sábado, 3 de março de 2012

UM POUCO DE HIPOCRISIA DISTINGUE A PULSÃO DE MORTE DA PULSÃO ONIPRESENTE POR SEXO...

Antes de assistir ao mais recente filme de David Cronenberg – “Um Método Perigoso” (2011) – eu não conhecia a doutora Sabina Spielrein. Neurótica na adolescência, ela torna-se psicanalista depois que se identifica com um poema em que um presidiário liberta um passarinho de uma gaiola. Deve ser bom libertar alguém quando nos sentimos presos, pensa ela. Não foi diferente comigo ao ver o filme. Para além de minha completa subsunção temática às teses freudianas, o que mais me encantou no filme foi o modo genial como o mais genial diretor canadense e o sagaz roteirista britânico Christopher Hampton transmutam os conflitos entre personagens reais e suas emanações corpóreas instintivas, como o sangue virginal que provém da vagina de Sabina depois que ela faz sexo com o doutor Carl Gustav Jung. É um filme cronenberguiano até o talo, ao contrário do que reclamam observadores superficiais de sua obra, que estranharam o tom mais erudito do filme.

Da primeira vez que vi o filme, tinha desgostado da participação de Vincent Cassel, apesar de seu personagem ser responsável por alguns dos pronunciamentos mais incisivos do filme. Nesta revisão, fiquei impressionado com a sua firmeza interpretativa, que deixou particularmente intimidado o meu colega de sessão, que, de repente, perguntou com qual personagem do filme eu me identificava mais. Respondi sem pestanejar: “com Sabina. Sou tão sexualmente partidário da humilhação quanto ela”. Foi o ponto de partida para um excelente debate ao final da projeção. Ainda assim, não desabafei nem um terço do que eu necessitava. Falar sobre sexo, por mais fácil que seja, demanda muita ousadia!

Wesley PC>

E DAÍ QUE O FILME NÃO TENHA SIDO MUSICADO PELO ANGELO BADALAMENTI?

Apesar de eu ter certeza que vi o fotograma acima na cópia do filme “Drive” (2011, de Nicolas Winding Refn) a que tive acesso na noite de ontem, consta dos autos que o compositor Cliff Martinez é o responsável oficial pela ótima trilha sonora do filme. Seja como for, é inegável que o clima sonoro que emana de cada filigrana da película é badalamentiano, tanto que achei o filme um verdadeiro petisco para quem é fã de David Lynch. Eu sou. Logo, gostei muito da direção, da montagem, do elenco e da primorosa seleção de canções.

Apesar de não ter gostado muito dos rumos tomados pelo roteiro da metade para o final, as propostas de composição personalística do filme são muito boas. A composição do protagonista, por exemplo, é excelente, impulsionando um cotejo quase imediato com o extraordinário “A Estrada Perdida” (1997, de David Lynch), visto que, em ambos os filmes, a profissão de mecânico está imbuída de um caráter erotógeno existencial. Apesar de ser inegável a eficiência roteirística do iraniano Hossein Amini, “Drive” possui diversas pontas soltas, que, ao mesmo tempo em que o dota de um charme de brechó, o conduz para um trajeto policialesco que quase ameaça secundarizar a pungente dramaticidade inerente ao envolvimento amoroso um tanto proibido entre os maravilhosos personagens de Ryan Gosling e Carey Mulligan. O que é engraçado é que eu já estava pensando em assistir a este filme ontem, depois de inúmeras recomendações de homens erotizados que me cercam, quando meu melhor amigo envia-me uma mensagem de celular lacônica, obrigando-me a vê-lo o quanto antes. Obedeci à tal mensagem e, definitivamente, não me arrependi, mas insisto que, para além de ter sido capciosamente induzido a crer que a trilha sonora foi composta por Angelo Badalamenti, todas as suas marcas registradas estão lá. Pelo sim, pelo não, fica o elogio premente ao filme: muito bom!

Wesley PC>

AVISO: EU VOU XINGAR NA PÔRRA DESSE TEXTO!

Acabo de ver “9 Canções” (2004, de Michael Winterbottom) pela terceira vez e, caralho, parece que foi antes da primeira, pareceu que eu revivia a minha própria vida diante da tela, vá tomar no cu, filme da pôrra, obra de arte maiúscula, cheia de boceta, de pica dura, de foda, de gala derramada, de gozo, de lágrima, de drogas, de música boa, de música não tão boa mas somática até o talo, amei o filme, amo o filme, vou amar o filme numa próxima vez, puta que pariu!

Minha intenção com esta sessão era contaminar um amigo com nostalgia relacional. Ele protelou a sessão por três meses, de modo que, ao finalmente compartilharmos o filme, ele ficou com sono e eu gemia, sentado no chão: eu amo este filme, eu me vejo neste filme, eu me ouço neste filme, eu me toco neste filme, eu me sinto neste filme! Todos os meus ideais e frustrações amorosas estão retratados aqui, metonimizados aqui, anunciados aqui... Juro que saí da sessão querendo ver o filme pela quarta vez, imediatamente! Ou arranjar um pau para chupar, na mesma hora! Ou abraçar alguém sujo e dizer que eu me importo com essa pessoa... Filmaço! Eu gosto – e estou pouco me lixando para quem não gosta!

Wesley PC>

sexta-feira, 2 de março de 2012

PRECISO DE UM CONVITE!

Recentemente, um amigo homossexual integralizou o seu Mestrado em Pedagogia, escolhendo Michel Foucault como substrato teórico para sua dissertação sobre o corpo e a homofobia. Não lembro o título correto de sua tese, mas, com vistas à comemoração de sua titulação como mestre, este amigo promoverá uma festa em seu apartamento no sábado vindouro. Por extensão, ele me convidou, acrescentando, via celular, que eu deveria levar alguma bebida, a fim de ser bem-recebido pelos demais presentes. Até aí, tudo bem. Mas, no que tange às minhas psicoses societais, de repente um convite que me parecia tão aprazível soou intimidador: apesar de estar precisando bastante de interação com pessoas menos conhecidas, não sei se terei coragem ou motivação para ir à tal festa, apesar de querer e suspeitar de que possa me divertir no recinto. Na pior das hipóteses, gosto do amigo recém-aprovado no tal Mestrado. Estar acompanhado por ele durante algumas horas festivas será algo tonificante para mim. Quem sabe?

Tudo isso passava por minha cabeça antes e depois da sessão de “Mafalda – O Filme” (1979, de Carlos D. Marquez), longa-metragem animado argentino protagonizado pela maravilhosa e inconformada personagem de Quino que, até então, eu não conhecia. Em verdade, o filme é bastante irregular e incoeso e muitas das situações são meras reproduções de tirinhas já conhecidas, mas, vindo de onde veio, isso rima com genialidade. Muito bom o filme: me fez pensar sobre o que eu quero da vida. As cenas envolvendo os estafados pais de Mafalda não deixam o mal-estar empregatício hodierno por menos!

Wesley PC>

A PUDICÍCIA MAL-VINDA:

No último sábado de 2007, eu e meu amigo Jadson brigamos por causa de um filme. Ele não admitia que eu gostasse tanto de um filme que ele considerava medíocre. Por dentro, eu até sentia que o filme era, de fato, medíocre, mas algo nele me atraía pungentemente. Era um filme sobre adolescentes violentos. Era época de natal. Fui a uma boate ‘gay’ pela primeira vez nesta época. De lá para cá, nunca mais revi o filme, mas não por falta de vontade. Tratava-se de “Satã” (2006), dirigido pelo jovem cineasta francês metido a estiloso Kim Chapiron.

Alguns anos se passaram e, hoje, em 2012, tive a oportunidade de ver “O Canil” (2009), filme mais recente do diretor. No filme em pauta, realizado em inglês, três adolescentes confinados num reformatório enfrentam a dura e clicherosa realidade das instituições tacanhamente repressoras. Ao contrário do elã onírico do filme anterior, esta produção mais recente é quase acadêmica em sua estilização burocrática da violência. Não há surpresas no filme. Apenas enfado e ameaça da beleza que brota em meio ao lodo da sociedade pútrida. Seria um filme facilmente tachado de medíocre por meu amigo Jadson, mas, por mais que eu não o tenha apreciado, algo aqui me pareceu sumamente interessante. A minha idiotia hebefílica refletida, quiçá. Culpa minha, que ontem me deixei ser espelhado como conservador por um rapaz ostensivamente enrustido em sua sexualidade incandescente. O filme ameaça explodir, mas nunca explode. O desfecho é um anticlímax implosivo. Mas continuo gostando do diretor Kim Chapiron. Sou desses...

Wesley PC>

quinta-feira, 1 de março de 2012

TANTA COISA ME INCOMODANDO... TALVEZ SEJA O FUTURO!

E, enquanto as minhas aulas do Mestrado não começam, nada de eu conseguir definir meus horários, meus planos burocráticos de ocupação do tempo e o gozo adequado de minhas férias. Enquanto escrevo estas linhas, acostumo-me forçosamente à idéia de não verei o filme do Jacques Tourneur que será exibido hoje à tarde no canal TCM. Trabalharei em regime de 20 horas semanais durante este mês e o próximo. Uma aura de cansaço me cerceia, fazendo com que eu confunda alguns sentimentos angustiantes com sintomas de labirintite. É muito desejo não-saciado pr’uma pessoa só!

Wesley PC>

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

E SE EU DISSER QUE GUARDO SEGREDO?

Ontem eu fiz um acordo com um rapaz. Contei a ele que me sentia fortemente atraído por ele, no plano exclusivamente sexual, e ele explicou por que ficou sem falar comigo há alguns meses. “As pessoas começaram a falar que eu correspondia às tuas investidas, Wesley. Me incomodava ser molestado por algo que não era verdade”. Entendi o lado dele e pedi que ele me entregasse uma foto em que ele estivesse nu. “Vou pensar no seu caso, mas não me peça nada mais além disso”. Eu sorri, ele também. Prometi guardar segredo sobre a nossa conversa. Quem sabe não seja este o momento adequado para eu pedir que ele avalie a ótima interpretação de Janet McTeer em “Albert Nobbs” (2011, de Rodrigo García)? (risos) Quem sabe?

Wesley PC>

HOJE EU ESTOU CALADO (OU, SE NÃO, FALANDO POUCO AO MENOS):

Parte I:
“Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam”

(“Maior Abandonado” – Cazuza)


Parte II:
“Não me ame tanto
Eu tenho algum problema com amor demais
Eu jogo tudo no lixo sempre
Não me ame tanto
Não posso suportar um amor que é mais do que
O que eu sinto por dentro
Penso”

(“Não Me Ame Tanto” – Karina Buhr)

Uma aluna mal-educada me mandou tomar no cu, em pleno expediente de trabalho, na noite de ontem. Fiquei irritado, mas soube manter o nível: fiz ele se virar para as pessoas que ainda esperavam o atendimento e repetir o que me disse, demonstrando o quão baixa ela era. Precisei conversar com alguém depois disso, mas a maioria das pessoas que procurei dormia. Adormeci também. Acordei com estas duas canções na cabeça e um possível segredo: em relação à letra da primeira canção, só recuso as mentiras sinceras; em relação à segunda, lamento. Sou desses que amam demais! Ponto.

Wesley PC>

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI (MAIS) DO OSCAR...

Quando eu e meus amigos de infância passamos a acompanhar a cerimônia do Oscar com regularidade, costumavam ser cinco os indicados a Melhor Filme. Recentemente, a Academia responsável pelo prêmio resolveu restabelecer a cota de 10 indicados, tal qual acontecia nas décadas áureas do cinema hollywoodiano. Este ano, a safra qualitativamente titubeante de filmes fez com que os responsáveis pelas indicações encontrassem apenas nove títulos elegíveis em 2012. Dentre estes, apenas cinco foram indicados a Melhor Direção, como ainda costuma ser praxe. E, dentre os cinco diretores indicados, calhou de ser premiado justamente o menos talentoso dos cinco: Michel Hazanavicius, pelo filme oportunista “O Artista” (2011). Mas vamos por parte:

Este prêmio de Melhor Direção foi um dos mais indignantes da noite, mas não o único. O Oscar de Melhor Atriz concedido a Meryl Streep pela xaroposa cinebiografia “A Dama de Ferro” (2011, de Phyllida Lloyd), quando as maravilhosas Viola Davis e Glenn Close concorriam por atuações absolutamente brilhantes e difíceis, foi um dos prêmios que mais frustraram as nossas expectativas em relação à justiça da festa. Mas, deixa quieto: divertimo-nos deveras ao longo daquelas mais de três horas de cerimônia. Além de “O Artista” – que não é um filme ruim, mas oportunista e ideotecnologicamente vendido – os principais filmes da noite eram: o inspiradíssimo “Meia-Noite em Paris” (2011, de Woody Allen); o encantador e surpreendente “A Invenção de Hugo Cabret” (2011, de Martin Scorsese), pelo qual estava torcendo; o ótimo “Os Descendentes” (2011, de Alexander Payne); e o extraordinário, soberbo e incompreendido “A Árvore da Vida” (2011, de Terence Malick). Ao invés de fiarem-se aos critérios essencialmente qualitativos dos filmes e das categorias em que eles concorriam, os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas preferiram se render aos lados mais óbvios das polarizações de interesses a que foram submetidos. Por isso, a premiação de ontem foi tão decepcionante, o que só se torna mais grave com a safra chinfrim de filmes selecionados para o prêmio. Ossos do ofício: eu e meus amigos confundimos exaltação ideologia com memória afetiva. Independente dos resultados, esta confusão voluntária garantiu não apenas uma noite muito divertida como diversas demonstrações de afeto reiterado entre nós, que estávamos juntos, acima de tudo, juntos!

Wesley PC>

domingo, 26 de fevereiro de 2012

UM LAMPEJO DE EMOÇÃO SOÇOBRADA NO FILME FINAL DA SAGA DE HARRY POTTER...

Dediquei boa parte do dia de ontem a assistir alguns filmes indicados ao Oscar deste ano. “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” (2011, de David Yates) está indicado aos prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Visuais. Oficialmente, são prêmios menores, mas como muitos críticos lamentaram que este filme partido em sua gênese produtiva não estivesse indicado em categorias principais e como o livro do qual ele foi derivado foi o único da J.K. Rowling que li, achei válido incluí-lo em minha maratona de ontem. Não me arrependi: apesar de o filme ser decepcionante em mais de um sentido – em relação à transcrição dos eventos do livro, inclusive – é um filme bem melhor do que nossos preconceitos sobre a franquia indicavam. Não muito bom, mas minimamente digno e honesto em suas pretensões narrativas. Merece ser indicado a outrem, portanto.

Não consigo mensurar aqui a necessidade de resumir minhas impressões sobre os filmes anteriores da cinessérie ou sobre a trama em si, mas isto já foi feito aqui e aqui. Assim sendo, concentrar-me-ei no aspecto desta segunda metade deste último filme que mais me chamou a atenção: a morte benévola do pseudovilão Severus Snape (magnificamente interpretado por Alan Rickman). Desde o primeiro filme, nutri por este personagem uma grande simpatia: identifiquei-me com sua retidão docente, com sua firmeza disciplinar, com seus olhares de afetação ressentida. Para além da sua extraordinária composição actancial, pressenti que ali tinha algo a ver comigo, algo que me emocionaria num viés íntimo. Dito e feito: numa das cenas-chave deste filme, Severus é morto pelo arquiinimigo de Harry Potter, o demoníaco bruxo Voldemort (Ralph Fiennes) e, enquanto agonizava, chorava, de modo que o adolescente recolhe as suas lágrimas e depois as converte em lembranças, graças a uma máquina que compartilha pensamentos alheios. Penetrando nas motivações íntimas do personagem, o superestimado protagonista Harry Potter descobre que ele fingia ser mau por sugestão de um influente personagem e que ele sempre fora apaixonado pela mãe do bruxo com cicatriz em forma de raio na testa. Mais: ele sacrificou-se por ela em mais de uma situação, sendo obrigado a viver sob uma máscara de crueldade espúria a maior parte do tempo. Ainda mais: o filme podou isso em relação ao livro, mas ele fora vilipendiado e maltratado pelo pai de Harry Potter em mais de uma situação. Ele foi um incompreendido como eu, um daqueles que amam, por mais desautorizado que este sentimento seja, no contexto competitivo atualmente traçado para o amor relacional entre os indivíduos. Poderia falar mais sobre isso, mas a imagem é auto-evidente, além de eu estar atrasado para a continuidade comunal de minha maratona do Oscar. Mas insisto em repetir o que disse antes: a cena da morte deste personagem, apesar de muito sucinta no filme, é emocionante!

Duas conclusões gerais: 1 – a direção de David Yates é muito boa e, por incrível que pareça, politicamente comprometida no plano conceitual. Creio que ele merecerá bastante destaque elogioso quando dirigir algo que não esteja relacionado a estes personagens; e 2 – concordei deveras com o jargão lançado por Dumbledore (Michael Gambon) quando Harry Potter pergunta qual é a maior magia de todas. Ele responde: “a maior magia é a palavra, que pode causar os maiores problemas do mundo e, ao mesmo tempo, remediá-los. Depois eu explico o porquê de estar trazendo isso à tona agora...

Wesley PC>