sábado, 7 de setembro de 2013

MAIS UM QUE VEIO A CALHAR!

Pouco antes de o filme começar, eu tentava resolver - mais uma vez! - o problema acadêmico que se abateu sobre mim e não me deixa sossegar. Por isso, me sentia impaciente durante a sessão, como se fosse incapaz de entender o filme. Aos poucos, fui percebendo que a intenção do diretor Andrzej Wajda em "Katyn" (2007) era justamente este: confundir, para que, depois, pudéssemos refletir acerca dos fundamentos da confusão...

Dito e feito: depois que eu entendi a jogada, o filme me destruiu. Nossa, como é parecido! Ao longo do enredo, acompanhamos diversos personagens que conhecem pessoas envolvidas num massacre na floresta polonesa de Katyn, em 03 de abril de 1940. Nesta data, os soviéticos que invidaram a Polônia assassinaram a sangue-frio milhares de prisioneiros poloneses. Nos anos subseqüentes, invasores soviéticos e alemães atribuem o massacre aos seus opositores. O motivo, exatamente o mesmo: o tiro certeiro na nuca como sendo prática freqüente dos militares soviéticos ou germânicos, a depender da justificativa. Ao final, um 'flashback' devastador, digno de cinema norte-americano de terror, de tão intenso. E eu impressionado: é isso, é isso! Genial o filme... e doloroso, claro!

Wesley PC>

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

FAZENDO AS PAZES COM O CACÁ DIEGUES...

Desde que eu entendi o contexto em que o cineasta Carlos Diegues cunhou e utilizou defensivamente a expressão “Patrulhas Ideológicas” – discutida em livro homônimo organizado por Carlos Alberto M. Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda, em que estão reunidas entrevistas com diversas personalidades culturais brasileiras debatendo sobre o tema – passei a ficar bastante interessado em seus filmes antigos. Aproveitei uma deixa de pesquisa na tarde de quinta-feira e assisti a duas obras deste diretor: o maravilhoso “Chuvas de Verão” (1977) e o interessante “Dias Melhores Virão” (1989).

Em ambos os filmes, encontramos Jofre Soares e Paulo César Pereio no elenco, mas ocupando funções bastante diferentes: no primeiro filme, Jofre Soares é o protagonista. Interpreta um recém-aposentado que se apaixonada por uma vizinha da mesma faixa etária, mas que enfrenta problemas relacionados a crimes, envolvendo tanto o namorado de sua empregada doméstica quanto um palhaço envelhecido que mora ao lado e seqüestra e assassina uma garotinha; no segundo, o ator tem uma função terciária, mas divertidíssima e assaz crítica, já que ele vivifica um general insatisfeito com a abertura política do Brasil, divertindo-se enquanto aplica choques elétricos num gato. Ótimo ator este: muito digno!

Se, no primeiro filme, Paulo César Pereio utiliza toda a sua irreverência e deboche para dotar de cinismo o vizinho inconveniente do protagonista, que alega que “santo é aquele que morre na barriga da mãe”, no segundo, este ator interpreta um dos membros da equipe de dublagem em que conhecemos a personagem de Marília Pêra, uma sonhadora traumatizada com o acidente que matou um namorado motociclista da infância e apaixonada por um homem casado que fode com ela todas as quintas-feiras. Intérprete deste último: José Wilker, sem dúvida o aspecto menos interessante do filme.

Tanto um quanto o outro filme me emocionaram, mas o primeiro é muitíssimo melhor e mais sociologicamente honesto que o segundo: em “Chuvas de Verão”, ouvi que “uma das melhores maneiras de acabar com a solidão é se interessando pelas pessoas”; em “Dias Melhores Virão”, foi dito que “no capitalismo, não basta se dar bem: o concorrente tem que se ferrar!”. Cacá Diegues não era um mau cineasta: ele sabia o que e a quem estava visando. O decréscimo qualitativo do segundo filme, relacionado à legitimação enredística dos anseios por grandeza hollywoodiana da protagonista, deixa claro o intento vendável do produto fílmico que ele lançou, infelizmente exibido na televisão antes de chegar aos cinemas, o que prejudicou o seu sucesso comercial. Particularmente, ele merecia: o filme é muito bom, a trilha sonora é bem-selecionada, Rita Lee está ótima como a personagem de entalado norte-americano que a protagonista dubla, Zezé Motta, Paulo José, Benjamin Cattan, Antônio Pedro, Aurora Miranda e os demais integrantes do elenco capricham em suas coadjuvações, e a contextualização do Brasil em final de década de 1980 é cuidadosa. Durante os créditos finais, exultei ao perceber o clima descontraído das filmagens, sendo que o próprio diretor Cacá Diegues arrumou uma oportunidade sagaz de aparecer numa entrevista televisiva, tachando de megalomaníacos os projetos cinematográficos nacionais do passado (o Cinema Novo, talvez?)...

Porém, nada do que eu elogiei neste filme mais recente se compara à grandiosidade sensível do filme anterior, valioso tanto enquanto análise do desabrochar do amor entre pessoas idosas (em que a personagem de Míriam Pires insiste em reclamar de que, naquela idade, não tem mais o direito de se apaixonar... Ou tem?) quanto enquanto amostragem dos tipos suburbanos do período, entre eles, o palhaço que ainda tenta fazer com que as crianças experimentem a magia do circo, o ex-jogador de futebol que virou empregado de fábrica e compõe sambas-enredos nas horas vagas, e o marido aburguesado e ciumento que disfarça a sua homossexualidade sob a pecha de adúltero. E ainda estou na página 35 do livro que se aproveita discursivamente da expressão cunhada pelo diretor (risos). Nas palavras de Cacá Diegues, por conta do lançamento justamente deste filme mencionado há pouco, na medida em que o país se democratiza (pelo menos, aparentemente) e algumas camadas da população podem se manifestar mais livremente, eu vejo uma tendência no sentido de uma supervalorização das formas aparentes, superficiais, da manifestação política através da obra de arte” (página 17). Em ambos os filmes aqui comentados, o diretor atingiu vigorosamente os seus propósitos!

Ah, mais uma detalhe: quem me conhece, sabe o quanto menções ou situações de masturbação me cativam – e elas constam de ambos os filmes. Em “Dias Melhores Virão”, há o momento em que o fantasma do personagem de José Wilker diz à protagonista que só vai ao cinema para bater punheta, “mesmo quando o filme não é de sacanagem!”, num estratagema de autocitação aos problemas contemporâneos do cinema brasileiro cara aos diretores que começaram como cinemanovistas e, em seguida, precisaram prestar contas com as tais “Patrulhas Ideológicas” anteriormente mencionadas (risos). Em “Chuvas de Verão”, por sua vez, há uma cena belíssima, em que o solitário velhinho vivido por Jofre Soares, decidido a nunca mais tirar o pijama depois que se aposentou, observa a sua empregada (Cristina Aché, linda e eloqüente) transar com o namorado bandido e sensual. A câmera focaliza o baixo ventre do protagonista, que passa a se alterar. Ele enfia a mão em sua calça, cerra os olhos num gesto de prazer inicial, mas interrompe a bronha e deita-se na cama, chorando. Eu entendi o que houve e aplaudi de pé, emocionado. Bravo, Cacá Diegues, bravo!


Wesley PC> 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CONFORME DISSE NOUTRO CANTO, "DE VOLTA À PRANCHETA DE TRABALHO"...

Depois de um período de agouro em meu Mestrado,sinto-me apto a voltar à minha pesquisa. Na tarde de ontem, inclusive, recebi uma ligação de uma professora que esteve em minha banca de Qualificação, confirmando que já foi publicizado que estou sendo orientado por um novo professor. Ufa! Posso voltar a estudar, a me dedicar àquilo que tanto me interessa e apaixona...

Quando recebi a tal ligação, estava correndo para chegar em casa: tinha gana de ver "A Filha de Calígula" (1981), famoso e oportunista filme do genial Ody Fraga que eu ansiava por deglutir faz tempo - e, oh, como valeu a pena ter visto este filme: tudo o que eu pesquiso (e alego dissertativamente) está lá!

Tendo pouco mais de uma hora e dez minutos de duração, não se pode dizer que haja necessariamente uma trama neste filme. Há uma situação: Sílvia (Daniele Ferrite), a personagem-título, tem como amante principal um cavalo falante que, mesmo não a considerando "o tipo ideal de égua", diverte-se a lamber as suas nádegas em momentos de descanso. Ela é obrigada pelo tio invejoso e homossexual Cipião (Roque Rodrigues) a se casar com o capacho Carlus Marcus (J. Santana), a fim de dirimir o seu poder libertino, mas ela se recusa. O motivo: "para quer casar e dar apenas para um se eu posso continuar dando para todos?". Cipião resolve, então, envenená-la, contando com a ajuda de seu (in)fiel escudeiro nordestino Furius (Bentinho), mas a entrada em cena de Márcio Nogueira, que vive um rapaz abobalhado, nu do início ao fim, redefine as tensões: todos no filme se apaixonam por ele, o que obviamente desbunda no triunfo de Sílvia, que assassina os escudeiros de seu tio e o faz ser devorado pelos testículos por um cachorro de nome Rufus.

Obviamente, é tudo uma grande piada, mas, diferentemente do humor rasteiro das pornochanchadas às quais este filme se afilia genericamente, o roteiro de "A Filha de Calígula" é repleto de piadas geniais, como quando se fala mal do roteirista, que entope os diálogos com trechos em italiano, quando o que deveria ser privilegiado é o latim, ou o momento em que, quando Cipião alega que seus servos devem tomar no cu, um deles grita: "desse jeito, não dá: vou trabalhar na Embrafilme", ao que bentinho logo corrige: "para isso, tu tens que ser carioca!". Nossa, como eu gargalhei!

Entretanto, o filme me conquistou mesmo em seus chistes homo/bissexuais, como quando Cipião explica que, "na antiguidade, cada governante era marido de todas as mulheres do império... e, ao mesmo tempo, mulher de todos os maridos!". Noutro momento, quando tenta convencer o rapaz nu a se deixar ser analmente penetrado por ele, explica: "desde que o mundo é mundo, existem apenas duas formas de ação sexual: dar e comer. Os homens superiores, as verdadeiras elites, praticam ambas!". O rapaz retruca: "pois eu me contento apenas com a segunda opção. Não quero ser elite, mas povão: eu só como!". E eu gargalhei mais uma vez! O que o filme faz com a democracia (pura avacalhação!) é absolutamente devastador e contestatório: vejam este filme, por favor! Prometo que o reverei em breve...

Wesley PC>

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"MAS A CORDA DESTE MOEDOR ESTÁ MUITO BAMBA!"


Na tarde de ontem, saí de casa enquanto minha mãe via "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964, de Glauber Rocha) na TV. Não vou mentir: achei sublime vê-la interagindo com o filme, ao lembrar de sua infância na roça, quando ralava mandioca mais ou menos como faz a personagem de Yoná Magalhães na primeira parte do filme. Isso fez com que a relação que minha mãe travasse inicialmente com o filme fosse de identificação contextual, o que foi magnífico, sublime. Quando voltei para casa, mais tarde, ela não conteve o assombro: "que filme doido da pêga é este, Wesley? Do meio para o final, não entendi nada...". Gracejei bastante com esta afirmação. Fiquei feliz: amo a minha mãe! 

Wesley PC>

domingo, 1 de setembro de 2013

OS PROBLEMAS JÁ ME ACHARAM! (RISOS)

O disco mostrado na foto foi quase unanimemente escolhido pela crítica especializada como um dos melhores lançados em 2013 até agora. Dadas as minhas limitações apreciativas, receio concordar: de ontem para hoje, não consigo parar de ouvir este disco!

Para ser sincero, não lembro de ter ouvido falar sobre a banda norte-americana The National antes. Mas insistiram tanto para que eu ouvisse este álbum que não me contive. Depois que vi o magnífico videoclipe da magistral quinta faixa do álbum, "Sea of Love", o arrebatamento foi certeiro!

O disco, entretanto, pois mais de uma faixa magistral: "Demons" (faixa 02), "This is the Last Time" (07) e "Humiliation" (11) são algumas delas. Incrível como este disco chegou num momento em que muito necessito! Em dado momento da faixa 05, inclusive, quando comentava com um(a) interlocutor(a) ideal o que é o amor, o eu-lírico atreve-se a fazer com que palavras como "hurt" e "virtue" rimem. Antes de dormir, eu confessei a um sociólogo juvenil que a minha obsessão por ele era doentia. Que nem o mal-estar persecutório de origem acadêmica que se instalou sobre mim. Mas eu continuo a ouvir o álbum... E repetir, repetir, repetir!

Wesley PC>

“PRA QUE PESTE TU QUERES LER ISTO?”

O rapaz da foto insiste em ter acesso a este ‘blog’. Tenho certeza de que ele ficará desagradado com o conteúdo, mas, se um dia ele passar por aqui, saiba que eu tentei avisar. O fato de ele possuir uma cicatriz num dos braços por ter se jogado contra uma porta a fim de não ser assediado por um travesti já denota o quanto temos em incomum. A imagem, por si só, também, o que não impede de, às vezes, conversarmos. Ele tem 25 anos de idade, mas parece ser mais jovem. É sorridente, mas não me surpreende quando revela se meter em brigas. No meu sonho de hoje, ele se trancava num banheiro, da casa de vizinhos, Talvez estivesse a se masturbar, talvez apenas a se banhar... Sei que ele gargalhava de portas fechadas e eu pensava comigo mesmo, ainda dentro do sonho, o quanto os meus ditos sonhos “eróticos” são mais masturbacionais que qualquer outra coisa. Vinculados à observação masturbacional alheia, na verdade!

Tive problemas para dormir hoje: pesadelos de misturavam, a maior parte deles vinculada à necessidade imperativa de conseguir um novo orientador de Mestrado. Sinto-me estigmatizado. Em dado momento do sonho, observava o sobrinho de uma vizinha masturbar-se e a unha grande de meu polegar esquerdo caiu. Doeu bastante! De repente, eu estava em meu próprio quintal. Meu irmão sai do banheiro e me flagra encostado num muro não-rebocado, vestindo apenas uma sunga vermelha. “Por que tu estás disfarçado de múmia?”, perguntou-me ele. Fiquei com vontade de puxar assunto com o rapaz musculoso da foto. Vasculhar terrenos societais que não têm a ver com o meu rimam com aprendizado também. E com oportunismo...


Wesley PC>