sábado, 16 de fevereiro de 2013

SOU EU QUE ESTOU FICANDO RABUGENTO?


Oficialmente, "O Avião de Papel" (2012, de John Kahrs) é o favorito na categoria Melhor Curta-Metragem Animado no prêmio Oscar deste ano. Vi apenas dois de seus concorrentes até então [o superior "Head Over Heels" (2012, de Timothy Reckart) e o levemente inferior "Adam and Dog" (2012, de Minkyu Lee)], mas, ao contrário do que está acontecendo com a maioria absoluta dos espectadores deste filme, o romance mostrado na tela não me convenceu: por mais bonito que seja o contraste entre o preto-e-branco e a mancha de batom que fica no papel que entra em contato com os lábios da transeunte por quem o burocrata da foto se apaixona, incomodei-me sobremaneira com a sua displicência trabalhista, com a sua poluição desrespeitosa das vias públicas, com o desperdício absurdo de papel, com a incomunicabilidade artificial da trama e com a trilha sonora 'techno' de Christophe Beck. Sério, o filme me incomodou muito mais do que encantou! Comumente, eu me derreto por qualquer emulação de platonismo urbano, mas, aqui, a forçação de barra destrutiva devastou a minha identificação: não é um filme ruim,mas é perigosíssimo!

Wesley PC>

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

PARA DISFARÇAR... (OU A AZIA APÓS A SESSÃO)

"A Reencarnação do Sexo" (1982) é um interessantíssimo filme de horror nacional, em que uma estória de amor interclassista é interrompido por causa dos ciúmes do pai da moça, que mata o seu empregado fodedor a machadadas, fazendo que, em conseqüência, sua filha se mate e sua esposa enlouqueça de tanto beber. Os anos se passam, uma bela loira vai morar na mesma casa, o fantasma do empregado a assombra, obrigando-a a converter-se numa ninfômana, que esfola o marido de tanto sexo, até esfaqueá-lo definitivamente  Nova passagem de tempo e uma terceira inquilina do local surge, uma garota rica expulsa de casa por ser lésbica, que tenta fazer sexo com um rude caminhoneiro, mas prefere mesmo a chavasca de sua namorada, preocupada com a sua solidão, que lhe traz um vibrador de presente, com o qual morrerá sufocada... E, enquanto o filme se desenrolava, eu me sentia solitário. Coisa da minha cabeça, claro, decorrência de minha subsunção impertinente a uma situação de inveja que não quero nem preciso nem devo alimentar: estou preocupado comigo mesmo! Mas vai passar... É só eu ter cuidado para não enfiar qualquer vibrador em minha boca!

Wesley PC>

POR DETRÁS DA VULGARIDADE FESTIVA, O AMOR ESTAVA NA TELA – E FORA DELA!

Na tarde de hoje, recebi uma oportuna mensagem de celular: “nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos, nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a pessoa amada ou o seu amor”. A citação é atribuída a Sigmund Freud e foi por mim redirecionada a uma moçoila que estava sentada na mesma sala que eu, vendo um filme chamado “Projeto X – Uma Festa Fora de Controle” (2012, de Nima Nourizadeh), ao lado de um homem que tanto ela quanto eu amamos, mas o qual somente ela teve o direito de fechar-se com ele num quarto fechado, enquanto a mim coube esfregar um ou outro dedo em suas costas, disfarçadamente, como forma de compensar a minha interdição afetiva. Diante do filme, sorríamos, eu e ele. Ela estava apreensiva, ansiosa para arreganhar as pernas e ser alvejada pelos jatos do sêmen do homem que ambos amamos. Gostamos do filme, todos nós. E, ao final da sessão, uma garota apaixonada, que trabalha como babá de uma garotinha simpaticíssima de 6 anos, confessou que sente vergonha de uma fotografia recentemente acostada ao seu perfil do Facebook, em que é mostrada ao lado de outras jovens, numa cerimônia de formatura colegial em estilo rococó. Pensei em publicar esta fotografia, mas cri que um fotograma do filme seria mais efetivo. Repensei e postei ambas as imagens: o desfecho do filme é reconciliatório e qualquer estória pode ser ficcional hoje em dia... E/ou também não!

 Wesley PC>

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Riachuelo's dream


Alô, Planeta Terra, Américo falando!

Então... há quanto tempo que eu não passo por aqui! Nem sei qual foi minha última postagem, mas acho que foi por 2010... Como todos sabem esse é um blog comunitário (vide o título) que por uma razão do destino é mantido única e exclusivamente pelo magnífico ( risos) WPC.

O motivo desta postagem tem a ver com Wesley também. Há poucos estávamos falando no ônibus sobre nosso desgosto ao facebook, tanto pelas políticas da empresa  quanto alguns de seus usuários, que parecem viver num mundo paralelo falacioso. Decidimos que não precisamos de tal site para se comunicar, temos fotolog, blog, até mesmo twitter...hahah

Vim aqui então compartilhar lições de hebraico existentes no youtube. Ultimamente tenho tido um interesse exacerbado pela cultura israelense, fato que foi impulsionado depois de eu conhecer uma israelense em um ônibus na minha viagem de volta de Natal para Aracaju. Apesar de termos conversado por mais os ou menos 40 minutos eu fiquei muito empolgado com aquela garota e com sua história de vida, ela ficou muito contente por eu conhecer a palavra ‘ shalom’ e um pouco da estória dos jovens de seu pais, estava prestes a entrar no exército por 2 anos... Desejo sorte para ela! E para todas as vidas, até mesmo as que estão por vir! (  e pros palestinos também...)

E vamos aos vídeos: eles são seriados, no primeiro você aprende a falar o hebraico moderno e no segundo ( mais chatinho) rola umas lições de escrita! O engraçado é que, como tudo se interliga, no último filme que vi o garoto protagonista foge para Israel depois de um desespero em sua vida! ( risos)







Ps1.: Marajane linda obrigado pela companhia! E André por escutar nossas estrupulias na Riachuelo ( onde seu sonho aconntece) kkkkkkk
Ps2.: Os vídeos estão em língua inglesa, ok? Quem não tiver por dentro me chama que eu dou umas aulinhas, preço baratinho! rsrsrsrs

Américo

PARA QUE NÃO DIGAM QUE EU NÃO FALEI SOBRE A RENÚNCIA DO PAPA...

Numa frase: sim, eu achei esta renúncia digna. Mas esta menção titular foi apenas um pretexto para que eu compartilhasse o desapontamento que me tomou de assalto diante de "Os Deuses Vencidos" (1958, de Edward Dmytryk), filme com 167 minutos de duração que, em minha opinião, redunda num vácuo não programado por Hollywood.

Baseado num romance de Irvin Shaw que eu não conhecia - e que, pelo que foi mostrado no filme, não me pareceu tão interessante - o filme possui três personagens centrais cujos destinos se entrelaçam na II Guerra Mundial: o comediante boêmio e alcoólatra (vivido por Dean Martin), que não é suficiente expressivo; o soldado judeu e tímido (vivido por um esquálido Montgomery Clift), que é repreendido por ler James Joyce, apesar desta preferência pela literatura vanguardista não interferir em sua personalidade; e o soldado nazista e gradualmente decepcionado com o que descobre acerca dos objetivos hitleristas que é maravilhosa interpretado por Marlon Brando, loiro e belíssimo!

Apesar da longa duração do filme, "Os Deuses Vencidos" não é tedioso, mas opaco: parece que algo acontecerá o tempo inteiro, mas somos agraciados por pequenos momentos que, quando protagonizados pelo personagem alemão, cativam-nos sobremaneira: o instante mostrado na foto (uma simples captação imagética de amigos que brigarão por divergência de interesses bélicos), os romances fugazes que ele desenvolve com três diferentes mulheres, um reencontro num hospital, em que um dos amigos ressentidos está com o rosto completamente enfaixado por causa de um acidente motociclístico, e o desfecho relacionado à descoberta do verdadeiro funcionamento de um campo de concentração são momentos imponentes do filme, mas, ainda assim, a direção do Edward Dmytryk me pareceu demasiado frouxa. Não sei se eu me recusaria a rever o filme (como disse, o ritmo não é ruim, apenas irregular), mas pensei na juventude do papa Bento XVI enquanto o via, não condenando-o por não ter conseguindo se desvencilhar de um nacional-socialismo impositivo. Dignidade é algo que se obtém na maturidade: eis uma conclusão apriorística que rima!

Wesley PC>

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O MEU MUSO CARNAVALESCO DE 2013:

Quem me conhece pessoalmente, sabe que eu não aprecio pornografia, no sentido lato da palavra. Apesar de ser obcecado por nudez, não costumo perder muito tempo em 'sites' oficialmente pornográficos, como deve ser o tal do Bang Bang Boys cujo adesivo está anexado a esta foto do modelo ou 'gogoboy' Bira Vaz. Não sei nada sobre ele, mas, na madrugada de ontem, depois de me encantar e angustiar positivamente com o ótimo filme "Carreiras" (2007, de Domingos Oliveira), resolvi assistir com atenção a um vídeo antigo protagonizado por ele, que o acompanha despertando, mijando, escovando os dentes, se barbeando, banhando-se e, ao final, masturbando-se, por mais ou menos 15 minutos...

 Peço desculpas a quem esperasse uma rejeição de minha parte em relação ao vídeo, mas, conhecendo-se também as minhas compulsões voyeurísticas, não é difícil imaginar que gostei muito do vídeo. Muito mesmo! Apesar de o Bira ser prepotente e arrogante, se achando muito mais gostoso do que ele efetivamente é (já havia comentado algo sobre ele aqui), neste vídeo em particular em me rendi ao seu charme desnudado, visto que o que é pretensamente desnudado no projeto homoerótico é justamente o cotidiano de qualquer macho: tão comum se pôr no lugar dele, tão corriqueiro imaginar que tudo aquilo que ele faz está acontecendo neste exato momento em algum lugar... Ai, ai, gostei muito do que vi mesmo: reassistirei a este vídeo muitas e muitas vezes, tenham certeza!

Wesley PC>

CARNAVAL ROZENBAUM OLIVEIRA DE CASTRO

Fazendo um retrospecto de minhas atividades carnavalescas deste ano, só não obtive êxito na audiência aos filmes do Frtiz Lang que pretendia. Afora isso, diverti-me bastante, assisti a diversos filmes pendentes, descobri novos discos, conversei bastante com minha mãe e, ao contrário de anos anteriores, ao invés de me obrigar ao confinamento, saí de casa vez por outra, a fim de conversar com os integrantes da família Menezes, de quem gosto muito. Porém, o evento pessoal e espectatorial mais marcante do Carnaval deste ano – para além da participação numa mini-maratona ozoniana, comentada aqui – foi o encontro com o ‘tour de force’ actancial de Priscilla Rozenbaum em “Carreiras” (2007, de Domingos Oliveira): saí da sessão absolutamente atordoado, precisando de uma sessão de pornografia masturbacional para voltar ao meu estado normal e conseguir dormir. Não foi apenas culpa do excesso de café que ingeri antes da sessão, ao contrário do que minha mãe insiste em alegar...

 Na trama do filme – praticamente um monólogo, tanto quanto o primeiro segmento que a diva Anna Magnani protagoniza em “O Amor” (1948, de Roberto Rossellini) – a protagonista, uma jornalista paranaense, neta de anarquistas, é substituído no programa dominical telejornalístico que comandava por uma apresentadora mais jovem, o que a faz se sentir injustiçada e repensar toda a dedicação intensiva à sua profissão ao longo de décadas, o que a fez se tornar solitária e afastada dos amigos e da família, salvo em situações festivas ou libações psicotrópicas. Depois de um prólogo, em que diretor e equipe conversavam sobre as diferenças e limites entre cinema e teatro, encontramos a protagonista em seu apartamento, telefonando feito uma desvairada para os seus superiores na emissora de TV, tentando reverter as decisões que a afastaram de seu cargo. Sentindo-se frustrada, ela começa a se embebedar e a consumir fileiras e mais fileiras de cocaína, não antes de comentar com um conhecido que “ninguém cheira mais [cocaína] desde a década de 1990”. Dessa forma, dois dos principais sentidos do título polissêmico do filme são desvendados: os entrecruzamentos demonstrativos de que “o poder é afrodisíaco”, conforme atesta o ex-marido da protagonista (vivido pelo próprio diretor, marido da atriz na vida real) quando resolve aparecer em seu apartamento para compartilhar cocaína; e o consumo cada vez mais intensivo desta droga à medida que a projeção avança. Num dado momento, a jornalista (Ana Laura é seu nome) desmaia no chão e, quando recupera a consciência, telefona para a família e, quando está prestes a viajar para o Paraná, depois de suspeitar que a mãe esteja com câncer de mama e que um de seus tios morreu, recebe um telefonema internacional, convidando-a para ser correspondente estrangeira num telejornal eleitoral, em razão de sua idade avançada corresponder a uma experiência profissional qualificativa. Só então descobrimos um terceiro sentido para o filme: a correria enlouquecida com que Ana Laura conduz a sua vida, passando por cima de seus próprios interesses e (des)afetos a fim de permanecer ativa na profissão que tanto ama. Ser jornalista é isto, afinal!

 Além de ser um fã compulsivo do diretor e de estudar Jornalismo, muitos outros pontos de contato íntimo com este filme fizeram com que ele ficasse poderosamente cravado em meu subconsciente: quantas e quantas vezes eu já não vi pessoalmente (e, confesso, me submeti também a) aquele tipo de lamúria embriagada acerca de uma solidão sentida muito mais pelas promessas proteladas que pela imposição das pressões externas sobre as necessidades e fraquezas individuais por sobrevivência no mercado de trabalho midiático. Quantas e quantas vezes! Fiquei tão positivamente impressionado com o filme que minha expressão absorta na imagem serve como atestado confessional de sua extrema qualidade e de seu efeito potente sobre mim. Parabéns ao Domingos Oliveira por cumprir rigorosamente os objetivos declarados na abertura de seu filme, em que, ao som de “What a Wonderful World”, na voz do Louis Armstrong, ele expõe as condições espontâneas de produção a partir de um esquema que ele abreviou como B.O.A.A. – Baixo Orçamento e Alto Astral. A pura verdade: apesar de ser bastante dramático, é exatamente assim que ficamos ao final do filme: ainda mais apaixonados pela vida do que antes de nos submetermos a esta vigorosa sessão de psicanálise extra-empregatícia!

 Wesley PC>

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

(DES)INTERESSE ANUAL PELO GRAMMY OU AS TENTAÇÕES DA MÚSICA ANGLOFÍLICA CONTEMPORÂNEA...

Apesar de meus planos de Carnaval estarem bastante organizados, abri espaço em minha programação para assistir à 55ª cerimônia de entrega dos prêmios Grammy. Apesar de me interessar cada vez menos por esta premiação, visto que os candidatos favoritos representam o que mais me enfada atualmente no que tange à música anglofílica, sempre que me disponho a conferir a transmissão da cerimônia - conforme aconteceu ano passado - descubro algum artista ou disco que merece ser conhecido mais a fundo: neste ano, a banda estadunidense de 'indie folk' The Lumineers pareceu deveras merecedora de meu carinho audiente. O 'single' "Ho Hey", cantado no palco e capaz de empolgar a encantadora Taylor Swift, me cativou: ansioso para conferir o álbum na íntegra!

Por falar em Taylor Swift, artista de quem sinto cada vez menos vergonha em admitir que sou fã (repito: sou fã), abriu a cerimônia deste ano com uma maravilhosa apresentação de "We Are Never Ever Getting Back Together", ao lado de bailarinos vestidos como personagens de Lewis Carroll. Por mais que eu não quisesse prestar muita atenção à cerimônia, este fantástico número de abertura me deixou instigado, excitado, o mesmo valendo (no plano físico, inclusive) para o momento em que Bruno Mars subiu ao palco, acompanhado por Sting e pelos filhos de Bob Marley, para homenagear este último. Não estranhem se eu tiver baixado "Unorthodox Jukebox" (2012)  qualquer dia desses (risos)...

Dentre os principais indicados e vencedores deste ano, confesso que não me interessei aprioristicamente pelo elogiadíssimo Frank Ocean, que achei hiperestimado o sobejo de prêmios concedidos ao fun., que gosto bastante do grupo britânico Mumford & Sons [apesar de ainda não ter ouvido o disco mais recente, "Babel" (2012)], que sinto que apreciarei deveras a canção premiada ("Somebody That I Used to Know") de Gotye feat. Kimbra (também vencedor de Melhor Álbum Alternativo, por "Making Mirrors"), que Adele permanece sendo merecedora de seus prêmios técnicos (apesar de eu não ser exatamente seu fã), que Alabama Shakes (indicada a Melhor Performance de Rock e Artista Revelação) é alguém em quem eu devo prestar atenção, que The Black Keys é um grupo que ainda não conseguiu me empolgar, que o colombiano Juanes cantando "Your Song", do Elton John, no palco, foi uma gracinha, e que, de fato, como alegou a crítica especializada, os indicados deste ano foram escolhidos levando-se em consideração muito mais suas qualidades musicais intrínsecas que a vendabilidade, vou ter de concordar. Porém, o meu entojo anglofílico segue crescente: tomara que as minhas apostas auditivas supracitadas não me decepcionem. Com o tempo, volto aqui para comentar o que achei dos discos lançados no ano passado que eu não conhecia, mas que já estou correndo, a fim de me atualizar. Até breve, com mais notícias musicais 'in English', portanto!

Wesley PC>

domingo, 10 de fevereiro de 2013

UM APÊNDICE OZONIANO-CARNAVALESCO:

Há pouco,uma de minhas cunhadas telefonou para minha mãe para informar que, no bloco carnavalesco da rua vizinha à que moro, houve um esfaqueamento. Acabou a festa. Pena, a festa estava (literalmente) bonita: marchas carnavalescas antigas, um menino lindo aqui da rua (em quem eu nunca prestei muita atenção, como pode?!), vestido de mulher, usando uma saia curta, deixando aparecer as pernas tesudas e a papada da bunda... Hmmmmm! Pena que alguém mal-intencionado destruiu um bem-vindo enfrentamento da massificação cultural-industrial de uma festa com pressupostos históricos valiosos.

E, enquanto isso acontecia, eu estava no quarto do meu irmão, vendo o primoroso "Ricky" (2009, de François Ozon), em que asas crescem inusitadamente nas costas de um simpaticíssimo bebê. Ao término da sessão, resolvi olhar a rua e me deparei com algo que me lancinou por alguns instantes: um dos rapazes que mais amo nesta vida, abraçando a rapariga apaixonada que aguardava por ele, a garota enciumada com a adesão progressiva dele ao alcoolismo, enquanto eu a compreendia, a invejava (tenho que admitir: sim, eu a invejei), contemplava a cena com encanto sincero, visto que torço para que eles fiquem juntos. O motivo: apesar de ela ser passionalmente persecutória (ou seja: o cerceia o tempo quase inteiro), quando estamos sós - e desde que ele não tenha se masturbado poucos instantes antes do encontro - ele não se opõe que eu beije o seu corpo quase inteiro, que o masturbe, que abocanhe o seu pênis com desejo e afeto duradouro. Ela não é minha rival, apesar de eu ter certeza de que, se ela souber do que eu sinto por ele e do que ele me concede há vários anos, ela sentirá ódio de nós dois. Fazer o quê? Cada um dá o que tem... De minha parte, eu tento, juro que tento. Às vezes, consigo. Sou feliz em uma e outra situação. E não sinto mais inveja: ela merece ser amada - e, depois do Carnaval, quem sabe eu não consiga demonstrar que o amo também, mais um pouquinho... Na torcida aqui: que não haja mais esfaqueamentos até quarta-feira!

Wesley PC>

MUITO MAIS (OU MENOS) QUE UMA RESENHA ACRÓSTICA [nº 2]:

Lendo a inusual obra literária de João Gilberto Noll que inspirou o heteróclito filme “Harmada” (2003, de Maurice Capovilla), despejada em apenas um único parágrafo, deparei-me com uma passagem particularmente inspiradora na página 42 da edição que encomendei e recebi dos Correios, conforme prometido numa postagem anterior: “o uso que eu fazia da vida no asilo seria intragavelmente tedioso, não fosse esta espécie de espetáculo que eu apresentava regularmente aos meus colegas albergados. Ali, só outra coisa talvez me tomasse tão prazerosamente a atenção: a minha amizade por Lucas, o velho albergado que esmagara havia alguns anos o garoto que queria limpar o vidro do seu carro. Uma noite ele me disse: - Estou aqui , meu filho, conte comigo – definitivamente, ele passara a me tratar por meu filho. Até que um dia ele morreu”. E a estória segue, tão propositalmente atropela quanto chegou até aí, mas não pude deixar de converter esta passagem num SMS imediato e culposamente libidinoso...

 Uma ou outra passagem apenas difere-se da adaptação fílmica posterior [o livro também foi publicado em 2003!]: originalmente, a versão escrita possui muito mais sexo, menções a ereções, trechos passados num estádio de futebol e uma descrição genial de uma diarréia na página 49. Depois que conhece a filha crescida de uma atriz com quem teve um breve caso, o protagonista entra num banheiro e descreve o que aconteceu: “abaixei a calça, sentei na privada, e uma enxurrada de merda líquida começou a escorrer do meu cu, assombrando com certeza a boca do vaso com a sua aparência esquisitamente preta, como se aquilo que não parava de escorrer fosse uma mistura de fezes com sangue, sei lá. Quando voltei para debaixo da árvore de onde eu saíra antes de quase me esvair em merda, Cris ainda estava lá. Embora permanecendo estonteado, eu via novamente as coisas em seus contornos”. Ou seja, o súbito ato fecal assume aqui a função assimilativa diante do que o personagem sentia ao reencontrar alguém que não esperava rever...

 Comparando livro e filme, tendo a achar a adaptação de Maurice Capovilla melhor, no sentido de que ele acentuou a homenagem ao teatro que o autor enseja (o final do filme é muito melhor e mais solene, por exemplo), sem contar que, apesar de o protagonista do livro sofrer alterações etárias ao longo das páginas, a conversão mental do mesmo na figura de Paulo César Pereio (impossível não me render a isso depois de ter visto o filme) foi benfazeja: ator diegético e ator na vida real combinam-se muito bem!

 Além de adiantar a leitura deste livro pitoresco, neste domingo de Carnaval eu vi três filmes do mesmo diretor, o inspirado e criativo realizador prolífico francês François Ozon: “Sitcom – Nossa Linda Família” (1998), “Ricky” (2009) e “Potiche – Esposa Troféu” (2010). Comento sobre o segundo com mais propriedade em minha página de Fotolog, mas todos eles enterneceram-me deveras. Não por acaso sou fã de seu diretor: o modo como ele expõe os tabus sexuais da pequeno-burguesia e associa sua verve satírica e hiper-sexualizada a um contexto cinefílico que deve bastante à admiração pelos filmes hollywoodianos da década de 1950 (em especial, os melodramas ‘kitsch’ de Douglas Sirk) é absolutamente genial, transmutando-se sutilmente de um filme para o outro, seja na adoção salvaguardadora do incesto no primeiro, seja no elogio feminista do último.

 Sobre o cinema ozoniano, caberia destacar que, vendo os três filmes em seguida, pude perceber mais de um elemento autoral além dos que já foram mencionados: a repetição oportuna de frases entre um filme e outro (o ‘leitmotiv’ do progenitor que esquece as chaves e toca a campainha para entrar em casa, por exemplo) e o inteligente mote narrativo do “alguns meses antes” (ou “depois”), que reconfigura o impacto narrativo de algumas seqüências são méritos adicionais de seus filmes, emocionantes tanto na exploração da beleza física de Stéphane Rideau no primeiro filme quanto na valorização vocal de Catherine Deneuve, que cantarola que “o mundo é lindo, viver é bom” no desfecho do último. Como não amar François Ozon [para ficar em apenas um dos vários nomes (sub)citados nesta postagem], hein?

 Wesley PC>

“POR UM BOM CU, VALE A PENA PERDER A CABEÇA – ATÉ MESMO AS DUAS, SE FOR PRECISO!”

Perante as cenas iniciais de “Um Pistoleiro Chamado Papaco” (1986, de Mário Vaz Filho), eu precisava me conter para não exclamar – sozinho no quarto do meu irmão – que o filme era genial, com receio de incorrer num exagero atrelado à minha devoção intelectual pela Boca do Lixo paulistana. Terminada a sessão do ótimo filme, por mais que eu tenha me decepcionado com o sobejo de sexo explícito que surge por volta dos 50 minutos de projeção, ainda assim não consigo mais refrear o grito: por toda a sua verve paródica e pelos diálogos chulos afiados, este filme é genial!

Utilizando praticamente todos os temas famosos de faroestes clássicos (parece uma amostra daquele LP antológico chamado “O Melhor do Bang-Bang”), o início do filme apresenta o protagonista (vivido por Roberto Benini, que hoje trabalha nas situações envolvendo câmeras escondidas no programa “Topa Tudo por Dinheiro”, com Sílvio Santos) como um pasticho nacional do personagem-título do clássico ‘spaghetti’ “Django” (1966, de Sergio Corbucci). Tal qual aquele personagem, Papaco (com acento no U) veste-se de negro sob o sol escaldante do deserto e arrasta um caixão. É abordado por bandidos na estrada, mas fode todos eles (literalmente), utilizando a sua “pistola” de um modo diferente daquele que os faroestes clássicos nos habituaram. Numa das surpreendentes transas homossexuais do filme, um fora-da-lei analmente deflorado exclama: “é melhor tomar no cu em vida do que morrer com todas as pregas no lugar!”. Interrogado acerca do que arrasta consigo, Papaco propicia o seguinte diálogo:

“ – O que tu levas no caixão?
- Um monte de bosta.
- Quem é o cagão?
- Com certeza, não é o cu de tua mãe!”.

Esculhambei-me de rir não apenas com este diálogo como com a seqüência em que somos apresentados a Sapato, um dos supostos vilões do filme, mostrado chupando o pênis de um dos seus capangas. Quando é informado elo deflorado do início que Papaco está na cidade, Sapato diz que está ocupado, vira-se de costas para o seu capanga e profere, orgulhoso: “mire direito, pois agora tu vais comer o cu de um macho”. E eu chocado: uau!

Quanto mais o filme avançada, mais situações e diálogos envolvendo ânus se amontoavam, mas, felizmente, o filme não perdia muito tempo com fodas (pelo menos, descontextualizadas). Quando Papaco hospeda-se num ‘saloon’ que é também bordel, é obrigado a fazer sexo com quatro mulheres de uma vez só, mesmo afirmando que seu “negócio é outro”. Quando sabe que ele deixou as vaginas do quarteto de prostitutas assadas de tanto trepar, uma moça chamada Linda (à qual Papaco comentou que “não parece” quando soube o seu nome, mas que é "mulher até debaixo d'água", quando vocifera que, para ela, "rôla tem que ser de metro!") pergunta se ele realmente merece a fama que tem, ao que a puta descascada responde: “ele é um mestre da pica”. Escandalizada e surpresa, Linda se interroga: “mas ele não era viado?”. A réplica não poderia ser melhor: “o ato não apaga o fato”. Como é que eu nunca vi este filme antes? (gargalhadas altissonantes)

Contando com os eventuais membros coadjuvantes Chumbinho e Satã, este filme segue acumulando momentos antológicos de cinema escrachado cômico brasileiro, como quando o anão enfia um revólver no cu de Papaco e exige que ele vista uma calça assim mesmo ou o inusitado desfecho em que conhecemos o conteúdo do caixão que ele arrastava pelo deserto (dezenas e mais dezenas de vibradores) e, ao invés de isso justificar mais um tiroteio entre dois rivais negociantes (um homossexual e uma mulher lúbrica), o roteiro investe numa reconciliação entre os antagonistas, que dividem os lucros eróticos e o pagamento da mercadoria trazida por Papaco. Gostei muitíssimo do que vi: preciso recomendar este filme absolutamente hilário (e subversor, em seu forte conteúdo pederástico entusiástico) para mais pessoas! Quem diria? E pensar que este filme corresponde ao momento em que o cinema erótico no Brasil começa a entrar em franca e rápida decadência, por causa da subsunção à pornografia desalmada... Ainda houve tempo para últimos suspiros de fina ironia, como quando o protagonista é comparado, em sua mortalidade, a uma bomba atômica e à AIDS, quando ele exclama "esporro-me todo em ver-te" ao reencontrar um amigo (preciso adotar este lema em minha vida pessoal - risos), ou quando alegam que ele conseguirá facilmente “tirar o cu da reta” porque é o mocinho do filme: um grande “viva!” para a Boca do Lixo!

Wesley PC>