sábado, 6 de março de 2010

“NINE” (2009, DE ROB MARSHALL): UM FILME PRÓ-VASECTOMIA À BASE DE ARSÊNICO!

Ainda agora estou a perguntar: “o que estão a fazer com nossas memórias?!”. Eu e quatro amigos tivemos a gloriosa honra de ver “Oito e Meio” (1963, de Federico Fellini) na noite de ontem. Conversávamos antes sobre as polêmicas burras envolvendo as quotas para escolas públicas na UFS, os atendimentos problemáticos com que temos que lidar em nossos empregos (ontem mesmo, um homem iracundo chamou-me de “viadinho, presepeiro e filha-da-puta” porque eu não quis atendê-lo 15 minutos após o fechamento do expediente externo) e outros temas envolvendo nossa necessidade eventual de incursão entre aquilo que conhecemos como “massa”. Foi uma previsão: o filme de Rob Marshall que vimos em seguida, justamente uma “homenagem” ao filme de Federico Fellini, é justamente uma bomba contra a massa, uma arma de destruição intelectual conjunta, um nojo!

Todas as sutilezas e elementos propositalmente confusos da obra-prima original, um dos 5 melhores filmes que já vi em vida, são convertidos numa execrável ode ao VAZIO, à previsibilidade insípida, ao NADA anti-religioso, à vulgaridade, ao que de pior existe em Hollywood: para quê situar aquele filme na Itália e pôr um excelente elenco internacional desperdiçando-se em papéis pessimamente reconstruídos com um horroroso sotaque em inglês? Para quê repetir as cenas clássicas do filme felliniano de maneira pasteurizada, simplificada e moralmente reduzida? Para quê aqueles horríveis números musicais em cenários pobres com coreografias chinfrins? Na cena que mais me incomodou em particular, a figurinista mal vivificada pela grandiosa Judi Dench diz que “o cinema está em crise porque existem muitos diretores existencialistas” e, como francesa nata que é, prefere estimular o entretenimento. Noutra seqüência abominável, Kate Hudson canta atrocidades invertidas contra o cinema italiano, repetindo o nome Guido trocentas vezes e cometendo vários erros interpretativos sobre o neo-realismo e os personagens de mafiosos, para ficar em exemplos rasos. Por mais que eu descreva o quanto o filme é abominável, ele consegue ser bem pior do que eu esperava. É simplesmente horrível, a prova viva de que a expressão “o pior filme de minha vida” é inócua hoje em dia!

Por incrível que pareça, a única cena que presta no filme é a tentativa do diretor em estragar a poesia erótica da participação da prostituta praiana Saraghina, vivida com desenvoltura tragicômica por Eddra Gale e exacerbação pornográfica pela cantora Fergie, que se sai bem ao interpretar a má letra da canção “Be Italian”. Não fui o único que gostou desta cena e música, aliás. Outro amigo eufórico ficou até a madrugada cantarolando o refrão da mesma, enquanto outros amigos insistiam para que ele calasse a boca, a fim de que esquecêssemos a desgraça que vimos. Horrível, simplesmente horrível! O pior uso do preto-e-branco já adotado em toda a História do Cinema, se me permitem o exagero!

Wesley PC>

“CIRANDA DA BAILARINA”

“Procurando bem, todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não temE não tem coceira
Verruga nem frieira, nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem, todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida, nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem”

Tive acesso à “Ciranda da Bailarina”, faixa 08 do álbum “O Grande Circo Místico” (1983), de Chico Buarque & Edu Lobo, quando meu chefe executou esta mesma faixa N vezes seguidas, em virtude de ficar encantado não somente por ser um coral infantil a interpretá-la, mas também – e principalmente – por ela ter sido um marco tardio da censura, no sentido de que a palavra “pentelho” foi retirada de uma posição rimada essencial de uma estrofe, enquanto referências eclesiásticas chistosas foram permitidas. Como faz questão de repetir meu chefe: “a censura era burra mesmo, felizmente”! Opiniões à parte, achei o restante do álbum, interpretado por gente como Tim Maia, Jane Duboc, Gal Costa, Simone e Milton Nascimento, um tanto enfadonho, mas a canção que intitula esta postagem é uma verdadeira obra-prima. Estou apaixonado e também a executei várias vezes seguidas:

“Confessando bem, todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado,
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha, bigode de groselha
Calcinha um pouco velha,
Ela não tem

O padre também pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília, goteira na vasilha
Problema na família, quem não tem?”

Eu tenho!

Wesley PC>

sexta-feira, 5 de março de 2010

“COMIDA, S.A.” (2008, DE ROBERT KENNER) E AS COISAS QUE SÓ ACONTECEM NA RUA EM QUE MORO!

E agora: falo primeiro sobre o ótimo filme que vi hoje ou sobre o acontecimento inusitado que meus vizinhos testemunharam ontem? Talvez o ideal seja falar sobre o tema geral, comum a ambos: a fome e a necessidade de comer.

“Comida, S.A.” é o nome de um documentário polêmico sobre diversas pendengas injustas envolvendo pequenos agricultores que insistem em lutar contra grandes indústrias alimentícias. É também um filme sobre os inúmeros problemas sociais e de saúde envolvendo a proliferação do ‘fast food’ ao redor do mundo. É também um filme que denuncia os maus tratos inglórios contra animais e meio ambiente perpetrados por grandes empresários. É também um filme sobre o quanto podemos ser escravos, no sentido mais íntimo do termo, das deliberações judiciais alheias. Em suma, é um filme sobre o quanto pequenas ações podem determinar grandes mudanças. Recomendo, de com força, nem que seja pelo chamariz de seqüências como aquela em que a apresentadora de TV Oprah Winfrey é processada por dizer em seu programa que jamais comeria um hambúrguer em vida novamente (o que desencadeou uma baixa nas vendas, segundo seus acusadores), quando animais são mostrados em condições precárias de vida e morte (como sempre, a separação de aves para corte é algo monstruoso) e pelas informações estatísticas mui pertinentes sobre o percentual de alimentos geneticamente modificados. Se ele for premiado com o Oscar 2010 de Melhor Documentário, talvez estréie em cinema no Brasil e fará o sucesso denuncista merecido.

O que aconteceu em minha rua ontem: três mendicantes pediam esmolas de casa em casa. Um vendedor de vassouras descia a rua e gritou para todos que elas eram vagabundas. As mesmas redargüiram que era melhor pedir do que roubar. Ele disse que a opção mais digna seria trabalhar. Mulheres e homem envolveram-se numa grande briga. Elas rumaram pedras nele. Ele quebrou duas vassouras nelas. Elas tentaram roubar os produtos que ele vendia. Ele tentou usurpar as sacolas que elas carregavam. Os vizinhos observavam petrificados a situação, sem se envolverem, dado que era claro que os envolvido na pendenga se conheciam. Até que uma das mendicantes puxa um telefone celular da saia e liga para a polícia. “Comida é pasto”, diz uma famosa canção composta pela banda Titãs.

Wesley PC>

quinta-feira, 4 de março de 2010

OSCAR 2010 – INDICADOS À MELHOR ANIMAÇÃO

Dentre todas as categorias indicadas as prêmio maior da indústria cinematográfica norte-americana, o quesito Melhor Filme de Animação é aquele que costuma ser o mais previsível acerca dos resultados, no sentido de que sempre há um filme muito destacado qualitativa e informativamente em relação aos demais. Este ano, o favorito absoluto é “Up – Altas Aventuras” (2009, de Pete Docter & Bob Peterson), também indicado aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Roteiro Original. Já comentei este ótimo filme em duas oportunidades aqui no ‘blog’. Portanto, cabe dedicar algumas linhas aos demais indicados, inferiores, porém simpáticos:
A PRINCESA E O SAPO (2009, de Ron Clements & John Musker):

Um daqueles futuros clássicos bidimensionais, esta simpática história de amor repisa alguns clichês do gênero justamente tentando negá-los, sendo feliz ao transportar a trama para a mágica região de Nova Orleans, em que imperam a luta racial de classes e o folclore pós-escravista. Pena que o excesso de personagens secundários (aquela velha crítica chavonada aos simpáticos coadjuvantes das princesas da Disney) macule um pouco da sinceridade romântica do filme;

O FANTÁSTICO SR. RAPOSO (2009, de Wes Anderson):

Conforme acontece nas demais obras do diretor, é um precioso estudo de personagens amargos num contexto social marcado pelo capitalismo e pelas obrigações tipificadas na instituição de papéis familiares. Os atores/dubladores (George Clooney e Meryl Streep à frente) estão excelentes e a trilha sonora do xodó Alexandre Desplat é um deslumbre;


O SEGREDO DE KELLS (2009, de Tomm Moore & Nora Twomey):

Destacando-se pelo exotismo irlandês inerente à produção e a belíssima mistura de ícones budistas e bizantinos emulados no excelente traço dos desenhos, o roteiro é um tanto inócuo (desperdiça as entidades mágicas que vivem no interior de um bosque, por exemplo) e ideologicamente perigoso, no sentido de que não contextualiza a invasão ‘viking’ que tanto apavora os párocos protagonistas. Conclusão: é um filme abaixo do padrão regular de animação, mas diverte e encanta os olhos e ouvidos mesmo assim!


CORALINE E O MUNDO SECRETO (2009, de Henry Selick):

Relativamente afrancesado em sua concepção, o filme contém as marcas registradas do longevo colaborador de Tim Burton que atua aqui como diretor, contém uma magnânima trilha sonora ‘new age’ de Bruno Coulais (também músico do concorrente irlandês!) e o roteiro é encantador em sua primeira metade, chegando a lembrar até mesmo as lições de moral infantil femininas de 10 anos a cargo do japonês Hayao Miyazaki. Pena que, do meio para o filme, o filme submeta-se às exigências aventurescas comerciais sobre a valorização tardia dos pais atribulados com empregos, mas, ainda assim, o filme é encantador.

Conclusão geral sobre os cinco filmes: vejam-nos, sem medo de ser feliz, não importa a idade mental e/ou física que lhe atribuam.

Wesley PC>

terça-feira, 2 de março de 2010

SENHOR, MESMO QUE TU NÃO EXISTAS, EU ACREDITO MUITO EM TI!

Antes de vir para o trabalho, no começo da tarde de hoje, conversei brevemente com um recém-amigo histriônico pela Internet. Ele se mostrou interessado num garoto que conversava comigo pelo Orkut, uma das mais agradáveis combinações entre inteligência, beleza e simpatia que já estudaram aqui na UFS. Eu explicarei que o garoto não era homossexual e que (para minha felicidade, inclusive), não parecia interessado em levar a cabo qualquer prática sexual deste tipo. O histriônico insistiu em puxar conversa com ele, com a argumentação de que “o mundo pertence aos ousados”. Eu expliquei o que poderia ser explicado sobre o relacionamento para-amistoso que eu desenvolvida com nosso objeto mútuo de desejo e, quando fui corrigir uma informação tendenciosa, percebi que meus recados dialogísticos foram apagados. Motivo: “quem come quieto, come dez vezes mais”. Eu aceitei a argumentação dele, mesmo agindo de forma contrário, publicizando, sempre que tenho oportunidade, os meus sentimentos e desejos. Contra-argumentação: “se eu tenho que comer algo escondido, talvez eu não deva comer este algo”.

Ao entrar na Universidade, depois de chegar a esta conclusão consoladora, inclinei a minha cabeça para trás, suspirei, respirei uma grande arfada de oxigênio, ouvi vários pássaros cantarem e encantei-me com o vento que balançava algumas folhas arbóreas. Cri em Deus neste momento, mesmo que ele não existisse. Fiquei com vontade de baixar “A Enseada” (2009), premiado e apaixonado documentário de Louie Psihoyos contra a pesca irrefreável de golfinhos. Estou na espera, portanto! Enquanto isso, amo os animais, vegetais, minerais, Deus, aquele menino que apertou minha mão na praia, meus interlocutores virtuais e reais e tu, que está agora lendo estas linhas. Amo!

Wesley PC>

domingo, 28 de fevereiro de 2010

‘QUANDO UM GRANDE AMOR SE VAI”...

Não é segredo para ninguém que eu goste de luaus. Sinto muito prazer em gastar uma madrugada ao lado de amigos ou desconhecidos, frente ao mar, cantando e dançando e, mesmo sem nutrir muitas expectativas em relação a isto, interagindo sexualmente. Na madrugada de ontem para hoje, portanto, lá estava eu pulando e dançando na areia da praia, aguardando o sol nascer para pegar ônibus e literalmente encantado com a beleza de um garoto presente. Conheci pessoalmente algumas pessoas com quem já conversava ciberneticamente, pus os assuntos em dias com pessoas que eu não via faz tempo e percebi que, definitivamente, gueto ‘gay’ é algo que me irrita, que não faz parte de minhas reivindicações militantes. Fico tão enfadado sempre que me percebo entre pessoas extremamente afetadas (à vezes, forçosamente), que repetem os mesmos trejeitos, canções e frases midiáticas o tempo inteiro... Quando eu conheço intimamente as pessoas, isto me é deveras divertido, mas quando não disponho de tempo para dirimir as aparências e estereótipos, sinto-me como se pertencesse a outra geração, como se tivesse sido ultrapassado pelo tempo...

Dentro do pensamento religioso que insistentemente defendo, o acaso é apenas uma ferramenta crítica não percebida como tal aprioristicamente e, como tal, ter visto “Chéri” (2009), mais recente filme do Stephen Frears, antes de participar deste luau tão necessário em minha vida recente, foi um golpe providencial: impressionante como a sensação de que “a Belle Époque acabou!”, tão bem evidenciada pelo filme, combinasse comigo naquele momento. No filme, o amor não levado a cabo entre uma prostituta de mais idade e um mimado filho de cortesã punha em xeque o quanto as convenções sociais dilaceram a veracidade dos sentimentos que se destacam sobre a hipocrisia nostálgica de quem fez tantas concessões tipificadas que se esqueceu de alimentar os próprios anseios humanos. Na vida real, as pessoas perguntavam por situações corporalmente protestantes que não são mais postas em prática do jeito que estou estava habituado. “A Belle Époque acabou!”: pensava eu com os outros dois amigos que me acompanharam à sessão do filme, sem que, independente disso, todos nós nos divertíssemos com os momentos que se deslindavam frente a nós. Um deles, beijava os amigos na boca e perderia o celular quando mergulhasse de roupa e mochila na água do mar; outro deles, também beijaria os amigos e seria acordado por uma onda quando conseguisse finalmente adormecer na areia; e eu lamentaria por não ter conseguido ser fotografado abraçando o garoto que teve (ou melhor, que me deu) o privilégio de ter sua bela e cheirosa mão apertada por mim. Quem me conhece, sabe o quanto isto é relevante!

De resto, luau é sempre algo muito bom. Ter amigos ao nosso lado em madrugadas enluaradas é uma dádiva de Deus e perceber que “nosso tempo está passando” ao menos é um sinal de que ainda temos consciência. Que seja tão confortador enquanto dure, conforme me foi particularmente ontem à noite...

Wesley PC>