sexta-feira, 19 de abril de 2013

“MEU NOME É TADEU, MAS EU PREFIRO QUE ME CHAMEM DE DEUS! PRA COMEÇAR, VOCÊ PODE LAVAR A MINHA CUECA...”

É assim que o personagem de Satã se apresenta na cena inicial de “O Império do Sexo Explícito” (1985, de Marcelo Motta), quando o protagonista vivido por Oásis Minniti é atirado numa cela entulhada de homens violentos. A tipicidade genérica em relação aos filmes do Francisco Cavalcanti me levou imediatamente a pensar neste cineasta, o que não era por acaso, visto que, além do ator comum, ele também foi co-diretor de um filme do José Mojica Marins, tal qual o Marcelo Motta. O modo desordenado como a trama é conduzida, entretanto, distancia-se sobremaneira dos filmes cavalcantinianos que, para além de sua qualidade questionável, ao menos respeitavam a linearidade na seqüência das ações.

Em “O Império do Sexo Explícito”, apesar de sua pompa policialesca, a estória é o que menos parece importar, mas, paradoxalmente, as cenas de sexo prometidas no título do filme também não são extensas. A impressão que fica, nos menos de 80 minutos de duração do filme, é que estamos a ver uma versão retalhada da produção, tamanha a dificuldade de compreender a trama, em que o presidiário ao qual o violento se dirige logo no início recebe o nome de Marcelo. Apaixonado por uma modelo chamada Linda (Zilda Mayo), que conhece numa praia, durante um flerte, Marcelo envolve-se com o tráfico de drogas e, por causa disso, é perseguido por gangues rivais. Não sendo necessariamente um mocinho (ele assassina um jovem bonito, irmão de um perigoso traficante, a sangue-frio numa duna!), Marcelo não permanecerá vivo ao final, num julgamento moral que tem muito a ver com o universo justiceiro ao qual Francisco Cavalcanti (e, pelo visto, também o Marcelo Motta) se filia.

Malgrado sua dificuldade de entendimento tramático e as cenas mal-realizadas, o filme não é de todo desagradável: particularmente, apreciei a exigüidade de seqüências pornográficas, mas, durante estas, fui brindado espectatorialmente com situações impressionantes, como oito pessoas fodendo numa cama de casal, uma mulher enfiando o bico de seu seio no ânus de um parceiro e o pitoresco instante em que um homem pára de lamber a vagina da mulher com quem trepava para enfiar o salto de sapato preto dela no grelo. Como pode? (risos)

Apesar de não ser um filme que possa ser classificado como engraçado (é protagonizado por um anti-herói assassino e criminoso e possui cenas gráficas de decapitação), há pelo menos um momento genial de humor, quando um capanga acossado num cano de esgoto durante um tiroteio exclama, em tom musical: “ôxe, e quem disse que eu quero bala? Eu quero mesmo é comer maria-mole!”. Papoquei-me de rir neste instante!

Quando comecei a ver este filme, cri que o detestaria, que me enfadaria, que o acharia desprovido de qualquer interesse, para além de seus elementos estatísticos para a minha pesquisa de mestrado sobre a decadência que acompanhou a saturação sexual nos filmes produzidos pela Boca do Lixo paulistana após a reabertura democrática do Brasil em 1985. Não foi o caso: por mais mal-feito que este filme seja, faço questão de revê-lo em breve e recomendá-lo a meus amigos mais pervertidos. Ele permite boas e inusitadas reflexões morais em meio às transas e gozadas: por essas e outras que eu amo o cinema brasileiro!

Wesley PC> 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

HOJE EU ACORDEI COM VONTADE DE VER UM FILME PORNÔ LOGO PELA MANHÃ!

"Em termos de estrutura narrativa, o gênero cinematográfico que mais se aproxima do filme pornô é o musical. Como este, o 'hard core' requer que cenas específicas ('números') façam parte dos filmes, característica peculiar também a outro gênero, os filmes de lutas marciais. Tal como se espera encontrar num musical uma variedade de números de canto e dança, e num filme de artes marciais 'números' de karatê ou kung fu, um filme pornô também deve conter cenas específicas - números de ação sexual explícita - que atendam às exigências genéricas e às expectativas de seu público. Certamente, o grau de integração destas cenas na narrativa é variável tanto entre os filmes quanto entre os três gêneros que, de algum modo, estabelecem estratégias específicas de balanceamento entre os números e o fluxo narrativo" (ABREU, Nuno César. O Olhar Pornô: a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas/SP – Mercado de Letras, 1996. Página 103).

 Por causa da citação acima, constante do livro que leio com fervor desde sábado, a fim de amplificar o escopo comparativo de minha pesquisa de Mestrado, acho lícito estabelecer cotações elevadas para filmes pornográficos que, apesar de serem qualitativos e/ou inovadores, são também cansativos em seu sobejo de sexo. Na manhã de hoje, portanto, assisti a um dos maiores clássicos norte-americanos do gênero, “Geração New Wave, Sexo New Wave” (1985), dirigido por Gregory Dark e protagonizado, numa das seqüências, pela ninfeta Traci Lords, apenas com 17 anos na época das filmagens, que, vestida de diabinha, abocanha um ator inconvincentemente fantasiado de anjo.

 Musicado por bandas que eu não conheço, destacando-se a faixa inicial, “Electrify Me”, executada por The Plugz, o filme é bastante exitoso em seu objetivo de documentar as mudanças culturais de uma década: enquanto assistem a um filme pornô típico, dois amigos adormecem e imaginam-se, em sonho, controlando uma agência de prostituição em que as músicas que são executadas durante os atos sexuais são importantíssimas. Um dos amigos é negro e porta-se como um executivo do Bronx. O outro é gordo, e veste-se como um ‘punk’, destacando-se a sua camiseta com o símbolo da anarquia. Entre eles, há um rapaz loiro, que porta-se como cachorro e campainha telefônica, ao mesmo tempo. À medida que o filme evolui e apetrechos estranhos como fones de ouvido com formatos de seios ou de pênis e um vibrador dourado são apresentados, acompanhamos aos números sexuais que visam diferenciar-se da modorra então desgastada no gênero.

 Numa primeira seqüência de coito, uma patinadora fode com os dois personagens brancos do escritório, enquanto o negro apenas se masturba ao lado. Na seqüência seguinte, acompanhamos um personagem árabe (o belo Peter North) assistindo a duas mulheres que se beijam e, em seguida, metendo-se literalmente entre elas. Depois, presenciamos a seqüência mais famosa do filme, premiada em vários festivais especializados, em que Ginger Lynn submete-se a uma penetração dupla, perpetrada por dois supostos ‘nerds’, um deles interpretado pelo formoso Tom Byron, o qual eu já conhecia (e desejava) a partir deste filme aqui. Seguem-se as intervenções erotógenas de uma atriz um tanto oriental (Kristara Barrington), que fode com o personagem negro (finalmente), com policiais, e, ao final, depois que os protagonistas acordam, não acredita quando um deles a confidencia que ele e seu amigo tiveram um mesmo sonho e que ela era uma das personagens principais do mesmo.

 Num sentido geral, é óbvio que o filme é defeituoso e até mesmo potencialmente entediante (para quem não consegue se excitar diante de cenas repetidas de penetração vaginal, como eu), mas, genericamente, sou obrigado a admitir que “Geração New Wave, Sexo New Wave” é primoroso. Pena que a cópia de que disponho não possui legendas, senão eu me ofereceria para acompanhar alguns heterossexuais não-cinéfilos durante a sessão. Quem sabe este sonho pervertido não se torne realidade em breve? (risos) Hoje é dia 18. Nos últimos três meses, esperma assentava em meu sistema digestório neste dia! Ôba!

 Wesley PC>

quarta-feira, 17 de abril de 2013

NA SEGUNDA VEZ, O ESTUPOR É ASSENTADO – MAS NÃO DIRIMIDO!

Na manhã de hoje, reassiti ao filme “Vá e Veja” (1985, de Elem Klimov), que me deixou em transe no início da tarde de ontem. Conhecendo de antemão as suas limitações, relacionadas à similaridade exacerbada com um clássico tarkovskiano, pude mergulhar com mais vigor naquilo que eu já sabia que iria me sufocar – negativamente enquanto reconstituição de algo que aconteceu na realidade; positivamente enquanto arte: a equanimidade dos atos numa guerra, tão perversos e cruéis quando gratuitos ou quando supostamente justificados enquanto punição por crimes efetivados. Ou seja, o nazista que comanda uma chacina contra aldeões bielo-russos inocentes e o menino que dispara contra uma fotografia de Adolf Hitler, desenterrando lembranças terríveis dos campos de concentração e eliminando simbolicamente os vestígios de alguém que, antes de ser um cruel governante, foi uma criança também inocente algum dia, uma criança amada por sua mãe, uma criança que não gostava do cheiro de morte e destruição...

Oficialmente, planejava escrever uma resenha mais cuidadosa sobre o filme, mas um lampejo de desilusão (aliada a uma ocupação burocrática extraordinária) desvia as minhas atenções: intuo que voltarei a falar sobre este filme belo e cruel muito em breve. Vontade não me falta. Mas nem tudo no mundo é vontade. E quiçá nem tampouco representação...

Wesley PC>

terça-feira, 16 de abril de 2013

ALGUMAS CONSEQÜÊNCIAS DE ALGUMAS ESCOLHAS:

Na manhã de hoje, assisti a um filme antibelicista de guerra chamado “Vá e Veja” (1985, de Elem Klimov), por recomendação empolgada de pelo menos três jovens homens cujas opiniões e indicações fílmicas me são relevantes. Durante a sessão, a semelhança extrema do filme com “Stalker” (1979, de Andrei Tarkovski) me incomodou. Porém, do meio para o final, o filme me impressionou deveras. Tanto que, assim que eu despertar amanhã, pretendo revê-lo...

 Dentre as cenas do filme que mais me incomodaram negativamente, está o momento em que o garoto protagonista e uma bela rapariga com quem ele se depara num lugar ermo mergulham na lama densa, quando poderiam muito bem atravessar o mesmo caminho pelas margens. A forçação de barra dramática e alegórica do filme, entretanto, exigia este esforço desnecessário. Era uma escolha – e, nesse sentido, o filme veio a calhar...

 Tanto eu quanto o amigo que me acompanhara na sessão matinal estamos a enfrentar problemas hodiernos referentes a (más) escolhas. Não sei o que o aflige em específico, mas, de minha parte, protelei duas potenciais chances de demonstração exacerbada e quase consensual de amor para exercer um trabalho extraordinário, a pedido de uma pessoa muito bondosa e aflita. Não me arrependi de ter feito o que fiz, mas... Senti falta do que poderia ter feito. Escolhas são assim, fazer o quê? Amanhã revejo “Vá e Veja” e talvez tenha muito mais a acrescentar a partir do ótimo filme...

 Wesley PC>

domingo, 14 de abril de 2013

“NÃO TENHO O DIREITO DE MATÁ-LO APENAS PORQUE ELE ME ODEIA!”

Desde que minha mãe assistiu a “O Ódio é Cego” (1950), filme oficial de estréia de uma de seus atores favoritos, Sidney Poitier, fiquei impressionado não apenas com a sinopse do filme, sobre a faceta mais patológica dos ódios raciais convertidos em crimes sociais, como pela importância subestimada do mesmo na carreira primorosa do diretor e roteirista Joseph L. Mankiewicz. Além disso, a trama possibilitava que eu enrijecesse as minhas impressões discursivas sobre o racismo, bastante úteis numa paquera platônica que, naquela ocasião, estava sendo inutilmente implementada. Passada a oportunidade, assisti ao filme noutro contexto, bem mais apaziguado e com expectativas reduzidas, mas não menos digno de ser relatado:

Nesta manhã de domingo, chateado por ter dormido mais de dez horas seguidas, descobri o filme pro acaso no Telecine Cult e me impressionei de imediato com a ótima personificação caricatural de Richard Widmark, bandido racista que crê furiosamente que um médico negro assassinou por vingança o seu irmão também bandido, que ele não sabia que estava com um tumor no cérebro. Se, nos quesitos dramáticos (a complexidade dos relacionamentos entre o médico negro, seus colegas de profissão e sua família, o tormento existencial da namorada do falecido, que era traído por seu irmão, etc.), o enredo impressiona pela pujança, na subtrama policial ele decepciona pela ingenuidade, visto que o modo como um prisioneiro consegue se apropriar de um bisturi numa sala de operação escancara uma terrível falha de segurança, que se repetirá no modo como este mesmo prisioneiro, baleado numa perna, consegue fugir do hospital, no modo como ele seqüestra e ameaça a sua cunhada e no modo como ele invade a casa do melhor amigo profissional do protagonista médico. Tais pequenos defeitos não eliminam a reflexão poderosa que o filme traz à tona, com certeza geradora de polêmicas à época em que foi realizado: os preparativos para uma chacina de negros que são apresentados num bairro periférico do ‘white trash’ norte-americano são impressionantes, de maneira que garrafas quebradas para servirem como armas assustam ainda mais quando lembramos da cicatriz horrível na face do ascensorista do hospital, ferido numa chacina semelhante.

Terminado o filme – que, conforme previsto, gerou uma breve discussão entre eu e minha mãe sobre os absurdos do racismo – pensei no rapaz que me motivaram idealmente a descobrir este filme e que, por ser idiota, preconceituoso e virulento em meu medo pequeno-burguês de se relacionar com as pessoas, hoje me evita. Problema dele: quem perde é ele! De minha parte, estou contente de, por causa do que eu sentia por ele, ter descoberto este poderoso filme genericamente envelhecido, mas infelizmente ainda atual e não-resolvido em sua temática denuncista!

Wesley PC>