sexta-feira, 12 de abril de 2013

AS PESSOAS QUE ESPERAM POR DEUS...


Apesar de eu não ter gostado tanto de "Seis Dias de Ouricuri" (1976) quanto os admiradores do cineasta Eduardo Coutinho que tiveram a oportunidade inigualável de assistir a este telefilme quando ele foi originalmente exibido na TV Globo, sou obrigado a me confessar encantado com o quartel final do documentário, em que duas importantes manifestações congregatórias são valorizadas: a religião enquanto algo que une as pessoas no clamor por um objetivo comunal; e os bailes dançantes, aqui surpreendentemente preenchidos pelo 'rock'n'roll' sertanejo. Ao final do filme, quando a lua cheia é focalizada no céu, a chuva ainda é esperada e o nome de Deus é invocado pelo narrador, eu exultei: sabia que estava diante de uma grande obra humanitarista. Era o que bastava!

(Não, não estou falando tudo o que eu queria falar: por enquanto, é melhor pegar leve!)

Wesley PC>

quinta-feira, 11 de abril de 2013

COMO FAZ?


E, quando um menino com belos olhos tristonhos diz que não precisará de psicólogo se tiver a minha amizade, o que eu posso dizer em seguida?! Se nem aconchegar-me na cama eu consigo, de tão impressionado que fiquei com tudo o que ele me contou hoje... Eu quero poder ajudá-lo, eu devo ajudá-lo, sobretudo (sem esperar nada em troca)!

Na foto, um trecho da página 78 da edição que possuo do ótimo livro "Se um Viajante numa Noite de Inverno" (1979), do Italo Calvino.

Wesley PC>

quarta-feira, 10 de abril de 2013

EDUARDO COUTINHO, MODELO CAPIXABA HOMÔNIMO DE UM DOS CINEASTAS BRASILEIROS MAIS GENIAIS DE TODOS OS TEMPOS:


Ou, como bem citou um amigo na manhã de hoje:

"Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o
Com ele, ia subindo a ladeira da vida.
E, entretanto, após cada ilusão perdida... 
Que extraordinária sensação de alívio!"
(Mário Quintana)

E que venha o amanhã... Com tudo o que o cineasta Eduardo Coutinho tem para me oferecer!

Wesley PC>

SMS COLETIVO:


"Num sonho, o protagonista passeia por um cemitério. Analisa as lápides, reconhece alguns nomes, mas estranha os curtos espaços de tempo descritos (1909-1911; 1912-1923, etc.)... Pergunta, então, ao guarda do cemitério: 'todos estes homens morreram assim tão jovens?'. O guarda responde: 'não. Alguns até que morreram bem velhos. Mas eles não serão lembrados por suas idades, mas pelo tempo em que conseguiram conservar uma amizade!'".

[Adaptado de uma descrição realizada por François Truffaut sobre a sua cena favorita de "Grilhões do Passado" (1955), uma das diversas obras-primas do genial e incompreendido Orson Welles].

Em outras palavras: EU TE AMO!

Wesley PC>

SOBRE PEIDOS E OS ROMANCES DA VIDA (IR)REAL:


Quando eu passava pela rua, deparei-me com uma motocicleta em altíssima velocidade, na qual pude perceber peidara de forma altissonante. Um transeunte sarcástico que ouviu o flato gritou: “ei, quando acabar o perfume, eu quero o frasco, viu?”. Achei muitíssimo estranha esta declaração de homossexualismo ativo. Pena que o transeunte não fazia o meu tipo (risos)...

Excetuando-se o fato de isto não ter ocorrido nesta terça-feira, o relato é verídico: eu presenciei tal inusitada cena! Relembrando-a, aliás, eu caminhava e, quando cheguei à casa de um ser humano que me alegra simplesmente por estar deitando diante de mim, alisei-o com fervor e desejo, mesmo após ele ter ejaculado.

Após adormecer, enviei uma mensagem de celular carinhosa para o rapaz, enquanto preparava-me para ver na TV uma bizarra e encantadora estória fílmica de amor: “O Futuro” (2011, de Miranda July), sobre um casal que pretende adotar um gatinho machucado e personificado enquanto gracioso narrador, mas que, antes de pôr em prática este intuito zoofílico, mergulha numa crise conjugal que descamba para as mais inusitadas vertentes enredísticas. Não posso contar: só vendo para crer e se emocionar! Muito bom o filme! E meu “frasco” continua cheio de perfume (risos)...

Wesley PC> 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

UMA TRAGÉDIA QUE FEZ JUS AO NOME (NO PIOR SENTIDO DA PIADA!):

Antes de sentarmos no Teatro Atheneu para assistirmos à peça “A Tragédia da Rosa”, apresenta pela companhia lagartense Cobras e Lagartos, uma amiga percebeu um indício ‘pop’ que indicava um mau augúrio: a canção “Diamonds”, da cantora Rihanna, era executada repetidas vezes num alto-falante. Minha amiga interpretou como um péssimo sinal qualitativo, enquanto eu rememorava as duas montagens teatrais anteriores do grupo que já havia tido a oportunidade de conferir: a interessante e divertida “A Peleja de Valentim Contra a Morte pelo Amor de Manoela” e outra dramática, sobre a ditadura militar, pretensiosa e mal-sucedida, cujo título eu lamentavelmente não me recordo. Pelo menos duas pessoas da companhia eram conhecidas: um dos atores principais trabalhara comigo no final do século XX e outro deles era uma espécie de parceiro sexual de uma amiga também presente ao espetáculo e previamente envergonhada por ele: apesar da bela decoração do palco, empanturrada de rosas (apenas uma delas cor-de-rosa), desde o início percebemos que ela seria ruim – e, ainda assim, foi pior do que imaginávamos!

Adaptada a partir de um texto de Ivilmar Gonçalves, poeta e ator lagartense falecido no ano passado, por conta de um acidente motociclístico, aos 29 anos de idade, a peça situava-se desnecessariamente num contexto de colonização espanhola. Assim que subiram as cortinas, deparamo-nos com dois tocadores de violão executando “As Rosas Não Falam”, do mestre Cartola. Uma senhora sentava numa cadeira e, ao final da canção, levantou-se, lamentou a passagem do tempo, foi interpelada por um médico e, a partir daí, a nossa atenção foi transferida para a proprietária de um bar e um garçom que arrumava freneticamente as mesas. De repente, vários foliões carnavalescos embriagados entram em cena. Anunciam o título da peça (gostei particularmente de um personagem que ficara dançando sozinho e desengonçadamente diante dos outros) e acompanhamos o surgimento da protagonista, vestida como dançarina de flamenco. Ela era uma péssima dançarina, entretanto, sem demonstrar o mínimo resquício de paixão pelo que fazia. Seu péssimo arremedo de dança demora demais e, em seguida, sabemos que ela será a causa do rompimento da amizade de dois homens, sendo que um deles esfaqueia o outro e depois se suicida. A dançarina seria, portanto, a encarnação juvenil da senhora idosa do início, internada como louca...

Acharam o roteiro precipitado e mal-construído? Atuado, ele é ainda pior! Por mais desenxabidos que estivessem os atores (um deles muito inferior ao outro em sua afetação enrouquecida de amante alternativo, fantasiado como um pirata anacrônico), a atriz principal era muitíssimo mais incompetente (ao menos nesta peça), desagradando-nos francamente em todas as suas elocuções, que conduzia-nos inevitavelmente a um vergonhoso riso involuntário. À medida que a peça avançada, ela piorava tanto que deixamos de tentar levá-la a sério: ruim do começo ao fim, nem mesmo a sua curtíssima duração (meia-hora, se muito!) a salva do fracasso, visto que a tornou assemelhada muito mais a um esquete sem ensaio que a uma encenação dramática propriamente dita. Infelizmente, muito ruim. Melhor sorte para a companhia (pela qual nutro grande simpatia) na escolha do próximo espetáculo!

Wesley PC> 

MAMÃE, EU QUERO CHANCHADEAR!


Na noite de ontem comecei a leitura de “Este Mundo é um Pandeiro”, livro capital do jornalista Sérgio Augusto sobre as chanchadas brasileiras, que, apesar do tema supostamente popularesco, apresenta uma linguagem bastante erudita e minuciosamente informativa no que diz respeito à elucidação do contexto histórico que permitiu a ascensão do subgênero fílmico brasileiro que, até então, é publicitariamente consagrado como aquele que mais conseguiu dialogar com o público.

Particularmente, minha relação com as chanchadas é delicada: apesar de eu amar algumas delas, no geral, temo concordar com as diatribes típicas da crítica, que destacavam negativamente os aspectos carnavalescos desengonçados das mesmas. Em outras palavras: não obstante conterem excelentes números musicais e elencos bastante homogêneos, as tramas da maioria das chanchadas não se sustentam, incomodam pela inconstância narrativa. Isso não me impede de admirara cada vez mais os talentos de Carlos Manga, José Carlos Burle e, principalmente, o genial Watson Macedo, de quem pretendo ver dois filmes na tarde de hoje.

Por conta da incisividade temática das chanchadas enquanto gérmen e meu tema de Mestrado (as ditas “pornochanchadas” da Boca do Lixo paulistana), preciso deter-me cada vez mais sobre eles e não apenas estudá-las, mas apreciá-las enquanto obras de arte. No sábado pela manhã, vi “Assim Era a Atlântida” (1975), documentário clássico de Carlos Manga, em que ele reunia trechos e participações célebres de alguns dos astros e melhores momentos da maior produtora de chanchadas do Brasil, a Atlântida, cujos filmes foram destruídos por conta de um incêndio e de uma enchente, na década de 1970. Felizmente, nem todos os filmes foram perdidos, mas, mesmo assim, o documentário apresenta um grave problema em sua primeira metade: ao invés de analisar as glórias e títulos do período, ele detém-se demoradamente numa remontagem de cenas de “Carnaval no Fogo” (1949) e “Aviso aos Navegantes”, ambos clássicos de Watson Macedo.

A segunda metade de “Assim Era a Atlântida”, por sua vez, cumpre muitíssimo bem os seus propósitos nostálgicos e, a partir de rememorações mui pessoais de atores como Cyll Farney, Eliana Macedo, Adelaide Chiozzo, Norma Bengell, Fada Santoro e Grande Otelo, emocionamo-nos, junto a eles, diante de uma coleção de seqüências inesquecíveis de clássicos renegados do nosso cinema. Os elogios ao imortal Oscarito são demorados e assaz justificados – e, se tudo der certo, hoje mesmo eu estarei corroborando estes panegíricos: Oscar Lorenzo Jacinto de La Imaculada Concepción Teresa Diaz (1906-1970) é absolutamente hilário em qualquer aparição em cena! Ainda que nem, sempre estas aparições se sustentem tramaticamente...

Wesley PC>

domingo, 7 de abril de 2013

R.I.P. BIGAS LUNA (1946-2013)

Acabei de saber que, no dia 6 de abril de 2013, faleceu, aos 67 anos de idade, por conta do agravamento de uma leucemia, o espirituoso cineasta espanhol Bigas Luna. Fui apresentado ao mesmo através do genial "Jamón, Jamón" (1992), exibido numa madrugada de Páscoa no extinto "Cine Privê", da TV Bandeirantes...

À época, fiquei tão encantado pelo filme que fiz questão de revê-lo, ao lado de alguns vizinhos, no dia imediatamente posterior. Quando revi esta obra de arte cínica e inusitada ao extremo, fui novamente atingido  por sua sensualidade iridescente, conforme deixei explicitado aqui. Além deste filme, vi também, de seu autor, o ótimo e perturbador "Os Olhos da Cidade São Meus" (1987), o hiperestimado mas promissor "As Idades de Lulu" (1990, mencionado aqui), o graciosíssimo e frenético "Ovos de Ouro" (1993) e o seu episódio em "Lumière e Companhia" (1995), que era um dos melhores do projeto, conforme anunciei aqui. Apenas cinco filmes, mas que, cada qual a seu modo, tornaram-se inesquecíveis. Talvez amanhã eu veja "A Teta e a Lua" (1994), bastante recomendado por minha amiga Ninalcira, filme que encerra a trilogia do diretor sobre o macho latino. O último filme que ele realizou foi o pouco conhecido "Di Di Hollywood" (2010), do qual não sabia nada até ser informado de sua morte, através deste 'site', organizado por alguns amigos. Uma notícia de pesar, portanto. Em seu modo nada discreto de se expressar, Bigas Luna é (era não, ainda é e o será para sempre!) um cineasta lúbrico, reluzente e muitíssimo excitante!

Wesley PC>

COMO DIZER SE O MEU INSTINTO ESTAVA OU NÃO CORRETO?

Após a reunião do grupo de estudos de que participo todos os sábados, desta vez prejudicada por uma ruptura íntima entre dois de seus membros mais falantes [eu e um puxa-saco intelectual ao qual me comprometo, daqui por diante, em não mais apelidar pejorativamente (por mais que eu acredite que ele seja merecedor das piores pechas)], convidei alguns de meus melhores amigos para acompanharem-me numa apresentação teatral que muito me enchia de expectativas, não obstante eu não saber nada sobre a peça em questão, exceto o nome, o grupo por ela responsável e o Estado de proveniência deles: “ Flor de Macambira” (que, posteriormente, soube ser baseada na peça “O Coronel de Macambira”, de Joaquim Cardozo), interpretada pelo grupo paraibano Ser Tão Teatro.

Ao descermos do ônibus, depois de eu ter discutido com dois destes amigos, justamente por causa das conseqüências nocivas de minha briga com o rapaz verborrágico mencionado no primeiro parágrafo, desejei que a peça não fosse ruim: precisávamos nos divertir juntos naquela noite! Ao adentrarmos o teatro, percebemos que o mesmo estava lotado. Sentamos numa bancada em frente ao palco (por causa, disso, inclusive, "participei" simbolicamente do espetáculo  ao ser interpelado pelos personagens) e, desde a entrada festiva em cena do grupo, empolguei-me: tinha certeza de que gostaria bastante da peça a partir daquele instante. Mais: seus diálogos continham várias reverberações do que discutimos naquela noite...

Na peça, uma mocinha do interior apaixona-se por um raquítico sertanejo e, a despeito do pai da primeira opor-se ao relacionamento deles dois, ela foge com ele. No trajeto para a felicidade do casal, encontram diversas tentações, relacionadas a uma correlação contemporânea entre o Mal (no sentido satânico do termo) e o capitalismo hodierno (em suas acepções neoliberais tipicamente brasileiras). Assim sendo, a doce Catirina e o gracioso Mateus são vilipendiados por um coronel com tendências pederásticas, por um bicheiro enganador, por mascates oportunistas, por um padre interesseiro, por bancários sagazes e por entidades fantasmagóricas da floresta. Mas, ao final, o amor é mais forte, num desfecho que emula a mais arquetípica tragédia romântica shakespeareana, mas que a converte em puro chiste localista. Achei tudo absolutamente encantador: não apenas amei a peça como também achei particularmente emocionante quando, ao final da apresentação, um dos atores (Gladson Galego) mencionou que era sergipano, que estivera no Estado três anos, quando seu pai havia falecido, e que, nesta ocasião em particular, dedicava o espetáculo à sua mãe, recém-recuperada de um câncer. Como não ficar encantado diante disso tudo?

O mais me seduziu na peça foi o impressionante dinamismo dos atores, que, exceto pelo casal protagonista, revezam-se em diversos papéis. Trocavam de roupa, de máscaras e de vivificações com uma velocidade impressionante, num cenário aparentemente simples, que continha apenas um enorme caixa de madeira, mas que foi aproveitado de maneira quase circense, propiciando malabarismos, a entrada em cena de um dos atores sobre pernas-de-pau, engolidores de fogo e intervenções inusitadas de improvisação textual humorística. No palco, inclusive, havia também um músico muito bonito que, junto ao espirituoso Zé Guilherme, mestre-de-cerimônias mais velho (e excelente), que eu pensava ser o diretor do espetáculo (função, na verdade, desempenhada por Christina Streva), executava os graciosos temas da peça, até então a minha favorita deste festival.

Além de ser muito boa em encenação, interpretação, entrega completa dos atores à efusão de seus personagens, iluminação sutil porém precisa e direção impecável, eu e um dos meus amigos inebriamo-nos adicionalmente pela beleza física dos atores, com destaque para o protagonista masculino Winston Aquiles. Ah, quem nos dera abraçá-lo ao final da peça...

Wesley Pereira de Castro.