sábado, 15 de janeiro de 2011

PICALOMICINA NA VEIA NÃO SE CONSEGUE NO HOSPITAL OU MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL ENQUANTO PACIENTE DO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE

Não é à toa que, diante de ameaças mortíferas, o desejo sexual é acentuado. É como se a natureza se antecipasse em garantir a reprodução do individuo moribundo, em face da morte iminente. Mas, no caso de um homossexual, onde é que a natureza entra no processo de formulação de desejos instintivos sexuais primários? Que contribuição mais geral para minha espécie dá-se quando eu assisto a um programa de TV em que 10 modelos bonitos posam em roupas íntimas e tenho sonhos eróticos depois disso? A natureza é sábia, não cabe a mim responder...

Doído feito a zorra que eu ainda estava, resolvi me submeter a uma consulta médica local. Tomei banho e desci a rua, em direção ao pronto-socorro do conjunto residencial em que habito. A primeira recepcionista foi demasiado grossa, mas a segunda, sua substituta definitiva, foi simpática e se espantou quando eu disse que tinha 30 anos de idade. Senti-me positivamente envaidecido. O médico, por outro lado, era recém-formado. Hoje era seu primeiro dia de trabalho e, não por coincidência, ele foi o primeiro a receber o Diploma na manhã de terça-feira, quando eu justamente passei mal no DAA. Em outras palavras: ele percebeu o início de minha crise dolorosa quando a mesma chegou ao seu píncaro e sorriu ao me reconhecer em seu consultório. Tocou em minha testa, perguntou o que eu sentia e me aplicou um remédio diluído em soro fisiológico: 100ml de Profenid (ou seja, cetoprofeno).

Enquanto eu estava deitado na maca, recebendo o tal remédio diretamente na veia, uma enfermeira comentava com as acompanhantes de outros pacientes acerca de minha idade: “devem ter trocado os seus documentos, menino, Tu não tens 30 anos não” (risos). Senti-me ainda mais envaidecido e feliz por esta recepção mais amistosa, visto que, logo que cheguei ao hospital, espantei-me com uma placa na parede: TODOS OS PACIENTES DEVEM PREENCHER FICHAS, SEM EXCESSÃO! (escrito assim mesmo, cruzes!). A mãe de uma paciente sentada ao meu lado brincava com o filho: ei, o que é que está mole, o pinto?”. Ele: “não, o dente”. Ela: “tu só tens 5 anos de idade, teu dente só irá cair aos 7, daqui a dois anos”. E eu fiquei pensando no que aconteceria com o pinto do coitado do menino...

Enquanto aguardava a minha vez de ser atendido – que, afinal, foi bem rápida, não durou nem meia-hora – lia os dois primeiros capítulos de um romance de Yukio Mishima que me emprestaram: “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” (1963), sobre um menino de 13 anos que observa sua jovem mãe fodendo com um belo marinheiro. Logo no primeiro capítulo, uma citação que me encantou; “se eu fosse uma ameba, pensava ele, com um corpo infinitesimal, poderia derrotar a feiúra. O homem não é bastante pequeno, nem bastante grande, para derrotar coisa alguma”. Concordo. Sobrevivi!

Wesley PC>

UM DIÁLOGO CERTEIRO E O FILME ESTÁ GANHO!


“ – Eu gosto da minha vida!
- Tu saíste da universidade para trabalhar num bar. Tua vida é uma droga!
- Eu gosto da minha vida!”


Quem diz gostar da vida a qualquer custo é a personagem de Amy Adams. Quem tenta persuadi-la do contrário é um ex-lutador de boxe, recém-saído da prisão e viciado em ‘crack’ (Christian Bale). Ele é irmão do homem que ela ama (Mark Wahlberg) e, aos poucos, os dois acordam em trabalharem juntos, em prol da felicidade profissional e familiar dele. Dá certo! E, eu juro, se este diálogo não existisse (é bem mais largo e denso que a minha citação oportunista, garanto!), talvez eu não superasse com louvor os trocentos clichês desportivos que abundam em “O Vencedor” (2010, de David O. Russell), típico filme “oscarizável” hollywoodiano disfarçado de cinema independente sobre famílias disfuncionais. Mas, pelo ótimo elenco, funciona. E, como tal, recomendo-o com moderação.

Wesley PC>

O FILME MAIS RECENTE DO DANNY BOYLE OU O ESTILO VERSUS O REALISMO MAS NÃO CONTRA A QUALIDADE

A primeira vez que ouvi falar sobre o filme “127 Horas” (2010) foi na tarde de um domingo, 20 de dezembro de 2009, quando eu acabara de ver “Sunshine – Alerta Solar” (2007), filme estiloso do cineasta Danny Boyle, sobre o qual eu aproveitei a oportunidade para escrever um mini-dossiê. Para falar a verdade, quando eu conheci a trama do tal “127 Horas”, não fiquei de todo empolgado para vê-lo, achando que seria mais uma daquelas biografias triunfalistas que só iriam contribuir para minha decepção acerca do talento recente do cineasta escocês, cada vez mais subsumido às benesses preocupantes de Hollywood. Para minha surpresa, não é que vi o filme há pouco e o achei ótimo?!

“127 Horas” narra a saga verdadeira do alpinista Aron Ralston, que ficou mais ou menos cinco dias preso num desfiladeiro, com uma pedra imensa sobre sua mão, deixando-o pendurando sem comida, sem água e sem qualquer possibilidade de auxílio humano externo. Juro que, contando assim, o filme não parece interessante, mas, à medida que a agonia do personagem evolui, os exercícios pós-modernos de estilo do cineasta foram me cativando, graças à boa interação com uma trilha sonora ‘pop’ (como sempre), que fecha com chave de ouro ao som do Sigur Rós; com uma montagem que subdivide a tela várias vezes; com uma direção de fotografia a quatro mãos, que faz excelente uso de câmeras digitais; e com um roteiro que recusa o realismo da espera a qualquer custo, interrompendo a claustrofobia cara à situação-chave do filme com rememorações infantis, delírios sexuais, alucinações famélicas e previsões futurológicas acertadas, para ficar apenas nalguns exemplos.

No início do filme, achava difícil elogiar o desempenho de James Franco no papel central: achava que minha avaliação de sua desenvoltura actancial tinha mais a ver com a tara que eu sinto pessoalmente por ele do que com a construção do seu personagem, que, venhamos e convenhamos, é propositalmente rala. Do meio para o final, entretanto, a combinação entre os devaneios modernosos do estilo do diretor e o estilo tabula rasa de construção do personagem fizeram com que eu me empolgasse diante de cenas como aquela em que ele se alimenta de suas próprias lentes de contato ou nas elipses masturbacionais que protagoniza. Infelizmente, o diretor está cada vez mais moralista à medida que envelhece e abordou os inevitáveis onanismos do protagonista e a violência gráfica da cena em que ele decepa o próprio braço de forma distanciada, artificial em mais de um sentido, mas nada que retirasse o brilho geral do filme: algo na vacuidade daquele personagem real me conquistou. Um ser boboca, tachado de solitário e condenado voluntariamente à misantropia, mas que, de repente, “não sai mais de casa sem deixar um recado dizendo para onde está indo”. É como se sua trajetória contingencial de sobrevivente nos mostrasse uma lição de vida. E, por mais moralista e a-realista que a mesma tenha se convertido nas mãos do pós-moderníssimo Danny Boyle, funcionou comigo. Estou com vontade de rever o filme agora mesmo! Uau!

Wesley PC>

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AUTRE CHOSE QUE LE MANQUE DE SEXE, POUR SÛR!

“Não haverá mais mutilações nesta aldeia!”, gritou a simpática segunda esposa de um carismático aldeão. Com fúria, ela retira a navalha das mãos de uma feiticeira e brada com fúria e felicidade: “Wassa!”. Recentemente, uma das meninas que estivera sob seu jugo morrera. Fora seqüestrada pela própria mãe e entregue às curandeiras, que dilaceraram seu clitóris e a deixaram morrer, em conseqüência de uma hemorragia. Minha mãe estava ao meu lado e gostou de saber que se tratava de um filme de Ousmane Sembene, cineasta africano que batizou a nossa cachorrinha mais nova. O nome do filme é “Moolaadé” (2004) e quer dizer proteção.

Havia prometido a mim mesmo que hoje arriscaria uma visita num pronto-socorro, mas ficou tarde e eu fiquei com receio de sair de casa. A cabeça estava doendo, como de praxe nos últimos dias, mas era uma dor suportável. Tomei com gosto a sopa mencionada na postagem anterior. Havia azeitona e pimenta entre os seus ingredientes. Sentei-me na cama, li um livro infantil (e precioso) do Charles Dickens, e respondi a algumas mensagens de celular do “rapaz mais belo do mundo”, que deve ter se enfezado quando eu lhe perguntei se ele estava a “ejacular nos úteros prometidos”. Ele havia me dito que engravidaria uma aluna quando chegasse à sua cidade-natal. Eu disse-lhe que ciúme não é minha especialidade, mas, por precaução, pedi-lhe que mantivesse informado de suas conquistas. Mas ele parece enfezado com meus questionamentos de cunho erótico-personalístico. Não foi por mal, tu bem sabes, não foi por mal...

Tomei banho, perfumei-me e fui à casa de um rapaz que usava um calção rasgado, que deixava perceber não somente a sua roupa de baixo cor-de-laranja como também a sua proeminente genitália. Mas ele adormeceu, e uma ereção dormente foi se formando aos poucos, enquanto minha mãe me chamava: “tu queres mingau, filho?”. Sim, eu queria. Às 23h, hora local, acabou o capítulo final da telenovela a que ela assistia. Já posso assistir ao filme mais recente do Danny Boyle...

Wesley PC>

“A MORTE É VERMELHA E DEPOIS AZUL”... (APRENDENDO COM QUEM JÁ APRENDEU COM HONORÉ DE BALZAC)

“A infelicidade é uma espécie de talismã cuja virtude consiste em corroborar nossa constituição primitiva: ela aumenta a desconfiança e a maldade em certos homens, assim como faz crescer a bondade dos que têm um coração excelente” (página 67 da edição de bolso de “O Coronel Chabert”, lançada pela L&PM).

Acabo de acordar de um sono vespertino de 4 horas, única medida não-farmacêutica de que eu dispunha para aplainar a dor violentamente unilateral que me assolava desde que terminei de ler “O Coronel Chabert”, escrito por Honoré de Balzac em 1832. É um romance demasiado curto, no qual um velho soldado aparece numa cidadela francesa reivindicando ser um soldado dado como morto há quase 20 anos. Sua mulher casou-se novamente, todos o destratam atualmente por causa de sua penúria e feiúra (decorrentes dos severos ferimentos de guerra que sofrera) e um advogado aceita a sua causa honorífica: ele não quer fortunas, mas apenas o direito de ser novamente quem é.

Sendo parte do grande compêndio de personagens que foi reunido pelo próprio autor sob o título de “A Comédia Humana”, “O Coronel Chabert” é um de seus romances menos conhecidos, mas isto não implica que é genialmente triste e realista: é genialmente triste e realista! Tanto que, mesmo sendo um romance muito curto, precisei de longas pausas entre um infortúnio personalístico e outro, enquanto rememorava as mais do que convenientes feições de Gerard Depardieu no papel-título de “Coronel Chabert – Amor e Mentiras” (1994), portentosa versão fílmica do livro, realizada pelo conceituado diretor de fotografia francês Yves Ângelo, vista por mim faz tempo. Lembro que não entendi as miudezas sociais do filme à época, mas, no plano romântico-dramático, como me inquietou aquela estranhíssima e pertinente definição do que seria a morte...

Segundo li numa biografia rápida do escritor Honoré de Balzac (1799-1850), seus personagens trágicos não raro “se constroem e se destroem na insana busca por ‘ouro e prazer’”. É mais ou menos o que ocorre com os personagens que circunvizinham o personagem-título desta pequena obra-prima literária, ao qual o autor reserva um destino mais digno, prenunciado por um apotegma que, com certeza, seguir-me-á até o fim dos dias: Mas o que podem os infelizes? Eles amam, nada mais”. Anotarei isto na agenda como sendo mais uma preciosa lição aprendida. E minha mãe preparou sopa!

Wesley PC>

A DOR É MAIS FORTE QUE MEUS PRINCÍPIOS?

Não vou responder agora, mas admito que preciso ir a um médico. A dor de cabeça/sobrancelha que me persegue desde sexta-feira passada, meu aniversário, evoluiu e fez com que eu me detectasse como sofredor de enxaqueca. Faltei ao trabalho três vezes esta semana e ganhei o dia de folga hoje, visto que não suporto as dores intensas numa mesma região (a parte direita de minha cabeça), acompanhadas de visão borrada, de uma pulsação intensa no foco da dor (parecia até que eu estava prestes a parir um verme com abstinência de sexo anal, de tanto que a minha cabeça latejava!) e de náuseas extremas quando me aproximo de suco de jenipapo, o sintoma que faltava. Pelo jeito, tenho mesmo que me afastar da cafeína e das madrugadas desreguladas em claro, ao passo em que me preocupo sobremaneira quando leio que analgésicos convencionais podem tornar as dores mais crônicas. Logo eu que me recuso a tomar comprimidos, fui obrigado a ingerir mais de quinze drágeas nesta semana: cefalexina, dipirona sódica, paracetamol, “até Vitamina C se for legal, eu tomo” (risos): tornei-me um Mark Renton [protagonista de “Trainspotting – Sem Limites” (1996, de Danny Boyle)] às avessas e, para piorar, li nalguns lugares que esta tal de enxaqueca é comumente responsável pela ausência em eventos sociais importantes, o que me preocupa sobremaneira no ano em que prometi para mim mesmo que iria a qualquer lugar que me convidassem, desde que fossem meus amigos que estivessem me convidando... Segundo alguns pesquisadores pioneiros do Brasil, aliás, a depressão alastrante é uma das principais causas da enxaqueca, conforme demonstra a imagem acostada a esta postagem. E agora, será que a dor é mais forte do que os meus princípios?

Wesley PC>

“MEU FETICHE É REAL. O DE VOCÊS É UM FETICHE TÉCNICO!”

Depois de perder todo o dinheiro e toda a autoridade espúria atrelada à burguesia ascendente de um país independente mas não libertado do jugo colonialista, é de bom tom aceitar ser cuspido por todos os aleijados da vila a fim de não ser perpetuamente maculado por uma impotência sexual de caráter malévolo? Apesar de chamar a atenção por seu absurdo, esta cena, esta imagem, este desfecho, esta dilema é um mote diluído na genialidade reinante de “Xala” (1974), obra-prima do senegalês Ousmane Sembene a que tive o orgulho de ver na noite de ontem. Repito, sem pestanejar: OBRA-PRIMA!

Por si só, o roteiro inusitado permite que antevejamos o quão sublime e politizada é esta peça superior do cinema africano, no qual um quinquagenário briga com sua filha mais velha, que se proíbe de falar em francês por razões de protesto nacionalista, quando lhe diz que vai se casar pela terceira vez, com uma rapariga bastante jovem. A filha reclama, em dialeto ‘wolof’, que ele já tem suficientes dívidas e problemas com suas duas esposas e que ele não precisa de uma terceira, ao que seu pai a estapeia, esbravejando hipocritamente que “a poligamia é um patrimônio cultural e religioso dos senegaleses nativos e, como tal, deve continuar ser posta em prática”, visto que estes patrimônios foram as armas de que os tais senegaleses dispuseram para enfrentar os colonos franceses. Numa cena posterior, quando está sendo julgado pelos seus colegas bancários, o burguês polígamo é repreendido pelo Presidente da Câmara quando tenta se expressar em ‘wolof’: “até mesmos as ofensas devem ser proferidas na mais legítima tradição francófona”. E a cada segundo de filme eu ficava mais embasbacado!

Definitivamente, não há uma via dominante para se proclamar a genialidade deste filme: “Xala” é genial enquanto cinema, enquanto arte mais geral, enquanto manifesto político, enquanto clamor protecionista de cunho nacional, enquanto comédia de costumes, enquanto drama social, enquanto brilhante testemunho da inteligência de um homem, visto que o romance no qual o filme se baseou foi escrito pelo próprio Ousmane Sembene. Há uma cena em particular que me deixou em estado de choque: quando se preparava para chegar à cerimônia de seu terceiro casamento, depois de confrontar suas duas esposas enciumadas, o protagonista tira moedas contra alguns pedintes que mendigavam em frente ao rico local do evento. Quando uma criança tenta alcançar uma moeda, esta é pisoteada pelo coturno de um soldado militar, pertencente à comitiva do noivo, que, também esfomeado, se abaixa para guardar a moeda em sua algibeira. Uma cena de poucos segundos num filme com 123 minutos de duração, mas... Como grita!

À medida que o enredo avança, somos levados a compreender que a disfunção erétil do protagonista diante do belo corpo nu de sua terceira esposa virginal é uma metáfora do entreguismo doentio que solapava a nação natalícia do cineasta, de maneira que quedo-me ainda espantado ao imaginar como as autoridades locais permitiram que este filme violentamente contestador fosse lançado. Simplesmente genial!

Wesley PC>

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

THE LOSS OF THE SEX, PERHAPS?

Num momento X, a esposa reclama que é injusto que seu marido reclame que ela esteja saindo com o menino que atropelou o seu filho quando ela própria nunca reclamou que ele está chegando com cheiro de maconha em casa todas as noites. E eles não fazem sexo há oito meses. Não que ele não tente, mas ela que não quer. Diz que não se sente pronta ainda. Ele gasta boa parte do dia revendo os últimos momentos filmados de seu filho quando vivo. Ela livra-se até mesmo do cachorro da família, para não se prender a lembranças. Tem como tudo se resolver num churrasco?

De coração, "Reencontrando a Felicidade" [péssimo título nacional para “Rabbit Hole” (2010)], o mais recente filme do outrora genial e mui sexualizado John Cameron Mitchell me surpreendeu mui negativamente. Não somente por ser um filme ruim e conservador – é reservado a qualquer pessoa o direito de ser responsável por estes adjetivos ao menos uma vez em vida pública – mas porque praticamente nega o ‘corpus’ bem definido que se constituía através do quase impecável “Hedwig – Rock, Amor e Traição” (2001) e do modorrento “Shortbus” (2006). O que terá acontecido com este diretor para se submeter a um exercício tão grave de mediocridade e tristeza artificial?! Senti vergonha pelos atores enquanto via o filme, posto que eles não pareciam querem nos emocionar, mas sim impressionar platéias de “especialistas” prontos para selecionar o filme para a temporada de premiações que se anuncia a partir do próximo domingo, dia 16 de janeiro, quando serão anunciados os vencedores do Globo de Ouro 2011, evento para o qual “Reencontrando a Felicidade” concorre em algumas categorias actanciais. Ledo engodo!

Pelo sim, pelo não, confiante que eu estava na sobrevivência do talento do diretor, cria que, a qualquer momento, uma cena realmente forte fosse espatifar o clima de vacuidade emotiva que se instaurava no roteiro malfadado de David Lindsay-Abaire (baseado em peça teatral de sua autoria), mas os 91 minutos de projeção do filme chegaram ao fim e o momento não veio. Admito que o elenco é muito bom (mas cerceado por esquematismos) e que o jovem Miles Teller, visto em foto, é uma grata surpresa, mas ínfima, muito ínfima, para me fazer entender o que se passou na cabeça de John Cameron Mitchell com este filme... Coitado da bicha genial e militante de antigamente!

Wesley PC>

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“É A ILUSÃO DE QUE VOLTE O QUE ME FAÇA FELIZ, FAÇA VIVER”...

Na noite de domingo, meio que por acidente, assisti a um famoso concerto acústico da artista de origem mexicana Julieta Venegas no canal fechado VH1. Já havia comentado aqui, com entusiasmo, a beleza ‘pop’ da versão em disco do referido concerto, mas a versão televisiva mostra a artista como sendo um tanto apática no palco, mas, ainda assim, consegue nos emocionar por causa do fervor saudoso de suas canções: as concessões namoratórias em “Limón y Sal”, a despedida forçosa em “Me Voy” os clamores virginais em “lento” (que não consta de algumas versões lançadas em CD) e, principalmente, a encantatória colaboração com Marisa Monte em “Ilusiòn”, música cujo trecho de letra não somente dá título a esta postagem como também explica um pouco a exigüidade e opacidade dos textos publicados no ‘blog’ nesta semana: não somente me encontro em processo de “desmusificação” como ontem eu quase desmaio no trabalho. Uma forte enxaqueca me assolou enquanto eu atendia uma pessoa, a ponto de me forçar a deitar novamente no chão sujo, de maneira que o chefe de um setor vizinho foi obrigado a me levar em casa. Digo isso sem pestanejar: uma das dores não-associadas a feridas mais dolorosas e violentas de toda a minha vida. Até planejo a possibilidade de visitar um médico, tamanha a impotência de minha de minhas reações diante da intensidade dos ataques dolorosos. E a saudade. E um leve desamparo. Por isso, a exigüidade... Mas tenciono melhorar. E em breve volto: “por ella, no supe que hacer”!

Wesley PC>

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

APRENDENDO COM HONORÉ DE BALZAC...

Na manhã de ontem, enquanto explicava a uma formanda de Medicina que seu Diploma ainda não estava pronto, tive um ataque violento de enxaqueca. Precisei sair do trabalho e me deitar no chão, gemendo de dor. Uma colega de trabalho me viu e sentou ao meu lado, dizendo que sua irmã também sofre de enxaqueca e que eu devia inspirar e expirar seguindo orientações que ela pacientemente me transmitia. Eu agradecia pela ajuda, mas não conseguia me concentrar: a dor era muito forte! Ingeri outro comprimido, enquanto a moça dizia que eu não sabia pelo que ela estava passando e que minha dor é demasiado perecível perto do que ela estava a enfrentar. Dores físicas são mais fortes que as dores da alma? Lendo “O Coronel Chabert” (1832), de Honoré de Balzac, antes de dormir, encontrei a seguinte passagem, entre as páginas 35-36: “Não haveria fim, senhor, se eu tivesse de lhe contar todas as desgraças de minha vida de mendigo. Mas os sofrimentos morais, junto aos quais empalidecem as dores físicas, provocam menos compaixão porque ninguém os vê”. Calei a boca. Não acho que estejam a ver minha dor física neste momento, mas, definitivamente, sujeição à competitividade dorida é o que menos preciso agora!

Wesley PC>

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

NOSTALGIA COM K OU DE COMO UM FILME RUIM VISTO DIVERSAS VEZES NA INFÂNCIA PARECE BONZINHO SOB A NÉVOA DA MEMÓRIA...

Na noite de sábado, eu e alguns amigos fizemos um trenzinho humano para dançar o clássico de nossa infância “Lambada (Chorando se Foi)”, da banda franco-brasileira Kaoma, que fez parte da trilha sonora do filme “Lambada! A Dança Proibida” (1990, de Greydon Clark), um daqueles filmes ruins que eram exibidos mensalmente no “Cinema em Casa”, do SBT, e, por mais que não gostássemos, volta e meia revíamos. Não preciso lembrar a ninguém o quão ruim é o filme, tanto no que tange à sua tosca produção propriamente dita quanto em nível ideológico, visto que os brasileiros do filme falam espanhol, transformam-se em cobras e dançam lambada como se isto fosse um ritual vodu. Por outro lado, como aquela trilha sonora mexia (e ainda mexe) comigo...

“Chorando se foi quem um dia só me fez chorar
Chorando se foi quem um dia só me fez chorar

Chorando estará, ao lembrar de um amor
Que um dia não soube cuidar
Chorando estará, ao lembrar de um amor
Que um dia não soube cuidar...

A recordação vai estar com ele aonde for
A recordação vai estar pra sempre aonde eu for

Dança, sol e mar, guardarei no olhar
O amor faz perder encontrar
Lambando estarei ao lembrar que este amor
Por um dia, um instante, foi rei


Emocionado que fiquei com esta rememoração dançante, baixei o disco de estréia do Kaoma, “Worldbeat” (1989), na noite de ontem. Apesar de ter gostado do embalo que atravessa as dez canções do álbum, a auto-referencialidade rítmica das canções me enervou: além da faixa já comentada, encontramos aqui “Lambareggae”, “Dançando Lambada”, “Lambamour”, “Lamba Caribe” e várias outras canções cujos refrões frisam o ritmo que a banda consagrou na Europa. Não sei se disponho de autoridade crítica para julgar a qualidade musical do disco, mas que eu rebolei bonito enquanto tomava banho ao som destas canções, ah, meu bem, disto pode ter certeza!

Wesley PC>

ADICIONA AÍ MAIS UMA DECEPÇÃO CONTRACULTURAL!

Desde que eu me entendo como um ser humano com desejos fílmicos que eu ansiava por ver “O Gato Fritz” (1972, de Ralph Bakshi). Sendo fã de antemão do desenhista Robert Crumb, mesmo que ainda não tivesse a oportunidade de ver nenhuma de suas produções ‘underground’, fiquei de sobreaviso quando uma dada publicação antecipou que o filme trai as concepções psicológicas dos personagens. Acabo de ver o filme e, que decepção! Os personagens são rasos, as situações mal-costuradas e o que chamam de “contracultura” no filme não passa de um apanhado de orgias eróticas com predomínio machista e apologias equivocadas a dadas substâncias psicotrópicas. Detestei o filme não somente pelo que ele é, mas pelo que ele representa enquanto equivoco juvenil setentista!

Na noite de sábado, eu e alguns amigos passamos a madrugada na Orla da praia de Atalaia. Pudemos observar o comportamento etílico de alguns adolescentes que estavam ao nosso lado, enquanto tive o particular desprezar de ouvir algumas pessoas que estavam ao meu lado gracejarem diante da suposta necessidade de ‘crack’. Uma garota vestida e pintada como Cherie Currie (vocalista da banda ‘punk’ feminista The Runaways, famosa pela canção auto-elogiosa “Cherry Bomb”) gritava histrionicamente do outro lado, fazendo com que quase todos do lugar percebessem o quanto ela era fútil e insuportável. Uma rapariga andava de patins, um tanto alheia aos outros adolescentes, até que leva uma queda e é zombada por pessoas que me cercavam. E garrafas e mais garrafas de vodka foram quebradas no chão daquela pista...

Numa das primeiras cenas do filme, o tal do gato protagonista leva algumas meninas política e filosoficamente impressionáveis para um lugar onde sobejavam drogas e fode-as numa banheira, até que é interrompido por outros animais, que também querem foder. Ele, então, se entope de maconha e se esconde numa privada quando dois policiais suínos invadem o lugar para prender os maloqueiros. Poderia ser engraçado, se tudo não fosse tão carregado de negatividade fálica e de preconceitos generalistas embutidos contra religião, “caretice” e outros posicionamentos morais que vão de encontro à constante baderna intentada pelos personagens... Definitivamente, isto não é para mim! E quando os personagens se metem a defender a Revolução Socialista, o enredo desanda por completo. Ainda me considero fã do Robert Crumb, mas acho que o diretor Ralph Bakshi traiu sobremaneira o espírito de suas criações neste filme. Humpf!

Wesley PC>

domingo, 9 de janeiro de 2011

A TAL DA DOR FORTE EM MINHA CABEÇA...

“At times I'm truly terrified
'Cause dope and booze
don't help to hide
They're used to mask
A weakling's hurt
It's just like painting over dirt
Everyone I love is dead”


O que começou como uma dor de sobrancelha na sexta-feira hoje se manifesta como uma enxaqueca violenta, que pode ou não ser causada por minha sinusite crônica. Segundo minha mãe, fui imprudente ao ter saído de casa ontem, ter aspirado o ar praiano enquanto sentia dor, mas, por dentro, como isto me fez bem...!

Por fora, entretanto, o efeito foi inverso: temia vomitar nos ônibus de volta para casa, ao passo em que não conseguia esconder a dor, a vontade intensa de chorar. Era uma dor física, mas como doía! Uma das mais violentas que me lembro de ter sentido. Um dor que me impediu de dormir por mais de 5 horas. Cheguei em casa e fiquei gemendo em cima da cama, enquanto minha mãe tentava me empanturrar com remédios, chás, comidas, ungüentos, carinho, tudo o que estivesse a seu alcance.

Quando despertei, por volta das 16h, a dor havia diminuído um pouco. Ainda sinto, mas consigo respirar, consigo mover os olhos, consigo ler. Minha mãe disse que um dos possíveis motivos para o incremento desta dor é o tipo de escolha cultural que eu realizo: filmes, músicas e livros centrados no sofrimento. Por conta dela, almocei em pleno silencio hoje, com rádio e TV desligados. Mas, tenho que confessar: enquanto vinha para casa, na manhã de hoje, e sofria com a fortíssima dor de cabeça que me afligia, ousei ouvir novamente a canção mórbida que descobri ontem: “Everyone I Love is Dead”, da banda Type O-Negative, pertencente ao disco “World Coming Down”, de 1999. Conheço pouquíssimo sobre esta banda, mas a lugubridade das letras e a voz gutural de Peter Steele, morto ano passado em decorrência de uma falência cardíaca. Ele sofre, não é possível: não tem como fingir tanto sofrimento numa canção sem sentir dor. E, por causa deste tipo de impressão, minha mãe pediu que, caso eu consiga me levantar para ir ao trabalho amanhã, que eu não ponha os fones de ouvido em minha orelha. “Vá em silêncio, Wesley!”, recomendou-me ela. Se eu conseguir acordar sem sentir a dor atroz que me perseguiu hoje, juro que a obedecerei, ao menos no percurso de ida.

Wesley PC>