sexta-feira, 7 de junho de 2013

NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO (PARA ALÉM DAS OCUPAÇÕES)...


Deu para entender o recado? Se não, quem sabe com música a mensagem não fique um pouquinho mais inteligível:

 "Não éramos tão perfeitos assim
 Não éramos tão tolerantes assim 
Não éramos tão à flor da pele assim 
Não éramos tão liberais assim 

 Não éramos tão cintilantes assim 
Não éramos tão volúveis assim 
Não éramos tão o tempo todo assim
 Não éramos tão fiéis assim 

 Mas se você não me quer mais 
Eu vou em paz
 Já que você não me quer mais 
Eu vou em paz" 

Na tarde de hoje, submeti a uma sessão de masturbação que talvez tenha sido o mais delicado processo de intervenção erótica em outrem a que eu já tenha me submetido: muitas pessoas em volta (dormindo, sonâmbulas ou acordadas), telefonemas inconvenientes e/ou com más notícias na hora H, dores de cabeça advindas de um sobejo alcoólico, um filme ruim e em péssimas condições de exibição na tela do computador, uma bermuda 'jeans' demasiadamente apertada, que perigava machucar os testículos de quem eu amava... Mas, por sorte, ao cabo de alguns minutos e muito suor (literalmente!), deu tudo certo: ele virou a cabeça para trás, numa expressão de júbilo gozoso, e saciou a minha necessidade de me sentir útil e parasitário ao mesmo tempo. Conclusão: eu sou desses que amam... E o mundo é bom!

 Wesley PC>

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A CANÇÃO “AINDA NÃO É TEMPO DO CHORAR”, DO PÉLICO, NÃO SERÁ CITADA NESSE TEXTO, APESAR DA MENÇÃO TITULAR...


“É, acho que não adianta mais esperar... O teu ‘não sei’ fica repetindo em minha mente. Tenho uma doença: sou viciado em fazer tocaias! Acho que eu devo ter sido um assassino itabaianense em outra vida: tenho uma capacidade de espera absurda! Talvez tenha algo a ver com eu ter percebido que nem sempre a vida faz sentido... Eu tentei! Espero que isso não seja motivo de ódio. Vou agora à UFS pagar as minhas contas (visto que a aula das 17h já era! Hehehe) e, mais tarde, passo aí para conversar, quem sabe te convencer a ver o filme do [M. Night] Shyamalan na sexta-feira. O mundo é bom, ________. Disso eu não tenho do que reclamar... Abraço e ótima noite para ti. Qualquer coisa, estamos a postos!”.

 Depois de uma hora de espera, senti a chave trancando a porta. “Tu não entrarás aqui hoje!”, era a mensagem sobreliminar. O banho era certo, a masturbação contígua também. Ou não. E a dúvida é ainda mais difícil de lidar, do mesmo modo que “a esperança é um troço que aprisiona”. E eu acocorado na porta de minha casa, pressionado a me decidir: o que fazer? Ir para a aula, com mais de uma hora de atraso? Por sorte, deu tempo de ainda encontrar a professora na sala de aula. Conversamos muito ao final. Ela me beijou na testa (ou fui eu que a beijei?). Depois, fui pagar as minhas contas, confirme indicado. E o mundo é bom, gente. O mundo é bom! Mas o capitalismo fere... O capitalismo é que destrói/corrói o amor! E o sexo?

Wesley PC>

BREVES PALAVRAS SOBRE UM FILME ARREBATADORAMENTE GENIAL!

Quando "Doramundo" (1978, de João Batista de Andrade) começou a ser exibido, num canal fechado de TV, relativamente obscuro, eu estava ocupado. Assim sendo, precisei de algum tempo para me acostumar ao hermético ritmo do filme. O que começou como uma emulação de um célebre romance de Victor Hugo sobre assassinatos por ciúmes num vagão de trem - estória j[a filmada por Jean Renoir e Fritz Lang - evoluiu até uma complexa reconstituição simbólica das persecuções ditatoriais da década de 1970, através de um roteiro finalizado pro João Silvério Trevisan a partir de pesquisa do jornalista Vladimir Herzog. Absolutamente genial!

Na trama, diversos homens solteiros aparecem mortos na cidade paulista de Cordilheira. Investigadores de outra cidade são convocados para tentar esclarecer o caso. Homens casados são torturados, têm suas esposas humilhadas, são obrigados a confessar crimes que não cometeram e serem presos pelos mesmos, mas as mortes continuam a acontecer. O ano era 1939, mas o espírito era o do ano em que o filme foi realizado. E, de repente, percebemos claramente que toda a investigação é um 'McGuffin': até o final, não se descobrirá quem é o assassino... Ou melhor: os assassinos são os milicos! Todos sabiam disso desde antes de o filme começar!

Irene Ravache interpreta Dora, uma mulher casada, mas apaixonada por Raimundo, vivido por Antônio Fagundes. Cativos de um amor proibido, eles configuram outro 'McGuffin' tramático, que se mistura a um terceiro 'McGuffin', quando prostitutas são trazidas pelo Governo à cidade de Cordilheira para dirimir os desejos sexuais dos homens solteiros - e dos casados também. As mulheres insatisfeitas e/ou enfurecidas com a lascívia das putas queimam o vagão onde elas se prostituíam. E aquele bonde queimado permanecerá como cicatriz da cidade, diz o narrador, enquanto os personagens jogam futebol, como se nada tivesse acontecido, por mais que nada tenha sido desvendado...

Num momento de pura sublimidade tétrica, uma personagem atormentada é cercada por jornalistas. Interrogada acerca das mortes que acontecem na cidade, ela exclama, psicoticamente: "vocês não sentem o cheiro?! Cheia mal, mas é preciso respirar para poder viver!". E, noutra cena forte, um típico funcionário estatal diz que a cidade está infectada e ele, enquanto legítimo "biólogo social", sabe como resolver esta doença: "a melhor maneira de curar um mal é trazendo a tona outro mal, mas de maneira controlada". A mensagem era clara. O filme mereceu, portanto, todos os prêmios que recebeu. Absolutamente genial: belíssima surpresa!

Wesley PC>

segunda-feira, 3 de junho de 2013

“A RODA DE TREM É IGUAL À GENTE: NA APARÊNCIA, PARECE QUE ESTÁ TUDO BEM. MAS POR DENTRO, ESTÁ TODA RACHADA...”

Não sei por que motivo o cantor e compositor Sérgio Ricardo (nascido João Lutfi, em 1932) não é citado nas enciclopédias sobre o cinema brasileiro como um diretor meritório: pensei que a sua inserção directiva no musical riponga “A Noite do Espantalho” (1974, que ainda não vi!), fosse uma experiência isolada, mas surpreendi-me nesta tarde de segunda-feira ao me deparar com uma ótima obra ficcional romântica de nome “Juliana do Amor Perdido” (1970), terceiro dos cinco longas-metragens que o diretor realizou, sendo um deles um filme em episódios. No roteiro deste, uma colaboração bem-sucedida com o neo-realista tupiniquim Roberto Santos. Na direção de fotografia, o trabalho premiado do irmão do diretor, Dib Lutfi.

 Oficialmente, eu perigava não conseguir assistir ao referido filme, visto que estava preocupado com um trabalho acadêmico pendente, mas não resisti ao chamariz: as imagens e sons iniciais do filme eram tão atraentes que eu mergulhei imediatamente aquela trama mágica sobre uma garota tratada como santa pelos pescadores da região em que vivia. Não me arrependi: o filme é maravilhoso, fazendo excelente uso das práticas ribeirinhas de candomblé.

 A protagonista é vivida pela bela ruiva Maria do Rosário, desejada por todos os homens que a circundam, inclusive o seu pai (Macedo Neto). Porém, ela se apaixona pelo maquinista de trem Faísca (Francisco di Franco), que a desvirgina e supostamente dirime a lenda de que ela está condenada a permanecer vaginalmente imaculada, a fim de impedir que uma maldição recaia sobre seu deflorador. Sua mãe, inclusive, fora assassinada pelo marido, visto que havia sido pega em flagrante de adultério. Juliana não teve a mesma sorte: é crucificada pela população que a venerava e, ao final, atropelada pelo veículo conduzido por seu amado. Na trilha sonora, as composições impressionantes do diretor. Como este filme pode ser tão desconhecido entre os amantes do cinema brasileiro? Maravilhoso, pura e simplesmente!

 Wesley PC>

UM DISCO DE TRANSIÇÃO NOTURNA...

Conforme já foi explicado, por conta de uma espécie de simpatia pró-dissertativa, eu estava consumindo apenas livros e filmes produzidos no Brasil. Tendo estabelecido como ponto de corte cronológico a tarde de sábado, quando imergi numa obra-prima griffithiana, posso respeitar novamente a internacionalização da arte. Porém, ainda não encontrei o objeto artístico que se sobressaia aos petardos brasileiros de que me alimentei nos últimos dias. Mas, para a terça-feira vindoura, já tenho trunfos norte-americanos e russos debaixo de minha manga...

Antes que a terça chegue, exerci a transição reinternacionalizante através de um disco que baixei na tarde de ontem, por conta de uma indicação distanciada de um programador de cinema local: o disco “É o que Temos” (2013), da carioca Bárbara Eugênia.

Logo de cara, achei a sonoridade do disco similar àquela em que Karina Buhr se especializou (não obstante as marcantes diferentes regionais): a faixa de abertura, “Coração”, poderia muito bem estar em “Longe de Onde” (2011), em especial no que diz respeito ao uso do refrão, sobre a aquisição de um colar de pérolas com vistas ao embelezamento da pessoa amada. Entretanto, a segunda faixa do disco me irritou: a regravação de “Porque Brigamos” encetada pela cantora é absolutamente desnecessária em seu pretenso refrão ‘rocker’. Sorte que a faixa 03, “Roupa Suja” (num dueto com Pélico) é bacana. Aliás, esta foi a faixa através da qual eu conheci a cantora!

O restante do disco é irregular porém provido de interesse. O motivo de eu ter me referido a uma reinternacionalização da arte desde o início é que o disco contém diversas faixas em inglês e francês. Mas a obra-prima do mesmo é justamente aquela que, pelo título, me parecia a mais descartável, “Ugabuga Feelings” (faixa 08), em que ela se refere a um “moço da cara boa”, que a faz rir, que a socorre, que projetou em mim, enquanto ouvinte, justamente os clamores que eu destino a potenciais amantes (platônicos): “eu olho pro teto e digo. ‘ai, ajuda! Ai, ajuda eu!’ (...) “Faço de conta que não me abala nada/ faço de conta que não me desagrada” (...) “Me dá um cheiro aí e um abraço lá!”. Ai, ai...

Ouvi o disco duas ou três vezes nesta noite de domingo. Oficialmente, é apenas mediano, mas esta faixa mexeu com o meu coraçãozinho oprimido pelas necessidades quantitativas de uma dissertação passional pendente. E que venha a entrega, a reintegração e os sorrisos...


Wesley PC> 

domingo, 2 de junho de 2013

“EU NÃO QUERO NENHUM MARMANJO OLHANDO PRA MIM E TOCANDO UMA!” ou TARDE DEMAIS, VICTOR!

Na manhã de hoje, achei de bom tom publicizar um esquete humorístico que funcionou como eficiente ilustração de uma discussão sobre o descompasso entre os arcabouços técnico e teorético dos cineastas brasileiros atuais. O exemplo dos realizadores juvenis sergipanos, moldados por institutos para-profissionalizantes ou por um curso de Comunicação Social com Habilitação em Audiovisual ainda buscando as suas características constitutivas foi imediatamente evocado, de modo que fiquei surpreso quando recebi o convite de assistir ao recente curta-metragem “Terror no Interior” (2013), realizado por meu amigo e ex-vizinho de bairro Joel Costa.

Depois de nos enfrentarmos bastante nos encontros iniciais – mais por decisão dele que minha – hoje mantemos uma boa relação de convivência cinematográfica (risos): ele possui os referenciais dele – e, cada vez mais, luta com afinco para defendê-los entre os intelectualóides intransigentes – e eu, de minha parte, transito consumivelmente entre os referenciais ‘pop’ que o Joel defende e as contrapartidas ‘cult’ daqueles que o atacam. Antes de ver o filme que ele realizara, portanto, suspeitei que encontraria seqüências e diálogos irônicos, direcionados contra os seus detratores estilísticos, em relação aos quais Joel Costa argumenta com cada vez mais substância conteudística. Discordo dele em mais de uma perspectiva, mas entendo e defendo o seu direito de resposta. Diante do seu filme, entretanto, a minha reação compactuante foi difícil de ser posta em prática...

Apesar de eu ter gargalhado no ‘mini-flashback’ afetado do filme, que explica a sanha assassina de um dos personagens (o momento em que ele empurra uma colega efusiva é hilária!), o sobejo de “piadas internas” contra situações reais que foram vivenciadas por ele entre alguns de seus colegas de classe mais esnobes me incomodou: conhecendo o referencial mnemônico-traumático e, principalmente, discordando do estratagema vingativo adotado pelo referido personagem, não me pareceu adequado legitimar o vale-tudo defensivo com um elogio transviado, cuja concordância tangencial escamotearia diversos problemas do curta-metragem como um todo.

Protagonizado por um elenco bonito e com acentuado sotaque nordestino (realçado na dublagem do filme, ostensiva nalguns momentos), “Terror no Interior” se divide entre a reiteração dos clichês e a zombaria proposital dos mesmos – não à toa, uma famosa cinessérie similar do Wes Craven é mencionada de forma tão entusiástica por uma personagem. Tendo como principais problemas uma montagem rústica e uma conjunção de trilha sonora um tanto precipitada (que tem como exceção qualitativa o momento em que o assassino atende ao seu telefone celular numa das cenas finais), o filme elimina os seus motivos narrativos muito abruptamente, de modo que os dezessete minutos de duração parecem curtos para as variações genéricas adotadas pelo diretor e roteirista (que também é o intérprete do personagem assassino, adotando alguns dos cacoetes actanciais vilanescos de que se servira na peça teatral aqui comentada), que, mais que contar uma estória (trivial, afinal de contas, como boa parte dos filmes do terror), quer acertar as contas com ‘pimbas’ agressivos e preconceituosos, conforme deixa claro num diálogo reclamante do único personagem que não é morto pelo assassino travesti e videasta. Neste sentido, as melhores idéias se perdem rapidamente em meio à urgência do direito de resposta: vide a seqüência em que os colegas de classe, no interior de um automóvel, conversam sobre o cinema de Cláudio Assis e o protagonista, um tanto chateado com a conversa, liga o seu ‘walkman’ e imerge solitariamente numa canção anglofílica grudenta e simpática.De repente, a música torna-se altissonantemente não-diegética e a câmera permanece parada, focalizando a estrada onde o carro se locomove... Muito boa esta seqüência: dadas as devidas e gritantes diferentes, até me fez pensar no Júlio Bressane!

Apesar de discordar da catarse de Joel Costa e de não ter apreciado o filme como um todo, “Terror no Interior” não é irritante. Pelo contrário, é até bastante divertido, merecendo ser acusado, justamente por conta disso, de dois graves defeitos: 1 – não identificar as canções adotadas na trilha sonora, visto que alguns dos clássicos ‘pop’ retrabalhados em ritmo de arrocha são engraçados; e 2 – não listar, durante os créditos finais, os nomes dos atores relacionados aos seus devidos intérpretes, de modo que eu redijo esse texto sem saber qual é o nome do jovem que dotou o traiçoeiro Victor de tamanha lascívia descartável (no sentido mais homoerótico do termo): da próxima vez, Joel, pense nos atributos desejosos de pesquisa de seus espectadores (risos). E, sobretudo, continue tentando: não desista de mostrar ao mundo quem você é. Nada é mais autoral do que isto, não importa o que (lhe) digam!


Wesley PC> 

SOBRE ALGO QUE, POR FALTA DE PALAVRA MELHOR, EU DEFINO COMO IMERSÃO:


Na manhã de hoje, acordei sobressaltado: eram pouco mais de seis horas da manhã e minha cadela 'poodle', vitimada por uma infecção de sarna sarcóptica, havia mordido o pé de minha mãe, com setenta anos de idade, que sangrava bastante. Meu irmão mais novo espancava a cadela, mas minha mãe, aos prantos, suplicava para que ele parasse de bater nela, que já estava suficientemente doente. Eu já estava dormindo há quase dez horas, visto que havia me medicado com comprimidos de dipirona sódica antes de dormir: minha cabeça doía. Levantei da cama, lavei o pé de minha mãe com água gelada e tentei voltar a dormir. Tenho um preâmbulo de dissertação para redigir: setenta páginas até o dia 15 de junho! Até hoje, dia 02, escrevi apenas dezessete. E, em minha mente, a tragicidade bela e cativante da obra-prima que revi na tarde de ontem continua a me inebriar: "Lírio Partido" (1919, de D. W. Griffith) permanecerá eternamente relacionado à exaltação de um amor platônico lancinado pela pureza weberiana. E eu sou um idiota, mas continuo tentando...

Wesley PC>