sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O “CHOQUE LATERAL DE REABASTECIMENTO INFORMATIVO” COMO SENDO UM PROPULSOR DO TÉDIO...


Hoje à tarde, em sala de aula, assisti a um documentário de 59 minutos chamado “Nós Agora” (2009, de Ivo Gormley), mais um daqueles filmes que reiteram os elogios à pletora informativa e à revolução midiática proporcionado pelo novo ambiente comunicacional atrelado a condições dialógicas de emissão e recepção horizontalizadas. Intuía que não fosse gostar do filme enquanto produto cinematográfico, mas que ele me fosse benéfico no plano informativo. Nem isso: achei o filme redundante, moroso, quase pleonástico em relação ao que a professora falava em sala de aula, o que terminou sendo um involuntário propósito elogioso do filme, posto que o “localismo” ativista, relacionado a um panorama somatório global, era justamente o tema da aula e do documentário em si. Coesão temática, portanto, é algo de que não posso reclamar. Mas, puxa, este sobejo discursivo pró-digitalização do conhecimento enquanto processo (em detrimento de seus efeitos colaterais sub-conteudísticos) me entedia... Acho que sou um anacrônico. Ponto. E não era sobre isso que eu queria falar, mas, de vez em quando, também tenho o direito e/ou o dever de ficar em silêncio... E de tomar chuva!

Wesley PC>

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SE AINDA ME RESTAR ALGUM TRAÇO BREVE DE INOCÊNCIA... – EXEMPLO II: DÉCADA DE 2000

“Em que tempos nós vivemos?!”: eis uma pergunta que eu faço a mim mesmo vez por outra. Durante a quase totalidade do dia de ontem, me senti incomodado por causa de um pesadelo, em que eu perpetrava o ensaio de violência sexual contra outrem. Demorei muito para entender o quão moralmente hediondo é um estupro e, como tal, desgostei veemente de me imaginar associado a esta prática tão vil. Seguindo a recomendação de um amigo, assisti a este filme, crente de que me expurgaria diante das perversões supostamente abordadas em seu roteiro. Como eu me decepcionei... Que farsa, meu Deus, que farsa!

Oficialmente, “Subconscious Cruelty” (2000, de Karim Hussain) é um filme que visa chocar. Possui imagens e temas fortes desde o início, mas, comigo em particular, falhou vergonhosamente por ser cinematograficamente pífio, montado, dirigido e roteirizado de uma forma nulamente provocativa, em que derreter um crucifixo metálico e, em seguida, injetar o conteúdo nas veias soa como manifesto anticlerical. Só a descrição desta cena demonstra bem o quanto o filme é equivocado em seus ataques, soando para mim extremante incômodo e enfadonho (nos planos moral e fílmico) durante os seus 40 minutos de abertura, em que um rapaz idiotizado confessa-se apaixonado por sua irmã grávida e, após contemplar o seu próprio sêmen, ejaculado após renitentes masturbações, decide parodiar o processo de criação humana e assassinar o seu sobrinho no ato mesmo do nascimento. Mal o garoto atravessa a vagina de sua mãe e é atravessado por um estilete, sangrando sobre a mulher, que morre com o trauma e tem o seu corpo conservado no leito em que o protagonista do episódio dorme. O que isso quer dizer enquanto análise ou reprodução pervertida? Em minha opinião, que o diretor não deve ter chegado perto de cineastas especialistas no assunto, como Jörg Buttgereit, Ruggero Deodato ou, num plano mais intelectual e canônico, Pier Paolo Pasolini. Senti nojo deste filme – e, definitivamente, não por causa do que ele mostra ou incita, mas por causa do que ele é. Ou melhor, do que ele não conseguiu ser!

Para não dizer que eu achei o filme totalmente nulo, houve uma cena que me impactou: em dado momento, diversos homens nus enfiam seus pênis na terra, escavam o chão e se deparam com sangue que brota como água. Um deles ajoelha-se diante de uma bela rapariga nua e reproduz um ato de felação, como se ela empunhasse algum instrumento fálico sobre sua vagina. Quando a câmera mostra o objeto, tremi por alguns segundos: o homem estava chupando a lâmina de uma faca, que, obviamente, destroçava o céu de sua boca. Glupt! Esta cena, sou obrigado a admitir, possui um mínimo de relevância pervertida funcional.

Infelizmente, porém, o filme logo volta aos seus maneirismos pretensamente psicodélicos e apresenta-nos a um executivo que esfola o seu pênis de tanto se masturbar e a um personagem que é empalado analmente por alguns objetivos clericais. Se a câmera se mantivesse estática, talvez este desfile de horrores me causasse algum efeito, mas, do modo frenético como o filme foi montado, pensando que isto agilizaria o desconforto do espectador, mas, no meu caso em particular, identificado por extensão inversa, me senti cobrado (num sentido negativo do termo) e, por causa disso, entediado, envergonhado, desanimado, preocupado: tristes tempos nós vivemos!

Wesley PC>

SE AINDA ME RESTAR ALGUM TRAÇO BREVE DE INOCÊNCIA... – EXEMPLO I: DÉCADA DE 1980

Na noite de ontem, fui apresentado oficialmente ao cineasta brasileiro José Miziara, com aquele que foi seu último filme antes de sucumbir ao sexo explícito: “Pecado Horizontal” (1982). Na trama, três primos que não se viam há 15 anos reencontram-se numa festa de casamento e conversam sobre conquistas (algumas delas, frustradas) do passado. O primeiro narra o evento em que foi afligido por uma violenta crise de hemorróidas quando finalmente consegue se desnudar diante da diva Matilde Mastrangi; o segundo relembra a consecução erotógena da tara que sentia pela esposa adúltera e constantemente protegida por um enorme cachorro preto de seu tio; e o terceiro traz à tona a noite em que fizera sexo, aos 12 anos de idade, com a bela esposa loira do açougueiro da cidade, enquanto seus amiguinhos masturbavam-se numa árvore.

Cada qual a seu modo, as tramas são prenhes de uma inocência erótica perdida hoje em dia. São tramas simples, passadas em cidades pequenas e interioranas, são absolutamente críveis e passíveis de identificação com espectadores marotos (se bem que acho difícil que alguém admita que precisou pedir a uma mulher exuberante para derramar óleo de oliva quente em seu ânus), provocando muito mais o riso sincero que as ereções. Não é nada que torne o diretor José Miziara imortal, mas algo que, definitivamente, faz com que eu me interesse pelo restante de sua obra, o que já me deixa empolgado de antemão, posto que outro de seus filmes será exibido, mais tarde, no Canal Brasil. Se tudo der certo, amanhã estarei aqui, reiterando o meu elogio a este tipo de inocência sexual oitentista.

Wesley PC>

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

“TU ACHAS QUE CONSEGUIRÁS TE LIVRAR DESTE FERIMENTO?”...


Glupt, nem que eu pudesse ou quisesse!

Por essas e outras que eu não consigo entender um acaso como sendo algo menor do que uma manifestação teofânica. Tive diversas oportunidades de ver “O Sangue de um Poeta” (1930, de Jean Cocteau) ao longo de meus trinta anos de idade, mas, sabe-se por qual motivo, deixei para fazer isso justamente no despertar de um dia chuvoso, em que eu dei folga para mim mesmo no trabalho e estava um tantinho incomodado (e excitado) por causa de um sonho em que eu me sentia mais estuprador do que “ardiloso” em minha vontade de ver alguém mijando diante de mim – ou, quem sabe, se eu tivesse sorte, em minha boca...

Sim, meus queridos leitores hipotéticos, hoje pela manhã eu vi “O Sangue de um Poeta” e me emocionei e me excitei por demasiado diante daquela trama extremamente surrealista, dividida em episódios, em que, logo no começo, um elogio plangente à masturbação é realizado no episódio sobre as mãos feridas do artista... No segundo episódio, “As Paredes Têm Ouvidos”, o mesmo artista atravessa um espelho, como é habitual na obra orféica do diretor, e depara-se, entre outras coisas, com “os encontros desesperados de hermafroditas”. No terceiro episódio, “A Batalha das Bolas de Neve” (homenagem a Abel Gance?), ouvimos e entendemos o porquê daqueles tambores tonitruantes penetrarem nos sonhos do protagonista, a ponto de, no quarto episódio, “A Hóstia Profanada”, todos aqueles símbolos iluministas e revoltosos fazerem sentido em prol da arte erótica que o diretor concebe e defende...

Na cópia do filme de que dispunha, o final parecia interrompido, mas era tarde: vi-me por completo naquela sessão, naquela obra magistral de um artista (homossexual) supremo, que entendia por completo o que eu sentia naquele instante. Jean Cocteau me leu. Ponto. E continua a ler me reescrever...

Wesley PC>

terça-feira, 18 de outubro de 2011

“A FELICIDADE NÃO É ALGO DIVERTIDO”...

E, dentro deste processo vindouro de realização dos sonhos midiáticos, vi hoje “O Medo Devora a Alma” (1973), do cineasta Rainer Werner Fassbinder, que agora se tornou, finalmente, um dos meus favoritos. O filme em pauta, inclusive, talvez seja o meu favorito dele até agora. Lindo, romântico, realista e (melo)dramático do começo até o fim. Numa palavra: apaixonante!

Não obstante este ser o filme mais tramático do diretor – ou seja, aquele em que o entrecho por si mesmo é suficiente para garantir a sua genialidade estrutural – “O Medo Devora a Alma” é também uma obra em que a sua maior complexidade é justamente a simplicidade gritante de seu argumento. Nada poderia ser mais direto do que a vontade do diretor em contar a estória de uma viúva idosa que se apaixona por um marroquino tido como “não-pessoa” na sociedade alemã, mas as conseqüências imediatamente trágicas deste romance imprevisto revelam-se extraordinariamente no que tange à associação identificada com a negação do tipo de preconceito que assola homossexuais apaixonados, para ficar apenas num exemplo. Dizendo de outra forma: não bastou nem um minuto para que eu me visse completamente entregue a este filme. Já nos créditos iniciais, onde se lê o veredicto que intitula esta postagem, eu me via como personagem deste filme. E, por mais que minha alma hoje esteja menos devorada pelo medo do que antes, eu sabia sobre o que aqueles maravilhosos personagens estavam falando!

Numa das cenas mais singelas e magníficas deste filme, o imigrante marroquino diz à viúva que vai tomar um banho, enquanto ela lhe prepara um café, sua especialidade. Empolgada por servir o seu amado, ela abre a porta do banheiro em que ele se banhava, para avisar-lhe que o café estava servido. Dando de cara com a imagem nua (e humanamente deslumbrante) dele refletida no espelho, ela não consegue conter a exclamar: “tu és muito lindo, Ali!”. De chofre, minha vontade interna era exclamar o mesmo que ela. Impossível não se apaixonar por El Hedi ben Salem M'Barek Mohammed Mustapha durante ou após a sessão deste filme! E, se tudo der certo, ainda me deparo com o intérprete deste ótimo personagem marroquino noutro filme de seu amante Rainer Werner Fassbinder, que lhe dedicou o último filme, baseado em Jean Genet, depois que ele se enforcou na prisão... Só por isso, o defeituoso e esteticamente irrepreensível “Querelle” (1982) parece agora muito mais cheio de vida para mim!

Wesley PC>

A TRAIÇÃO DO LOREDANO NÃO ME SAI DA CABEÇA...

Não vou ser hipócrita: quando soube que “O Guarani” (1979, de Fauzi Mansur) seria exibido no Canal Brasil, a primeira coisa em que pensei, no caso de ter tempo para ver o filme, foi: “ôba, verei David Cardoso nu mais uma vez!”. Por mais inadequado que ele estivesse em relação ao papel do índio Peri, o seu apelo sexual essencialmente brasileiro compensava eventuais desvios do roteiro, que, segundo um livro de consulta básico, era condenado como sendo “voltado prioritariamente para o erotismo e sem poesia”. Tinha quase desistido de ver o filme – não por esta indicação negativa, mas pelo horário tardio da sessão – mas cria que a argumentação condenatória do tal crítico era verdadeira. Um acaso insone, entretanto, me fez tirar a prova: o filme pode até não ser bom – e pior: não possuir cenas de nudez do canastrão tesudo David Cardoso – mas tem poesia sim!

Apesar de eu não ter lido ainda a obra original do José de Alencar na qual o filme se baseia, fiquei contente com a estrutura enredística aparentemente fiel à trama, repleto de intrigas paralelas e clímaxes aventurescos. O ritmo é irregular, a direção não possui firmeza, a montagem é ruim, a protagonista feminina Dorothée Marie Bouvyer é absurdamente desenxabida, o restante do elenco é esforçado e a trilha sonora composta pelos temas de Carlos Gomes é boníssima. Conclusão: no geral, o cômputo técnico do filme lhe é qualitativamente desfavorável, mas, no plano receptivo pós-literário, ele tem lá suas virtudes... Enfada, não excita, e demora demais, mas, em minha opinião insistente, tem poesia sim: a seqüência final, à contraluz, em que Ceci e Peri recebem a missão natural de colonizar novamente a Terra após um dilúvio fala por mim!

Para além dos problemas e virtudes supramencionados, se existe algo que me marcou deveras neste filme foi a sua divisão capitular, que, pelo que pude entender, tem a ver com a do livro, ao qual, insisto: ainda não li! Numa das cartelas que se sobrepõem às imagens, está escrito: “A Traição de Loredano”. Trata-se de um personagem ex-eclesiástico e malévolo, interpretado por Flávio Porto, que desencadeia a matança generalizada de homens brancos e nativos indígenas que se instaura no último quartel do filme E, por motivos que vão além do filme em si, isso me marcou, ficou gravado em minha mente: será que eu terei coragem de rever esta obra? Sabendo de antemão que David Cardoso quase não aparece, vestido ou não, mesmo sendo o protagonista, com certeza, minhas expectativas e frustrações serão bastante diferentes...

Wesley PC>

domingo, 16 de outubro de 2011

FAIXA 10: “YOUR MOTHER REALLY DOESN’T APPRECIATE TOO MUCH OUR FRIENDSHIP, BUT I DON’T MIND”

Era pouco depois da meia-noite quando eu recebi a primeira mensagem: “tua amiga brigou comigo. Ligue para ela e peça para ela falar comigo”, dizia a emissora, do outro lado da linha. “Não posso fazer nada”, argumentei, “estou em casa, estudando”. Por mais que eu me esforçasse para explicar, a pessoa não entendia que eu tenho uma vida pessoal complicada, meus próprios problemas, meus romances sem solução. Supliquei para que ela me deixasse em paz, que me permitisse relaxar um pouco, esquecer dos problemas alheios, mas ela é uma pessoa patologicamente carente, não ouve, não entende... E depois, me enjoa com uma enxurrada de mensagens pedindo desculpas. Aff!

Ignorei o celular por algumas horas, olhei pelo portão, imaginando se meu parceiro sexual habitual estava num dia “disponível”, torci para isso, mas vi logo que não. Vi dois filmes, preparo-me para ver um terceiro, ouço os sinos da igreja convocando as pessoas para a missa católica. Minha mãe jaz no sofá, preocupada com meu irmão mais novo, que, bêbado, teimava em sair de casa com uma faca enterrada no cós de sua bermuda. Liguei o rádio: “música de corno” me ajudaria. Lembrei que ainda não possuía nenhum disco da banda paulistana Pholhas em minha casa. Baixei o disco de estréia deles, “Dead Faces”, de 1973. Gostei. Parece com o Aphrodite’s Child. Ouvi o disco quase inteiro duas vezes seguidas. Estava precisando...

Wesley PC>

“PENSANDO BEM, HÁ UMA VANTAGEM EM NÃO ESTAR MAIS VIVO: POIS, QUEM ESTÁ VIVO, SOFRE”...


Quando minha mãe me convidou para assistir ao filme “O Fantasma Apaixonado” (1947, de Joseph L. Mankiewicz) nesta tarde de domingo, pensei se tratar de uma comédia infantilizada, típica de Hollywood na década de 1940. Não demorou muito para que eu me visse diante de um surpreendente romance adulto, em que os elementos fantásticos estavam belamente associados a um roteiro em que, como é típico do diretor, as benesses da contemporaneidade e a decorrente melancolia das mesmas se associavam. Juro: faltou pouco para que eu lacrimejasse na cena final, tão esperançosa quanto (im)previsível, transcendendo as minhas expectativas diante da improvável conjunção amorosa entre o personagem de Rex Harrison e da deslumbrante Gene Tierney. Sinceramente, fui arrebatado: beleza de filme como, infelizmente, não se sabe mais realizar hoje em dia...

Wesley PC>