quinta-feira, 2 de abril de 2009

A CORÉIA DO SUL FICOU UM POUCO PARA TRÁS, MAS DOU AQUI O MEU APOIO!


É sabido que os olhares críticos contemporâneos de Cinema voltam-se mais e mais para o Oriente. Os ditos especialistas na Sétima Arte são praticamente unânimes em afirmar que os melhores e mais expressivos filmes hodiernos são produzidos sob o jugo de países como Taiwan, Japão, Tailândia ou Irã. A Coréia do Sul, mesmo fazendo parte de uma área cuja geografia estética interessa deveras aos consumidores de poesia e/ou realismo cinematográfico intenso, resvalou por outro caminho: prefere investir em filmes repletos de ação ou virtuosismos de câmera e roteiro, legando o masoquismo irrestrito que advém das contra-indicações da Globalização a estranhas ações, que em muito lembram o conformismo. E, dentre os nomes mais populares do cinema sul-coreano (ao lado de pessoas como Bong Joon-Ho e Kim Ki-Duk), destaca-se o videoclipesco Park Chan-Wook.

Tornado famoso no Brasil em virtude de sua trilogia da vingança – que inclui o equivocado “Mr. Vingança” (2002), o superestimado e moralmente indeciso “Oldboy” (2003) e o genial e sofrido “Lady Vingança” (2005) – Park Chan-Wook pauta quase todos os seus filmes pelos malabarismos imagéticos e/ou de montagem, o que tem como efeito colateral tendencioso a observação rasteira dois sentimentos de seus personagens, que são tão autênticos no extraordinário libelo em defesa da amizade a qualquer custo [“Zona de Risco” (2000)] quanto na confusão adolescente que engendra “I’m a Cyborg, But That’s OK” (2006). E é sobre este filme, visto recentemente, que quero realizar alguns cotejos com a realidade que me cerca.

Passado inteiramente no interior de um sanatório psiquiátrico, este filme centra-se no cotidiano de jovens que enlouqueceram em virtude da tipificação social a que são fortemente submetidos: a personagem-título é uma garota que, lidando com a esquizofrenia de suas parentas (tia, avó, etc.) desde que era criança, imagina-se defensivamente como uma ciborgue (entidade robótica com pedaços de tecido humano em sua composição), dispensando, portanto, o ato de comer, pois crê que enferrujaria ou entraria em curto-circuito se assim o fizesse. No manicômio, silenciosa, ela permite que se apaixonem por ela, cabendo a um jovem rotulado ‘ad extremis’ como ladrão sobrenatural esta tarefa. Além disso, internados no recinto estão uma comedora compulsiva, pessoas que se supõem dotadas da capacidade de telecinese ou teletransporte, etc.. O filme poderia ser uma poderosa crítica ao sistema de governo que fomenta este tipo de crise psicopatológica, mas não, prefere ser uma estória de amor repleta de efeitos especiais e música estroboscópica. Não é ruim por causa disso, mas peca por esconder-se numa imaginação frutífera e em crise, tal qual todos os personagens mostrados na trama (inclusive aqueles que defendem-se como sãos). Não lembra alguém?

Pois é, mesmo sem ter gostado efetivamente do filme, identifiquei-me com ele e emocionei-me deveras com a bela cena em que, a fim de conquistar a sua amada, o menino tachado de ladrão finge estar introduzido bananas transformadas em bateria eletrificadas nos mecanismos supostamente presentes nas costas da ciborgue, o que resulta num beijo cibernético. Tachem-me e ao Park Chan-Wook de subsumidos à paixonite epidérmica, mas a culpa não é só nossa. Los Hermanos que o digam:

“Quem me ensinou a te dizer
‘Vem que passa o teu sofrer’?
Foi mais um que deu as mãos entre nós dois.
Eu entendo o seu depois,
Não me entenda aqui por mal”


Wesley PC>

Nenhum comentário: