Eu e Rafael Torres descemos no Terminal da Atalaia por volta das 22h. Encontramos, logo de cara, alguns simpáticos gomorrenses, destacando-se o insuperavelmente perfeito Rafael Maurício, que, como sempre, utilizava uma camisa de longas mangas para acentuar sua magnificência fisionômica. Caminhamos e, ao chegar no local do palco, percebemos que o concerto já havia começado. Os integrantes da banda estavam cantando justamente “O Dia que Não Terminou”, canção que fora encetada ao meu lado, em Pirambu, por um jovem que, no momento, encontrava-se na Bahia, numa cidade começada com a única vogal que não consta do nome da banda. Conclusão: a canção tornou-se um elo imaginário entre eu, psicótico, e o cantante eventual, que só citara a letra da canção para demonstrar que perdoava um pouco, por causa dela, a existência forçosa da banda.
“Meus olhos grandes de medo revelam a solução
Abraçamos as outras pessoas que encontramos na praia e eu voltei para a frente do palco. Não conseguia tirar os olhos daquele vocalista, que considerava ao mesmo tempo tão idiota e fascinante. Motivo: sei que ele tem insônia e destaca este tema em muitas de suas letras. De repente, o talzinho começou a homenagear algumas de suas principais referências, trazendo à tona composições de Raimundos, Cazuza e, principalmente, Renato Russo, o que, obviamente me fez... [INTERRUPÇÃO PREVENTIVA]. A execução de “Mais Uma Vez” foi de uma beleza ímpar, marquiana.
“Tem gente que machuca os outros
O engraçado é que, sem perceber o quanto era tolo, o vocalista da banda, de nome Tico santa Cruz (!), realizava proezas cada vez mais idiotas, como, por exemplo, cobrir os olhos com uma bandeira do Brasil e bater continência após cantar “Que País é Esse?”, da Legião Urbana, e gritar “viva o ‘rock’ nacional!” depois de emocionar seu público prioritariamente composto por menores de idade com uma versão musical da banda norte-americana Guns’N’Roses. Vai entender... Enquanto isso, eu permanecia diante do palco, inane, envergonhado por não entender o que me fazia não odiar aquela banda...
Até que ele canta a canção que contém o verso do título, “Só Por Hoje”, e... [INTERRUPÇÃO PREVENTIVA]. Horrível! Sorte que, durante a apresentação do Gilberto Gil, divertimo-nos bastante, não porque o concerto tenha sido bom, mas porque estávamos impressionantemente propensos a nos divertirmos com ele. Mas isso é outra estória, que deixo a outra pessoa, menos envergonhada que eu, a oportunidade de relatar...
“Tô trancado no meu quarto Meia-noite sem ninguém
Eu não durmo, mas pra mim tá tudo bem”
Wesley PC>