desobedeço-o lancinantemente!

Não sei quantas vezes vi e revi este clássico durante a minha adolescência sociopática, mas o drama crescente daquele menino tímido, que usava as ferramentas burocráticas do local em que trabalhava para ouvir a voz (irritada) da mulher que ele platonicamente amava, tem muito a ver comigo. A trilha sonora pungente e delicada do Zbigniew Preisner, a sedução madura da Grazyna Szapolowska, as saudades que eu sentia do carisma loiro do Olaf Lubaszenko, a soberba fotografia distanciada do Witold Adamek, aquela tentativa de suicídio, as confissões românticas imaginadas em português... Tudo neste filme beira e/ou transpassa a perfeição! Obra-prima!

Amarás, digo e redigo!

Wesley PC>

EU ESTOU PARECENDO UM URSO-PANDA?


Aí ela olha para mim: “que olheiras profundas, Wesley! Estás a parecer um urso-panda! Estás feio. Tua mãe não está mais a cuidar de ti, não?”. E eu não consegui concordar nem discordar dela. Acho lindo quem tem olheiras – e como uma espécie de anoréxico invertido, nunca sinto que as minhas estão escuras (ou roxas) o suficiente. Eu sempre quero mais!

Por outro lado, são tão belos e incompreendidos os ursos panda, palavra esta que quer dizer, pura e simplesmente, “comedor de bambu”. Seu nome científico (ao menos, do panda gigante) é Ailuropoda melanoleuca e são particularmente originários da China. Lembro de um longa-metragem de animação recente em que um coala reclamar que todos o tratam de forma afetada apenas porque ele parece com um urso de pelúcia. Os pandas padecem da mesma superestimação “fofosa” (risos) e, apesar de pertencer à família dos carnívoros, é um animal herbívoro. Bonito isso!

E não, não sinto que minha olheiras estão escuras o suficiente...

Wesley PC>

BASTOU-ME A PRIMEIRA CANÇÃO!

Apesar de ser fã do Rufus Wainwright, somente ontem pude ter a honra de ouvir “Want One”, a primeira parte do álbum conceitual duplo que ele lançou em 2004. Algumas das 13 canções gravadas não se fixaram adequadamente em minha cabeça, mas é culpa é minha: não consegui parar de repetir e repetir e repetir e repetir a primeira canção, “Oh, What a World”. Fazia tempo que não ouvia uma canção tão bem trabalhada no plano interno da disputa de harmonias (mais ou menos como o genial Geraldo Vandré se especializou em fazer), contendo inclusive um dos mais supremos usos de anti-‘sample’ que já ouvi na vida: o “Bolero” de Maurice Ravel é utilizado incidentalmente na canção, mas parece estar competindo com as melodias e refrões vocais compostos pelo bardo ‘gay’ canadense. Fiquei enamorado no ato. Não conseguia parar de ouvir e repetir e repetir...

“Men reading fashion magazines
Oh what a world
It seems we live in
Straight man
Oh what a world we live in”


Wesley PC>

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FOI DADA A LARGADA!


Desde pequeno que sonho em ver a série completa “O Decálogo” (1988), do gênio intimista Krzysztof Kieslowski. Porém, nunca conseguia encontrá-la. Esta semana, percebi que poderia baixar os 10 filmes, baseados nos 10 Mandamentos da Lei de Deus e traduzidos para a realidade pós-comunista da Polônia oitentista. Dois dos filmes foram estendidos e lançados separadamente, mas o prazer da obra está mesmo em ver todos os capítulos, percebendo as interações e reverberações entre eles. Hoje eu transferi os 10 filmes para DVD. Em breve, começo a comentar as obras. Um sonho será realizado... Ao menos um (ou melhor, dez). Se alguém se interessar, é só me passar um DVD virgem.

Wesley PC>

COMETO A BESTEIRA, DEPOIS FICO (NÃO) ME ARREPENDENDO...


Se ao menos eu me embriagasse de verdade e/ou tivesse algum álibi inconsciente ao meu favor, mas nem isso! Surto na madrugada e depois fico tentando reparar as besteiras (leia-se verdades) ditas. Vida sempre teve dessas coisas! E pensar que teve gente que chegou atrasada à sessão de “Zombie – A Volta dos Mortos” (1979, de Lucio Fulci) na semana passada e não viu esta cena. E pensar que tem gente de fome no mundo. E pensar que “tudo nesse mundo passa. Até uva passa”. E pensar que ciúme é algo que destrói relacionamentos. E pensar que subjetividade e objetividade parecem ser coisas diferentes e, partindo desse pressuposto, “uma nova História é possível”. E pensar que tubarões e zumbis brigando pode ser a deixa ideal para uma mergulhadora seminua voltar à superfície. E pensar... Socorro, mais uma vez! Detesto Sonrisal!

Wesley PC>

FILHO DA PUTA, FILHO DA PUTA, FILHO DA PUTA!


Eu simplesmente não tenho cura!

Wesley PC>

“FIDELIDADE É UMA COISA RUIM. QUEM DECIDE SER FIEL SEMPRE ACABA SOZINHO”...

Lembro como se fosse hoje. Era um domingo de 1992. “Cinema Paradiso” (1988, de Giuseppe Tornatore) estava sendo exibido na TV pela primeira vez. Eu não tinha televisão em casa. No outro dia, todos os meus colegas de classe estavam falando sobre o filme. No final daquela semana, leio uma crítica emocionada sobre o filme num jornal de circulação nacional, que minha mãe me trouxe quando seus patrões jogaram fora depois de terem lido... Uma das lembranças mais calorosas (e dolorosas) de minha infância voltou à tona hoje!

Revi este filme num contexto completamente diferente das primeiras 20 vezes em que o vi: 50 minutos adicionais de cenas reeditadas, um conhecimento pessoal mais rebuscado da morte (este ano, perdi um amigo e um cachorro leal, entre outros), nostalgia à flor da pele, a consciência de que posso desaparecer a qualquer segundo... Chorei copiosamente. Chorei mesmo! Meus olhos alagaram, fiquei preocupado em ter um ataque de asma, de tanto que eu ofegava ao final do filme! Queria que minha mãe estivesse comigo na sessão, mas, por fim, foi melhor que eu estivesse só... Chorei bastante! O filme fica mais lindo à medida que os anos (e o peso dos mesmos) se passam...

Creio que não caiba aqui falar sobre o que é o filme: amor ao cinema? Saudade? Culpa? Necessidade de ir embora? Amor proibido? Chances perdidas que jamais terão volta? Morte? Dor? Iniciação sexual? Loucura como consolo? Família? É impressionante como o primoroso roteiro do diretor consegue captar tudo o que sentimos e tememos através das três fases etárias do personagem Totò (vivido pelo Salvatore Cascio na infância; pelo sensual Marco Leonardi na adolescência; e pelo digno e triste Jacques Perrin na idade madura), de maneira que é impossível para qualquer ser vivo conter o choro na extraordinária seqüência final. Obra-prima!

Sinto-me incapaz hoje. Pela segunda vez num mesmo dia, um filme me fez constatar que, ao contrário da maioria das pessoas, descobri o que pior poderia ser descoberto na infância e, como isso, sinto-me agora preparado para enfrentar o que chamam de vida. Pior: mal constato isso e logo percebo que é um engodo. Como sou frágil! Como sou imbecil! Como me deixo cair por qualquer rosto virado, qualquer frase de discórdia, qualquer demonstração de indiferença... Nem preciso dizer quem foi que eu vi hoje, né? Quem foi que lançou um já característico olhar de ódio contra mim. Nada valho!

Vejam o filme... Explica melhor qualquer coisa do que sinto do que qualquer palavra que eu possa escrever. Depois de verem o filme, revejam-no imediatamente! E, mais importante que tudo, vivam, antes, durante e depois – se puderem, vivam!

Wesley PC>

terça-feira, 25 de agosto de 2009

CONVITE DE FESTA EM GOMORRA: PRÉ-PARADA GAY!


No caminho para a aquisição diária dos pães que alimentam os meus companheiros de trabalho, encontro com Luiz Ferreira Neto, que me transmite, todo empolgado, a notícia de que sexta-feira, 28 de agosto do corrente ano, ele e alguns amigos irão promover a Festa da Pré-Parada Gay, a fim de anteciparmos algumas das posturas que poremos em prática no domingo, quando a população GLBT + SUA LETRA de Sergipe desfilará na Praia de Atalaia. Das vezes anteriores que prestigiei o evento, fiquei irritadíssimo ao perceber centenas de afetados desperdiçarem um momento de protesto para ficarem rebolando ao som da Carcacinha do Pagode. Não creio que este ano será diferente, mas talvez eu não perca nada em tentar. No evento prévio e doméstico, estão prometidas canções oitentistas de Madonna e, se tudo der certo, debates acalorados sobre o tema. Creio que estarei lá. Faço o convite: Apareçam!

E, se grito de guerra ainda valer de alguma coisa: abaixo a homofobia!

Wesley PC>

O APARELHO IDEOLÓGICO DE ESTADO FAVORITO DE MUITA GENTE (REFLEXÕES PESSOAIS SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA)

Há pouco mais de 3 horas, vi um interessantíssimo documentário israelense chamado “Filhos do Sol” (2007, de Ran Tal). O diretor é um dos próprios objetos investigados pela produção: a criação dos ‘kibbutz’, principalmente na década de 1930, sendo estas comunidades socialistas de caráter sionista com regras muito rígidas no que diz respeito à abolição do conceito burguês de família. Ou seja, as famílias que consentiram em viver sob tal regime deviam entregar seus filhos ainda recém-nascidos a um berçário coletivo, concordando em brincar com eles “a sós” somente três horas por dia. Eu, pessoalmente, achei normal e até bem-intencionada a proposta dos ‘kibbutz’, mas os personagens reais mostrados no filme, já velhos, discordavam bastante sobre os efeitos que tal criação incutiu sobre eles. Alguns concordavam, outros achavam abominável tal privação de conceitos essenciais ao indivíduo como “pai” e “mãe”. Eu, que fui criado praticamente sozinho (filho de pai ausente e mãe solteira que trabalhava 36 horas por dia), não achei nada de anormal na extrema rigidez da comuna. Culpa minha, acho!

Sobre o que é o filme: em cerca de 70 minutos, vemos imagens captadas na própria década de 1930, sobre as quais os comentadores falam sobre suas experiências, lembranças e retratações de infância. Discordava da maioria delas, ficava chateado quando eles choramingavam a falta de contato pessoal com seus pais biológicos ao mesmo tempo em que comemoravam toda a liberdade geográfica e etária de que dispunham. É facilmente perceptível que todos eles foram cooptados pelo capitalismo que seus ancestrais tentaram evitar. Eles até cantarolam o hino da “Internacional Socialista”, mas neste momento sentimos que eles sofreram realmente uma “lavagem cerebral”, conforme reclamavam. Quando vemo-los enquanto crianças, desfilando e praticando esportes que exigiam muito esforço físico, também. Quando vemo-los trabalhando, talvez não. Culpa minha, insisto!

Foi muito curioso no plano pessoal que eu tenha visto este filme depois de um compêndio de situações em que minha vinculação aos conceitos de “família” e “comunidade” esteja no paroxismo de sua crise inadmissional. Mal cheguei ao trabalho e perguntei a um amigo filosófico o que ele achava dos tais ‘kibbutz’ e a resposta veio sem titubear: “uma das melhores experiências comunistas que já li na vida”. Que bom que não fui só eu. Culpa nossa, acho!

Na foto, duas babás israelenses, que eram “tudo” na vida das crianças, segundo as próprias, depois de velhas.

Wesley PC>

MÚSICA ‘POP’ ITALIANA


“Una rosa di sera
non diventa mai nera.
Hanno distrutto il nido ad una rondine,
hanno gettato un sasso fin lassù.

Hanno tagliato le ali a una farfalla
e la farfalla non si muove più.
Stanno cambiando il mondo,
stanno uccidendo me.

Ma una rosa di sera
non diventa mai nera.

Hanno portato un uomo alla frontiera
e da quel giorno non si è visto più.

Hanno gettato inchiostro nel torrente
e nel torrente non si beve più.
Stanno cambiando il mondo,
stanno uccidendo me.

Ma una rosa di sera
non diventa mai nera.

E tutto va, e tutto va
finché la terra non scoppierà”


Na voz mesma da Gigliola Cinquetti, é o que repetirei hoje e hoje e hoje...

Wesley PC>

“QUERO SER CHAMADO DE LIBANÊS, QUE NEM ESTA MACONHA, PARA QUE EU FIQUE TÃO DROGADO E ESQUEÇA A DROGA DE VIDA QUE LEVO”!


Assim fala um garoto de mais ou menos 12 anos na primeira cena do maravilhoso filme “Romanzo Criminale” (2005, de Michele Placido), a que acabo de ver e ficar impressionado. Tanto no que se refere ao escopo histórico do filme, que traça um paralelo entre as novas configurações anômicas da máfia italiana e fatos como o assassinato do presidente Aldo Moro, o tricampeonato de futebol da Itália (vencido em 1982) e a queda do Muro de Berlim, para ficar em apenas em alguns, tanto no que se refere ao dinamismo genérico da estrutura policial do filme, que abre espaço para a nostalgia, para o romance contido no título e para a emoção desmedida. Ao final do filme, estava emocionado.

Sem querer aqui detalhar a trama, dado que planejo fazê-lo noutra oportunidade, quando rever esta grande obra recente, descrevo apaixonadamente a cena que mais me marcou no filme: quando um dos personagens, o mais belo (vivido por Kim Rossi Stuart), a fim de conquistar a professora particular de seu irmão mais novo (futuramente morto numa overdose de heroína), deixa-se levar até um museu, onde ela discorre acerca de suas impressões pessoais sobre “A Madona dos Peregrinos” (1604), de Caravaggio, obra cujo lençol branco seria um indicativo de morte precoce, ao que ele discorde: “ela parece orgulhosa”. Se ele morrer, este quadro será novamente trazido à tona – e, sim, ele morre! A fim de fugir da cadeia, aceita se deixar contaminar pela AIDS, e abandona a sua amada, para não fustigá-la com “o sangue, as dores, tudo aquilo que vem antes do fim”. De nada adiante, “quem ama, sofre”. Ponto. Assim lhe disse uma prostituta, que explode num automóvel. Quem ama, sofre!

Wesley PC>

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TRANSMITIDO DE PAI PARA FILHO...


Conforme disse ontem, enquanto me deitava num parque, percebia que é exorbitante a atual quantidade de mulheres grávidas no mundo – e, sempre que vejo uma mulher grávida, não consigo esquivar-me de imaginar como foi a ejaculação certeira. Enquanto almoçava pepino com beterraba e suco de limão, no início da tarde de hoje, uma colega de trabalho narrou o primeiro contato que travara com uma revista de nudez masculina. Na capa e nas páginas da revista que marcou a sua adolescência, o garanhão-mor das pornochanchadas brasileiras e o muso erótico de Amácio Mazzaropi, José Darcy Cardoso, mais conhecido por outro nome. Na foto, seu filho, em riste. Imagino agora o instante exato em que a mãe dele engravidou...

(mau dia para mim hoje)

Wesley PC>

SE EU ME PERMITISSE SER FELIZ – III: O CENÁRIO DO CARAMANCHÃO


Esta foi a quinta imagem captada por minha câmera, quando comprada há pouco menos de um ano atrás. Ali fazia sentido. Hoje, ainda faz – mas percebo que “nenhuma pessoa é imprescindível”, conforme já me demonstraram minha chefa e Ernesto “Che” Guevara, em contextos bastante diferentes. Por volta das 14h45’ de hoje, estive num ônibus com uma ‘ex-hippie’, que me perguntou se eu usava drogas. Quando eu disse que não, ela se adiantou em argumentar: “que bom, Wesley! Não se meta com isso não, faz muito mal à saúde”. Detalhe: ela já usou todas as substâncias que pôde encontrar entre o Rosa Elze e o Estado de Alagoas, e agora, experiente e parida, quer me impedir de fazer o mesmo. Que arrogante é a petulância salvaguardadora das vidas alheias. “O problema são as expectativas”, confirmou-me Alinny Ayalla, pré-aniversariante de agosto. Ela está certa!

Boa noite a todos,

Wesley PC>

SE EU ME PERMITISSE SER FELIZ – II: TERMINANDO COM O COMEÇO!


Depois de uma tarde de pequenas e cumulativas frustrações, finalmente tive a coragem de assistir ao primeiro filme da maravilhosa série sobre as Quatro Estações do cineasta francês Eric Rohmer: “Conto da Primavera” (1990). Se digo aqui “arriscar-me”, nada tem a ver com a qualidade do mesmo, que sabia ser superior, mas com o fato de que o filme estava sem legendas e, se já é difícil acompanhar uma conversa de 45 minutos sobre o apriorismo kantiano versus a fenomenologia husserliana em minha língua natal, imagina no francês hermético dos professores de Filosofia continental? Com toda a imodéstia característica de minha pessoa, creio que consegui entender pelo menos 60% do filme – e encantei-me com a sua simplicidade, com a loquacidade típica do cineasta, com aquela sensação de improviso actancial... Tanta coisa acontece naqueles minutos de projeção e, ao mesmo tempo, tão poucas... Tanta mudança, tanta permanência, tanto aproveitamento exemplar das condições climáticas... Belo filme!

Na trama, uma professora de Filosofia sai de sua residência e passa um tempo vivendo com uma moça temperamental, admiradora e executora schumanniana, que conhece numa festa. Esta última tem ciúmes da namorada jovem de seu pai, crente de que esta é cleptomaníaca. Quando a professora conhece seu pai, ela crê que os dois possam se envolver romanticamente. Envolvem-se. “Sou fascinada pela lógica do 3”, diz a professora, citando Blaise Pascal, entre outras referências tarimbadas. “A vida é bela” será a última frase proferida no filme. Não vou dizer como nem por que ela se dá, mas é lindo o contexto, é esperançoso, é real!

Vendo este filme, pude esquecer alguns probleminhas familiares que tiram meu sono e aumentam a minha fome nestes dias recentes. Ou o contrário. Ou não! Eric Rohmer é uma estranha espécie de otimista: tem consciência das incongruências mundanas, mas lida bem com o conformismo. Deveria tê-lo conhecido a fundo faz tempo. Entretanto, não me é fácil recomendá-lo a outrem. O ritmo difuso de suas belas elegias tramáticas, a necessidade de um arcabouço literário e filosófico apurado e a subsunção extremada a um tipo de amor que beira a pieguice tautológica fazem dele um cineasta subestimado. Pena... Descobri na prática para que serve o caramanchão que vi no Parque da sementeira mais cedo!

Wesley PC>

domingo, 23 de agosto de 2009

SE EU ME PERMITISSE SER FELIZ – I:


Nunca tive a sorte de ver um episódio do seriado norte-americano televisivo “Dexter”, anteriormente disponível pelo canal Fox (que eu tenho), mas agora só exibido pelos filiais Fox Life ou F/X (que eu não tenho). Por mais que eu evite me interessar por este tipo de programa, a fama ‘cult’ deste aqui me deixa ansioso: o protagonista é um ‘serial killer’ que, em processo de reavaliação de sua vida sociopática e tediosa, torna-se, numa estranha espécie de colaboração policial, um “‘serial killer’ de ‘serial killers’”. Nunca assisti a nenhum episódio da série, repito, mas uma descrição realizada por um amigo me deixou ansioso.

Descrição da cena: o protagonista Dexter Morgan (Michel C. Hall) relaxava em seu barco, quando alguns banhistas passam por ele, fazendo algazarra num ‘jet ski’. Neste momento, ouve-se a voz de seu pensamento: “por que algumas pessoas conseguem ser tão felizes?”. Molham-no. Irritam-no. Ele se levanta, com uma expressão enérgica e iracunda. Conhecendo o passado do personagem, imaginamos que ele vá assassinar os banhistas. Uma tangerina faz as vezes de elemento de contrafação.

Hoje, domingo, eu cometi a incomum aventura de sair de casa. Dirigi-me ao parque Augusto Franco (vulgo Sementeira) e esperei a chegada de alguns amigos. Eram 15h. 61 minutos se passaram e ninguém que eu conhecia aparecia. Casais e famílias passavam por mim, sorrindo. “Por que eu não consigo ser feliz como eles?”, pensei mecanicamente, enquanto me deitava num banco. Fiquei triste. Acordei. Comprei um bando de bugigangas desnecessárias num ‘shopping center’. De que me adiantou? Ao menos, encontrei vários amigos agradáveis antes de voltar para casa...

Wesley PC>

“SENTINDO FOME, APERTA A BARRIGA COM UMA CINTA-LIGA COMPRADA NA C&A”


Apesar de “Che – O Argentino” (2008, de Steven Soderbergh) encerrar-se coma belíssima execução de “Fusil Contra Fusil”, do músico Sílvio Rodríguez, creio que este trecho de “Natasha Orloff”, do Textículos de Mary, justifique melhor a minha problemática recepção do filme. Tudo bem que o protagonista Benício Del Toro está majestoso como o protagonista, não se deixando levar pela imponência do personagem, dosando-o bem com suas nuanças humanas, e que a direção acerta ao impor sobre a narrativa bélica um aspecto frio, realista, quase documental (se desconsiderássemos as posturas ideológicas do mesmo), mas é muito estranho ver o personagem principal conclamando contra “o imperialismo norte-americano” de 10 em 10 minutos e, ainda assim, saber que o filme foi produzido com capital deste País. Licença cultural, diriam alguns. Eu não caio nesta! Se o filme é bom ou ruim, pouco importa frente aos problemas crassos que ele não consegue resolver – e nem conseguiria se o quisesse efetivamente, diga-se de passagem.

Esta primeira parte do épico com mais de 4 horas sobre o comandante argentino da Revolução Cubana vai direto ao ponto: é batalha sobre batalha, até o fim da guerra, início da revolução. O maior problema é que, ao invés de uma linearidade supostamente “perdoável”, o roteiro inevitavelmente delicado de Peter Buchman [responsável, no passado, pelo guião de “Jurassic Park III” (2001, de Joe Johnston), olha só!] afoba-se ao misturar os eventos do filme em três épocas distintas e simultaneamente apresentadas: os primórdios organizacionais do que seria a guerrilha revolucionária, as atividades da mesma, e uma visita de Ernesto Guevara aos EUA, data de 1964. Nesse sentido, para além da fecundidade do filme enquanto mantenedora do ‘status’ simbólico do personagem, três cenas ficaram cravadas em minha memória, exigindo maior atenção crítico-moral:

1- Em dado momento, presenciamos Ernesto “Che” Guevara, médico de formação, atendendo a vários populares molestados pela opressão capitalista. “Tu estás trabalhando demais e se alimentando de menos”, conclui o doutro ao final de uma consulta. “Deves comer mais carne”, conselho que revolta a filha da paciente atendida: “ele diz isso para todos, mamãe!”. Fiz de conta que não liguei;

2- Noutro momento, um guerrilheiro simplório reclama que outro, mais experiente, fica pronunciando “palavras feias” sempre que passa por ele. “Que palavras feias?”, pergunta Ernesto. “Ello está a llamarme ‘veinte culo loco’, señor comandante”, reclama o rapaz. Ernesto, então, chama o acusado, que, entre sorrisos, explica: “te chamava de ventríloquo, homem! Isto é um elogio para a sua dedicação como mensageiro”. E, empunhando sua enorme arma, dá um tapinha no ombro do rapaz e complemente: “isso é um gesto de carinho!”. Ok;

3- Noutro momento, em meio à entrevista que concede desde que o filme se inicia, a personagem de Julia Ormond pergunta ao protagonista se ele se sentiu rebaixado quando Fidel Castro (Demián Bichir) o rebaixou, numa dada empreitada. A resposta desistente do revolucionário foi: “é mais fácil enfrentar um soldado do que uma jornalista”. Minha posição espectatorial, enquanto diplomado em Comunicação Social, deve ser óbvia, não é não?

É isso: o filme é bom sim, enquanto cinema, mas, enquanto arma política, é um tiro pela culatra apontado diretamente contra a epiderme de quem admira os feitos do personagem principal. Mesmo sem defender a luta armada, acho que eu sou um destes: gosto deveras do potencial administrativo da lendária figura real. Por isso, enquanto a segunda parte do projeto soderberghiano não chega ao Brasil, recomendo cuidado, muito cuidado!

Wesley PC>