No início da semana, tive o privilégio de ver o primeiro
longa-metragem de Alfredo Sternheim como diretor, “Paixão na Praia” (1971), como
parte de uma homenagem do Canal Brasil à atriz recém-falecida Norma Bengell. É
um filme muito interessante, mas não se desenvolve muito bem, apesar do ótimo
início, em que uma mulher insatisfeita com o egocentrismo empresarial de seu
marido se permite apaixonar pelo bandido que invade a sua casa de praia...
No ótimo “Violência na Carne” (1981), que vi na manhã de
hoje, a sinopse praticamente se repete, mas, aqui, o diretor já estava muito
mais amadurecido, e corrige magistralmente o aspecto em que mais se equivocara
no filme anterior: a pretensa inserção de um discurso idealista/socialista com
o qual não tem muita afinidade. Afinal de contas, o que mais me impressiona na
obra do Alfredo Sternheim é o seu classicismo. O modo como ele leva isso à
frente na Boca do Lixo é genial!
No filme mais recente, quatro presidiários fogem da cadeia e
planejam sair do País num barco. Um deles sofre um ataque cardíaco e é deixado
pelo grupo. Os outros três invadem uma casa de praia onde um grupo de atores ensaia
uma peça sobre a Morte: um dos presidiários (Zécarlos de Andrade, deveras
tesudo) é um comunista entristecido, que se envolverá com a maravilhosa
personagem depressiva (e potencialmente suicida) vivida por Helena Ramos; o segundo é um ladrão afoito que
estupra mais de uma mulher (inclusive uma lésbica preocupada com as conseqüências cósmicas de sua opção sexual rejeitada pela família) e estrangula uma ‘hippie’ loira na praia; e o
terceiro é um agente de lenocínio que, na cadeia, teve o seu paladar sexual
alterado e, agora, interessa-se por sexo anal com homens, o que o leva a
violentar o namorado do diretor da peça. O título do filme, portanto, é
literal, mas isto não expurga a beleza clássica à qual o diretor nos
acostumara: o desfecho trágico é musicado por Richard Wagner. Extraordinário
filme!
Wesley PC>