sexta-feira, 1 de abril de 2011

AINDA HÁ ESPAÇO PARA DIVOS GÓTICOS HOJE EM DIA? – Parte II

Tudo bem, a referência que citarei a partir agora é mais ‘punk’ do que necessariamente gótica, mas, em mais de um momento, as demarcações genéricas se cruzam e o ótimo personagem-título do filme de estréia do hoje insosso John Cameron Mitchell, “Hedwig – Rock, Amor e Traição” (2001), revela-se tão dotado de melancolia justificada e iterativa quando qualquer um que se assuma como gótico. Digo mais: ouvi a trilha sonora deste esplêndido filme na vinda para o trabalho e, caramba, todo o fulgor protestante desta aula de reivindicação supra-sexualista me tomou de assalto: “quando eu despertei após a operação, eu estava sangrando lá embaixo. Era meu primeiro dia como mulher e eu já estava menstruada. E, no local onde meu pênis costumava estar e minha vagina nunca esteve, havia um montículo de carne, uma polegada iracunda”.

Não preciso falar mais nada! Estes versos resumem bem o filme, que, se eu for afortunado, será revisto ao lado de meus amigos neste fim de semana...

“Six inches forward and five inches back
I got a, I got an angry inch
Six inches forward and five inches back
I got a, I got an angry inch!”


Wesley PC>

AINDA HÁ ESPAÇO PARA DIVOS GÓTICOS HOJE EM DIA? – Parte I

Ontem pela manhã, fui chamado de “diva gótica” por causa do modo como eu estava trajado. Não sei se só por causa disto, visto que algumas de minhas postagens contêm um potencial de lamúria caro ao que se convencionou chamar de clichê gótico. Além disso, eu gosto bastante deste estilo de música, tendo sido marcado na adolescência pela quantidade de vezes que repeti a magnífica seqüência de abertura do filme “Fome de Viver” (1983, de Tony Scott), em que o vocalista Peter Murphy aparece cantando o maior huno do grupo “Bela Lugosi’s Dead”, lançada como primeiro ‘single’ da banda em 1979. Com nove minutos e trinta e seis segundos de duração, eis o que ouvirei quando estiver caminhando para casa, mais tarde:

“The virginal brides file past his tomb
Strewn with time's dead flowers bereft in deathly bloom
Alone in a darkened room, the count
Bela lugosi's dead/ Bela lugosi's dead
Bela lugosi's dead/ Undead, undead, undead”


Obra-prima seminal, de um tempo em que até mesmo os clichês faziam sentido. Hoje em dia, eu pergunto: ainda há espaço para divos góticos? Ouso dizer que sim, que a semente lúgubre permanece ávida pelos regadores de quem ama e é oprimido pela decadência mundana, mas acho melhor voltar a este assunto, com mais propriedade, depois que sentir na pele tudo o que a compilação de ‘singles’ “Crackle – The Best of Bauhaus” (1998) tem a me oferecer...

Wesley PC>

“NUNCA NOS DIZEM ISSO, MAS, MESMO DEPOIS QUE NOS CASAMOS, CONTINUAMOS A NOS MASTURBAR. NÃO É COISA DE ADOLESCENTES”...

Esta é mais ou menos uma das conclusões a que os personagens de Jason Sudeikis e Owen Wilson chegam no filme que decidi ver no cinema na tarde de ontem. Tratava-se de “Passe Livre” (2011), de longe, o menos interessante filme realizado pelos inteligentes e maritais irmãos Peter & Bobby Farrelly. Acostumados a serem tachados de escatológicos por causa da linha humorística exagerada que reinauguraram com filmes como “Débi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros” (1994), “Kingpin – Estes Loucos Reis do Boliche” (1996) e “Osmose Jones – Uma Aventura Radical Pelo Corpo Humano” (2001), eles são reconhecidos mesmo pelas odes românticas que perpetraram nos meandros de bons filmes como “Quem Vai Ficar com Mary?” (1998), “Eu, Eu Mesmo e Irene” (2000), “O Amor é Cego” (2001), “Ligado em Você” (2003), o desnorteado “Amor em Jogo” (2005) e, por fim, o mal-sucedido nas bilheterias “Antes Só do que Mal Casado” (2007). Tendo visto, portanto, os nove longas-metragens que eles realizaram antes deste filme mais recente, eu já devia saber o que ia encontrar em “Passe Livre”, certo? Certo, mas... E daí?

A trama do filme antevia que o elogio à forma mais tradicional de casamento heterossexual seria defendido até o extremo: dois amigos casados são flagrados por suas esposas quando conversavam sobre os desejos sexuais eventuais que sentem por outras mulheres e, orientadas por uma terapeuta mais velha, elas resolvem permitir que eles tenham uma semana inteira de completa liberdade relacional, podendo fazer o que quiserem com quem quer que seja, definindo a expressão contida no título do filme. Nos sete dias que compõem este passe livre, eles ingerem bolinhos de maconha, flertam com os mais diferentes tipos de mulheres e relembram os fatos marcantes de suas juventudes (em que a conclusão que intitula esta postagem é cabal), mas previsivelmente constatam que as mulheres com quem se casaram são as mulheres de suas vidas, aquelas a quem realmente amam de verdade. Não que esta conclusão previsível seja ruim – muito pelo contrário: quem me conhece, sabe que acredito piamente nisto! – mas fiquei chateado por causa do abandono de algumas marcas registradas dos diretores, que entrariam em conflito com o tom mais brando de comédia romântica que ele efetiva aqui: onde estão os deficientes a que eles nos acostumaram a dignificar através de uma esquisita forma de humor negro? Onde?! Do jeito que ficou, o filme até parece uma imitação do estilo superficialmente contestatório de Todd Phillips!

Explicando de outra forma: ao contrário dos filmes anteriormente citados dos diretores, este filme mais recente é quase “censura livre” no que diz respeito ao conteúdo das piadas e imagens que são destiladas no filme. Exceto pela imagem que justamente acompanha esta postagem, uma imagem que, com certeza, será cortada do filme quando ele estiver sendo exibido pelas emissoras de TV (risos): depois que adormece numa banheira de hidromassagem, o personagem de Owen Wilson pede socorro por estar com o corpo dormente. Dois homens nus recém-saídos de uma sauna ajudam-no, sendo um negro bem-dotado e um irlandês com o pênis pequeno. Durante o resgate, o protagonista lamenta que os dois homens não estivessem na posição contrária à que estavam e, quando indagado o porquê, uma inesperada imagem fálica ocupa a tela. Impossível não rir, mas, eu me pergunto: será que uma imagem tão “chula” como esta será exibida na TV? Detalhe: nem de longe, o filme merece ser respaldado por uma classificação etária superior a 14 anos de idade, visto que ele apóia a ideologia matrimonial dominante. Os censores hodiernos terão problemas ao direcionarem este filme (risos)...

Toda esta introdução, porém, é apenas um pretexto para que eu explane em que aspectos este filme me incomodou tanto: acima de tudo, a trama defende a necessidade de conformismo social na maturação do indivíduo, a idéia de as concessões amorosas não são somente importantes, como essenciais para o bem-estar de um cidadão-modelo. Nesse âmbito, o tema da masturbação, conforme enfocado, me incomodou: em mais de uma seqüência, as indisposições das esposas dos protagonistas levam-nos a consolarem-se sexualmente através do “prazer solitário”. Enquanto um deles toca-se “no banheiro, como todo mundo faz”, o outro costuma masturbar-se no interior de seu carro, estacionado em frente de sua casa, à noite, ao som de canções românticas que lhe apeteciam na adolescência. Numa determinada ocasião, ele é flagrado por dois policiais, que o indiciam sob a suspeita de ele ser um tarado, numa cena tragicômica que desencadeia o passe livre por parte da esposa dele. Mas, em mim, a cena teve outro efeito: por mais que eu estivesse rindo por fora, por dentro, algo me incomodava, quiçá algo que tinha a ver com o fato de minha virgindade ter sido veementemente questionada por um amigo, quando eu adentrei na universidade ontem. Apesar de eu ter defendido esta virgindade da mesma forma que eu defenderia o fato de ter olhos castanhos ou cabelos curtos, a desnecessidade deste colóquio defensivo me incomodou: será que, quando amadurecemos, fica mais difícil constatar que “o essencial é invisível aos olhos”, que aquilo que realmente é importante em nossas vidas, talvez já esteja lá, onde deveria estar? Será? Mesmo sendo um filme inferior dos diretores, recomendo-o mesmo assim...

Wesley PC>

quarta-feira, 30 de março de 2011

UM SINAL VERTICAL PISCA NA TELA DO COMPUTADOR, PRESSIONANDO-ME A ESCREVER ALGO, MAS UMA FEBRE ME INCITA POR DENTRO, MINHA MÃE PERCEBE,EU SINTO SONO...


“A felicidade, dizia para si mesmo, não é ser amado; isto é uma satisfação misturada com asco para a vaidade. A felicidade é amar e talvez colher pequenas aproximações ilusórias da pessoa amada. E interiormente anotou este pensamento, expandiu-o e sentiu-o até o âmago”.

Texto: capítulo II de “Tônio Kroeger” (1903), romance de Thomas Mann com o qual fui presenteado esta semana;
Imagem: um dos momentos gritantes de ternura no violento filme de Sam Peckinpah, “Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia” (1974), visto ontem à tarde, mas do qual me lembrarei eternamente;
Minha intenção com esta postagem: asseverar, para mim mesmo e para o mundo, que o perdão e o entendimento podem ser tudo, inclusive possíveis!

Wesley PC>

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO DISCO QUE ESTOU A OUVIR AGORA (OU POR QUE EU FICO MAIS ‘NERD’ QUANDO ESTOU SEM MEU BORNAL)...

Conheci a belga descendente de marroquinos, egípcios e palestinos Natacha Atlas através do filme “Intervenção Divina” (2002, de Elia Suleiman), famoso por causa da aparição sobrenatural de uma ninja palestina. No filme em pauta, a cantora que agora ouço interpreta uma versão remixada e repleta de floreios vocais para “I Put a Spell on You”, canção que já ouvi e apreciei deveras nas vozes de Bette Midler e Marilyn Manson, para ficar em apenas dois artistas que admiro. Somente esta semana, entretanto, resolvi ouvir um disco integral da cantora e, como era de se esperar, escolhi “Ayeshteni” (2001), por ser justamente aquele que possui a sua canção mais conhecida. Ouço-o agora, pela décima vez no mesmo dia, e confesso: sua sonoridade é extremamente contagiante!

Como eu sou adepto da mania de repetir várias vezes uma canção que me apetece, raramente chego às faixas 05 (“Soleil d’Egypte”) ou 06 (uma versão exótica para “Ne Me Quitte Pas”), de tanto que aprecio a faixa de abertura, a contagiante “Shubra”. Muito bom o disco, daqueles que faz a gente rodopiar pela sala, sentindo-se contente. Aliás, é o que minha mãe e minhas cachorras estão fazendo agora, ao som da faixa 03, “Ashwa”.

Na manhã de hoje, ouvia este disco quando penetrei o interior de uma agencia bancária e não escutei quando a vigilante do local me chamava para entregar a senha. Da mesma forma, atrapalhei-me todo na hora de entregar as faturas que eu desejava pagar ao atendente, quando a minha senha – a centésima daquele dia – foi chamada. Afinal, tudo deu certo e, ao chegar em casa, assisti a um filme libanês [“Caramelo” (2007, de Nadine Labaki), crente de que o mesmo fulgor musical de tempero árabe explodiria durante a sessão, mas me enganei: o filme não passava de um conjunto de situações banais envolvendo mulheres que se encontram num salão de beleza. Uma delas é apaixonada por um policial casado; outra derrama sangue de pombos em papéis higiênicos para disfarçar que já adentrou na menopausa; uma terceira é lésbica; e uma quarta busca uma ginecologista para costurar sua vagina, pois não é mais virgem e tem medo de confessa isso ao seu futuro marido. Por causa de variações temáticas ideologicamente desviadas como estas que as mulheres continuam a ser oprimidas no Oriente Médio! Mas nada que a voz cálida da Natacha Atlas não resolvesse depois que eu liguei o rádio ao fim da sessão...

Wesley PC>

“TU SABES O QUE QUER DIZER F.M.I.? FODENDO O MUNDO INTEIRO!”

Mais uma vez, venho a público falar sobre os filmes do David Cardoso: acabo de ver “Caçadas Eróticas” (1984), filme menos inspirado que ele dirigiu em colaboração com o quase desconhecido Cláudio Portioli (mais famoso enquanto diretor de fotografia) a partir da bem-sucedida fórmula de episódios curtos baseado em roteiros de Ody Fraga. Como toda fórmula, porém, aqui nota-se o desgaste: nenhum dos três episódios é particularmente bom, apesar de cada um deles ter os seus interesses...

No primeiro dos episódios, tolo até dizer ‘chega!’, David Cardoso e Matilde Mastrangi protagonizam uma ridícula estória de espiões em Portugal; no segundo, marido e mulher que brigaram recentemente marcam encontros com novos parceiros num mesmo apartamento, mas, sem saber, o marido leva um travesti para o quarto, que acaba transando com a sua esposa; e, por fim, o terceiro episódio, somente dirigido por David Cardoso, mostra-se inusitado ao ser protagonizado por um grupo de estereótipos femininos de ‘punks’, que misturam frases de protesto político (vide a frase-título e a cena em que uma delas mostra a bunda para explicar o que Josef Stalin fez com o mundo) à necessidade por conseguir dinheiro e, em meio à situação em que uma jovem paga outra para enfiar um pênis de borracha em sua vagina, elas decidem que seqüestrarão burgueses brasileiros, a fim de ficar com suas roupas e pertences pessoais. Nada demais, mas valeu-me enquanto curiosidade.

Detalhe pessoal: antes de ver o filme, eu dividia minha atenção entre uma ereção alheia obliterada pelo velcro de um zíper e os nematelmintos que saíam do ânus de minha cadela Sembène. Fisiologia é algo que me encanta sempre, da mesma forma que não percebi as cenas de sexo explícito no filme supracitado, o que, francamente, não faz a menor diferença, exceto no que diz respeito ao lamento de saber que foi a introdução desta explicitude que alavancou o declínio deste gênero tão interessante de nosso cinema nacional que foi a pornochanchada. Pena que não souberam aproveitar os bons temas que eles tinham em mãos, cérebros e genitálias...!

Wesley PC>

terça-feira, 29 de março de 2011

FALTOU ENERGIA (POR DENTRO E POR FORA)!

“Somos servilleta y el recibo de luz”: assim canta a estadunidense com ascendência mexicana Julieta Venegas em “Esta Vez”, canção que sempre me chamou a atenção por causa da estranheza de seus versos. Hoje, estes versos me parecem revestidos de um novo sentido: faltou energia elétrica quando eu estava no trabalho. Não eram sequer 19h, faltavam pouco mais de uma hora para eu ir para casa e tinha que organizar algumas pendências burocráticas antes de sentir-me apto para desfrutar de uma merecida folga na quarta-feira, mas, quando faltou energia elétrica, a impressão de interrupção ativa que me tomou de assalto ia além do inconveniente de amontoar-me num terminal rodoviário, na escuridão, a fim de pegar um ônibus, chegar em casa e dormir (leia-se: descansar) um pouco. Antigamente, quando faltava energia elétrica e eu estava a dormir, não me acordava. Meu sono adolescente era condicionado à possibilidade de ligar a TV ou o rádio assim que despertava. Sempre fui um rapaz elétrico e, como tal, não se tratava de mera associação vocabular o uso excessivo que eu punha em prática no que tange aos serviços da Companhia Elétrica Sergipana, hoje batizada como Energisa. Aliás, neste exato momento, tenciono imprimir uma segunda via da conta deste mês de março (com vencimento em abril), a fim de que eu possa logo me livrar de uma taxa que, se não for justa no plano da atribuição de valores monetários a cada quilowatt consumido, é paga por mim como se estivesse a sanar um débito fisiológico de âmbito social. Em outras palavras: talvez eu não saiba bem o que esteja a falar, mas, por dentro, me sinto mal. Tive que sair cedo do trabalho, a fórceps, e deixei inacabado o meu serviço, sendo agora perseguido pelos sintomas de Transtorno Obsessivo-Compulsivo que me levam a ser confundido com um funcionário exemplar. Acho que terei que adiar/interromper a minha folga!

Wesley PC>

AULAS PRÁTICAS DE JORNALISMO: FALTA-SE A UMA; SE GANHA COM A OUTRA...

Apesar de gostar bastante de minha professora de Técnicas de Produção, Reportagem e Redação Jornalística II, hoje eu não estava disposto a ir para a aula. Estava cansado, saturado ou algo do gênero. Talvez fosse uma intuição profissional, visto que, ao zapear os canais de TV, descobri que “Síndrome da China” (1979, de James Bridges) começaria a ser exibido em alguns instantes. Tratava-se de um dos mais contundentes filmes já realizados sobre jornalismo Investigativo, área em que não pretendo me especializar, mas, aos poucos, fui tentado a mudar de idéia: os personagens de Jane Fonda e Michael Douglas no filme – respectivamente, repórter e operador de câmera – eram tão convincentes em seu fervor denuncista que me convenceram que esta profissão para a qual supostamente eu estudo para me formar possui relevante função de interesse e bem-estar público. Mas o filme segue...

Em seus 122 minutos de duração, “Síndrome da China” não nega que, sendo um filme financiado por Hollywood, deve pagar tributo às exigências por entretenimento de seu público em larga escala. Por isso, cenas de perseguição e de suspense entremeiam todo o processo investigativo conduzido pela repórter protagonista, que, numa cena-chave, é mostrada sozinha em sua residência, alimentando sua tartaruga de estimação com alface gelado depositado sobre sua cama de casal. Jornalismo é uma profissão que exige comprometimento, dedicação, solidão... Entretanto, a personagem Kimberly Wells também deseja fama e glória, anseia por ser famosa, redige autógrafos num bar, gosta de ser aplaudida por admiradores de seu trabalho. Mas não deixa de ser tocada pela urgência em advertir o público de que há algo errado nas empresas que eles financiam através de seus impostos. E, quando o filme chega ao seu clímax e explica as desastrosas conseqüências do título do filme – o qual não explicarei, deixá-lo-ei em aberto a fim de que mais e mais pessoas se interessem por esta ótima peça de cinema maduro – os aparelhos ideológicos de Estado intervêm e todo o esforço investigativo da protagonista é substituído por uma propaganda televisiva de aparelhos de microondas. Na vida real, no mesmo ano em que o filme foi lançado, acontece um acidente nuclear similar àquele abordado no roteiro do filme. De que adianta o Jornalismo ou o Cinema em si num contexto político em que predominam as enganações e sutis manipulações da realidade? Esta, definitivamente, não é uma pergunta que se deva calar, mas, sim, responder com atos!

Por uma trágica coincidência, a emissora de TV que estava a exibir o filme sofre uma pane durante os dois minutos finais de projeção e eu deixei de assistir justamente à preciosa cena final, sobre a qual tratei logo de recolher descrições na Internet. Não é a mesma coisa, mas... Não deixou de ser muito válido ter faltado à aula de hoje! A professora Sônia Aguiar que me entenda e desculpe...

Wesley PC>

ONTEM À NOITE, EU SENTI MEDO!

Na sexta-feira após feriado local sergipano, 18 de março de 2011, uma rapariga ligou para o setor em que trabalho, perguntando se eu podia lhe fornecer o endereço eletrônico de algum de seus colegas de classe, visto que ela acabara de ser assaltada, levaram o seu telefone celular e, como tal, ela não sabia sequer onde teria aula naquele dia. Fiquei condoído com sua declaração de pavor pós-assalto, mas não pude lhe dar mais detalhes sobre dados alheios. Espero que ela tenha entendido...

Na noite do mesmo dia, encontro um casal de amigos que havia sido assaltado perto do local onde um deles mora – e pelo qual eu caminho quase todas as noites – dois dias antes. Rimos, mas a componente feminina do casal estava um tanto chateada por também ter perdido seu telefone celular, visto que contatos importantes constavam nele. E ela fez questão de descrever a tensão do menino que a assaltara, um rapaz muito jovem, que tremia enquanto empunhava a arma. Primeiro assalto profissional de sua vida, talvez.

Dias antes desta sexta-feira, encontro com um amigo recém-divorciado que comentara que um amigo docente em comum havia sido assaltado também, numa praça perto de sua residência, no final de semana anterior à nossa conversa. Foram muitos os relatos de violência urbana nestes dias: no local em que moro, inclusive, assassinaram um rapaz numa festa no domingo, dia 27 de março, sendo que, no sábado, um tiroteio entre polícia e traficantes de drogas interditou por algumas horas um ponto estratégico do conjunto residencial em que vivo desde que tinha 2 anos de idade. Acontece em todo lugar, pensei eu, enquanto me consolava, ao passo em que prontamente telefonava para minha mãe, para avisar que eu e meu irmão estávamos bem. A rua em que vivo estava com problemas de telefonia...

Com tudo isso em mente, tive que sair do trabalho 90 minutos mais tarde na noite de ontem. O fluxo de trabalho fora tão intenso no Departamento de Administração Acadêmica da UFS que tive que fazer serão, o que vem se tornando comum ultimamente. O problema é que, enquanto caminhava para casa, percebi que as ruas dos bairros Rosa Elze e Rosa Maria, que eu preciso atravessar para chegar em minha casa, estavam desertas. O céu estava nublado, o clima frio, eram pouco antes de 22h e haviam pouquíssimas pessoas na rua. Fiquei apreensivo em ter que percorrer 3km a pé, sozinho, naquele contexto.

Quando já estava na metade do caminho, um camburão da Rádio-Patrulha passou ao meu lado, bem devagar, permitindo que eu visse que os policiais em seu interior ostentavam armas de grosso calibre em suas mãos. Metralhadoras. Escuto alguém comentando: “quando eles passam devagarzinho deste jeito é porque alguém já foi morto”... Alguém retruca, com medo: “cale a boca!”. E eu fiquei acompanhando o lento percurso daquele camburão, que se dirigia justamente para onde eu ia...

Afinal, cheguei em casa. Nada de grave me aconteceu neste périplo de segunda-feira, mas, puxa, como estava assustado! Disfarcei o temor, a fim de não preocupar minha mãe, visto que terei que refazer este mesmo percurso mais quatro vezes esta semana, e tentei ver algum filme na TV, mas não consegui me concentrar. Folheei as páginas de um livro que recebera de presente naquela tarde e visitei um rapaz cuja bermuda de teflon fazia com que suas nádegas ficassem visivelmente arrebitadas. Uma visão bonita e sensual. E começou a chover...

Wesley PC>

domingo, 27 de março de 2011

PORQUE EU SOU MESMO APAIXONADO E, COMO TAL, “AMO A DEUS, MINHA MÃE, OS SERES HUMANOS”...

Direto ao ponto: abusar das “licenças poéticas” na reconstituição de um passado traumático é uma forma de libertar-se dos arrependimentos e frustrações? Se depender da metalinguagem reinventada pelos cineastas iranianos, a resposta é um “não” dúbio!

Acabo de ver o magnífico “Um Instante de Inocência” (1996, de Mohsen Makhmalbaf) e ainda estou cá a me recuperar do impacto do filme, cujo enredo demasiado simples ou demasiado complexo funde realidade e ficção de uma forma tão indissociável quanto indistinguível. O pressuposto parece banal: um ex-policial procura o cineasta que, 20 anos antes, o esfaqueara quando militava contra o regime político então em voga. “Enquanto houver árvores, há vida” era o jargão que o jovem que queria salvar a humanidade intentava bradar antes de ser obrigado a utilizar de violência para pôr em prática a sua causa. A prima por quem era apaixonado à época estava ao seu lado na empreitada, de maneira que ela também consegue atrair a atenção romântica do policial, que, no futuro, permite que o cineasta reconte esta estória, mas os pontos de vista de ambos divergem: um não quer ser o vilão. O outro tem problemas para treinar os atores. O jovem que interpreta o jovem cineasta chora quando descobre que terá que fingir o jovem que interpreta o jovem policial. A jovem que interpreta a jovem prima do diretor, hoje casada com outro homem e sem querer relembrar estes eventos de sua juventude, sublinha as mesmas frases em livros que a personagem que interpreta. Tudo se confunde... Tudo se explica. Tudo pulsa: “enquanto houver árvores, há vida”!

Wesley PC>

ELOGIO AO ESFÍNCTER (POR UM ADMIRADOR DE HILDA HIST COM DIARRÉIA):


Querido cuzinho,

Eu sei que eu não tenho muitas oportunidades de falar contigo e que tu foste muito bonzinho comigo na última semana, segurando com força aquela merda mole que ficava batendo na tua porta o dia inteiro, mas eu queria te fazer mais um pedido: hoje eu vou ter que sair com alguns amiguinhos, para ver um filme triste, e queria que tu segurasses um pouquinho mais esta porcaria que nos incomoda. Pode ser? Eu, na verdade, descobri que esta merda mole é efeito de um remedinho que eu estava tomando para melhorar aquela dorzinha do nariz, sabe? Mas já parei, viu? Vou comer uma comida bem gostosa hoje, que é para ver se o cocô endurece e a gente volta àquela relação sadia que nós tínhamos antes disso? Posso ter ainda o direito à tua confiança?

A propósito, cuzinho, sei que este perrengue nos obriga a falar de um assunto delicado: eu sinto que tu ficas a piscar de vez em quando, como se quisesse que eu enfiasse algo em ti ou como se estivesse pedindo para que eu te passasse batom na boca, que nem naquela vez, aos 10 anos de idade, quando eu te enchi de batom rosa e te pus para beijar a parede. A gente nem conseguiu, né? Mas foi tão divertido... Meus amiguinhos sempre riem quando eu conto essa estória pra eles. Então... Por enquanto, eu não estou preparado para meter nada em tu não, visse? Aliás, nem sei se é isso que tu queres – uma rolha – mas, se precisar mesmo, é só pedir que eu vejo com alguém o que dá para fazer. Mas tu bem sabes que não depende só de mim, né? Picalomicina é difícil de conseguir e, ao invés de enfiar diretamente na tua boca, eu gosto de enfiar na minha também... De vez em quando eu não passo um pouquinho de gala no dedo e esfrego em ti? Não é que eu seja egoísta, cuzinho querido, mas... Tudo o que eu engulo não sai por ti depois? Não és tu quem filtra o que eu mereço eu não? Saiba que eu confio muito, muito em ti, visse? Tu és uma parte esquisita de meu corpinho, mas eu te amo.

Te quero muito bem, cuzinho!

Melhoras, viu?

Do teu dono com dorzinha de barriga (que, na foto, está sentado na privada),


Wesley PC>

“POR QUE É TÃO INJUSTO?”

Quando estava prestes a redigir uma elegia familiar acerca do dilema que é padecer de diarréia quando o irmão caçula tranca o banheiro para fumar ‘crack’, descubro que o canal fechado TCM está a realizar uma loa à atriz recém-falecida Elizabeth Taylor. Havia acabado de acordar, eram quase 22h, e faltavam poucos minutos para “Gata em Teto de Zinco Quente” (1958, de Richard Brooks) ser exibido na TV, um filme que sempre quis ver. Não sabia que ele seria exibido hoje, modificaram a programação no último instante...

Baseado em peça do homossexual Tennessee Williams, este filme carrega em seus diálogos fortes toda a derruição dos valores familiares a que este celebre autor nos acostumou a esperar de suas obras de arte tão impregnadas de angústia. Os protagonistas são Elizabeth Taylor e Paul Newman. Ele bebe para esquecer. Ela lamenta que ele não tenha engordado depois que se tornou alcoólatra. Ela o ama, ele se autodestrói. Seu pai rico está à beira da morte por causa de um câncer em estágio terminal, apelidado apenas de “colón irritadiço” para não antecipar a dor da família, que em breve perderá seu patriarca. A briga pela herança iniciará antes que ele tombe morto, mas segredos precisam ser desvendados antes que os detalhes burocráticos do testamento sejam discutidos e assinados. Impossível não se identificar com isso!

Apesar de ser um filme extraordinário, “Gata em Teto de Zinco Quente” é afetado por um problema comum às obras que estão à frente de seu tempo: o envelhecimento latente. Em diversos momentos, os tabus apenas suscitados pelo magnífico roteiro incomodam por estarem demasiadamente obscuros, mas, contextualizando-se o filme enquanto produção hollywoodiana de 1958, ele cala a nossa boca, ele estapeia a nossa consciência, ele nos fazer querer torcer por um final feliz, por mais que ele seja tão mendaz quanto os personagens condenavam. Mas, afinal de contas, se “as verdades são tão sujas quanto as mentiras”, de que adianta saber que, quando se vive de verdade, o que se sente é dor e suor, pagar as contas e fazer amor com uma mulher que não se ama mais? Em muitos sentidos, fiquei imaginando a mim mesmo no lugar de Elizabeth Taylor, choramingando amor para um homem que desdenha de sua beleza iridescente. Não que eu queria ou almeje ser bonito, mas pressinto que, numa vida futura hipoteticamente atrelada à sustentação de um gigolô, enfrentarei agruras semelhantes às que ela sofre neste filme impactante. E, de repente, a minha diarréia foi o menor dos meus problemas. Tinha que cuidar do meu irmão doente, tinha que demonstrar que estou ao lado dele. Abri a porta, puxei assunto, aguardei que ele dormisse para sentar diante do computador e desabafar. Numa família, amar é muito mais do que um simples verbo ou uma palavra de quatro letras!

Wesley PC>