sábado, 30 de junho de 2012

FELICIDADE É ESTAR BEM-ACOMPANHADO (NEM QUE SEJA APENAS POR SI MESMO)!

Pelo que apreendi nos comentários sobre o curta-metragem “Little Stabs at Happiness” (1963), o diretor Ken Jacobs e seu principal ator Jack Smith (também realizador de filmes ‘undergorund’) não se falavam quando o filme foi editado. O segundo protagonizou o primeiro e o último segmentos do filme de Ken Jacobs, ao qual assisti duas vezes seguidas na manhã de hoje: na primeira vez, a cópia era péssima e não consegui entender nada do que o diretor explicada em ‘off’; na segunda vez, a versão era excelente, as cores fortes, a emoção explosiva.

 Na primeira seção do filme, “In the Golden Room”, um homem e uma mulher brincam com bonecas. Vestido como se fossem loucos, eles queimam os olhos dos brinquedos com pontas de cigarro e simulam sexo oral. Ao final, todos se banham numa banheira. Na última, Jack Smith, vestido como um palhaço, engole bexigas de ar. Entre um e outro segmento, diferentes emulações de uma felicidade não necessariamente alegre abrilhantam o filme, que é, acima de tudo, um verdadeiro elogio à amizade. Fiquei absolutamente apaixonado ao final da segunda sessão. E, há pouco, descobri que Jack Smith falecera, por causa do vírus da AIDS, em 1989. Ken Jacobs ainda está vivo, e completou 79 anos de idade no ultimo dia 25 de maio. Não sei por que eles deixaram de se falar nem se ambos se reconciliaram antes da morte do diretor de “Criaturas Flamejantes” (1963), mas as pequenas punhaladas na felicidade que são mostradas neste curta-metragem me encheram de encanto e sofreguidão confessional: amo os meus amigos!

 Wesley PC>

sexta-feira, 29 de junho de 2012

“AI, AI, MEU DEUS DO CÉU, QUANTO EU SOFRI AO VER A NATUREZA MORTA”!

Em dado momento da tarde de anteontem, solicitei a um ser humano tão idiossincrático quanto eu que me recomendasse algum disco que eu ainda não conhecesse. Sem titubear, ele recomendou que eu baixasse “Di Melo” (1975), disco de estréia de um pernambucano homônimo que foi o único lançado por ele. O detalhe interessante é que ele continua se apresentando em concertos até hoje e, pela qualidade e versatilidade demonstradas no disco, com certeza não faltaria bom material nem demanda auditiva caso ele quisesse gravar outros álbuns. O que teria justificado esses trinta e sete anos longe do mercado fonográfico por parte deste artista impressionantemente subestimado da música brasileira? Seja lá qual for a resposta, o fato é que o potente disco que ele lançou seis anos antes de meu nascimento tornou-se rapidamente um dos álbuns mais íntimos que ouvi este ano. Não apenas porque é ótimo, mas também porque se tornou uma conexão graciosa com o rapaz que mo recomendou: é incrível o quanto a magistral faixa de abertura, “Kilariô”, me faz lembrar a voz e o estilo graciosamente desengonçado de Rafael Maurício (risos):

 “Dei a mandioca pra farinha
 E o milho pra galinha 
E o capim para a vaquinha
 E o feijão quem compra gosta”... 

 Como costuma ser praxe quando aprecio bastante uma canção em detrimento das demais, repito tanto a faixa inicial deste disco que só o ouvi na íntegra apenas duas vezes. Não tenho muita propriedade analítica para analisar o teor valorativo de canções como “Se o Mundo Acabasse em Mel” (faixa 09) e “Indecisão” (faixa 12), visto que as ouvi pouco, apesar de ambas terem me agradado bastante, mas insisto que o disco é muito bom e que me surpreendeu bastante na divergência simbólica em relação ao ‘aspecto ‘blaxploitation’ da capa. O principal arranjador do mesmo, aliás, é o multiinstrumentista Hermeto Pascoal. Mas, sobre as faixas 02 e 03 posso me aventurar a falar algo mais, visto que ouvi cada uma delas pelo menos quatro vezes (risos): a primeira delas (“A Vida em Seus Métodos Pede Calma”), diverge do modo de falar de meu supracitado cicerone musical, não obstante a letra ter bastante a ver com seu modo de enfrentar o mundo (“Se existe desespero é contra a calma/ e, sem ter calma, nada você vai encontrar”); a segunda (“Aceito Tudo”), por sua vez, me fez lembrar dele novamente (“No dia que eu penetrar do outro lado da vida eu não volto mais”). Quase que eu o telefono há pouco, apenas para recitar estes versos, de tanto que eu os achei parecidos com ele (risos). Conclusão: tornei-me fã do disco!

 Tentei ouvir o disco mais uma vez enquanto escrevia esse texto, a fim de fundamentar a resenha e analisar as canções com mais propriedade, mas meu irmão desligou o rádio para assistir a um programa esportivo na TV. Entretanto, asseguro que voltarei a mencionar este jóia do Di Melo noutras postagens. Por ora, peço desculpas ao rapaz citado no texto pelo excessivo derramamento de elogios (vulgo: recaída), mas, depois de todas as agruras que enfrentei hoje (chinelas quebradas, entrada na universidade terminantemente negada por vigilantes que alegam apenas seguirem ordens, roupa ensopada por causa da chuva), a associação entre os méritos indubitáveis desse disco e os favores que ele prestou à minha existência tornou-se cabal. Muito obrigado pelo presente acústico, Rafael Maurício! 

Wesley PC> 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

ADAPTAR UM LIVRO NÃO É APENAS TRANSFORMAR PALAVRAS EM IMAGENS: É SABER QUE CADA VEÍCULO MIDIÁTICO POSSUI AS SUAS REGRAS, FUNÇÕES E ARTIFÍCIOS. MARK ROMANEK NÃO DEVE ENTENDER MUITO BEM DISSO...

Enquanto eu assistia casualmente ao filme “Não Me Abandone Jamais” (2010, de Mark Romanek), na manhã de hoje, sentia raiva. Não apenas porque estava achando o filme muito ruim, mas porque ele se dispôs a trair um dos livros mais surpreendentes que li recentemente. Como bem resumiu o amante da literatura Leonardo Ribeiro em sua pertinente resenha sobre o mesmo, o que mais encanta no livro que deu origem ao filme é que, ali, o leitor “vai ser surpreendido o tempo todo. E o melhor: surpreendido pelo trivial”. No filme, acontece o extremo inverso: não apenas tudo é muito previsível como vergonhosamente desgastado numa péssima adaptação enredística a cargo do espalhafatoso Alex Garland, em interpretações apáticas e vergonhosas (principalmente as de Andrew Garfield e Keira Knightley que, convenhamos, são menos culpados por seus maus desempenhos do que a ridícula composição dos personagens fílmicos), no trabalho pusilânime e clicheroso do diretor Mark Romanek e na abominável condução musical de Rachel Portman, que torna o que poderia ser dramático em meramente xaroposo. As exceções elogiosas ao filme estariam apenas na boa atuação de Carey Mulligan, que tenta contribuir com sua delicadeza natural para a diminuição da frigidez de sua personagem, e na bela reflexão final, a cargo desta mesma personagem, que acrescenta detalhes interessantes à trama do livro, com, por exemplo, a angústia da cuidadora Kathy H. em saber que também será uma doadora de órgãos dentro de algumas semanas. Tal detalhe, inclusive, me faz sentir a necessidade de esclarecer o ponto de vista contido no título desta postagem: boas adaptações cinematográficas de livros não se limitam a reproduzir fielmente o conteúdo da obra original, mas, pelo contrário, seguir à risca o que está embutido na palavra adaptar e... Adaptar!

No caso da versão fílmica de “Não Me Abandone Jamais”, as opções adaptativas são vergonhosamente traiçoeiras em relação à sensibilidade do livro: até entendo que os eventos transcorridos durante a infância dos protagonistas tenham sido bastante resumidos (ou eliminados, como na maioria dos casos), mas inverter radicalmente os principais motes dramáticos construídos pela sutil narrativa de Kazuo Ishiguro foi algo imperdoável. Exemplo-mor: extrair a significação/interpretação maternalista da canção que intitula o livro/filme por uma canção piegas e redundantemente mendicante litania oscular. Além disso, o relacionamento de amizade (irregular, mas amizade acima de tudo) que percebemos entre Kathy e Ruth foi substituído por um joguete ridículo de ciúmes, em que a primeira é comumente mostrada chorando pelos cantos enquanto a segunda faz sexo com Tommy que, no livro, é o terceiro vértice de um triângulo afetivo sujeito a diversas identificações. Para piorar, eventos são adiantados, invertidos, amalgamados ou suprimidos de forma superficial, visando os interesses mercadológicos de uma trama centrada em conflitos namoratórios ridículos, em que uma inveja canhestra dos contatos sexuais alheios dilacera o próprio investimento lacrimal que o roteiro tenta obter quando enfoca o tratamento desumano legado aos doadores de órgãos, no filme, muito mais conscientes disso que no livro. Sinceramente, detestei o filme! 

Durante o processo de consumo emocional do livro, eu publiquei pelo menos dois textos em que enumerava as minhas percepções apaixonadas diante do mesmo. No primeiro deles, eu destacava um dos trechos mais geniais do romance, que explicava de forma genial a relação que a protagonista Kathy tinha com a fita cassete que contém a fictícia canção-título. No filme, qualquer menção aos perigos simbólicos do fumo é suprimida. No segundo texto, eu sintetizava o estado de espírito que me tomou de assalto quando virei a última folha e teci comparações com o modo como me relaciono com alguns amigos e sinto falta deles. No filme, isso é reduzido a um namorico substitutivo e quase vilanaz em sua passivo-agressividade. O pior: enquanto eu me encantava pelo livro, alguns de meus melhores amigos suplicavam para que eu visse o filme o quanto antes, no sentido de que o mesmo era urgente. Urgente? Só se for para demonstrar mais uma vez que o mundo está acabando e que os técnicos cinematográficos são vitimados por uma falta de criatividade lancinante. Absurdo este filme, de tão ruim. Absolutamente absurdo: a conversão da ingenuidade obediente dos personagens no extravasamento paspalho mostrado na foto que o diga!

 Wesley PC>

quarta-feira, 27 de junho de 2012

COMPRAR ‘JEANS’ NÃO ME AJUDARÁ AGORA!

Acabei de conhecer a Su Friedrich: militante lésbica, esta diretora é famosa no meio ‘underground’ estadunidense por seus filmes de vanguarda e repleto de referências a outras obras de arte onde os pressupostos ‘queer’ estão ensaiados. Não direi o nome do filme ainda, pois planejo revê-lo em breve e, quiçá, discuti-lo publicamente, mas já adianto que gostei muito dela. Ela é séria, não se deixa contaminar pela vendabilidade sorrateiramente atrelada às imagens de duas mulheres se beijando. Por isso, uma das personagens era uma freira questionando a sua própria fé...

Por falar em , cabe uma reiteração sobre este ponto: daqui a alguns minutos, eu e alguns amigos queridos nos encontraremos numa festa junina. Coisa de quem se ama e quer estar junto. Oficialmente, estou empolgado para me divertir ao lado deles, mas, de repente, enquanto via o filme da Su Friedrich, um puxão de orelha melancólico deu um aviso providencial a meu pênis: “quanto mais o tempo passa, mais difícil será saber onde tu cabes”. Em outras palavras: tenho vontade de presenciar uma situação sexual envolvendo um número ímpar de pessoas, mas, geralmente, ganho as minhas calças ‘jeans’ de pessoas que se preocupam comigo e entendem a minha inaptidão para fazer alguns tipos de compras!

Wesley PC>

COSTUMO DIZER, PARA CIMA E PARA BAIXO, QUE ADMIRO A PROSTITUIÇÃO. MAS, NA PRÁTICA, A COISA É DIFERENTE!

Recentemente, estive conversando com um amigo que, chateado depois que sua namorada evangélica disse que não mais confiava nele por ser incapaz de manter uma promessa de exclusividade erótica, transou com uma garota de programa. Pagou R$ 150,00 pela foda, mas não sei se ele a beijou na boca ou se a chamou pelo nome. Na prática, a prostituição não é glamorosa quanto a minha imaginação carente deixa entrever...

Na manhã de hoje, depois de ter impulsionado o amigo em pauta a telefonar para a ex-namorada evangélica, pedindo perdão, resolvi assistir a um filme tcheco sobre prostituição masculina adolescente, chamando “Mandrágora” (1997, de Wiktor Grodecki). A princípio, achei que o filme fosse mais uma desgastada variação realista do tipo de filme comumente lançado no leste europeu sobre os problemas da vida urbana sob o capitalismo. Aos poucos, entretanto, o roteiro sem concessões e a direção firme conquistaram não apenas a minha atenção elogiosa como também a minha adesão dramática em primeira pessoa: na prática, definitivamente, a prostituição não é glamorosa! 

Na cena do filme que mais me impressionou, o protagonista do filme, com mais ou menos dezesseis anos de idade, é oferecido a um cliente rico e erudito. Logo que adentra na sala de estar do cliente, o prostituto é interrogado se sabe quem é Caravaggio. Ele responde que não, e seu cliente louva a sua inocente ignorância, pedindo que o mesmo se dispa. Ao fazê-lo, ouve um estranho elogio: “as obras de arte mais sofisticadas são apenas pálidas tentativas de imitar a sua beleza. Tu deves agradecer ao teu criador por isso”. O garoto não entende, mas obedece às ordens de seu contratador, que pede que ele pose sobre um pedestal giratório, tal qual fizeram os seus ancestrais há quatrocentos anos. Depois que se masturba, entretanto, o contratador do adolescente percebe um detalhe incômodo: “seus testículos são grandes demais para uma obra de arte clássica!”. Não vemos o que acontece em seguida, mas sabemos que foi algo bastante traumático e violento.

À medida que o filme avançava, outras cenas destituídas de glamour erotógeno me impressionavam: num encontro com garotas que também se prostituem, dois amigos descobrem que as moças cobram mais caro para transar sem camisinha, mas não se opõem a esta prática, caso algum cliente assim prefira. Eles perguntam-lhes: “e vocês não têm medo de pegar AIDS?”. Elas: “mais cedo ou mais tarde, em nossa profissão, todos nós seremos contaminados”; noutro momento, famintos e desesperados, os dois prostitutos juvenis protagonistas pedem emprego na casa de um cafetão que realiza filmes pornôs homossexuais diante da esposa e dos filhos pequenos. Não param de chegar adolescentes na residência do pornógrafo, e este os interroga: “vocês são passivos?”. Eles: “gostamos de garotas, mas, pelo dinheiro...”. Ele: “vocês topam ser penetrados?”. Um deles: “Sim, desde que o pau não seja muito grande”. E eu confesso: não foi muito confortador ouvir este diálogo no ano em que pretendo perder a minha virgindade anal, que, a cada dia que passa, torna-se cada vez mais um tabu difícil de ser enfrentado. Nada que o amor não resolva, talvez, mas amor é justamente o que faltava no contexto depauperado em que os personagens do filme se locomoviam...

Numa cena próxima ao final, o pai do personagem principal urina ao lado da cabine de banheiro em que ele se droga e, alucinado, corta-se de maneira fatal com um estilete. Percebi que, estilisticamente, o filme tinha muito a ver tanto com o Rainer Werner Fassbinder de “O Direito do Mais Forte” (1974) quanto com o Eloy de la Iglesia de “Navajeros” (1980), sem contar um hálito pasoliniano onipresente, em especial advindo do subestimado “Mamma Roma” (1962). Definitivamente, o diretor, roteirista e montador Wiktor Grodecki é um nome que merece atenção. Quanto a mim, minha virgindade anal e o fantasiado glamour prostituído? Digamos que precisamos todos de amor!

Wesley PC>

segunda-feira, 25 de junho de 2012

ATÉ SEXTA-FEIRA, TENHO QUE FAZER ALGUMA COISA!


Reorganizando planilhas:

 1 – Tenho até sexta-feira, dia 29 de junho de 2012, para fingir que posso me enquadrar, de fato, na linha de raciocínio econômico que meu orientador de Mestrado impõe para mim;

 2 – Necessidades sexuais e obrigações sexuais são coisas muito diferentes;

 3 É normal ter segredos? 

 4 – Preciso me debruçar novamente sobre os filmes do genial diretor espanhol Eloy de la Iglesia, responsável, entre tantos méritos, pela divulgação da nudez do já falecido José Luiz Manzano;

 5 – Agora vai!

 Wesley PC>

ERA MAIS OU MENOS ASSIM...

E o bloqueio continua! 

Segunda-feira. Muita coisa para fazer, se assim quiserem. Se não, um remendo. No rádio, há pouco, Núbia Lafayette cantava alguma coisa, lamentava a má sorte de um amor perdido. Na adolescência, não sabia que Tony Scott ficaria refém dos clichês de filmes de ação. Achava que o casamento aberto entre uma vampira viúva e uma geriatra que não sabia ainda que era lésbica poderia funcionar. Mas, no mundo, existe uma coisa chamada traição. E isso tem menos a ver com foda do que parece!

E a comida está posta, aqui a meu lado: grãos-de-bico, macarrão, suco de jenipapo, ovo estrelado, maionese e ketchup. Quase meio-dia. Vou andando ou disporei de uma carona motociclística? Não vou esperar. Agirei!

Minutos antes, um telefonema: “eu não agüento mais ficar calada. Vou colocá-lo na parede, Wesley. Ou ele aluga uma casa para morar com aquela vagabunda ou aprende a me respeitar!”. E eu dizendo: “o que tem de ser, será!”. Será?

Wesley PC> 

A VOZ DA ELIS REGINA INSISTIA EM ME DESPERTAR...

Era cedo, pouco antes das 5h da manhã: dormi cantarolando algo interpretado pela Elis Regina, despertei no mesmo afã. Repeti o mesmo disco duas vezes. “O cinema de Walter Hugo Khouri parece ter sido o paradigma do cinema autoral para grande parte dos trabalhadores da Boca do Lixo”, li antes de fechar o livro e enviar uma mensagem desejando um bom dia. SEGREDO. Palavra estranha esta: segredo! Parece com mentira este tal de segredo? Não sei responder, mas antecipo que não. Mentira é distorcer o que se percebeu, segredo é conservar para si o que foi percebido por si mesmo. Um bom momento para reler Ludwig Wittgenstein, talvez. E Elis Regina cantou tão bem, ao lado do Jair Rodrigues...

 Wesley PC>