sábado, 30 de abril de 2011

SOBRE MÚSICA SERGIPANA: O DISCO QUE ESTOU PRESTES A REPETIR PELA TERCEIRA VEZ SEGUIDA, NESTE INSTANTE...

É muito delicado tecer resenhas imparciais sobre produtos culturais sergipanos, no sentido de que, como o Estado é pequeno e os ditos “artistas” são quase todos conhecidos, tem-se um cuidado extremo em não ferir os brios de alguém com quem podemos nos encontrar em breve, em não ser vitimado por represálias pessoais contra opiniões desenfreadas. Ainda assim, vou correr este risco: descobri, no ‘blog’ de um estimado colega de curso, um ‘link’ para ‘download’ do disco “Aplausos Mudos, Vaias Amplificadas” (2004), do cantor e compositor Alex Sant’Anna e, putz, gostei tanto do que ouvi que preciso pôr para fora a minha satisfação diante desta reação positiva que surpreende até a mim mesmo!

Lembro que já tive a oportunidade de conferir um concerto do artista e, na ocasião, fiquei discutindo com alguns amigos se ele dispunha de sinceridade “eu-lírica” para compor algumas canções mais merencórias sobre relacionamentos amorosos em crise. O próprio artista deu-me uma resposta de mestre através da faixa 10 do referido disco, “Falido”: se eu tivesse que pagar por qualquer palavra falada, ia falar até falir (...) Não me obrigue a mentir, pois só minto quando tenho certeza absoluta que posso transformar em verdade”. Caramba, genial! Tinha que botar a boca no mundo e dizer isso: o disco é muito bom!

Antes de qualquer coisa, o esplêndido título do álbum, bem como a arte da capa, responderia por si só por muito da empolgação que tento transmitir aqui, mas algumas composições são realmente meritórias: a faixa 03 (“O Que Não É”), por exemplo, que eu não somente já conhecia como foi a força-motriz para que eu finalmente fosse em busca do tal álbum, é muitíssimo inteligente em seu jogo de antíteses que fazem muito sentido para os são-cristovenses como eu, que enxergam a cidade natalícia transformando-se gradualmente num palco banalizado de crimes:

“Travesseiro não é meio fio
Lixeira não é supermercado
Cola não é bálsamo
Bola não é brinquedo
FEBEM não é colégio
Tráfico não é emprego

Bala não é doce
Quem trouxe foi
Pra levar o outro ao chão
A vida não é bela, não

Carnaval não é solução
Tiroteio não é São João
Favela não é inferno
Mas é um sofrimento eterno”


Se eu já gostava bastante destes versos, ouvi-los no conforto de minha casa foi balsâmico, para ouvir um adjetivo espelhado pela letra da canção. Além dela, gostei bastante do tom crítico contido em “Estandarte de Ianque” (faixa 06), da promessa auto-cumprida em “Poesia de barro” (faixa 01), dos conselhos disponibilizados em “Antes de Seja Tarde” (faixa 07) e da supracitada corruptela do eu-lírico em “Prá Sempre Nunca” (faixa 05), cuja letra traz os seguintes versos em seu bojo: “Não prometa que vai me amar pra sempre/ Que nunca vai me amar/ Cuidado a imensidão é tudo/ A imensidão é nada”. Poxa, tudo a ver comigo, gostei muito!

É isso: sei que muitos vão suspeitar da confiabilidade desta resenha, visto que sou amigo pessoal tanto de pessoas que trabalham diretamente com o artista quanto de alguns de seus mais ferrenhos detratores, mas, digo-lhes com muita sinceridade: este disco merece um lugar acalentado em meu coração. Estou ouvindo-o pela terceira vez seguida e ainda quero mais! Quem diria... Sr. Alex Sant’Anna, de minha parte, ao menos neste caso, os aplausos estão amplificados!

Wesley PC>

“AS ABELHAS-OPERÁRIAS NÃO SÃO NEM MACHOS NEM FÊMEAS. NÃO POSSUEM SEXO. POR ISSO, SUA ÚNICA MOTIVAÇÃO NA VIDA É SERVIR À RAINHA”...

É uma apropriação metafórica da Natureza muito oportunista, mas como ficou bela no filme tcheco “Professor Rural” (2008, de Bohdan Sláma), que vi na manhã de hoje. No filme, um professor tenta esconder da população camponesa simples em que leciona que gosta de fazer sexo com outros homens, mas se apaixona por um adolescente tendente ao alcoolismo, obcecado por uma jovem citadina que a esnoba. Uma situação comum a qualquer outra, mas que, por isso mesmo, tem muito a ver comigo.

Num clímax exasperante do referido filme, o professor do título aproveita que o seu objeto adolescente de desejo está dormindo em razão de um porre etílico e começa a masturbá-lo na cama. Ele desperta irritado, empurra-o com violência e foge de casa. O professor é tomado por um fardo de culpa tão intenso que resolve ajudar a mãe do garoto a cavar um poço que seu falecido marido adúltero e beberrão deixara inacabado. Mas a própria natureza que tanto o fascina irá propiciar consolo psicológico...

Comparando a angústia e as motivações do personagem central com minha própria trajetória passional de vida, eu lembrei de um filme que não gosto tanto, de um diretor que talvez goste menos ainda, mas que, no contexto em pauta é mais do que oportuno. Trata-se do filme-painel “Felicidade” (1998, de Todd Solondz), em que, dentre as várias subtramas polemistas, o filho de 12 anos de um médico pedófilo descobre que seu pai abusou sexualmente de seus coleguinhas de escola. Depois que o pai é preso, indiciado e o menino sofre todo tipo de humilhação na escola, ele aproveita uma oportunidade dialogística para perguntar ao pai se é verdade o que dizem sobre ele. O pai confessa tudo e o menino, preocupado, interroga-lhe: “o senhor vai ter vontade de abusar de mim também, papai?”. A resposta, absolutamente cortante, vem aos prantos: não, filhinho. Contigo, eu apenas me masturbarei”. A cena final do filem será justamente a do cachorro da família lambendo a primeira ejaculação do garoto. É um filme que eu não gosto muito, mas esta cena marcou-me eternamente...

De resto, é isso: os seres humanos têm cura! Supondo que o que esteja afligindo-lhes seja algo que mereça a alcunha de patologia. Não creio que o homossexualismo em si seja um desses casos, mas as manifestações pedofílicas e o abuso sexual de pessoas que dormem ou estão inconscientes são. E talvez ajuda psicológica seja muito mais importante aqui do que a abusiva intervenção policial e/ou penitenciária. Assim penso, tomara que eu não esteja errado...

Wesley PC>

sexta-feira, 29 de abril de 2011

“O TOQUE DE PRATOS É COMO SE FOSSE UM GRITO FEMININO NA ORQUESTRA”!

A frase acima brinca com uma cena chave do filme “O Homem que Sabia Demais” (1956, de Alfred Hitchcock) e foi proferida por mim no evento musical a que compareci na noite de ontem, ao lado de um vizinho que é também meu amigo. Fomos assistir a um concerto da orquestra Juvenil de Acordeons da Bavária e, no momento visto em foto, deslumbrávamo-nos com o “Dueto dos Gatos”, composto por Giácomo Rossini e interpretado, na ocasião, pelas sopranos Konstanze Hüttenhofer e Johanna Hüttenhofer.

Este dueto pleno de miados foi, sem dúvida, o ponto alto desta noite musical, sendo que nos dirigimos ao teatro por uma feliz comunhão de coincidências: eu estava com ingressos no bolso, doados por uma colega de trabalho que não poderia comparecer ao evento; meu vizinho possui um automóvel branco e estava com a noite livre. Liguei para ele, perguntei se ele tinha curiosidade de estudar os hábitos da burguesia aracajuana, e ele prontamente aceitou. Melhor para ambos!

Logo que chegamos ao teatro, meu vizinho amigo exclamou que havia muitos velhos na platéia. “Normal, normal”... Disse-leu eu. Sentamo-nos num local pretensamente estratégico, visto que ele precisava sair às 22h, a fim de buscar sua noiva, que estava esperando-o, neste horário, na casa de uma amiga. De repente, um jovem loiro muito bonito pede licença para passar entre nós, apressado. Ele se posiciona num ponto central do teatro em olhando em direção ao palco, grita algumas palavras em alemão: ele fazia parte da orquestra e deixou meu vizinho admirado pela austeridade de seu idioma.

Quando o concerto começou, por volta das 20h30’, a peça de abertura foi uma composição de Adolf Goetz, executada de forma morna. A peça seguinte foi igualmente morna, mas um primeiro clímax foi atingido na impressionante execução de uma peça lúgubre de Antonin Dvórak, um de meus compositores eruditos favoritos. Seguiu-se uma pequena rapsódia operística e, em seguida, a genial encenação do dueto de felinas que maravilhou não somente a mim e a meu amigo, como a todos os presentes no local. Como eu queria ter coragem de bater palmas nesta hora!

A orquestra alemã se retirou por alguns instantes e a orquestra Sanfônica de Sergipe entrou em cena, dando um baile de encantamento, nostalgia e rebolado. Eu e meu vizinho cantarolamos emocionados as melodias de Luiz Gonzaga que foram executadas pelos músicos. Foi lindo! O segundo grande momento da noite, que antecedeu um inusitado encontro com uma amiga que não via há mais de cinco anos. Esta estava um tanto melancólica, pois acabara de rever um ex-amor, que está a perder progressivamente a memória, “em virtude de ter cheirado cocaína no espaço sideral”. Palavras delas! Meu amigo ficou espantado com esta confissão e, em seguida, voltamos aos nossos lugares: assistimos a algumas execuções musicais menos efusivas e, depois que o côro fez ressoar a magnífica composição de Carl Orff destacada na postagem anterior, estávamos aptos para voltar para casa, ainda que o concerto não tivesse encerrado. Foi uma noite bonita... Se brincar, fiquei tão encantado com o concerto em si quanto pelo que ouvi de meu deslumbrado vizinho/amigo, que assistia pela primeira vez a um evento desta envergadura. Pena que a iluminação do teatro e a nossa distância em relação ao palco não favoreceram a lembrança imagética que quisemos guardar do concerto, mas valeu a pena, ah, como valeu!

Wesley PC>

CLIMA DE FIM DE FESTA? NÃO, NÃO, DE (RE)COMEÇO!

Acabo de chegar de uma apresentação sinfônica para a qual fui convidado de última hora. Não sabia necessariamente o que ia encontrar, mas logo descobri que se tratava da apresentação de alguns executores de acordeão da Bavária. Chamei um vizinho amigável e deslumbrado para me acompanhar e, surpresa, em poucos momentos, víamos e ouvíamo-nos contentes diante de uma paródia operística (que eu não conhecia) composta prioritariamente por miados, de uma contagiante e exitosa apresentação da Orquestra Sanfônica de Sergipe e de uma versão em côro de minha faixa erudita favorita, a imponente abertura da “Carmina Burana” (1937), de Carl Orff: “O fortuna/ Velut luna/ Statu variabilis,/ Semper crescis/ Aut decrescis; Vita detestabilis/ Nunc obdurat/ Et tunc curat/ Ludo mentis aciem,/ Egestatem/ Potestatem/ Dissolvit ut glaciem”.

Dois colegas de trabalho faziam parte do coral, aliás, e, em homenagem e agradecimento ao bem-sucedido esforço deles, quando eu tiver de posse de uma das fotos que capturei da apresentação, redigirei aqui um novo texto sinóptico sobre os beneplácitos merecidos que eu presenciei naquele teatro, em que cada exclamação ansiosa de meu companheiro vicinal – que nunca tinha pisado numa casa de espetáculos como aquela – enchia-me de contentamento provinciano, termo entendido aqui em sua melhor acepção, uma acepção que explica por que tantas e tantas pessoas sentiram-se pungidas a ficarem de pé durante a execução do Hino Nacional Brasileiro. Desde já, antecipo: foi bonito, foi bonito!

E, enquanto o momento não chega, tomo como metonímica esta imagem final do clássico “O Papai da Noiva” (1950, de Vincente Minnelli), filme protagonizado por Spencer Tracy e uma muito jovem Elizabeth Taylor, em que o personagem do primeiro gasta uma fortuna para garantir que a cerimônia de casamento da segunda fosse a mais inesquecível possível. Em mais de um sentido, hoje eu re-entendi que, se fosse eu no lugar dele, faria o mesmo – por mais fetichista que eu me assumo ao confessar isto. Que se dane!

Wesley PC>

quarta-feira, 27 de abril de 2011

HÁ UM SEGREDO QUE EU NÃO POSSO CONTAR: “É MUITO DIFÍCIL ASSUMIR O VERDADEIRO AO CONVENIENTE” (Judi Dench em "Notas Sobre um Escândalo" - 2006 )

Quero te contar algo, mas não consigo. Por mais exibicionista e inescrupuloso que eu seja, tem algo que eu não consigo contar, algo que, de fato, talvez seja melhor eu ocultar, algo que talvez seja prudente mesmo que eu preserve, em razão de envolver outras pessoas, envolver outras pessoas que me envolvem, ai, ai... Se eu quiser, eu posso guardar um segredo! Será? De que vale isso? Eu não consigo deixar de querer falar, por isso, apelo a uma citação providencial: “A menos que influenciada por todo tipo de agentes opostos, a idade é um miserável corruptor e obscurecedor da caridade do coração humano” (‘apud’ “Confissões de um Comedor de Ópio” – 1822 – Thomas de Quincey). Isto torna clara a minha angústia? Se não, que fique o não-dito pelo dito...

Wesley PC>

AH, SE NA VIDA REAL FOSSE ASSIM...

Faltou gás de cozinha em minha casa, por volta das 23h de ontem. Por ocasião deste infortúnio facilmente resolvível, comi pouco antes de dormir. Acordei com fome, dor de cabeça e pouca motivação para ir para o trabalho. Fiquei na cama até 8h50’ da manhã, em estado de vigília. Ao despertar, liguei a TV e deparei-me com um musical indiano de Bollywood: “Devdas” (2002, de Sanjay Leela Bhansali), com mais de três horas de duração. Será que era o que eu precisava?

Antes que eu pudesse responder, me vi envolvido no gigantesco melodrama que fundamenta este filme: o personagem-título e sua vizinha Parvati são apaixonados desde pequenos, mas ele é enviado a Londres para se converter em advogado e, quando retorna a seu país natal, é impedido por sua rica e esnobe família de se casar com a mulher que ama. A mãe dela é publicamente humilhada e a faz casar-se com um generoso viúvo. Ele torna-se um alcoólatra contumaz e desperta a paixão irrefreável de uma prostituta, disposta a se sacrificar-se por ele. As conseqüências deste gigantesco novelo de amores desencontrados serão a morte portentosa e o sobejo rítmico. Gostei não somente do filme como também do bem-estar que ele me causou, sendo, portanto, muito fácil compreender por que os filmes bollywoodianos são tão rentáveis: eles nos ajudam a evadir-nos de nossos próprios problemas e decepções. Em mais de um momento, era como se eu estivesse de porre ao lado de Devdas ou dançando apaixonado ao lado de Parvati e da prostituta Chandramukhi. Quero ver mais desse tipo de filme!

Wesley PC>

terça-feira, 26 de abril de 2011

ACEITO SUGESTÕES PARA MINHA NOITE DE FOLGA:

Empolguei-me, mais cedo, ao ler um convite para uma palestra sobre homofobia com o ativista ‘gay’ baiano Luiz Mott, um dos mais influentes (em sentido inverso) depoentes homossexuais de minha infância, do qual eu discordo discursivamente, em razão de o mesmo adotar uma perspectiva sobre o assunto que, de fato, conforme acusam seus inúmeros detratores, me parece paranóica. Cria que a tal palestra seria amanhã, mas depois soube que não, era hoje. Pior: não somente perdi a palestra, como agora não sei como aproveitar, de imediato, a tarde e a noite de folga que reservei para esta quarta-feira. Alguma sugestão?

A fim de contextualizar o meu pedido, uma referência contextual: quando eu saí da Universidade, por volta das 21h, percebi um amontoado de pessoas na entrada do bairro Rosa Elze. Precisava ir para casa e atravessei o amontoado populoso apreensivo e minimamente curioso, ao mesmo tempo. Retirei o fone de ouvido, a fim de ouvir o que alguém comentava sobre o ocorrido: “parece que foi uma criança, balearam ele na perna também. Vá lá ver!”, exclamou alguém ao meu lado. Dei de ombros e segui em frente. Duas quadras depois, ouço uma nova exclamação: “mataram um lá na esquina do galego. Veja lá!”. Ou seja: os habitantes do local já pareciam tão habituados a este tipo de assassinato que encaravam o fato como mero pretexto entretenedor. Ver o cadáver era mais importante do que saber quem era, quais foram as motivações do criminoso, como se pode evitar que crimes semelhantes ocorram... E o pior (ou melhor?) é que eu estou de folga amanhã!

Wesley PC>

“CANSEI DE TER RAZÃO DEMAIS/ CANSEI DE SER UM PERDEDOR”...

Nas duas frases acima – contidas em “Sem Paz”, faixa 03 do disco “Simulacro” (2007), do artista pernambucano China – o verbo cansar pode ter duas acepções interpretativas diferentes e, talvez, inter-relacionadas: se, por um lado, ele pode estar dizendo que não agüenta mais as condições citadas, por outro, ele pode estar apenas dizendo que está sentindo os efeitos incapacitivos deste cansaço. Penso que ele escreveu a canção pensando na primeira acepção, mas é a segunda acepção que me flagrou enquanto ouvinte: hoje eu estou cansado de ter razão demais e de ser um perdedor. Conclusão: bastava um empurrãozinho como este para que eu finalmente valorizasse o disco como um todo, não obstante já ter apreciado deveras as duas primeiras canções (“Um Dia Lindo de Morrer” e “Jardim de Inverno”) das outras vezes que ouvi o álbum... Hoje, eu o recomendo por dentro: muito bom e terapêutico, acima de tudo!

Wesley PC>

segunda-feira, 25 de abril de 2011

QUÃO INSUPORTÁVEL EU SEREI!

Não sabia se minha cabeça doía ou se eu estava apenas tonto, mas algo me fazia mal. Eram 19h, não chovia. Estava com fome e havia três laranjas descascadas e duas bananas em minha bolsa. Fui chamado de barrigudo em frente a um bar. Talvez fosse apenas sono...

Dormi.

Minha mãe insistia para que eu comesse algo. Eram 20h45’, não chovia. A televisão estava ligada e eu chupei três laranjas descascadas e não comi nenhuma banana, mas lambi uma lata de leite condensado. Algumas pessoas se apaixonam por outras, por menos aconselhável que isto pareça. Amor é assim mesmo...

Abri o portão e fiquei na rua, por alguns instantes. Estava frio.

Pensei que minha mãe fosse reclamar de minha exposição ao sereno. Ela não o fez. Eram 22h, não chovia. Na casa de meus vizinhos, rapazes estavam entretidos num violento jogo eletrônico para computador. Meu cabelo está curto, mas “vai crescer, vai crescer”...

São quase 23h agora. Não chove, mas eu espirro!

Wesley PC>

SERÁ QUE A QUANTIDADE DE SÊMEN EJACULADO TEM MESMO A VER COM A QUALIDADE DO GOZO?

Prefiro abordar esta questão com um exemplo literário rasteiro: no dia de ontem, eu resolvi ler o livro infanto-juvenil “O Filho do Caminhoneiro” (1994), de Aristides Fraga Lima, por mero desencargo ocupacional. Achei que não fosse de mau tom entrar em contato com uma trama exacerbadamente otimista, em que um caminhoneiro cearense encontra um bebê vivo entre os destroços de um acidente automobilístico, e entrega-o a uma jovenzinha de 12 anos, que o cria como filho e, anos depois, se apaixonará pelo caminhoneiro e constituirá com ele a família ideal para o garotinho que batiza o livro. É uma trama sem surpresas e muito cômoda no que tange aos preâmbulos de dificuldade enfrentados pelos personagens: eles não enfrentam problemas monetários, não sofrem por amor, não perdem tempo se lamentando... O máximo que ocorre é a necessidade de esperar alguns anos para que anseios determinados sejam realizados. Afinal, dá tudo certo e não tinha como não dar: as exigências genéricas do livro exigem!

Impregnado com meus preconceitos de adulto pervertido, enquanto lia o livro incomodava-me com as ralas composições dos personagens: os anos passavam e era como se eles continuassem iguais. Falhas ou máculas de caráter não eram percebidas sequer ao longe. O caminhoneiro, por exemplo, é um ser extremamente assexuado, apesar de estar no vigor de seus 20 anos de idade. Na vida real, não é bem assim que acontece: sei porque meu irmão mais velho e os vizinhos com quem mais me relaciono amistosamente são caminhoneiros. Enquanto o primeiro adquiriu várias doenças venéreas após transar com prostitutas de beira de estrada, os outros tiveram suas iniciações sexuais com o mesmo topo de mulher, que, não raro, chega a oferecer serviços por menos de R$ 10,00. É cruel o que a penúria as leva a se submeter...

(...)

Penso que seja de comum acordo que, no sexo, não buscamos o nosso prazer, mas também – ou talvez, principalmente – o prazer do outro, de quem nos acompanha. Recentemente, estive envolvido numa dada situação em que um parceiro ejaculou bastante ao cabo de meus serviços orais e manuais. Não era uma relação consensual, no sentido mais lato do termo, mas ele ejaculou tanto que sou levado a crer que sim, ele sentiu prazer comigo, eu consegui lhe dar prazer. Tomara...

(...)

Se, por um lado, o livro me irritou quando exagera ao descrever e comemorar as habilidades supostamente natas de uma criança de 10 anos enquanto condutor de veículos pesados, fiquei imaginando comigo mesmo o quanto a figura do caminhoneiro jovem vem se tornando um ideal romântico para mim. Lembro que, um dia, quando eu trabalhava como contra-regras para uma empresa infantil de teatro, um deles descreveu para mim como se masturbava. Eu fiquei observando-o, com desejo, mas estava a serviço e não soube como aproveitar esta bem-vinda oportunidade erótica. Nunca mais encontrei este caminhoneiro, mas outros estiveram nus diante de mim depois disso. E como valeu a pena!

Wesley PC>

PARA MIM, CONVERTER-SE NÃO É REJEITAR O PASSADO, MAS, SIM, ADICIONAR NOVOS PONTOS DE VISTA A ELE!

Eu nunca havia sequer ouvido falar de Brigid Bazlen até a tarde de hoje, quando, aos 17 anos de idade, ela dançou para mim no estranhíssimo filme religioso “O Rei dos Reis” (1961, de Nicholas Ray). Dotada de um charme ambíguo, interpretando uma personagem complexa e exageradamente caprichosa, esta atriz juvenil me surpreendeu pelo talento, mas, pelo que pude averiguar posteriormente em sua biografia, ela foi desdenhada por Hollywood, que a reaproveitou em menos de uma dezena de filmes. Pena, pena...

Por falar em “O Rei dos Reis”, este filme me impressionou deveras pelo vigor marginal de seu discurso (conforme pode ser lido aqui) e, assim sendo, me fez despejar versículos bíblicos no Twitter, de tal religiosamente empolgado que eu fiquei pela determinação do cineasta Nicholas Ray, um dos mais egrégios “contrabandistas” de Hollywood, em utilizar um filme que tinha tudo para ser genericamente trivial para disseminar suas apologias pró-marginalidade. Não é um filme efetivamente bom, mas é genial em diversos aspectos e, como tal, funcionou surpreendentemente como indutor religioso para mim, da mesma forma involuntária (?) como poderá servir o livro “Confissões de um Comedor de Ópio” (1822), que ganhei de alguém que atendi no trabalho e que somente hoje dispus da oportunidade adequada para começar a ler. E é literalmente assim que Thomas de Quincey inicia a sua narrativa confessional:

Apresento-vos aqui, caro leitor, o relato de uma época notável de minha vida: do modo como me apliquei a ela, confio que não será apenas interessante, mas, nu grau considerável, útil e instrutivo. Foi com esta confiança, aliás, que me pus a escrevê-lo, e exatamente essa é que deve ser minha desculpa por ter rompido o recato, honrado e delicado, que nos impede de expor em público nossos erros e misérias”.

Tem como não se sentir convertido depois de ver este filme e ler este livro numa das datas institucionalmente religiosas mais importantes do ano?!

Wesley PC>

domingo, 24 de abril de 2011

“METAL ON METAL” (INDICAÇÕES GENÉRICAS ACERCA DE MINHA FAMILIARIDADE APENAS TANGENCIAL COM O TIPO DE MÚSICA QUE A BANDA CANADENSE ANVIL TOCA)

Respondam rápido: eu gostaria de uma canção permeada por odes ao número 666 que tem no refrão os seguintes versos “I'd rather be a king below than a servant above/ I'd rather be free and hate than a prisoner of Love”? Quem me conhece, bem sabe que, sim, eu prefiro o extremo oposto do que prega “666”, a segunda canção mais famosa da banda canadense Anvil, a qual eu não conhecia, até assistir, por acaso, ao documentário “Anvil! A História de Anvil” (2008, de Sacha Gervasi) na tarde de hoje.

Tive muita vontade de assistir a este filme porque ele me foi sobremaneira elogiado por alguns amigos virtuais cinéfilos, mas, infelizmente, gostar de ‘heavy metal’ é uma pré-condição para se gostar deste filme, centrado numa estória real que, admito, é bonita: na década de 1970, dois amigos com mais ou menos 14 anos de idade resolvem montar uma banda e fazem relativo sucesso com a canção-título do álbum “Metal on Metal”, de 1982. Entretanto, vinte e seis anos depois deste sucesso, os dois principais integrantes da banda – o vocalista e guitarrista Stve ‘Lips’ Kudlow e o baterista Robb Reiner – são obrigados a sobreviver através de empregos comuns e não conseguem êxito no plano de lançar o 13º disco da banda por uma gravadora. Acompanhamos, portanto, uma turnê da banda pela Europa, mas eles não somente não são pagos como não sentem que são devidamente reconhecidos pelo público em geral, não obstante chamarem a atenção e serem calorosamente recebidos por admiradores eventuais. Uma bonita estória, admito, mas que não me convenceu de todo.

Nutri uma simpatia considerável por Tiziana Arrigoni, fã que se torna agente da banda, mas incomodei-me pela “invisibilidade” pretendida pelo operador de câmera Christopher Soos, que transita pelos mesmos ambientes da banda, mas é ignorado, como se a presença do aparelho captador de imagens fosse algo que sempre tivesse existido... Senti-me tentado a criticar os envelhecidos integrantes da banda por se contradizerem ao dizer que “a família é a coisa mais importante do mundo”, ao mesmo tempo em que compõem verdadeiras incitações ao Mal e à destruição, mas seria nulo de minha parte fazer isso. Lembro que, numa discussão célebre com um amigo metaleiro, distingui os fãs de ‘heavy metal’, ‘punk rock’ e música ‘indie’ como sendo, respectivamente, homicidas, terroristas e suicidas, mas era uma generalização que tinha função taxonômico-cômica mais subjetiva do que necessariamente um lastro genérico objetivo, mas, por dentro, eu acho isso mesmo (risos). Assim sendo, sou um tanto desautorizado, no plano ideológico-motivacional, a admirar o ‘heavy metal’, gênero musical bem mais adequado para quem sabe executar instrumentos. Mas, mesmo assim, a inusitada história de (in)sucesso da banda merece ser conhecida, ainda que, pessoalmente, eu não sinta lá muita vontade de ouvir este álbum...

Wesley PC>

O MANDATO PRESIDENCIAL DE JÂNIO QUADROS ERA “A UDN DE PORRE”, DISSE SEU EX-MINISTRO AFONSO ARINOS!

Ontem à noite, a TV Brasil exibiu o clássico documentário “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980), de Sílvio Tendler. Ansiava desde a infância por ver este filme e, como tal, enviei mensagem a diversos amigos, a fim de que eu não ficasse sozinho na consumação deste prazer intelectual. Quem prontamente atendeu a meu pedido foi um vizinho de 25 anos, impressionado com o fato de que seus pais humildes não sabiam que o Brasil vivia sob uma ditadura militar na década em que foram adolescentes. Como tal, ele exultava durante a extensão duração de 110 minutos do filme, que não apresentava os fatos de forma previsivelmente didática, mas sim de forma crítica, árdua, que requeria conhecimento prévio sobre as figuras históricas ali mencionadas. Eu mesmo me senti burro em diversas seqüências, visto que sei muito pouco sobre os eventos abordados, da forma incisiva como foram abordados... Mas nada que prejudicasse a apreensão positiva do filme, que tem seu clímax na transição do mandato presidencial do protagonista Juscelino Kubitschek para o populista Jânio Quadros, em 1961, tendo renunciado poucos meses depois que assumiu o cargo. Gostaria de rever o filme, a fim de prestar mais atenção nalguns detalhes e estudar previamente sobre o contexto abordado, mas, enquanto não o faço, tenho certeza de que o que vi ali renderá riquíssimas conversas com o meu vizinho... Que bom! Viva o Brasil!

Wesley PC>
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“EU SOU UMA BONECA INFLÁVEL. SIRVO PARA SACIAR OS DESEJOS SEXUAIS ALHEIOS. EU SOU UMA SUBSTITUTA!”

Conheci o cineasta japonês Hirokazu Kore-Eda através de uma sessão cinematográfica que decepcionou a maioria dos presentes: além de não ser um filme fácil, “Maborosi, a Luz da Ilusão” (1995) distancia-se do público brasileiro por causa de sua lentidão e da estrondosa contenção de sentimentos. O segundo filme do diretor que vi, entretanto, “Depois da Vida” (1998), exibido pela TV Cultura, me encanou deveras. Tanto que precisei assisti-lo duas vezes seguidas, de tanto que me emocionei com a trama sobrenatural (porém demasiado crível) dos recém-falecidos que, num espaço parecido com o Céu dos religiosos ocidentais, são convocados a escolherem o momento mais inesquecível de suas vidas e refilmá-lo enquanto cena de cinema. Neste momento, tornei-me fã do diretor!

Apesar de ainda não ter tipo a oportunidade adequada para ver seu filme mais elogiado, “Ninguém Pode Saber” (2004), que já possuo disponível em casa, tive acesso a um filme menos conhecido, “Seguindo em Frente” (2008), simples porém deveras gracioso, sobre uma família numerosa que lida com suas frustrações pessoais enquanto comemoram o aniversário de um parente, que faleceu enquanto executara, ainda criança, um salvamento heróico. Um filme muito bonito, que só confirmou que eu era, de fato, fã do diretor.

Acostumado a seu estilo sensível, tomei um susto quando vi sendo anunciado, num canal fechado de TV, um filme intitulado “Boneca Inflável” (2009), atribuído a ele. Na sinopse do mesmo, uma boneca inflável ganharia vida e se apaixonaria por um atendente de vídeolocadora. Não consegui imaginar o que Hirokazu Kore-Eda faria com uma trama como esta, até porque, em seus filmes os personagens eram prontamente assexuados ou, no máximo, bastante sóbrios no que tange às funções familiares e reprodutivas do intercurso erótico. Nas primeiras cenas deste “Boneca Inflável”, um solitário trabalhador de meia-idade fode coma boneca e, logo em seguida, lava o tubo de borracha (correspondente à vagina dela) onde ele ejaculara. Tomei um susto mesmo: este é um filme de Hirokazu Kore-Eda?!

À medida que a trama evoluía, porém, num ritmo tão inverossímil quanto sentimentalmente metonímico, logo percebo que o que interessa no roteiro são as dificuldades de entrosamento social entre a boneca inflável tornada gente e as pessoas (solitárias) ao seu redor. Não chega a ser funcional ou efetivamente emocionante, mas os intentos diretoriais aqui compensam. E, nesse sentido, é difícil não se projetar na personagem quando ele tenta inflar a si mesma depois que descobre que tem um coração – e que isso dói!

Não é um bom filme, no sentido avaliativo mais geral do termo, mas ainda sou muito fã do diretor Hirokazu Kore-Eda!

Wesley PC>