sexta-feira, 4 de abril de 2014

OUTRA CONJUNTURA...


"Depois tu voltas, deixa só eu terminar isso, que estou impaciente!"...

Ciúme X democracia!

Wesley PC> 

NA FALTA DO BUSCOPAN GENITAL, LUIZ ROSEMBERG FILHO!

Até alguns minutos, eu sequer ouvira falar de R. R. Soares.Um amigo, estudante de Ciências da Religião, mencionou o referido personagem durante uma conversa e prometi-lhe que buscaria mais informações sobre o mesmo. Ao deparar-me com sua imagem, constatei que já o vira muitas vezes na TV. Soube, portanto, que ele é o fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus.

Já sintonizei por acaso alguns de seus programas, já que são retransmitidos por diversos canais, mas, até então, nunca prestei atenção a nenhum de seus discursos. Pelo tom do meu amigo ao mencioná-lo, ele seria um dos mais tacanhos conservadores midiáticos hodiernos. Não tenho opinião formada ainda. Muito menos agora, que outros assuntos se misturam em minha mente desejosa... Preciso descer o nível!

Wesley PC>

“E EU, PELA PRIMEIRA VEZ COM VOCÊ, USEI A PALAVRA AMOR. DISSE PARA VOCÊ, MAIS OU MENOS, QUE A SUA TRISTEZA ERA O MEU AMOR. QUE VOCÊ TINHA DESPERTADO UMA AMBIÇÃO SENTIMENTAL EM MIM” (p.173)


E, assim, eu mergulho implacavelmente nas duzentas e sessenta e sete páginas de “A Caixa-Preta” (1987), do israelense Amós Oz, que me foi emprestado por um amigo na tarde de quarta-feira, após eu ter-lhe enviado uma definição de Hamid Naficy (citando Linda Kaufman) sobre as associações inatas entre a epistolaridade e o desejo.

O romance em pauta é epistolar: todo ele é construído a partir da correspondência entre os personagens, ao longo de meses (quiçá anos, visto que ainda estou no meio da estória). Os protagonistas são o acadêmico Alexander Guideon e a ninfômana Ilana. Eles se divorciaram, depois que ele descobriu o seu compêndio açambarcante de traições. Ela fazia sexo com outros porque ansiava pela atenção dele. Um filho nasceu, Boaz, que, aos 16 anos, lindo como um arcanjo bélico, é como se fosse um gigante, beirando os dois metros de altura. Mal sabe escrever e é deveras agressivo, porém terno com as prostitutas, conforme antevemos num de seus dez mandamentos pessoais. Seu padrasto Michel Sommo, fanático religioso, faz o que pode para mantê-lo longe das prisões, mas ele quer viajar, “ganhar o seu próprio sustento com o suor de seu rosto”, como está nas Escrituras Sagradas. O advogado germânico-israelita Manfred Zakheim interpõe-se na trama, como representante legal (e estranhamente submisso) do professor Guideon. Dinheiro é o elemento que dá a tônica afetiva e relacional entre diversos estes personagens, mas a amargura, o remorso, o amor incontido e o desejo sexual também os preenchem...

Dizia a citação naficiana enviada vis SMS: "Exílio e epistolaridade são constitutivamente ligados porque ambos são motivados pela distância, separação, ausência, perda e anseio de suplantar as interrupções múltiplas. Qualquer que seja a forma da epístola (uma carta, um bilhete escrito num guardanapo, uma conversa ao telefone, uma gravação ou mensagem eletrônica), ela se torna, nas palavras de Linda Kaufman, 'um deslocamento metafórico e metonímico do desejo' - o desejo de estar com um outro e se reimaginar noutro lugar ou noutro tempo".


 O amigo que me emprestou o romance disse-me que o autor é um de seus favoritos porque, quando a sua irmã tentou se suicidar, atirando contra a própria cabeça, tinha outro romance de Amós Oz nas mãos. Isso teria prejudicado a sua estrutura familiar – inclusive financeira – peremptoriamente. Felizmente, a moça não morreu: procriou, estuda, talvez seja eventualmente feliz. O amigo em pauta, por sua vez, é constantemente atormentado por acusações de arrogância. Não acho que seja o caso. Mas estou gostando muito do romance!

Não há como não mencionar a sagacidade do título, que remete a um aparato aeronáutico que permite que acidentes sejam reconstituídos, a fim de se descubram as suas causas. É uma trama emocionante, mas o que mais me espanta no romance é a sexualidade incandescente do jovem Boaz, expressa através de suas cartas repletas de erros ortográficos. E os clamores por (in)tolerância acerca dos diversos povos que vivem em Israel, interesse subjacente – porém onipresente – da trama. Brilhante descoberta: mergulharei o quanto antes na segunda metade!

Wesley PC>

quarta-feira, 2 de abril de 2014

“OS ÓCULOS DO VOVÔ” (1913, DE FRANCISCO SANTOS)

Antes de iniciar a sessão, eu estava empolgado: veria o filme mais antigo do Brasil então disponível, com 101 anos de existência. Pensava que a sua trama seria uma espécie de translação das prestidigitações cômicas do Georges Méliès, mas tudo se passa tão rápido, em menos de cinco minutos: um garotinho peralta (ou melhor, “traquinas”, como diz um intertítulo) corre de sua mãe, que quer bofeteá-lo. Ele se refugia no colo do avô, que pede que sua filha telefone para um oftalmologista, pois ele teme estar ficando cego, o que muito o preocupa naquela idade. E, quando o médico chega para examiná-lo, o filme acaba. Tive de consolar-me tramaticamente com alguns curtas-metragens do Humberto Mauro após a sessão!

[Após ter escrito isso, soube que o filme a que tive acesso era, na verdade, apenas o fragmento sobrevivente do referido curta-metragem, o mais antigo filme ficcional brasileiro de que se tem notícia, que teria mais ou menos 15 minutos de duração: tudo se explica!] 

Nunca conhecia meus avôs (nem tampouco meu pai). Fiquei pensando nisso enquanto a breve trama se deslindava. Na sala, minha mãe assistia a um gracioso filme do Hirokazu Kore-Eda. Os cachorros latiam, felizes. No quintal, um pinto piava. Vou telefonar para um rapazola, perguntando se ele quer me fazer companhia hoje à noite. Mesmo que fizéssemos sexo – o que seria um devaneio – não poderíamos procriar: não seremos avôs de um neto comum!

Wesley PC>

domingo, 30 de março de 2014

“DEPOIS DE UMA PEÇA DECEPCIONANTE COMO ESTA, TU VAIS PRECISAR DE UM FILME SUBLIME PARA DORMIR BEM, NÃO É?”

A pergunta adveio de minha amiga Cleziane, após voltarmos do teatro, onde frustramo-nos diante de “A Grande Serpente”, peça representada pelo eficiente grupo Imbuaça, mas que foi sobremaneira prejudicada pela competição de talentos que se tornou o espetáculo: cada ator queria brilhar mais que o outro em cena, demonstrar-se mais visceral em sua entrega ao papel, de modo que as atuações soaram frágeis, inconvincentes. Uma pena!

 No texto de Racine Santos, os nomes bíblicos e/ou mitológicos dos personagens antecipavam os seus destinos: uma louca de nome Joana era atormentada por visões fantasmagóricas, desde que sua filha (na verdade, sobrinha) Tamar casou-se com o pai (sem que soubesse). Dois jagunços servem como alívio cômico às desventuras das aldeãs que constatam que a água do poço da vila secou, enquanto um cego deambulante baseado em Tirésias esforça-se para clarificar as razões da maldição que se assola sobre o lugar. Os figurinos são deslumbrantes e a encenação muito boa, mas, infelizmente, o trabalho capenga do elenco quase pôs tudo a perder...

Eu e meus companheiros de audiência ficamos a conversar sobre o que nos agradou e principalmente desagradou na peça e, quando cheguei em casa, surpreendi-me ao descobrir que “Cara ou Coroa” (2012, de Ugo Giorgetti) seria exibido na TV. Afinal de contas, os dilemas de um diretor de teatro eram centrais na narrativa. Pena que o filme fosse ruim também...

 Preguiçosamente interpretado por Emílio de Mello, este diretor vê seu casamento soçobrar por causa de seu vício em jogatina (corridas de cavalo e bilhetes da loteria esportiva). Seu irmão Getúlio (José Geraldo Rodrigues) é muito mais simpático, mas também padece da composição um tanto estereotipada que prevalece sobre quase todos os personagens. Estamos em 1971, fase mais dura do governo militar no Brasil, e o roteiro mostra-se surpreendentemente simpático a um general aposentado (Walmor Chagas, ótimo) que sempre fora muito exigente com seus recrutas, mas, seguidor extremado das leis que é, discorda das práticas de tortura praticadas por seus colegas. O ponto nodal da trama é quando Getúlio precisa pedir à sua namorada Lílian (Julia Ianina), sobrinha do General, que esconda em sua casa dois refugiados comunistas. Tudo termina de maneira desagradavelmente anticlimática, portanto. Caí de sono ao final da sessão!

Felizmente, a frustração dupla foi contornada por uma exigência premente: tenho a obrigação de, ainda hoje, conformar de uma vez por todas o meu texto dissertativo de Mestrado. Como eu disse antes, imitando um dos professores que comporão a minha banca de defesa: “agora vai!”. Tem de ir!

 Wesley PC>