sábado, 21 de agosto de 2010

“FALEM MAL, MAS FALEM DE MIM...” É UMA COISA BOA?

Para muita gente, talvez não. Para mim e para o Jean-Claude Van Damme que protagoniza “JCVD” (2008, de Mabrouk El Mechri), a resposta talvez seja sim”.

Começando de outra forma: não são poucas as pessoas que me criticam pela hiper-exposição de minha vida pessoal nos ‘blogs’ de que participo e são ainda mais numerosas as pessoas que reclamam – com razão, às vezes – que eu as prejudico com minhas impensadas declarações de cunho pessoal, que as envolvem. Pois bem, vi há pouco o filme supracitado e confesso-me escandalizado com a entrega impressionante do ator belga Jean-Claude Van Damme ao que seria seu próprio papel, um ator de filmes de ação, envelhecido e decadente, que envolve-se por acidente num assalto a uma agência de correios e enfrenta vários reveses públicos por causa de sua fama. Ou mais ou menos isso.

Em verdade, “JCVD” requer uma análise bem mais complexa do que o meu estupor aqui demonstrado poderia proporcionar. Vejamos se eu consigo antecipar algo: o filme se inicia com um plano-seqüência de ação que estafa o ator-personagem, que se queixa de sua forma física debilitada, em razão de ter 47 anos de idade. Na seqüência seguinte, vemo-lo perder a custódia de sua filha em razão de sua legitimação da violência através dos filmes de pancadaria que realizara, para que, no momento seguinte, ele fosse aprisionado pelos assaltantes de uma agência de correios, aprisionamento este que é confundido pelos transeuntes e pelos policiais, que atribuem ao desesperado Jean-Claude Van Damme intra-diegético a autoria do assalto. Em dado momento do filme, aliás (este mostrado em foto), o personagem funde “realidade fílmica” e “fantasia fílmica” num devaneio choroso em que culpa o espectador por estar aprisionando-o nesta cadeia de mal-entendidos prejudiciais, oportunidade em que ele aproveita para confessar o quanto o vício em drogas destruiu não somente sua carreira, mas principalmente sua vida pessoal. Juro que não soube como me manifestar perante o ator-personagem depois disso!

Incapaz que eu estava de julgar ou “perdoar” o personagem por seus erros – que, sim, confundem ficção e realidade – pude manifestar minha insatisfação sobre a bazófia do diretor argelino Mabrouk El Mechri, que manipula o ator-personagem a bel-prazer, servindo-se dele como um mero fetiche para satisfazer às suas pretensões “autorais” e satíricas, que, se foram, afinal, bem-sucedidas, é porque não tem como não se sair perturbado deste filme (vou ter que usar esta palavra) original. Impossível não sentir compaixão pelo ator-personagem e/ou pelo personagem-ator, impossível não se pôr no lugar dele, impossível não se sentir culpado osmótico pelos qüiproquós violentos que são mostrados no filme. Eu, pessoalmente, que dediquei significativa produção de esperma adolescente a este astro marcial sempre que revia “Duplo Impacto” (1991, de Sheldon Lettich) e gozava na famosa cena da cueca de seda preta que identifica os dois irmãos gêmeos, não tinha como não me sentir envolvido no drama do ator/personagem/ator, que merece créditos positivos por suas participações “dramáticas” em filmes como “Cyborg, o Dragão do Futuro” (1989, de Albert Pyun – que eu sei que é horrível, mas marcou parte de minha infância), “Soldado Universal” (1992, de Roland Emmerich – quiçá o seu melhor filme), “Vencer ou Morrer” (1993, de Robert Harmon – em que a nudez do artista é sabiamente aproveitada como elemento enredístico) e “Desafio Mortal” (1996 – dirigido por ele mesmo e preterido injustamente pro seus próprios fãs). Confesso: foi triste vê-lo acabado daquele jeito, ainda que foi satisfatório percebê-lo tão bem-intencionado a enfrentar a situação...

Seja qual for a interpretação dominante sobre este filme singular (ouso insistir neste adjetivo), minha única revolta contra ele parte em direção ao diretor e roteirista Maboruk El Mechri, um pilantra sacana que se aproveita ironicamente da decadência de seu protagonista e entope o filme com piadinhas metalingüísticas, reviravoltas crono-dimensionais e ‘leitmotivs’ vilanescos incredíveis. Mas, por sobre todos os defeitos evidentes do filme, a sinceridade metonímico/metafórica do protagonista se destaca e, assim sendo, é impossível não se emocionar com a superposição de imagens vítreas que impera na seqüência prisional final. Belíssimo filme, belíssimo alerta para mim mesmo!

Wesley PC>

“TENCIONO FALAR SOBRE UM ASPECTO EM PARTICULAR DAS HORAS EM QUE PASSEI NESTA FESTA INFORMAL EM SEGUIDA”...

Não sei se já contei este fato, mas é um daqueles encontros casuais que pareceram bobos na sua execução, mas que me marcaram sobremaneira: numa tarde qualquer, eu saía do trabalho em direção a minha casa, mas estava com tempo livre, não tinha nada agendado para fazer naquele horário (coisa rara em minha vida de burocrata – risos). Deparei-me com um conhecido ditado numa bancada de cimento e parei para conversar com ele, que puxou um livro de sua mochila e disse que preferia que eu fosse embora, pois ele considerava um desperdício de tempo conversar com transeuntes amigáveis, quando poderia estar lendo ou “aprendendo” algo...

Sei que ele estava sem razão quando proferiu esta justificativa de expulsão (hoje, por exemplo, ele vive dopado, em razão de algumas patologias psicológicas), mas, por algum motivo, aquelas palavras se enfurnaram nalgum lugar recôndito de minha mente, retornando em instantes (in)convenientes de meu dia-a-dia, quando estou a interagir ou a me divertir entre amigos, colegas ou vizinhos. Foi o que aconteceu ontem, quando eu comia torta doce com refrigerante em comemoração ao aniversário de uma vizinha recém-dilacerada por um término de racionamento amoroso. Era importante que eu estivesse ali presente, fiz com que muitas pessoas sorrissem e sorri também, mas algo de psicologicamente patológico me empurrava para casa (“tens que terminar o livro que estás a ler, tens que ver algum filme, etc.,...”). Por sorte, eu raciocinei e ponderei as minhas opções: “por que eu teria que ir para casa transformar em obrigações o que me diverte se eu estava a me divertir bastante por ali?!”. Felizmente, entendi que não tinha que ser obrigado a nada pelo lado “demoníaco” de minha pseudo-consciência. Fiquei na tal festa até as 23h59’ de ontem e, ao chegar em casa, dormi. Dormi pelas 8 horas que se seguiram e não me arrependi: acordei disposto, sorridente, pronto para ler os livros que quisesse, os filmes que me aprouvessem e valorizar como se deve as companhias humanas que me cercam todos os dias... Ponto reticente.

Detalhe: o conhecido pirado que citei no primeiro parágrafo deste texto apareceu em meu trabalho há alguns dias, completamente alucinado, e começou a reclamar sobre algo que não poderia ser resolvido no setor em que trabalho. Repeti para ele várias vezes: isto não se resolve aqui!” e, em virtude do escândalo causado por minha reação enraivecida, minha chefa perguntou-me: “ele é doido, Wesley?”. Respondi na lata: “sim!”.

Wesley PC>

PERTINHO DO OUVIDO, DURANTE A CAMINHADA...

O nome da banda britânica Skunk Anansie e o charme careca da vocalista Deborah Dyer (vulgo Skin) sempre me deixou deveras curioso no que tange à necessidade de ouvir esta banda, mas somente depois que eu passei meus olhos pela milionésima-terceira vez pelas páginas 842-843 da enciclopédia básica “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer” é que decidi baixar “Post Orgasmic Chill” (1999), terceiro disco da banda. Ouvindo-o no caminho para casa, na noite de ontem, fui positivamente atingido pelo poder de “resfriamento pós-orgástico” contido nas letras, vociferadas pela potente garra vocal da protagonista. Muito bom mesmo, consolador e profético ao mesmo tempo, sendo que a canção que mais me marcou foi a faixa 3, “We Don’t Need Who You Think You Are”, em que uma frase recorrente diz que “Deus lambe a sua cara como se fosse um cachorro” e o verso final fala que “agora os negros legislam”. Algo neste percurso metafórico me fisgou...

Algo neste percurso metafórico me fisgou, no sentido de que, enquanto eu caminhava para casa, enumerava o que me levava a fazer isso noite após noite, que tipo de compensação eu encontrava em minha própria casa, no sentido mais relacional e (pós- ou pré-)orgástico do termo. No caso específico de ontem, a resposta veio através de uma festa-surpresa que alguns vizinhos realizaram para outra vizinha aniversariante, que mora em frente a eles. Tenciono falar sobre um aspecto em particular das horas em que passei nesta festa informal em seguida, mas, por ora, é Skunk Anansie o que ouço:

I awake
Dry the scream
Spit the vile breath
‘Till my tongue bleeds
Thinks it's all gone
Famously
Broke the hard girl
Good to please
A lone brother
A lone sister
A home cover
Alone”


Wesley PC>

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

TRÊS DEDOS EM CADA PÉ – MAS NÃO SÓ!

Há alguns dias que eu tencionava ver “Um Irmão Vindo de Outro Planeta” (1984), filme pouco conhecido do genial diretor militante John Sayles, mas só o consegui na manhã de hoje. Como sói acontecer nas obras deste brilhante cineasta-roteirista, o eixo central da trama do filme é um mero pretexto para que ele desencadeie seus discursos pró-igualdade entre raças, contra o racismo, contra o preconceitos aos imigrantes, contra a exploração dos sub-empregados, contra tudo que se expande de forma atroz no Capitalismo. A diferença aqui é que ele se utiliza das convenções genéricas da ficção científica para alargar o conceito de “alienígena”, entendendo o mesmo como meramente estrangeiro. O resultado, obviamente, não somente é genial como faz-nos ecoar experiências pessoais no que tange ao assunto. É o que aconteceu comigo:

Às 17h55’ de ontem, cinco minutos antes da hora de abrir o expediente externo de onde trabalho, uma estagiária do DAA veio alvoroçada à minha procura pois não estava a conseguir entender o que um dado aluno falava, dado que ele era estrangeiro – francês, para ser mais preciso. Fui em busca dele, portanto, cadastrei-o e matriculei-o, treinei algumas de minha palavras galófonas e deixei-o assustado e bem-humorado com minha avassaladora velocidade vocal, ao passo que minhas colegas de trabalho exclamavam o tempo inteiro: “que menino bonito!”. Eu estava tão impregnado de necessidade interativa lata que nem prestei atenção a isso, não obstante admitir que ele se vestia muito bem. Quando o mesmo foi embora, despedimo-nos com certo desconforto [seria ele ‘gay’? teria ele achado que eu estava dando em cima dele por estar sendo tão solícito e/ou simpático? Será que ele se irritou por eu ter repetido ‘presque’ (que significa ‘quase’, uma de minhas palavras favoritas em qualquer idioma) em várias situações responsivas?], de maneira que uma garota que trabalha comigo soltou logo o adágio: “ele deveria se comunicar mais se quisesse mesmo interagir com os habitantes daqui”... Eu e ela somos estudantes de Comunicação Social. Como tal, sorri da observação!

Vendo o filme supracitado na manhã de hoje, esta experiência positiva acompanhou-me de perto: se pareceu tão problemático inserir numa situação tão positiva (cadastrar a matrícula diante de um rapaz profissionalmente simpático como eu), imagina numa situação ainda mais conflituosa! No filme em pauta, por exemplo, há um momento brilhante em que, ao ver um rapaz deitado no chão, morto por overdose de ‘crack’ ou outra droga semelhante, o alienígena se dopa propositalmente para entender o que havia se passado com aquele rapaz negro, de maneira que, ao despertar, é conduzido por um jamaicano às agruras e prazeres da noite no Bronx, num périplo que, ao final, o levará a conhecer o sexo com uma bela e terna mulher terrena, que diz que ele deveria cortar as unhas dos pés, principal indício de que ele era alienígena. O estupor do protagonista, portanto, é bem metonimizado na imagem que acompanha esta postagem. E o meu também: belíssimo filme, inteligentíssimo discurso!

Em algumas horas, estarei de volta ao trabalho. Imagino que não atenderei a nenhum estrangeiro hoje, mas às mesmas pessoas de sempre, alunos pretensiosos e esnobes que se estrangeirizam de propósito em relação a relações sociais e burocráticas básicas e facilmente compreensíveis – para qualquer um, menos para eles! Por sorte, John Sayles deixou-me um pouco mais sabido para enfrentar isso...

Wesley PC>

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O AMARGO (LOGO, DOCE) DESPERTAR!

Tanto tempo aguardando para ver “O Casamento de Rachel” (2008, de Jonathan Demme), tanto tempo suspeitando que este filme seria dramaticamente poderoso, tanto tempo com um arquivo deste filme em minha casa e somente depois que eu cochilei na sessão exibida na HBO é que eu pude concretizar a recepção do filme . Dormi após mais ou menos meia-hora de projeção e achei o ritmo propositalmente informal do filme um tanto enfadonho, mas, durante os créditos finais de uma sessão interrompida, estava eu com o coração na boca: atuações maravilhosas, perfeito uso de trilha sonora diegetizada, personagens que me remeteram à relação tumultuada que eu tenho com a minha família amplamente disfuncional. Logo, coração na boca!

Resumo simplista da trama: uma modelo internada numa clínica para tratamento de viciados em drogas recebe permissão de fim de semana para comparecer à cerimônia matrimonial de sua irmã mais velha. Sob extrema vigilância alcoólica e automobilística, ela pede desculpas a quem conhece e a quem não conhece, enfia um soco certeiro no rosto de sua mãe, sofre um acidente de carro e confessa a responsabilidade/culpabilidade pela morte de seu irmão caçula, apenas para ficar em alguns exemplos gerais. Ou seja, por mais que eu tenha me insatisfeito sensorialmente com o ritmo do filme ou com o rebuscamento disfarçado da direção, não tinha como eu sair ileso deste filme, na pior da hipóteses, imperfeitamente genial. Tenciono revê-lo ainda esta semana. Coração na boca...

Wesley PC>

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

AGNÈS VARDA ANTES, DURANTE E/OU DEPOIS DO ALMOÇO!

Quando fui lavar as mãos antes de almoçar, ouvir o garoto que entrega as marmotas dos funcionários reclamar que estava preocupado em ir para casa pois fora flagrado por sua tia, fazendo sexo com uma jovem de mesma idade na cama de sua prima. Segundo ele, sua mãe é muito conservadora e, como tal, iria lhe passar o maior sermão, pois ele entrou sem permissão na residência em que estava. Ok, saí da sala, lavei as mãos e voltei para comer.

Tencionava rever “Prazer Amoroso no Irã” (1976), da cineasta belga Agnès Varda, durante o almoço, mas uma colega de trabalho puxou assunto comigo e eu não quis deixá-la conversando sozinha. Entretanto, rever 1 minuto do curta-metragem em pauta já me foi suficiente para ser novamente alvejado pelas belas imagens e palavras do filme. Agnès Varda não é somente uma cineasta com muito estilo e militância feminista. Ela é uma esteta, uma apaixonada, uma “companheira de percurso”... No filme, um homem e uma mulher, impregnados de paixão e magnetismo erótico, comparam a arquitetura dos seus corpos à arquitetura hipnótica dos prédios iranianos. Amam através de gestos, sons e palavras. Como espectador deslumbrado, podia eu fazer diferente? Por isso, como!

Wesley PC>

“A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”...

Uma de minhas passagens bíblicas favoritas é quando um dos apóstolos de Jesus Cristo reclama com ele que os monarcas estão cobrando impostos muito altos, ao que Jesus pergunta: “qual é o rosto que está nas moedas?” O discípulo, espantado, responde: “o de César”, ao que Jesus inquire: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus(Marcos, 12: 17)

Pois bem, na manhã de ontem, meu irmão caçula recebeu um dinheiro extra, advindo do PIS, do INSS, do FGTS ou de algum destes benefícios extra-salariais da Previdência Social Federal. Como minha mãe estava ao lado dele, obrigou-o a realizar diversas compras supérfluas, a fim de que não sobrasse dinheiro para gastar com ‘crack’. Conclusão: ganhei uma camisa verde de surfista, uma cueca nova, duas meias e dois chaveiros com formatos de golfinhos, mas, ainda assim, pelo menos cem Reais (R$ 100,00) foram gastos com a ‘pedra maldita’. Pós-conclusão: minha mãe hoje inventou de ir ao hospital e descobriu que sua pressão cardíaca está ainda muito alta, conforme comunicação recebida por telefone há pouco, que, obviamente, me deixou novamente preocupado. Mas é isso: quem mandou a família Castro se meter com dinheiro?!

Quanto aos dizeres acostados à imagem da nota de R$ 100,00 que anexei à postagem, não sei do que se trata, mas achei tão divertido e inusitado, que publiquei assim mesmo (risos).

“Então, ele, conhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me uma moeda, para que a veja.”

Wesley PC>

FALTEI AULA POR CAUSA DE AGNÈS VARDA – E FIQUEI MAIS INTELIGENTE POR CAUSA DISSO!

Mesmo não sendo intencional, eis o que aconteceu: teria aula às 7h da manhã de hoje, mas acordei tarde (por volta das 6h40’) e fiquei angustiado para ver o final do média-metragem que comecei a ver antes de capotar de sono: “Os Panteras Negras” (1968, de Agnes Varda), sobre a série de revoltas e protestos que varreram os EUA quando da prisão do líder negro Huey P. Newton (1942-1968), que tornou-se famoso enquanto protestante e defensor dos diretos iguais para todas as raças, mas que acabou sua vida como traficante de drogas, assassinado por um rival, demonstrando que a estratégia do FBI em saturas os bairros pobres nortes-americanos com substâncias tóxicas fora muito bem sucedida. Porém, não é esta decadência discursiva provocada que está em pauta no documentário de Agnes Varda, mas o auge do próprio processo revolucionário, o calor válido do momento de revolta!

Além de ser muito inteligente e fundamento em suas propostas combativas, Huey P. Newton era muito bonito fisicamente. Conheci-o através do bom filme biográfico “Panteras Negras” (1995, de Mario Van Peebles) e, desde aquele momento, ficara apaixonado por sua estória, por seu fervor legislativo-defensivo no que tange ao direto de os negros poderem usar armas como qualquer outro cidadão estadunidense (sic). No comando dos Panteras Negras, portanto – grupo este que também protagonizou “Sympathy for the Devil/ One Plus One” (1968. de Jean-Luc Godard) – Huey P. Newton implantou vários estratagemas genais de protesto, como, por exemplo, distribuir massivamente o livro vermelho de Mao Tse-Tung entre os universitários. Infelizmente, não deu certo por muito tempo, mas... Ele tentou, ele (me) comoveu!

No filme, jovens negros cantam contra a bruta intervenção policial, em prol da assunção de que o inimigo da causa deles não são os brancos (“irmãos de sangue” que nem eles), mas as instituições mantenedoras do racismo. Sempre me empolgo deveras quando escuto alguém proferir este tipo de discurso racional e consciencioso, e não foi diferente na manhã de hoje: empolguei-me tanto com o filme, com os discursos ali proferidos que, quando fui ver, já eram 8h20’. Perdi aula, mas como eu aprendi vendo este filme! Agnès Varda sempre me proporciona esta certeza!

Wesley PC>

terça-feira, 17 de agosto de 2010

QUANDO A FOME VAI DE ENCONTRO AO DESEJO DE FAZER SEXO...

Ou de por que o filme “Limite” (1931, de Mário Peixoto) não me sai da cabeça hoje...

Terça-feira ainda. E estou cansado.
Vivo, ainda. Menos mal!

Wesley PC>

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SEGUNDA-FEIRA, 16 DE AGOSTO DE 2010: INÍCIO DO PERÍODO LETIVO 2010.2 DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, BRASIL.

Pela primeira vez desde 2003, desfrutei de um turno inteiro de meu dia para ter aulas. Das 7h às 13h de hoje, estive voluntariamente confinado em duas salas de aula, a fim de assistir às primeiras aulas do período. Por sorte, ambas as professoras apareceram, contrariando uma tendência infelizmente dominante nos primeiros dias.

A primeira disciplina a que assisti chamava-se TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DE REPORTAGEM E REDAÇÃO JORNALÍSTICA I. Nesta, uma jovem professora estabelecia as conhecidas diferenciações entre jornalismo popular e jornalismo de referência e explicava-nos as principais aplicações, com base em sua experiência profissional pessoal, dos valores-notícia nas redações jornalísticas sergipanas. Acrescentou que as avaliações de sua disciplina basear-se-ão em atividades práticas, incluindo quiçá uma entrevista, algo que eu inicialmente não gosto e que, caso precise realmente enfrentar, delimitará por completo a minha adesão profissional a esta área de formação empregatícia ou não. Num momento, eu fiquei preocupado. No outro, diverti-me com as possibilidades de enfrentamento de algumas de minhas principais limitações sociais contemporâneas.

[INTERVALO]

A segunda disciplina tinha como título SEMINÁRIOS TEMÁTICOS III e como subtítulo “das redes sociais às mídias digitais”, de maneira que, com base nas metáforas da rede de pesca, da teia de aranha, da árvore cheia de galhos e do rizoma deleuziano, a professora explicou como atos individuais simples podem engendrar interações sociais mais amplas e complexas. Pareceu-me um prelúdio deveras interessante de conteúdo intra-acadêmico, mas a subsunção da firme professora à baderna vaidosa e autocomplacente da turma me incomodou. Conclusão: fiquei caladinho e encolhido na minha cadeira, temendo ser interpelado, ansioso para almoçar. Ainda que assustado, porém, comemorei esta liberação de minha asfixiante rotina de trabalho para assistir a estas duas aulas.

Detalhe: no intervalo acima destacado e durante as próprias disciplinas, fui interpelado por várias pessoas, que desejavam me fazer perguntas burocráticas e/ou interromper as minhas divagações sobre o apelido de “capô de fusca” que aplicam sobre determinadas áreas vaginais ou sobre o gosto seboso do lubrificante anal com gosto de chocolate que me fizeram experimentar. É muito divertido estar de voltas às aulas, com tudo de limitado que isto implica. É lindo!

Wesley PC>

O AMOR, A MINHA RELIGIÃO... E MARIA!

“Olha o que foi, meu Bom José, se apaixonar pela donzela
Dentre todas, a mais bela de toda a sua Galiléia
Casar com Débora ou com Sara, meu bom José, você podia
E nada disso acontecia, mas você foi amar Maria.

Você podia simplesmente ser carpinteiro e trabalhar
Sem você ter que se exilar, nem se esconder com Maria
Meu bom José, você podia, ter muitos filhos com Maria
E teu ofício ensinar, como teu pai sempre fazia

Por que será meu bom José, que esse teu filho, pobre um dia
Andou com estranhas idéias, que fizeram Chorar Maria
Me lembro às vezes de você, meu bom José, meu pobre amigo
Que desta vida só queria ser feliz com sua Maria”


A imagem pertence ao filme “Le Révélateur” (1968, de Philippe Garrel), ao qual acabo de assistir. A letra (composta pelo egípcio Georges Moustaki e vertida em idioma do Brasil por Nara Leão) pertence à canção “José”, faixa 6 do disco “Build Up” (1970), de Rita Lee, ao qual ouvi muito na semana passada. Somadas imagem e letra, película e canção, vejo-me diante de uma experiência epifânico-religiosa potentíssima, em que o amor a Deus e o amor carnal pelo próximo assumem-se como mui similares, ambos coadunados à necessidade de fuga, causada única e simplesmente por aqueles que não entendem quão belos são os sentimentos que nascem dentro, mas que dentro não podem ficar... Sou desses que amam!

Wesley PC>

domingo, 15 de agosto de 2010

“A VIOLÊNCIA É SEMPRE ALGO REPROVÁVEL, MAS, EM ALGUNS CASOS, ELA É LARGAMENTE RECOMENDADA, ÁS VEZES”

Sim, eu sei, é uma frase contraditória, mas é típica dos simpatizantes franquistas que povoam os filmes inconformistas do genial Eloy de la Iglesia. No caso em pauta, quem pronuncia tal apanágio antitético é o padre que aconselha Marcos (Juan Diego), protagonista masculino do filme “La Criatura” (1977, de Eloy de la Iglesia), em que sua esposa Cristina (magnificamente interpretada pela cantora Ana Belén) apaixona-se por um imenso cachorro preto. Conto mais: no filme em pauta, a protagonista feminina denuncia desde o começo que é infeliz em seu casamento. Numa consulta com seu médico, ela descobre que está grávida e, como tal, pensa que esta será uma boa solução para salvar o que resta de seu casamento, lancinado pela infidelidade contumaz de seu esposo, apresentador de um fútil programa de TV. Numa parada para abastecer o automóvel, Cristina é atacada por um cachorro aprisionado, deixando-a traumatizada e fazendo-a perder o bebê. Meses depois, numa praia, ela encontra um cachorro negro, que age tão carinhosamente que faz com que ela convença seu marido a adotá-lo. O que se segue não deve ser antecipado, a fim de não estragar a surpresa e o frescor que escorre de cada filigrana deste filme.

“Los hijos que no tuvimos
se esconden en las cloacas,
comen las últimas flores,
parece que adivinaran
que el día que se avecina
viene con hambre atrasada.”


Não obstante a cautela sugerida na revelação de detalhes sobre a trama deste ótimo filme, não é nenhum segredo que a protagonista se envolve sexualmente com um cachorro. Porém, ao contrário do que aconteceria se este filme fosse dirigido por outro cineasta, tal relação bestial não é abordada de forma escandalosa pelo preciso roteiro de Enrique Barreiro, visto que o que é verdadeiramente escandaloso no filme não é a zoofilia sexual, mas sim a propensão dos personagens a um sistema ditatorial de governo que pregue barbaridades como a que intitula esta postagem, contextualmente aplicada à defesa eclesiástica do espancamento de mulheres independentes por seus esposos infiéis. Digo mais: o espetacular desempenho do cachorro Micky III (intérprete do cão Bruno, nome que seria destinado ao filho de Cristina antes de ela abortar) embasbaca qualquer espectador. Numa dos momentos mais geniais do filme, há uma seqüência quase sem cortes em que a protagonista banha-se ao som de “Al Alba” (canção maravilhosa na voz de Rosa León), pede que o cachorro lhe busque uma toalha e, em seguida, é desnudada por ele. Como é que eles conseguiram isso?!

Wesley PC>

UM EVENTO, QUE DESENCAVA OUTRO, QUE DESENCAVA UM DISCO, QUE DESENCAVA EVENTOS...

16h30’ de sábado: eu e alguns amigos reunimo-nos para assistir a mais um filme inconformista sobre política que se reflete no sexo – e vice-versa. Após a sessão, comemos algo, conversamos e discutimos sobre que disco ouvir. “Mais” (1991), segundo disco da baiana Marisa Monte foi o escolhido, o que rendeu uma interessantíssima avaliação sobre o que este disco representa/representou para a cultura brasileira, sobre as mudanças de apreciação que o som da cantora vem sofrendo ao longo dos anos e novos discos lançados, sobre o quão cobertos de razão são as opiniões de um fã de um dado artista, etc.. Concordamos em alguns pontos, discordamos de outros e, à medida que o tempo passava, novas pessoas somar-se-iam a nossas investigações. Conclusão: por volta das 3h da madrugada de domingo, estávamos noutro lugar, com outras pessoas, e o mesmo disco veio à tona, visto que havia sido comprado em LP pelo marido de uma amiga culta e lasciva. “Este é um dos discos de minha vida”, disse-nos ela. E, ao chegar em casa, bateu uma vontade de ouvir e ficar cantando “Beija Eu” sem parar, “uma das melhores introduções de MPB da música contemporânea”, segundo um de nossos anfitriões. Concordo – e aceito o que seja meu, anoiteça e amanheça, mas ainda prefiro ouvir música em CD do que em DVD!

Wesley PC>