quarta-feira, 23 de abril de 2014

E QUE VENHAM AS PATRULHAS IDEOLÓGICAS!

Tudo e/ou qualquer coisa pode acontecer amanhã...

Oficialmente, estou trêmulo.
Mas também confiante: amo o meu trabalho, defendo o que escrevi!

Porém...

Nem tudo é paixão, principalmente na Universidade: existem as regras, as adequações, as proibições. Sou um ótimo seguidor de todas elas, exceto quando são tácitas, censórias, impeditivas...

Assim sendo, estou também nervoso.

Mas sobreviveremos: somos desses que sobrevivem, eu, a Boca do Lixo e a minha dissertação!

Pior é se entregar ao entreguismo! 

Wessley PC> 

NÃO IMPORTA QUÃO EMBARALHADAS ESTEJAM AS IDÉIAS. COM O INCENTIVO CERTO, CHEGA-SE À CONCLUSÃO DE QUE TUDO SE AJEITA, POIS “ATÉ MESMO AS MÃOS DIREITA E ESQUERDA, SE MOVIDAS AO MESMO TEMPO, CHEGAM AO MESMO LUGAR”...



Acabei de ver um filme dirigido por Ody Fraga, o genial roteirista responsável pelo argumento da maioria dos filmes da Boca do Lixo. A produção em pauta tem como título “Reformatório das Depravadas” (1978) e tinha tudo para ser ruim e/ou aproveitadora, se não fosse o talento supremo por detrás de sua feitura: a partir da oportunista idéia de uma prisão disfarçada de escola, no qual uma professora nazista tortura garotas enviadas por suas famílias para serem corrigidas moralmente, o diretor e roteirista incita as discussões sobre democracia de uma forma absurdamente ousada, nos sentidos mais extremos de ambas as palavras!

No filme, Frau Gelli (Lola Brah) é uma mulher fria que fora educada entre 1935 e 1940, na Alemanha. Com a ajuda de dois capachos, ela tortura as suas alunas, a pedido de suas famílias, a fim de obter os nomes dos homens que as defloraram. Estes são posteriormente mortos em acertos de contas pequeno-burgueses. Isso, porém, é o que menos interessa no filme. A alcagüete nipônica interpretada pela bela Misaki Tanaki e a beleza de Nicole Puzzi se destacam numa trama em que o inicialmente insípido personagem de João Paulo Ramalho rouba a cena: ele é um professor que, quando interrogado por que leciona no educandário da Frau Gelli, responde secamente que é porque lhe pagam muito bem. A rígida diretora pergunta-lhe, então, se ele não ama a sua vocação, ao que ele retruca: “amo-a como qualquer um ama os seus trabalhos, e pelos mesmos motivos: pois gosto ainda mais de dinheiro”. Era uma bravata, que, mais à frente, assumirá a faceta inconformista mais ostensiva, sendo o referido professor uma espécie de anarquista, conforme a citação constante no título desta publicação deixa evidente. Além de ter caso com uma professora omissa, ele é seduzido por uma das lúbricas alunas, que, nos outros tempos livres, seduzem um empregado deficiente do educandário para que este lhes consiga gigolôs, para que possam saciar seus instintos sexuais animalescos. E eu impressionado com esta bagaceira toda: é um filme genial, mesmo não sendo necessariamente bom!

Para piorar, a cópia do filme a que tive acesso tinha uma particularidade tosca e inaudita: malgrado a ordem das cenas parecer correta, a banda sonora estava remontada aleatoriamente, ou melhor, numa ordem proposital mas incondizente com o que estava sendo visto. Por que fizeram isso? Reminiscência da censura ditatorial, talvez, que ainda hoje se incomoda deveras com o pendor contracultural deste filme? Vale a pena acrescentar que o desfecho é soberbo em seu realismo: depois de assassinar Frau Gelli com um tiro na testa, uma das alunas [Solange, a mais espevitada, claro! ( interpretada por Lucy Mafra)] foge e permite que as demais colegas consigam também estar livres. Como cometera um crime, entretanto, ela é presa pela polícia. Ody Fraga sabia brincar muito bem com as exigências censório-discursivas e mercadológicas do período. Ele é um gênio, pura e simplesmente!

Wesley PC>

segunda-feira, 21 de abril de 2014

UMA DECEPÇÃO PASOLINIANA?

Nas páginas finais da edição de “Meninos da Vida” (1955), romance de Pier Paolo Pasolini (re)lançado no Brasil pela editora Círculo do Livro em 1991, há uma espécie de editorial biográfico em que esta obra é descrita como tendo sido escrita “como uma aventura, [já que] retrata um universo em que o vício e o abandono se exprimem em vivas palavras de gíria; e as doenças, a fome e a morte originam tristes comentários, sempre justapostos a belas canções e ao sol”. Pode até ser, mas... O romance me decepcionou sobremaneira!

Ganhei este livro de presente de um amigo que hoje vive em São Paulo. O referido livro, à época de seu lançamento, foi bastante premiado e fez com que o seu autor se tornasse deveras conhecido, antes inclusive de se tornar um dos melhores e mais inspirados cineastas de todos os tempos. Porém, não consegui mergulhar adequadamente nos oito capítulos do romance, que possui mais ou menos duzentas páginas. Muito chatas, aliás!

Em minha avaliação, o amor problema do romance é a superficialidade da constituição de seus personagens. Talvez no afã por criar tipos comuns e não necessariamente pessoas, o escritor impede que descubramos as inquietações interiores dos personagens. Acompanhamos de maneira cúmplice as suas orgias, suas jogatinas, suas evacuações, suas necessidades de foder, seus chistes, suas cagadas, suas agressões, seus roubos, algumas de suas mortes. Mas... Quem eram, de fato, Riccetto, Amerigo, Marcello, Lenzetta, Alduccio e Begalone? Em mais de um momento, até que eu tentei me apegar a eles (principalmente nas cenas envolvendo flertes oportunistas com bichas, não vou mentir), mas é tudo muito vago, muito evasivo. Tenho quase certeira que isso foi proposital, que faz parte do estilo seco do autor, que insere os diálogos no meio da narrativa, quase como o recurso da “subjetiva indireta livre” sobre o qual ele teorizaria tão bem no “cinema de poesia”. Sua literatura, entretanto, é de um cunho acentuadamente neo-realista que não me convenceu. Talvez por causa de uma desidentificação moral, não sei. Foi duro chegar até o final: achei o livro muito chato! Mas nem de longe recusarei a grandiloqüente experiência de descobrir mais uma faceta artística de um gênio. Sendo assim, muito obrigado por teres surgido em minha vida, Pier Paolo Pasolini!

Wesley PC>

domingo, 20 de abril de 2014

MEU SOVACO FEDE!

Desde a minha infância, sofro com os feriados prolongados: experimento a solidão, desencadeada por fatores diversificados: meus amigos viajam, as pessoas comemoram, os ruídos de festa abundam na rua, meu irmão se embebeda ou se droga, minha cunhada e minha mãe gritam ou choram... Às vezes, tudo junto!

Quando o feriado é religioso, a angústia é maior, pois, além de todos estes fatores, entro em crise acerca da aplicação de algumas de minhas crenças: "se eu fosse um cristão, minha vida seria menos infeliz?". Questionei-me ontem à noite, num extremo de carência. Havia ouvido um disco inteiro da Clara Nunes com minha família, que cantarolou. E, diante da TV, eu e minha progenitora vimos "Visão de Juazeiro" (1970, de Eduardo Escorel), criticamente...

Como não tive para onde ir durante o feriado - e nem poderia deixar a minha família a sós - fiquei em casa, trancafiado. Evitei usar desodorante, para higienizar as minhas glândulas. Ainda não me banhei hoje, inclusive. Estou fedendo! É hora. Não me sinto mais sozinho...

Wesley PC>