Oficialmente, só conheci o programa humorístico internético “Porta
dos Fundos” um dia destes: apesar de ter apreciado o humor concomitantemente
chulo e intelectualizado, não o favoritei mentalmente, mas fui tomado por um
compreensível arrebatamento quando ouvi o disco “Monomania” (2013), composto
por uma das integrantes tangenciais do elenco do programa, Clarice Falcão, cônjuge
do comediante Gregório Duvivier. E, desde que tive acesso ao referido disco,
tinha prestado atenção detida a apenas uma faixa, a genial “Eu Me Lembro” (09).
De ontem para hoje, por conta de uma briga recorrente com um dos rapazes
merecedores do título do álbum, já o ouvi na íntegra diversas vezes – e nossa,
como tem a ver comigo!
A voz suave da cantora e os acordes melódicos de violão
autorizar-me-iam facilmente a apreciar o disco, no sentido de que o mesmo se
aparenta bastante a estrelas da ‘indie music’ que aprecio como Cat Power, CALLmeKAT,
Feist e congêneres. Mas vamos a uma análise mais detida do rol de canções: logo
no início, a frase “se um dia eu te ligar de madrugada, em desespero, é engano!”
já me fez ficar encantado por “Eu Esqueci Você”, sarcástica faixa de abertura;
segue-se a antológica “Macaé”, que enumera procedimentos obsessivos caros à
minha pessoa, como memorizar o número do RG do ser amado, o que retorna na
terceira faixa, a que intitula o álbum, sobre a dificuldade em enriquecer como
cantora quando todo o conteúdo do CD é sobre uma única pessoa (risos). Quantas
e quantas vezes este ‘blog’ não perigou ficar assim? Ah, como eu me lembro...
As faixas intermediárias seguintes obnubilam-se um tanto
diante da maestria de “Eu Me Lembro”, cujo dueto com o cantor Silva e o seu
refrão perfeito justificam enésimas repetições consecutivas:
“E foi assim que eu vi que a vida colocou ele/ela pra mim
Ali naquela terça-feira/quinta-feira de setembro/dezembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor, de cor
Pode me perguntar de cada coisa, eu me lembro”
Sim, a letra contrasta o tempo inteiro as lembranças dos dois
amantes, que, afinal, cantam em uníssono quando asseveram que se amam por conta
dos pequenos detalhes lembrados. Intuitivamente, eu tendo a achar que a voz
lírica feminina é a que lembra com mais precisão do que aconteceu quando eles
se conheceram, mas... Quem garante?
A faixa 10 (“O Que Eu Bebi”) é divertida, mas não tem muito a
ver comigo, o que, por sua vez, é muitíssimo bem descontado na faixa seguinte, “A
Gente Voltou”, em que as atividades de médicos, bandidos, professores e
diversos outros profissionais são irrelevantes diante do reatamento amoroso do
casal emulado. Nem mesmo o suicídio iminente da personagem teatral Julieta é
poupado. O trecho “quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar da
janela do oitavo andar, mas, ao invés disso, eu dei meia-volta e comi uma torta
de amora inteira no jantar”, contido na décima segunda faixa atesta: o disco é
pessoal, encantatório, apaixonante! O título não nega: “Monomania” é algo que
tem tudo, tudo a ver comigo!
Wesley PC>