sábado, 26 de janeiro de 2013

SE, POR UM LADO, EU NÃO LEMBRO O QUE SONHEI HOJE, MINHA MÃE NÃO LEMBRA SE JÁ INGERIU O NÃO O SEU COMPRIMIDO DIÁRIO PARA MANUTENÇÃO DA BOA MEMÓRIA...



Não lembro efetivamente o que sonhei hoje, mas lembro que, em dado momento do sonho, sonhei que havia feito sexo com a irmã de uma amiga de trabalho, formada em Serviço Social. Ontem, sonhei que um ex-colega do mesmo trabalho, ex-estudante de Engenharia Agronômica e atualmente graduando em Filosofia, estudava comigo no Mestrado em Comunicação Social, sendo a nossa chefa justamente a professora principal. Num determinado instante, a aula que estávamos tendo foi interrompida, pois precisávamos votar numa eleição emergencial para presidente do Brasil. Dilma Rousseff concorria sozinha à reeleição, mas meu colega de classe insistiu em votar em Paulo Maluf. Fiquei envergonhado por ele e, quando fui conversar sobre sua opção política retrógrada, percebi que sua glande e seu testículo direito estavam sendo visto através de uma brecha de seu calção curto. Apesar de ele ter a pele negra, sua genitália era excessivamente rosava, o que também me constrangeu. Cobri sua zona erógena com uma toalha de praia (onde se via a gravura de um cão pastor-alemão) e alguns bagos de jaca. Ele sorriu e, ao desapertar, relatei-lhe o sonho, provocando-lhe alguns sorrisos e um elogio à minha mente de “liquidificador”. Na vida real, ele é bombeiro, e trabalha como salva-vidas na praia de Atalaia. Possui um corpo másculo, sensual, mas, até hoje, nunca o vi nu. Quem sabe numa eleição vindoura...

Wesley PC> 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

“SUCEDE COM AS FERIDAS D’ALMA O MESMO QUE ÀS FERIDAS DO CORPO; É QUANDO ELAS ESFRIAM, QUE A DOR SE TORNA AGUDA E LANCINANTE” (CAPÍTULO XIV)


Na terça-feira à noite, fui com alguns amigos ao cinema. Conversamos bastante após o filme, comemos panetone com iogurte e, ao chegar em casa, planejava ver “Lucíola, o Anjo Pecador” (1975, de Alfredo Sternheim), filme que seria exibido na televisão, naquela madrugada. Empolgado com a escritura da crítica do filme que havia visto em tela grande, não consegui me concentrar no subestimado clássico nacional, baseado num romance icônico da literatura brasileira que, injustamente, ainda não havia sido lido por mim. Dormi angustiado nesta madrugada: precisava ler “Lucíola” (1862), ciente de esta seria mais uma obra-prima literária do José de Alencar.

Dito e feito: na tarde seguinte a esta madrugada, fui à Biblioteca da UFS e encontrei um único exemplar desgastado do referido livro, quase a gritar o meu nome. Em posse do mesmo, ainda nesta noite consumi os três primeiros capítulos do romance e já estava mais do que contemplado animicamente com as descrições apaixonadas do autor, que, num dado instante, fazia com que a sua instância narrativa comparasse o ato de descobrir uma mulher amada como não sendo mais virgem à decepção de alguém que, “ao colher a linda flor, em vez da suave fragrância, sentiu o cheiro repulsivo do torpe inseto que nela dormiu” (capítulo II). Era um romance extremamente moralista – e preocupante, ao fazer com que a sua protagonista legitimasse os valores que infringe, a ponto de justificar a sua autopunição letal – mas encantador em cada linha de hipertrofiado romantismo ali contida.

Na trama, o protagonista é o estudante Paulo Silva, recém-chegado ao Rio de Janeiro, onde planejava encontrar Sá, um amigo apenas três anos mais velho porém devidamente estabelecido. Este amigo o apresenta à cortesã Lúcia, por quem Paulo apaixona-se perdidamente, ainda que não consiga controlar nem o ciúme nem a desconfiança, por mais que a prostituta arrependida demonstre respeitar minuciosa e rigorosamente até mesmo ao seu mais reles capricho de donatário amoroso.

Passam um tempo juntos, brigam, reconciliam-se, brigam mais uma vez, ele a humilha, ela tenta rebater a humilhação mas é humilhada ainda mais, ele a humilha mais um pouco, ela se humilha e, afinal, ambos assumem-se como irremediavelmente apaixonados, não obstante admitirem que só poderão lidar com o que sentem quando ignoraram o que as pessoas da sociedade falarem de mau acerca de seu concubinato. Paulo, porém, é influenciável, o que o autor José de Alencar genialmente faz questão de evidenciar, não apenas dirigindo suas palavras diretamente para leituras femininas enrubescidas diante da imoralidade da trama como interferindo diretamente na escritura do próprio livro, ao alegar, por exemplo, que, evita as reticências em sua narrativa, mas sugere que, caso alguma leitura esteja escandalizada diante do que lê, pode substituir o que lhe desagrada pela referida pontuação. Ele deixa claro, entretanto, a sua prerrogativa formal: “com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na sociedade?” (capítulo VII). Uso reticências sobejadamente, a ponto de ousar discordar deste julgamento entendido, mas, no contexto em pauta, é prenhe de sentido e absolutamente ousado em sua metalinguagem.

À medida que avançava na leitura, encantava mais e mais, identificando-me plenamente com a personagem feminina, a tal da Lúcia, que, no capítulo XIX, revelará possuir outro nome de pia, Maria da Glória, modificado depois que precisou recorrer à prostituição no afã por livrar seus pais e irmãos do surto de febre amarela que os afligiu em 1850. Se a trama já era romântica, melodramática e sublime até então, após esta confissão de martírio, a personagem de Lúcia tornou-se merecedora dos adjetivos angelicais que autor e instância narrativa insistiam em atribuir-lhe. Paulo a perdoava, mas não conseguia entender que as pessoas ao redor dela a enojassem, por mais que ela desse sinais de arrependimento plangente, tendo abandonado inclusive a vida de meretrício. Ao que a própria Lúcia (aliás, Maria da Glória) adianta-se em retorquir: “elas não sabem, como tu, que eu tenho outra virgindade, a virgindade do coração! Perdoa-lhes, Paulo!” (capítulo XX).

Ao final, como era esperado, Lúcia morre, carregando em seu ventre um filho recém-abortado, servindo ela própria de túmulo para o ente gerado pela criatura de um amor inaceito. Diante da lembrança de seu cadáver, Paulo alisa a trança que cortou-lhe antes do sepultamento e redige: “há nos cabelos da pessoa que se ama não sei que fluido misterioso, que comunica com o nosso espírito” (último parágrafo do derradeiro capítulo, o XXI). Por mais que uma ou outra passagem tenha sido lavrada por fortíssimos preconceitos de classe – comuns à época, mas paradoxalmente reproduzidos pelos personagens e pelos conselhos repletos de pudicícia às leitoras – amei pungentemente o romance, um dos meus favoritos desde então. Digo mais: estou ansiosíssimo para finalmente conhecer o filme nele baseado, imbecilmente tachado de “pornochanchada” por alguns detratores da Boca do Lixo, visto que, segundo eles, o erudito diretor Alfredo Sternheim havia sexualizado demais a trama. Tendo lido o que eu li, acho difícil respeitar o romance sem suceder a uma reprodução pornográfica dos eventos desenrolas nos capítulos VI e VII, em que, numa orgia financiada por homens riquíssimos, inclusive o melhor amigo de Paulo, o já referido Sá, Lúcia, entre tantas outras prostitutas, despe-se, em meio a diversos estouros báquicos, na azáfama por imitar ebriamente as posturas lascivas dalgumas modelos desnudas dos quadros famosos que ornamentavas as residências dos endinheirados e esnobes convidados. Preciso ver este filme o quanto antes!

Wesley PC>  

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DESLUMBRAMENTO, PAIXÃO E “16 MOÇAS PARA CADA RAPAZ”...


Estou me contorcendo para não adiantar as citações afetivas e aflitivas do maravilhoso romance que consumo de ontem para hoje [“Lucíola” (1862), de José de Alencar], mas assisti a um filme que traz em seu bojo um sentimento deveras semelhante de identificação projetiva e feminina: “Os Amores de uma Loira” (1965, de Milos Forman).

Depois de um início pré-‘punk’, em que uma rapariga com corte de cabelo ousado cantarola uma música sobre amor e abandono, conhecemos, em meio a outras garotas, a operária Andula (Hana Brejchová), a loira do título, paquerada por três soldados mulherengos e infiéis. Enquanto suas duas amigas cedem ao flerte interesseiro dos homens mais velhos, Andula se deixa envolver pro Milda (Vladimír Pucholt, lindo!), um jovem pianista que a seduz gradualmente, desnudando-se aos poucos enquanto finge que a está ensinando a se defender dos abusos sexuais de outros homens...

Idilicamente, Milda faz com que Andula se sinta amada, a ponto de se desfazer de anel que recebera de seu namorado, sumido há mais de um mês. Milda, entretanto, precisa voltar para a capital Praga, onde repete chistosamente que não tem nenhuma namorada. Andula acredita e, iludida, vai a seu encontro, na casa de seus pais, que brigam por causa dela e por causa da inconseqüência de seu filho... O desfecho do filme equivale àquilo que chamam de realidade, mas, ainda assim, quem puniria Andula por se apaixonar?

Apesar de eu não estar apreciando muito o filme durante a longa seqüência de flerte dos militares bem mais velhos, de repente, me vi irremediavelmente envolvido pelo filme, cuja pletora afetiva já me fora recomendada quando pintei o cabelo de loiro da primeira vez: não foi por acaso, me vi naquele filme. Será que, se eu fosse mulher, a esta altura de minha vida (não-)virginal, eu já teria engravidado? Deixarei a pergunta em aberto, por falta de disposição especulativa disfuncional. “Eu sei que o amor é uma coisa boa”, da mesma forma que sei que o adjetivo “bom” varia de pessoa para pessoa... E eu sou um moralista!

Wesley PC> 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

“ELA PARECE UMA ROMÂNTICA POR FORA, MAS, POR DENTRO, É UMA SOBREVIVENTE”!

A definição acima é aplicada à personagem de Keira Knightley em “Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo” (2012, de Lorene Scafaria), filme que vi na manhã de hoje ciente de que desgostaria, por causa da apreciação negativa de um amigo cuja opinião eu aprecio superlativamente. Cria que fosse uma comédia besteirol, com uma ou outra boa piada (a ponto de conseguir me fazer gargalhar durante os vinte minutos iniciais!), mas o filme me surpreendeu por causa de sua ótima condução (melo)dramática: de repente, a maravilhosa forçação de barra filantrópica do título transforma-se numa declaração de amor sincera, sendo a ultima frase do filme, em meio à confirmação do Armagedom, justamente “eu estou muito feliz por ter te conhecido”. Saí da sessão absolutamente encantado – e, por mais que eu não queira admitir, emocionado!

 No filme, o anúncio de que um asteróide entrará em choque com a Terra faz com que as pessoas desistam de seus empregos, de seus relacionamentos estáveis e mergulhem numa orgia perene. O meu conhecido moralismo abstêmio fez com que eu me identificasse prontamente com os julgamentos de valor chistoso acerca destas festas orgiásticas, em que crianças são induzidas a beber vodca e convidados trazem heroína para os anfitriões como se fosse um bolo recheado de glacê. O sexo “livre” (aspas gigantescas neste adjetivo) é praticado à revelia, de modo que apenas o protagonista parece deslocado naquele ambiente de devassidão desesperançosa. Maravilhosamente interpretado por Steve Carell, que toma emprestado o olhar melancólico que adotou noutros filmes, este protagonista, Dodger, é um vendedor de seguros recém-abandonado pela esposa. Seu pai saiu de casa quando ainda era muito novo e sua mãe faleceu, de modo que ele se sente costumeiramente sozinho, salvo pela empregada doméstica latina que declina de assistir a algo na televisão a seu lado por ter o amor de seus filhos para lhe consolar. Dodger se sente sozinho, portanto!

 Numa cena oportunista, ele conhece a vizinha Penny (Keira Knightley), que chorava em sua sacada. Eles se abraçam, fumam maconha, e se despedem. Ela havia sido recentemente abandonada pelo namorado e devolve a Dodger as cartas pessoais que estavam sob sua posse há mais de três meses, quando foram equivocadamente entregues pelo carteiro. Sabendo que um amor do passado esperava pela reconciliação, Dodger sente-se motivado a eliminar a solidão de sua vida, encontrando um cachorro abandonado que lhe fará companhia. A incidência de tumultos apocalípticos o leva a precisar fugir de sua casa, e ele resolve levar Penny consigo, que insiste em carregar seus discos, pois estes são os seus amigos de verdade, na apreciação dela. Ela também é solitária, portanto, o que fica evidente quando ela se confessa como uma “monogâmica serial”. Daí para a frente, o filme resvala em clichês estruturais de comédias românticas tipicamente hollywoodianas, mas a plataforma de fim do mundo criada pela diretora e roteirista era irreversível: em minha apreciação, o filme queria dizer muito mais do que mostrava. E consegue!

 Terminada a sessão, absolutamente impressionado com a qualidade positiva do filme, fiz questão de indicar o filme a dois amigos, ao passo em que telefonei para o companheiro que desgostou dele, disposto a entender os seus motivos. Terminamos enveredando por outra discussão, associada a algo de estranho que esteja acontecendo entre nós a ponto de justificar opiniões tão diversificadas acerca dos mesmos filmes: eu gostando muito de filmes que ele odiou ou então eu detestando filmes que ele adorou. O que estaria acontecendo conosco? 

 Expus as armas de que dispunha (a minha vontade de ajudá-lo, caso ele quisesse, mesmo que isto implicasse num impulso ditatorial inicial de minha parte) e tentei organizar meus pensamentos acerca de outro filme que vimos juntos, e que gostamos mais ou menos da mesma forma: “A Viagem” (2012, de Lana Wachowski, Tom Tykwer & Andy Wachowski), visto comunitariamente na noite de ontem. Na crítica que publiquei sobre o filme (disponível aqui), esqueci de destacar elementos discursivos que me incomodaram, como, por exemplo, a oposição interna entre o conceito de “Verdade verdadeira” (substitutivo para religião) e a declaração de uma dada personagem, enxergada posteriormente como mártir, de que “todas as versões da Verdade são falsas, existindo apenas uma que é verdadeira”.

A montagem do filme, por ser ruim e/ou precipitada, tornava a minha necessidade de discutir estes pontos ausentes ainda mais emergencial, mas o meu texto já estava escrito e publicado, tinha que elaborar um apêndice posterior, talvez. Por ora, a ausência do ótimo ator negro Keith David nesta linha de tempo sobre os principais personagens do filme me faz pensar no quanto o rapaz que estava ao meu lado durante a projeção do filme, defendendo a mestiçagem, tem razão em suas teses raciais sociologizadas. Não que eu tenha duvidado das mesmas, mas minha relação com a sua abordagem pessoal do assunto é atravessada por outro tipo de ênfase. Ontem, achamos mais do que um ponto em comum. Como diria o filósofo esloveno Slavoj Zizek, “quando até mesmo um produto da supostamente ‘liberal’ Hollywood exibe uma regressão ideológica tão grosseira, é necessária mais alguma prova de que a ideologia está bem viva em nosso mundo pós-ideológico?”. Quem sou eu para discordar? Sou a prova viva (e conflituosa) de que não – e de que sim, ao mesmo tempo!

 Wesley PC>

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

GRITAVA GLAUBER ROCHA ATRAVÉS DE SUAS IMAGENS E SONS: O AMOR LIBERTA!


Sim, o amor liberta!

O amor cura!
O amor amadurece!
O amor ensina!
O amor motiva!
O amor ressignifica!
O amor canaliza!
O amor educa!
O amor engrandece!
O amor elucida!
O amor grita!

E, neste caso, pensar em "correspondência" é render-se a um vício reducionista pequeno-burguês. O amor se basta em sua doação contaminante. O amor liberta! Glauber Rocha ainda hoje grita! E é ouvido! Felizmente...

Wesley PC>

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

E, SE EU TIVESSE HOJE 45 ANOS DE IDADE, PODERIA ME VANGLORIAR DE JÁ TER FEITO SEXO COM MAIS DE TREZENTAS PESSOAS EM MINHA VIDA?


Um dos guarda-costas que protagoniza “O Gosto dos Outros” (2000, de Agnés Jaoui) chega à conclusão de que sim. Tendo iniciado sua vida sexual aos 15 anos de idade, e fodendo em média dez mulheres por ano, ele chega ao surpreendente número de parceiras sexuais indicado no questionamento que intitula esta postagem. Mas o filme não é sobre isto, não obstante tal problema erótico fazer parte do amplificado escopo de assuntos que o roteiro aborda...

Apesar de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2001, este filme permanece obscuro para o grande público. É fácil entender o porquê: apesar de sua aparente leveza cômica, da adesão crescente do roteiro à paixonite do protagonista e ao aparente despojamento da direção, este é um filme de tese, rigorosamente planejado para despejar suas opiniões pré-concebidas sobre o espectador. O diálogo é secundário: as opiniões já estavam formuladas desde o princípio, quando vemos o guarda-costas aprender a tocar flauta no interior de sua residência pela primeira vez...

“O Gosto dos Outros” está longe de ser um filme ruim. Muitíssimo pelo contrário: magistralmente orquestrado em suas diversas tramas paralelas, este filme discute a assimilação de padrões (alheios) instituídos de cultura de uma forma muito inteligente, abrindo espaço para uma identificação espectatorial benévola com o protagonista, um empresário casado com uma decoradora de interiores ‘kitsch’, que, aos poucos, entra em contato com a arte dita refinada depois que se apaixona por uma atriz de teatro que trabalha como professora improvisada de Inglês. Ao mesmo tempo em que desenvolve sua paixonite e concomitante adesão a cânones artísticos que podem resvalar em aproveitamento monetário, o filme permite que também conheçamos – e desenvolvamos simpatia – pelos guarda-costas do protagonista, sendo um deles apaixonado por uma namorada que vive nos EUA e o outro gradativamente envolvido num romance com uma garçonete que, nas horas vagas, exerce a função de traficante de maconha. Uma suposta classe popular é, portanto, também priorizada aqui. O problema conceitual: guarda-costas franceses não são necessariamente eqüivalentes a uma classe popular, o que torna as conclusões do filme, conforme dito anteriormente, pré-concebidas, embasadas muito mais numa ‘doxa’ eurocêntrica que numa perspectiva de generalização analítico-discursiva para a questão que me apresentou tardiamente a este filme: as associações imediatas entre “bom gosto artístico” e determinadas classes sociais.

Para ser sincero, muito do que estou escrevendo sobre este filme é uma especulação defensiva da qual faço uso para me esquivar da confissão – afinal, inevitável – de que me senti plenamente contemplado pela demonstração de que paixões carnais resultam em amadurecimento intelectual. Por estar realmente apaixonado pela atriz, o empresário passa a se relacionar consumisticamente com as artes plásticas não apenas para agradá-la, mas porque realmente começa a gostar das mesmas, de modo que, ao final, quando ele aplaude entusiasticamente uma peça teatral de Henrik Ibsen, ele já está tarimbado para entender que aquilo ali não é uma comédia. Quem me conhece a fundo, sabe bem por que este tema me é tão pessoalmente relevante: não acredito em (ou melhor, não aceito extra-gramscianamente que possa haver) aprendizado sem paixão!

Wesley PC> 

domingo, 20 de janeiro de 2013

MERAS PREVISÕES QUE SE SOMAM? TSC, TSC, TSC...


Na madrugada de hoje, tive mais um daqueles sonhos estranhos que caracterizam e infestam o meu subconsciente: estava na UFS, com vontade de urinar. As dependências da Universidade assemelhavam-se à escola Glorita Portugal, onde estudei durante a adolescência. Os banheiros eram infestados de nadadores homossexuais, que se agarravam e se despiam diante dos bidês. Não me deixaram mijar ali... Angustiado, dirijo-me até a mercearia de minha irmã evangélica, localizada próximo à referida universidade. Ela havia acabado de parir duas crianças: a primeira, um bebê normal; a segunda, um garotinho chamado Mateus, que já nasceu falando.

Depois que usei o banheiro, no sonho, minha irmã pediu que eu cuidasse de seus novos bebês (na vida real, ela tem sete filhos!), enquanto ela ia comprar alguns víveres para restabelecer as prateleiras de seu armazém. O problema: Mateus não parava quieto num lugar. O motivo: ele era uma pulga! Assustado que fiquei ao constatar isto, fui em busca de minha mãe, que trabalhava como cozinheira num restaurante de sua ex-patroa. Ela estava muito mais jovem do que hoje em dia, utilizava um corte de cabelo bastante curto e era constantemente elogiada pelos clientes do estabelecimento, mas fora severamente repreendida por sua patroa, em público, por ter esquecido um pequeno pente negro numa das mesas. Fiquei constrangido, mas não soube como ajudar minha mãe, que apenas sorria. Sem saber o que fazer, fui para um quarto nos fundos, onde um mosquiteiro amarelo-claro indicava que faleceu alguém naquele cômodo. Acordei sentindo-me exageradamente culpado, um tanto impotente...

Apesar deste sentimento culposo, tive um domingo confortável. E, para coroar este bem-estar divergente com a agonia onírica, assisti a um surpreendente filme de suspense ao lado de minha mãe: “O Abrigo” (2011, de Jeff Nichols), sobre um funcionário que trabalha com perfuração de solos (Michael Shannon) que sonha constantemente com uma tempestade impressionante que se aproxima. Marido com uma costureira doméstica deveras compreensiva (Jessica Chastain), pai de uma linda garotinha surda-muda (Tova Stewart) e filho de uma mulher (Kathy Baker) internada há vinte e cinco anos numa clínica de repouso por ser esquizofrênico-paranóide, este homem isola-se progressivamente de todas as pessoas com quem se importa, temendo a aproximação da tal tempestade, cujas gotas de chuva não são compostas de água, mas de um colóide assemelhado a óleo de freio automobilístico. Completa e progressivamente assustado (os sonhos premonitórios tornam-se cada vez mais intensos e violentos), ele endivida-se completamente ao solicitar um volumoso empréstimo num banco, a fim de alargar o abrigo anti-tempestades de sua residência. Impossível não pensar no subestimado e incompreendido “Fim dos Tempos” (2008, de M. Night Shyamalan) ao final da projeção...

Tal qual aquele filme, “O Abrigo” possui imagens e efeitos visuais impressionantes – além de uma belíssima trilha sonora e uma fotografia deslumbrante, a cargo de David Wingo e Adam Stone, respectivamente – mas o que parece realmente relevante em seu discurso previdente subjaz no roteiro, bastante complexo e muitíssimo bem-escrito pelo próprio diretor. Os diversos conselhos econômicos ao longo da projeção deixam claro que este não é um filme de suspense convencional: é um alerta! Recomendo de pé este filme – e já estou previamente assustado acerca do que sonharei hoje, mas, ainda assim, considero estes relatos subconscientes avassaladoramente bem-vindos!

Wesley PC>