sábado, 22 de dezembro de 2012

UM BOLO VISTOSO, UM FERIADO TENEBROSO, UMA FELICIDADE TRÊMULA, O AMOR GENERALIZADO... UM BRINDE!


Peço desculpas a quem espera por atualizações diárias neste ‘blog’, mas a intercalação entre os sorrisos do dia-a-dia e os pavores atrelados àquilo que um rapaz por quem sou apaixonado descreveu como “feriado com um nome” me surrupia às confissões necessárias à catarse de minhas agruras individuais e coletivas a um só tempo: atualmente, o tema ao qual mais dedico minhas atenções é a edificação de uma coletividade em que eu possa estar inserido. Os trabalhos pendentes no Mestrado, a audiência a um seriado televisivo inusitadamente elogiado por estas bandas virtuais, a leitura de um livro pungente, tudo me deixa num estado consistente de que sou capaz de enfrentar as dificuldades imediatas e visar a um futuro (leia-se presente) interativo atrelado às paixões mais intensas de minha vida. Sou um religioso, sou um amante do cinema e das pessoas que me cercam: sou humano!

“Começa uma nova era, marcada pelo engajamento político, a fragmentação dos públicos e dos gêneros, assim como a dominação,em breve monopolizadora, da televisão: a partir daí são cinéfilos – plurais, minoritários e contestadores – que manterão o amor ao cinema para além do choque do caso Langlois depois de maio de 1968. Para alguns, a cinefilia clássica permanece dentro de um refúgio, mas agora ela será vivida de forma nostálgica, ou melancólica – ‘a morte do cinema’” [Antoine de Baecque – “Cinefilia: Invenção de um Olhar, História de uma Cultura (1944-1968)”, página 409].

Por que reclamar da vida, apenas por reclamar, quando podemos converter este dito fervor reclamante num conjunto de ações ativas e conscientes, que visam não somente à auto-satisfação como ao bem-estar comum? Esta é a pergunta-base. Os meus comportamentos conseguintes são uma tentativa prática de resposta!

Wesley PC> (emocionado e precisando estar confiante)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

“PLACA DO CARRO: RS 2570”!


A cada novo filme de Francisco Cavalcanti que vejo, fico impressionado pelo modo como ele conjuga elementos extremamente pornográficos a um moralismo canhestro e genericamente associado a filmes B norte-americanos sobre homens pacatos que se tornam justiceiros depois que suas esposas são assassinadas e/ou estupradas por facínoras. Diante de “Horas Fatais – Cabeças Trocadas” (1987, co-dirigido por Clery Cunha), o elã positivo que eu percebera nas obras anteriormente comentadas fora substituído por uma indefinição de perspectiva associada às dificuldades de produção cinematográfica na Boca do Lixo quando o filem foi realizado: com a invasão da pornografia estrangeira após a abertura democrática do Brasil, no final da década de 1980, o erotismo criativo de outrora passou a ser atravessado por uma angústia exibitória ostensiva que tornou negativo o amadorismo empolgado e benfazejo que marca as obras de Francisco Cavalcanti...

Para além da péssima dublagem do filme, que tornou ainda mais estereotipada a interpretada de José Mojica Marins, amigo do diretor, como o principal vilão, a seqüência que mais me perturbou psicologicamente neste filme está logo no início: ao passear de bicicleta pelos cômodos de sua residência, um garotinho (vivido pelo próprio filho do diretor, Fabrício Cavalcanti) é repreendido por sua mãe, que limpava a casa. Chateado, ele a deixa reclamando sozinha e vai para a praia, brincar com uma rapariga mais velha. Enquanto isso, sua mãe e sua cunhada eram estupradas por uma dupla de homens violentos, que adentra o local segurando armas. Como o filme era obrigado a ter cenas de sexo – neste caso, explícita – por causa das imposições de seus produtores oportunistas, vemos em ‘close-up’ a penetração anal de um dos estupros, isolada como se fosse sensual, como se estivesse ali para excitar o espectador, não obstante os gritos de dor da mulher estuprada. De repente, uma hemorragia perturbadora começa a sujar de sangue o pênis do perpetrador do crime hediondo, que só pára de foder quando percebe que a mulher está morta. Ambas as mulheres morrem, alias, de modo que, quando saem correndo da casa, os estupradores esbarram no garotinho que voltava da praia, que, intrigado, resolve decorar a placa do carro dos dois homens ignorantes. Até que ele encontra sua mãe nua e assassinada no chão. E chora altissonantemente, aguardando que seu pai volte para casa e o ampare...

Através deste momento descrito de angústia conflitiva com os clichês erotógenos da época em que foi produzido, percebemos que as ambições narrativas e moralizantes do diretor esbarram em convenções subgenéricas que lhe obrigam a fetichizar aquilo que mais lhe indigna. Conclusão: era muito difícil que o filme fosse bom (nos sentidos mais completos do termo). Depois que o protagonista (como sempre, vivido pelo próprio Francisco Cavalcanti) é torturado por um delegado corrupto, que se irritou quando ele confessou as suas agruras num programa sensacionalista de TV, a necessidade de se vingar é erigida e defendida como honrosa, mas as condições internas e dificultosas da trama não permitem que a situação seja convertida em prol das angústias familiares do personagem principal, que, após flagrar seu filho sendo espancado, consola-se em fugir, depois que um policial aposentado e traficante de armas assassina um de seus agressores imediatos. Ao contrário do que fora tentado em filmes anteriores, aqui não houve a possibilidade de um final feliz. Nem mesmo de um final, aliás: o filme termina da forma mais estruturalmente arreganhada possível, o que, infelizmente, não o salva do fracasso, mas permite que ele seja defendido analiticamente. “Horas Fatais – Cabeças Trocadas” é um sintoma gritante da situação problemática de democratização que eu anseio por desvelar em minha dissertação de Mestrado. Prestarei muita atenção às suas contradições elementares, portanto, ao passo em que insisto em me declarar fã do diretor, ainda que eu não consiga me desvencilhar da confissão de que este filme é péssimo. É péssimo, mas diz muita coisa, tanto implícita quando explicitamente!

Wesley PC> 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

UMA LACUNA (OU MASTURBAÇÃO SEM MÚSICA É MAIS GOSTOSO?)



Na manhã de hoje, vi um filme italiano autodeslumbrado chamado “O Aniversário” (2009, de Marco Filiberti), sobre um terapeuta em crise que, em férias, se deslumbra pelo filho de um colega (interpretado pelo belo modelo brasileiro Thyago Alves), que acaba de chegar de Nova Iorque e está ansioso para se enturmar com a família. Assim pensam os seus pais hiperprotetores, ao menos: a mãe zela por sua liberdade; o pai estranha que ele trate as meninas deslumbradas por ele com desdém. Enquanto isso, o tio, lancinado pelo suposto suicídio de sua esposa depressiva, se lamuria pelos cantos. E, num contexto em que a ópera “Tristão e Isolda”, do Richard Wagner, é rechaçada por ser “demasiado schopenhaueriana”, a tragédia se instaurará num contexto pequeno-burguês de sexualidade reprimida e desinteressante. Quando se masturba, o jovem David dança. E eu senti enfado, ao passo em que não consegui um mínimo de excitação programada. O filme é ruim – e eu estava sem tempo para pensar nisso, por enquanto. Faz sentido esta afirmação?

Wesley PC>

domingo, 16 de dezembro de 2012

“AFINAL DE CONTAS, ESTA É UMA ESTÓRIA EDIFICANTE... OU NÃO É?”


Assim o narrador de “Alegrias a Granel” (1949, de Alexander Mackendrick) se refere ao desfecho do filme, em que os habitantes de uma pequena ilha tornam-se “infelizes para sempre” por causa do aumento exorbitante no preço do uísque, exceto por um casal apaixonado, que não consumia a referida bebida (risos). Na verdade, tudo isso era um brilhante jogo de inversão moral, cunhado para justificar o senso de humor apurado da trama de Compton Mackenzie que serviu de inspiração para o roteiro, co-adaptado por este mesmo escritor...

No filme, sua instância narrativa adianta que os habitantes da ilha de Todday dedicam a maior parte de seu tempo aos prazeres simples, de modo que dezenas de crianças correm felizes pelas ruelas... De repente, um fato instaura a tensão: acaba o uísque local! Coincidentemente, um navio bélico que transportava toneladas de caixas desta bebida naufraga perto da ilha. Os habitantes esforçar-se-ão para obter o precioso líquido, mas, para isso, precisarão esperar o jejum sabático, deveras respeitado pelos ilhéus. Tudo isso sendo pretexto para que o diretor desvele os simples prazeres mencionados no início, concernentes ao ato de beber entre amigos, de pedir em casamento quem se ama, de se aventurar na persecução daquilo que se deseja enquanto afã comunitário...

Se, de um lado da tela, recebia mensagens calorosas (apesar de seu pressuposto lamentoso) de meu melhor amigo, do outro, os técnicos do filme apressaram-se em justificar os atos sociais bem-intencionados (ainda que tendenciosamente delituosos) dos personagens, que se embebedavam mas eram sinceros nas demonstrações de afeto de uns em relação aos outros. Meu moralismo abstêmio se calou diante da genialidade das reviravoltas do roteiro – ou melhor, sorriu altissonantemente: foi um dia contente, em suma!

Wesley PC>