sábado, 6 de julho de 2013

ACORDO PENSANDO EM TI, DURMO PENSANDO EM TI, PENSO EM TI DURANTE O RESTANTE DO TEMPO...

Oficialmente, só conheci o programa humorístico internético “Porta dos Fundos” um dia destes: apesar de ter apreciado o humor concomitantemente chulo e intelectualizado, não o favoritei mentalmente, mas fui tomado por um compreensível arrebatamento quando ouvi o disco “Monomania” (2013), composto por uma das integrantes tangenciais do elenco do programa, Clarice Falcão, cônjuge do comediante Gregório Duvivier. E, desde que tive acesso ao referido disco, tinha prestado atenção detida a apenas uma faixa, a genial “Eu Me Lembro” (09). De ontem para hoje, por conta de uma briga recorrente com um dos rapazes merecedores do título do álbum, já o ouvi na íntegra diversas vezes – e nossa, como tem a ver comigo!

A voz suave da cantora e os acordes melódicos de violão autorizar-me-iam facilmente a apreciar o disco, no sentido de que o mesmo se aparenta bastante a estrelas da ‘indie music’ que aprecio como Cat Power, CALLmeKAT, Feist e congêneres. Mas vamos a uma análise mais detida do rol de canções: logo no início, a frase “se um dia eu te ligar de madrugada, em desespero, é engano!” já me fez ficar encantado por “Eu Esqueci Você”, sarcástica faixa de abertura; segue-se a antológica “Macaé”, que enumera procedimentos obsessivos caros à minha pessoa, como memorizar o número do RG do ser amado, o que retorna na terceira faixa, a que intitula o álbum, sobre a dificuldade em enriquecer como cantora quando todo o conteúdo do CD é sobre uma única pessoa (risos). Quantas e quantas vezes este ‘blog’ não perigou ficar assim? Ah, como eu me lembro...

As faixas intermediárias seguintes obnubilam-se um tanto diante da maestria de “Eu Me Lembro”, cujo dueto com o cantor Silva e o seu refrão perfeito justificam enésimas repetições consecutivas:

“E foi assim que eu vi que a vida colocou ele/ela pra mim
Ali naquela terça-feira/quinta-feira de setembro/dezembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor, de cor
Pode me perguntar de cada coisa, eu me lembro”

Sim, a letra contrasta o tempo inteiro as lembranças dos dois amantes, que, afinal, cantam em uníssono quando asseveram que se amam por conta dos pequenos detalhes lembrados. Intuitivamente, eu tendo a achar que a voz lírica feminina é a que lembra com mais precisão do que aconteceu quando eles se conheceram, mas... Quem garante?

A faixa 10 (“O Que Eu Bebi”) é divertida, mas não tem muito a ver comigo, o que, por sua vez, é muitíssimo bem descontado na faixa seguinte, “A Gente Voltou”, em que as atividades de médicos, bandidos, professores e diversos outros profissionais são irrelevantes diante do reatamento amoroso do casal emulado. Nem mesmo o suicídio iminente da personagem teatral Julieta é poupado. O trecho “quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar da janela do oitavo andar, mas, ao invés disso, eu dei meia-volta e comi uma torta de amora inteira no jantar”, contido na décima segunda faixa atesta: o disco é pessoal, encantatório, apaixonante! O título não nega: “Monomania” é algo que tem tudo, tudo a ver comigo!


Wesley PC> 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

UM PEQUENO PORÉM SIGNIFICATIVO PASSO PARA A FRENTE (OU UM CONVITE PARA MIM MESMO):


Os eventos que acontecem às terças-feiras são determinantes para que eu mantenha a afirmação de que quarta-feira é o meu dia favorito da semana: tudo o que ocorre no dia anterior contribui para que a estruturação equilibradora deste dia seja posta em prática, no que tange ao entendimento consciencioso das conseqüências de meus atos. Ontem foi um dia de desequilíbrio, de ofensas, de brutalidade “anti-crítica”. Hoje é dia de enfrentar o mundo com galhardia. Aproveitarei que o filme “O Sonho de Wadjda” (2012, de Haifaa Al Mansour) está em cartaz num cinema local para assistir ao mesmo. Mesmo intuindo que ele não seja lá muito bom, o drama de uma protagonista que tem o simples desejo de comprar uma bicicleta num país que oprime os seus mínimos anseios servir-me-á como consolo de quarta-feira. A diretora é uma mulher, algo inusual na sociedade repressiva de que ela proveio, a Arábia Saudita, país que não possui sequer uma tradição cinematográfica. Valerá a pena: enfrentar é possível, equilibrar é um dever! 

 Wesley PC>

terça-feira, 2 de julho de 2013

O CU QUE É SUPRIMIDO NO TÍTULO ABUNDA NA TRAMA (E NA CONSCIÊNCIA MILITANTE)!

Em entrevistas recentes, o galã da Boca do Lixo paulistana David Cardoso declarou que nunca realizou nenhum filme ostensivamente pornográfico. Não obstante ele ser um dos mais ousados exibidores da genitália masculina na era em que a mesma era proibida de ser veiculada no Brasil, suas incursões directoriais pelos filmes com sexo explícito foram realizadas sob o pseudônimo Roberto Fedegoso. O mais famoso destes filmes, “Viciado em Sexo” (1984), sempre me chamou a atenção por causa de seu roteiro teleologicamente inusitado, que demonstra como um garotinho acostumado a foder com as galinhas do seu quintal apaixona-se por uma travesti chamada Pérola, visto que esta é a única que consegue fazer com que ele ouça barulho de sinos durante o orgasmo. A perspectiva enredística é mui similar à comicidade de “Garganta profunda” (1972, de Gerard Damiano), um dos representantes da famosa “santíssima trindade do pornô estadunidense”, mas o recorte eminentemente brasileiro (quase caipira) e a inusitada tomada de partido para-homossexual surpreenderam-me positivamente: deveria ter visto este filme antes! (risos)

 Os ângulos inusitados de pênis trêmulos, os diálogos forçados envolvendo a obsessão do protagonista pela sodomia (a ponto de ele considerar o ponto máximo de uma relação masturbar-se diante dos ânus de suas parceiras sexuais, enquanto exclama repetidamente: “ai, que punhetinha boa!”) e as surpreendentes e polêmicas cenas protagonizadas pelo filho do diretor, David Cardoso Jr., então com 13 anos de idade, que se exibe genitalmente para a câmera, são fatores que tornam este filme absolutamente singular no panorama cinematográfico mundial, além de ganhar pontos extraordinários pela sutil regravação do diálogo final do clássico cômico “Quanto Mais Quente Melhor” (1959, de Billy Wilder) no escandaloso desfecho feliz do filme, em que o protagonista aceita se casar com a sua amada bunduda, mesmo quando descobre que ela, na verdade, é um homem. Fiquei felicíssimo com tudo o que este filme me causou: dormi feliz ao refletir sobre a sua liberdade erotógena, num cotejo com a pudicícia ridícula dos filmes brasileiros recentes. Digo mais: gostei tanto do filme que, por precaução, estou controlando os elogios aqui, visto que eu posso estar hiperinterpretando as suas intenções discursivas. Mas, seja como for, é digno de nota alta e ereções tangenciais (além de algumas gargalhadas, claro), não obstante o protagonista Silvio Júnior ser péssimo. Muito bom o filme - mais que isso: sintomático!

Wesley PC>

ENQUANTO ISSO, NUMA CIDADE PEQUENA DO BRASIL...


Mesmo sem possuir a Rede Globo de Telvisão no pacote de TV por assinatura da minha casa, soube que, na madrugada de hoje, o ator Danny Glover, agora militante político, foi entrevistado no programa de Jô Soares e, supostamente, constrangeu o apresentador ao posicionar-se favoravelmente a manifestações populares que ele não entendia. Não vi o programa e estou apenas a reproduzir o que li, segundo depoimentos de esquerdistas locais empolgados com o que foi mostrado nas primeiras horas de um sub-evento nomeado "Dia Nacional Sem TV Globo", agendado para o primeiro de julho deste ano. Tenho que acordar cedo, daqui a pouco, por causa de uma aula sobre Teoria da Comunicação, onde serei teoricamente apresentado a mais alguns interessantes aspectos desta impressionante capacidade dos veículos de comunicação de massa em assimilar até mesmo o que lhe parece opositivo. Parece. Pois, quando Neymar Jr. faz gol e/ou mostra o volume de sua cueca, a galera festeja. E galera aqui é menos uma generalização nacional que um subconjunto. Qual é a diferença mesmo, hein?

Wesley PC>

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O QUE (NÃO) É POLÍTICA!

Tive o azar de estar passeando pelas ruas da cidade de Aracaju enquanto Brasil e Espanha se enfrentavam na partida de futebol final da Copa das Confederações. Os bares estavam cheios, as pessoas gritavam e exultavam sempre que o Brasil fazia um gol (ao final, foram três!). Para a minha extrema sorte, entretanto, estava muito bem-acompanhado e pude observar com distanciamentos as reações entreguistas de pessoas que, até algumas horas antes, condenavam as comemorações futebolísticas como nocivas ao processo de despertar político hodierno do "gigante brasileiro" (sic).

 Dormi tarde e, ao despertar, ainda grogue, dispus-me a ver o genial "Edu, Coração de Ouro" (1967, de Domingos de Oliveira), que aproveita elenco e equipe do anteriormente soberbo "Todas as Mulheres do Mundo" (1966). A abordagem deste filme mais recente é bem diferente: se, no filme anterior, os dilemas neo-monogâmicos do protagonista é que são relevantes, no filme de 1967 a própria constituição do protagonista como alguém que tenta evitar os dilemas é o que o torna mais genial. Paulo José está soberbo como Eduardo, aliás. Um 'bon vivant' para quem levantar da cama é o grande desafio diuturno. Segue em festas, conversações com transeuntes, paqueras, colóquios com amigos poetas, namoros, seduções (e reclamações) de empregadas domésticas, etc.. Em dado momento, ele inteligentemente pronuncia: "todo lugar é centro porque as coisas perderam os seus lados. Eu também perdi os meus lados. (...) Onde fica a esquerda? (...) O amor não é possível nem necessário". E, oh, como eu me identifiquei com isso! Quando ele conhece a maravilhosa personagem de Leila Diniz, que dorme com quem quer ou com quem a queira, e grita "viva o amor!", eu me arreganhei de contentamento: algo de mim está naquele filme!

Disfarçado de filme contente, sobre as aventuras festivas de um típico 'playboy' carioca, o filme, na verdade, traz a atmosfera nouvellevagueana para o panorama praiano do Cinema Novo e, sutilmente, cutuca a política repressora da época, vide o "Epílogo" no qual há o suicídio de um amigo artista do protagonista, e o "Epílogo do Epílogo", no qual  se escreve na tela: "se custa muito com a vida ter um compromisso, também custa muito não ter nada a ver com isso". Mais claro impossível, não é?

Imaginei diversos interlocutores ideais para a discussão dos apotegmas e atitudes discursivas deste filme, maravilhosamente fotografado por Dib Lutfi e Mário Carneiro, mas o ideal seria revê-lo em grupo. Quem sabe eu não consiga fazer isso muito em breve? Por ora, sinto-me bem mais tranqüilo para rejeitar publicamente as manifestações imbecilizadas e predominantemente numéricas que ainda continuam a ser despejadas por Aracaju (e no Brasil como um todo, dando a tônica midiática a ser perseguida): não quero me envolver com isto, nem reativamente. O filme do Domingos de Oliveira explica bem o porquê. E o amor é mais que importante, porra!

Wesley PC>