sexta-feira, 27 de junho de 2014

DIZEM QUE...


Ainda que...
Glupt!
De que adianta repetir tanto?
Sou um fiasco! 

Oficialmente, não gosto do Mozael Silveira (enquanto diretor), mas tenho que admitir que nutro simpatia risória por "Seu Florindo e Suas Duas Mulheres" (1978). "O Erótico Virgem" (1978), realizado no mesmo ano e com título promissor, é pavoroso! Quem sabe em situações anteriores - e não tão vinculadas à vendabilidade erótica - ele seja melhor sucedido. Eis a minha expectativa substitutiva!

Wesley PC>

PRECISAREI RECORRER A RICHARD LINKLATER?


Ele sequer me atende, sequer explica qual o meu crime hodierno...
Não sei!
Não saberei, pelo visto.
"É Impossível Aprender a Arar Lendo Livros", disse o Richard Linklater no título de seu primeiro longa-metragem, em 1988.
Talvez seja.
Mastologistas e ginecologistas ganham dinheiro.
Seios grandes escondem tumores.
E eu me contentaria ouvindo apenas a voz dele...

Wesley PC>

O LIVRO QUE LEIO, O(S) SONHO(S) QUE TENHO...

Anteontem, emprestaram-me um livro curto, “Noturno do Chile” (2000), de um autor que e sempre quis conhecer, o chileno Roberto Bolaño, falecido em 2003, por conta de insuficiência hepática. O livro é curto, apenas 118 páginas, apenas um parágrafo. É uma confissão, pouco antes da morte, de um padre que colaborou com a ditadura pinochetiana. Amante da literatura e pretensamente “liberal”, tudo indica que este pároco é um homossexual reprimido. Li mais da metade de um livro de uma sentada só. É para ser assim mesmo: o fluxo de pensamento exige!

Fiz outras coisas ao longo do dia e, ao dormir, um sonho que me deixou impressionado: estávamos eu e um amigo que conheço há pouco mais de um ano em Brasília. Estudávamos ambos na UnB: eu, Jornalismo; ele, Medicina. A área da universidade era enorme e lembrava bastante os terrenos de um bairro aracajuano, onde vivia uma grande amiga minha. No intervalo de uma das minhas aulas, passeio pela região e encontro uma banca de revistas usadas, prestes a encerrar as suas atividades. “Ninguém mais compra estas revistas”, reclamava a vendedora a um reciclador de papel, que estava carregando o seu carrinho de mão com as revistas, que seriam deterioradas. Encontrei na bagunça uma Showbizz antiga, com uma matéria de capa sobre a banda alternativa norte-americana Primus, favorita do amigo com quem eu sonhava. Matéria de capa: “música e atitude”. Não tinha um centavo no bolso, de modo que pedi que a vendedora guardasse a revista, enquanto eu ia a um caixa eletrônico retirar o dinheiro. Volto com dez Reais no bolso, quando me deparo com o amigo em pauta trocando o pneu de sua bicicleta. Conto-lhe a novidade e ele vai comigo, a pé, até a banca de revistas. Antes, deparamo-nos com dois trombadinhas com quem ele havia brigado na semana anterior. Os meninos pareciam agressivos: ambos eram negros, barrigudos, descamisados, violentos... Tinham menos de 10 anos, mas nos perseguiam com pedras. Corremos alvorocadamente e, de repente, meu amigo fere o seu pé. Pára subitamente. Precisei ajudá-lo, ampará-lo. Os garotos aproximavam-se mais e mais. A fim de proteger a mim e ao meu amigo, adentramos uma padaria que também funcionava como fábrica de salsichas. O proprietário era evangélico e nos concede abrigo. Peço-lhe que ligue para a Polícia (ou para o Juizado de Menores) quando eu consigo capturar um dos garotos meliantes pelo braço. Ele parecia chorar. Desperto.

Acordado, impressionado (eram 6h30’ da manhã!), envio SMS descrevendo o sonho a dois amigos: aquele com quem eu sonhara efetivamente; e outro que correspondia aos dados transferidos oniricamente, alguém que, de fato, estudara na UnB. Levanto-me, escovo os dentes e sento-me para ler mais alguns trechos do livro, enquanto minha mãe preparava o cuscuz. Página 78: “Os dias que se seguiram foram estranhos, era como se todos nós houvéssemos acordado de repente de um sonho para a vida real, embora por vezes a sensação fosse diametralmente oposta, como se de repente todos estivéssemos sonhando. Nosso dia-a-dia se desenrolava de acordo com esses parâmetros anormais: nos sonhos, tudo pode acontecer, e você aceita que tudo aconteça” (grifo do autor). Fiquei impressionado. Envio o trecho lido para os dois amigos mencionados e para o rapaz que me emprestou o livro, além de um garoto por quem me obsedo hodiernamente. Ouvi um pouco de música, comi algo, segui vivendo. A vida continua: estou acordado!

Nota: após a leitura, percebi que há um segundo parágrafo, a derradeira linha do livro, composta por apenas oito palavras, depois de uma longa reflexão sobre os descaminhos e contradições da política chilena. “E depois se desencadeia a tormenta de merda”, conclui o padre, antes de morrer. Sábia constatação!

Wesley PC>

quinta-feira, 26 de junho de 2014

IRRITAÇÃO GODARDIANA? DE JEITO NENHUM!

Há pouco, vi uma truncada entrevista (para)televisiva com o diretor Jean-Luc Godard, realizada pelo cineasta Alexander Kluge. Pelo que pude compreender, esta foi lançada como um curta-metragem, sob o título “Amor Cego – Conversa com Jean-Luc Godard” (2001), mas a mesma irritou-me sobremaneira. Por mais valioso que seja o entrevistado, tanto por sua história intrínseca de colaboração cinematográfica quanto pelo arcabouço cinefilico, o entrevistador presunçoso ficou predominantemente restrito a questões de cunho filosófico exibicionista, como: “quem envelhece primeiro: o olho ou o ouvido?”. O entrevistado saiu-se bem: “do ponto de vista físico, eu não sei” (risos), mas prosseguiu na condução existencial da questão, o que felizmente contornou o tom pernóstico da questão, mas... Puxa, esse é o tipo de pergunta que se faz a um realizador do quilate de Jean-Luc Godard? Tem cabimento vender um treco confuso e/ou amorfo como este como curta-metragem “artístico”? Será que ninguém percebeu que a voz altissonantemente sobreposta da tradutora Ulrike Sprenger exaspera? Será que tudo isso é de propósito? Talvez eu esteja espectatorialmente equivocado, claro, mas detestei este sub-arremedo de filme, urgh!

Em defesa da genialidade potencial do diálogo, dois tópicos de defesa: primeiro, a magistralidade do título que traz à tona uma expressão vinculada ao dilema de amar (e falar sobre) filmes que não se pode ver, por estarem proibidos ou desaparecidos, que tem muito a ver com o contexto de censuras em que Jean-Luc Godard atuou como crítico. Inclusive, na sua fala, há um momento em que ele confessa que, de repente, percebeu que, até o dia em que nascera, em 3 de dezembro de 1930, sua mãe tinha visto apenas filmes mudos, o que o leva a discorrer sobre a incipiência de hierarquias na preferência fílmica (ao contrário do que há na Literatura) e sobre a desnecessidade de se diferenciar receptivamente filmes mudos e sonoros, salvo pela questão técnica; segundo, a imagem que ostenta esta publicação, uma fotografia que Alexander Kluge mostra a Jean-Luc Godard, a fim de demonstrar a possibilidade de roteirização da expressão que intitula o filme, com base na trama imaginária de um garotinho que ajuda o pai, caminhoneiro e cego, a guiar o seu veículo de carga. Um ponto de partida emocionante e genial! Pena que isso se torne irritante quando o entrevistador pergunta ao entrevistado se ele teria vontade de conduzir uma continuação para “Alemanha, Ano Zero” (1948, de Roberto Rossellini). Será que isso foi uma piada de mau gosto? Será que Alexander Kluge não sabe da existência de “Alemanha Nove Zero” (1991), do próprio Jean-Luc Godard, que adapta a angústia do garotinho Edmund para os dias atuais, em versão adulta? Detestei o curta-metragem (sic) klugeano, mas Jean-Luc Godard é genial – e lúcido – pura e simplesmente!

 Wesley PC>

quarta-feira, 25 de junho de 2014

terça-feira, 24 de junho de 2014

PARA QUEM CANTA NO CHUVEIRO E DANÇA NA VIDA!

Há alguns meses, ganhei de presente o romance “Bebel que a Cidade Comeu”, do escritor Ignácio de Loyola Brandão. O livro tem quase 400 páginas e, apesar de eu ter algumas promessas literárias pendentes, creio que o iniciarei amanhã mesmo. O motivo dominante: passei muito tempo indagando se este título teria inspirado o longa-metragem “Bebel, Garota Propaganda” (1968, de Maurice Capovilla). Na tarde de hoje, vi o filme e tirei a prova: sim, era – e o filme é ótimo!

Na trama, a bela e mui talentosa Rossana Ghessa interpreta a personagem-título, Maria Isabel, que, depois de ter seu hipocorístico descoberto por causa de um vizinho gago, torna-se modelo de uma campanha de sabonete. Não sabe cantar, mas improvisa, dubla. É linda, faz sucesso, fica famosa e mal-falada. Sai de casa, conhece o nadir midiático, é abandonada e usada por inúmeros homens. Termina o filme com os cabelos balançando, sendo rifada pelo sarcástico personagem de Maurício do Valle, que, antes, escorrega pelas ladeiras paulistanas sentado num bloco de gelo, alegando estar praticando um “esporte de inverno”. Antes dele, Bebel foi utilizada por John Herbert, Paulo José, Fernando de Barros e tantos outros, tendo se apegado afetivamente ao estudante mimado vivido por Geraldo Del Rey, que a tacha de alienada mas que a repreende quando descobre que ela não é mais virgem. Um filme ótimo, que, passados quarenta e seis desde a sua realização, ainda permanece deveras atual, profético. Uma aula sobre a Indústria Cultural no Brasil, uma transição inteligentíssima entre o Cinema Novo e as pornochanchadas. Quero ver de novo, acompanhado por mais gente: minha mãe amou a amoralidade do enredo, apesar de ter se decepcionado com o final abrupto. Eu amei. E, agora, estou ansioso pelo livro-base!

Wesley PC>

segunda-feira, 23 de junho de 2014

“VOCÊ ACHA UMA SURUBA MAIS IMPORTANTE QUE O NOSSO FUTURO?”

Esta pergunta deixa óbvia a vertente “pimba” da produção pernambucana “Jardim Atlântico” (2012, de Jura Capela), que vi nesta noite de domingo. Na verdade, tal vertente era ostentada desde a seqüência inicial, uma exploração subaquática de um navio naufragado sob o arquipélago de Fernando de Noronha. De repente, um minotauro despido surge em meio aos destroços de navio afundado e emerge. Vemos, então, imagens carnavalescas, cenas de orgias, casais se formando... Um deles, composto por Pierre (Mariano Mattos Martins, ator lindo que, felizmente, aparece nu numa seqüência) e Syl (Sylvia Prado) será destroçado pelo ciúme. O pivô (in)voluntário deste sentimento é o pernóstico fotógrafo Hermes (Fransérgio Araújo, insuportável), que, numa cena praiana pretensamente divertida, incomoda a privacidade do cantor Otto, que se exaspera. Mais à frente, Céu aparece cantando – muito bem, por sinal – “Aquarela do Brasil”. Antes, Ava Rocha deu o ar da graça. Ao final, a execução do “Hino Nacional Brasileiro” antecipa a subida ao céu (ou o mergulho nas profundezas do oceano) da amante assassinada pelo namorado ciumento... Apesar das pretensões exacerbadas e dos defeitos conjunturais (principalmente em relação ao elenco), um filme de que gostei bastante. “Sou um fiasco!”, foi o que admiti para um amigo, quando me percebi deleitado frente à obra...

Antes de vê-la, muita coisa aconteceu. Houve uma briga horrível na rua em que moro: um policial furibundo agrediu o namorado de uma vizinha grávida, por causa de uma bobagem injusta. O filho do primeiro, recém-saído da prisão por assaltos praticados em ônibus, ameaçava matar o rapaz agredido. Gritava que, se voltasse para a cadeia, o seu pai o livraria da prisão, pois “ele tem dinheiro!”. Inúmeros vizinhos torciam para que o policial fosse espancado, mas este estava possuído pela cólera: quebrou os vidros do carro do rapaz com as mãos, quase faz despencar o portão da casa de sua namorada, atirou tijolos contra seus desafetos. Foi terrível! O pior: quando os policiais chegaram, muito tempo após serem convocados, sequer interrogaram o estulto colega policial. O poder coercitivo é, de fato, tendente às injustiças!

Tendo o clima se acalmado, aproveitei a deixa para assistir ao último capítulo da quarta temporada do excelente seriado de TV “Game of Thrones”. Pelo menos dois momentos antológicos e mui dramáticos devem ser destacados: o instante doloroso em que a ‘khaleesi’ Daenerys Targaryen (Emilia Clarke, extraordinária) precisa aprisionar seus enteados dragões; e o momento pungente em que, num paroxismo de tristeza e sentimento de que fora traído, o inteligentíssimo anão Tyrion Lannister (Peter Dinklage, magistral) assassina a sua amada Shae (Sibel Kekilli, soberba). Durante o homicídio, é óbvio que ele sofre, que ele ainda a ama. E eu senti na pele aquele sentimento intenso. Por mais que, do lado de fora da tela, o que me incomodava era a exígua quantidade de sêmen que fora emanada de uma felação emergencial, que me fez virar o rosto para a elogiada seqüência de luta entre Brandon Stark (Isaac Hempstead Wright) e um exército de esqueletos animados, que homenageia o sumo talento do recém-falecido Ray Harryhausen (1920-2013). Sem contar que o desfecho do episódio assegura que o meu alter-ego, o cínico lorde Varys (Conleth Hill) terá participações ainda mais relevantes na quinta temporada. Ôba! Tudo valeu a pena...

Wesley PC>