sábado, 14 de novembro de 2009

SÁBADO COM DIARRÉIA!

Na última segunda-feira, um estimado gomorrense adquiriu diarréia em razão do que parece ter sido o consumo de lingüiças estragadas. Pus uma receita infalível de soro caseiro no quadro-negro e outros amigos adicionaram ingredientes extras ao açúcar, sal e água potável da fórmula básica. No dia seguinte, o referido gomorrense já estava recuperado e voltou a pedalar pelas ruas aracajuanas. Não o vi mais depois disso, mas soube que ele está bem. Ele está bem!

Seguimos ambos com nossas vidas. Na quinta-feira, desmaiei de sono ao chegar do trabalho e não pude comer os pastéis de queijo que minha mãe havia gentilmente preparado. Na noite seguinte, sexta-feira de igual cansaço, saboreei as iguarias oleosas. Acordei com uma diarréia violenta no sábado. “Não cagava, mijava pelo cu”, conforme disse meu amigo de segunda-feira. Conclusão: senti-me desmotivado. A barriga doía, o medo de material fecal amolecido deixar meu corpo e sujar os locais onde estava me impediu de sair. Fiquei em casa. Dormi demais. Sonhei bastante, aliás!

Nos intervalos entre dores e sonhos, vi filmes ruins que me pareceram estranhamente simpático e, dentre eles, um merece um destaque crasso, filme televisivo que, noutro contexto, seria uma das coisas mais nojentas já vistas por mim: “Nossa Querida Babá 3: Uma Aventura no Paraíso” (2009, de Mark Griffiths), abominável peça de divulgação infantil capitalista. Na trama, que continua dois filmes igualmente ruins que não vi, uma família riquíssima viaja para passar as férias em Porto Rico. Vivem rindo o tempo inteiro, mas reclamam que brigam demais. Os problemas que enfrentam são ínfimos, mas, ainda assim, reclamam da sorte, até que, obviamente, se abraçam ao final e caem contentes na piscina. Nojoso!

Tá certo, tá certo, eu confesso: a beleza pós-adolescente do ator Jake Dinwiddie, que interpreta um pivetinho de 17 anos, mesmo já tendo completado 22, foi meu grande chamariz. Ele era uma criança feinha, mas... Depois que cresceu e simula estar com a auto-estima em baixa, nossa, como funciona para atenuar diarréias (risos) – ou melhor: criar novas!

Wesley PC>

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

“AI, QUE TRISTEZA!”


Numa das 413 vezes em que pronuncio esta frase ao sair do banheiro – precisamente, na manhã de hoje – minha mãe ouviu-me e disse, de supetão: “Wesley, vou te comprar uma boneca inflável!”. Será que isto resolve mesmo o problema? Fui pesquisar na Internet o preço das tais bonecas e descobri que algumas delas custam mais de R$ 240,00, quando estão associadas a estrelas ascendentes da indústria pornográfica brasileira, por exemplo. Quero isso não! (risos)

Wesley PC>

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CERTA MANHÃ ACORDEI DE SONHOS INTRANQUILOS



Segunda-feira passada eu tive contato com o disco mais recente de Otto "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos" que ainda não foi lançado no Brasil. É uma pena! Enquanto as gravadoras no Brasil não investirem e acreditarem na liberdade criativa de artistas como Os Mutantes, Dj Dolores e Otto, os gringos serão presenteados por essas pérolas antes dos brasileiros. Claro que a internet nos ajuda nessas horas, mas ainda acho bacana ter o material físico com encarte e tudo mais nas mãos.

Durante esse ano Mundo Livre s/a e Otto foram as coisas que eu mais ouvi, e mesmo achando Fred 04 um dos melhores letristas atuais, no conjunto Otto é o artista brasileiro em atividade que melhor sintetiza meu gosto musical. É a cultura que escolhi pra mim, incluindo o brega e as referências aos orixás, pedaços dos meu pais que eu assumi.

Eu não tenho nenhuma habilidade de especialistas de revistas pra resenhar disco, mas o pouco que posso falar de "Certa manhã..." é que, assim como o penúltimo álbum de estúdio "Sem gravidade", possui um som mais orgânico, usando bem menos recursos eletrônicos que marcaram os dois primeiro discos. Enquanto o "Sem Gravidade" foi inspirado pelas viagens de Otto com Alessandra Negrini por Amazonas, Chapada Diamantina e Califórnia, a impressão que fica de Otto no "Certa manhã..." é de uma certa melancolia referente à sua separação da senhorita Negrini.

No mais, ouçam o disco. E como diz a 9º faixa do disco: "Aqui é festa amor e há tristeza em minha vida".


Leno de Andrade

PERGUNTAS REPETIDAS, RESPOSTAS ÓBVIAS

Numa tarde de sábado qualquer, um amigo me pergunta por que gosto tanto de filmes de terror. Respondi que aprecio as tendências inerentemente políticas deste gênero. Ciente disso, vi ontem “1408” (2007), dirigido por Mikael Hafström e adaptado de mais um enésimo conto de Stephen King. Aprioristicamente, achei o ‘leitmotiv’ do mesmo deveras similar àquele roteiro em que os protagonistas enlouqueciam no Overlook Hotel. Na trama, um cético escritor de estórias de terror procura lugares supostamente mal-assombrados para passar a noite e desmistificá-los. Até que se depara como quarto do título. E alucina. Tenderá ao suicídio e ao contato com parentes mortos. Tudo muito rápido, sem política e reflexão. Pena. Mas mantenho a minha resposta.

Wesley PC>
Ela tanto agrada quanto agride
Palavras de amor no peito
E facadas ao pé do ouvido
Um animal sexualmente agressivo
Faz romper cordões
E futucar o próprio umbigo
Até que se faça um buraco na alma
Até que se faça um buraco por onde tudo passa
Até que se faça uma alma onde tudo caiba
Até que não mais se aguente
E como numa enchente
Transborde deixando encharcada
Matando a sede ou matando afogada
Vidas espalhadas por aí


Leno de Andrade

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

NOVA HEGEMONIA

Ainda não musiquei e não sei se vou chegar a isso:


Nova Hegemonia


Será que são os mesmos?
Será que agora presta?
Será que não tem jeito
Ou algo ainda resta?
O que será? O que será?
Será que é desespero?
Será que agora é festa?
Será que fico dentro
Ou caio fora dessa?
O que será? O que será?
Será que é o futuro?
Será que é o passado?
Será que é outro muro?
Talvez candidatos
De uma nova hemorragia parlamentar
De uma nova hegemonia pra lamentar


Leno de Andrade

ONDE ESTÃO OS CASAIS HOMOSSEXUAIS, Ó, MEU DEUS?!

Na tarde de ontem, quando ia para o trabalho, fui quase atropelado por uma carroça em alta velocidade. Um passageiro da referida carroça olhou para mim com certo desdém e fez um gesto relativamente ofensivo, criticando o meu suposto desleixo ao caminhar, advindo do fato de eu estar com fones de ouvido em altura elevada. Ele tinha razão: eu estava distraído. Culpa de The Nick Cave and The Bad Seeds, de quem eu ouvia o álbum “Henry’s Dream”, lançado em 1997.

Não é surpresa que as excelentes músicas deste grupo australiano deprimam quem as ouve. Dizendo de outra forma, talvez consolem, demonstrando que a depressão que costumam sentir é compartilhada por mais pessoas ao redor do mundo. Tanto é que, viciado como estou no álbum, ouvi-o novamente no caminho de volta para casa, à noite. Caminhei bem mais lento desta vez, prestando toda a atenção possível ao que estava acontecendo ao meu redor. Passando em frente a um colégio particular de ensino médio, percebi uma quantidade extremada de adolescentes se agarrando, muitos mesmo. Não havia sequer um casal homossexual. Sei que eles existem, inclusive naquele colégio, mas, pelo visto, não costumam se beijar em público. Senti um pouco de inveja classista, como já é característico da atual “maré de azar” que instalou desde que... Desde que...

“The light in our window is fading
The candle gutters on the ledge
Well now sorrow, it comes a-stealing
And I'll cry, girl, but I'll come a-running
Straight to you
For I am captured
Straight to you
For I am captured
Once again”

Wesley PC>

PS: em inglês, ‘straight’ é uma palavra coloquial que também significa heterossexual.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

PARA QUEM SE INTERESSOU PELO FATO DE MORCEGOS SEREM ADEPTOS DO SEXO ORAL

Li hoje, a pedido de um colega de trabalho, uma matéria afirmando que existe uma espécie frugívora de morcegos cujas fêmeas lambem as zonas que ainda não penetraram em suas vaginas dos pênis de seus parceiros sexuais. A finalidade: amplificar o tempo do gozo. Buscando imagens comprobatórias, descubro a suposta existência do animal mostrado em foto, o peixe-morcego de lábio rosado, habitante das zonas submarinas da Costa Rica. De imediato, achei inverossímil a imagem. Segundos depois, repensei: e se for mesmo verdade, isto muda a vida de quem? Biólogos, manifestem-se!

Wesley PC>

APRENDENDO COM A PERSEVERANÇA FILANDESA:

Não gosto de continuações. Vi “Os Cowboys de Leningrado Encontram Moisés” (1994), de Aki Kaurismäki, apenas por insistência. O filme estava sem legendas, mas os personagens falavam em inglês e espanhol (!), deu para entender. Diverti-me moralmente.

Segundo os créditos de abertura, a trama do filme continua os eventos de “Os Cowboys de Leningrado Vão Para a América” (1989), depois que alguns personagens morrem e/ou são presos por overdose de tequila. O empresário explorador e fugitivo de outrora, Vladimir (Matti Pellonpää), é reencontrado e agora é um fanático religioso. Discute com o segmento comunista da banda. Enquanto uns lêem a Bíblia, outros lêem o “Manifesto Comunista”. Enquanto isso, aqueles que se encantaram pelo México cantam: “tengo una hambre canina/ ay, ay, Tequila!/ No lo tengo dinares”. Passeiam pela França, Alemanha, República Tcheca, encontrando os problemas de sempre, caros a quem não se enquadra no sistema dominante. Numa das cenas mais bonitas deste novo filme, um integrante da banda (o avatar de Moisés, talvez? Eles são tão difíceis de distinguir – risos) perfura uma pedra e encontra água. Ah, se a vida fosse assim...

Wesley PC>

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

“ELE NÃO ERA DE NINGUÉM. ELE NÃO ERA MEU!”

Na ausência do que melhor ser dito no funeral de seu amado aventureiro, a personagem real Karen Blixen (Meryl Streep) utiliza tais palavras em seu funeral. Ela era obcecada pela posse. Ele rejeitava as prisões burguesas a que ela se filiava. Ele morre num acidente aéreo. Ela torna-se uma famosa escritora ‘a posteriori’, depois que é forçada, por motivos de falência, a abandonar a África que tanto aprendeu a amar. Os eventos relacionados a tal paixão são relatados no filme “Entre Dois Amores” (1985), dirigido por Sydney Pollack, merecedor de vários prêmios cinematográficos e difundido erroneamente como um romance xaroposo, quando versa sobre assuntos e sentimentos muito mais complexos – tanto que não me senti apto a compreendê-lo e apreciá-lo adequadamente da primeira vez que o vi, há mais de 10 anos. Revi-o ontem, num canal fechado sobre vida animal e fiquei encantado. Admito que não é um filme excelente, mas ele prende a atenção. Por mais que minha mãe não conseguisse abandonar a sessão para lavar um de nossos cães, o impacto do filme é bem mais forte depois que ele acaba. As imagens, sons, palavras e lembrança s ainda estão em minha cabeça. E, para piorar, ao chegar ao meu local de trabalho na manhã de hoje, descubro que uma colega de 26 anos, que trabalhava num setor contíguo ao meu, faleceu num acidente automobilístico em Alagoas. Sexta-feira última foi o aniversário dela. Os outros colegas fazem agora planos de “viver intensamente”. Eles não o faziam antes? Falo por mim... Sigo em frente! Queria ver o filme de novo...

Wesley PC>

TALVEZ NÃO FUNCIONE PARA QUEM NÃO É CARNÍVORO...

È o que sou obrigado a concluir diante de “Estômago” (2007, de Marcos Jorge), filme elogiadíssimo por diversos amigos cujas opiniões eu respeito. E, quando falo carnívoro, não me refiro apenas a quem come carne no sentido literal da palavra, mas quem aprecia o corte de carne (humana, inclusive) num sentido mais amplo, em especial no que diz respeito à legitimação de uma cadeia alimentar imaginária, em que o poder é almejado e patenteado enquanto diferenciador de pessoas. Em ambas as acepções do termo, não faço parte do que seria o público-alvo do filme. Conclusão: por mais que eu concorde que ele seja tecnicamente bem-feito, que as atuações de João Miguel e Fabiula Nascimento são, de fato, muito boas e que, tecnicamente, o filme é otimamente realizado, as soluções encontradas pelo roteiro para despertar simpatia em relação ao protagonista não me convenceram. Tanto no que diz respeito à montagem diacrônica, em que acompanhamos a sua evolução como cozinheiro em duas narrações temporais alternadas (quando ele chega à metrópole em que vai viver e quando ele ingressa na prisão, por motivos só revelados em momentos finais e decisivos), tanto no que diz respeito à pavorosa moral contida na última cena, em que a posição superior num beliche subentende um elogio pernicioso à esperteza criminal, aparentemente válida nos contextos imorais da vida real que engendraram o argumento fílmico. Resumindo: enquanto filme, “Estômago” é bastante regular. Enquanto exemplo público pretensamente humorístico, é amedrontador!

Wesley PC>

IMAGENS E SONS D’UM DOMINGO QUE, PELO MENOS, FOI MEU:


“Meu bem a tristeza me persegue, segue comigo
O gosto de sorrir só rimava no som dos teus olhos.
E vi desmanchar-se em desgosto, gosto por gosto,
E a dor me procura na amargura de tanta distância.

As luzes da cidade não acendem mais pra mim,
As coisas que eu cantava já não cantam mais pra mim
Não adianta nada,
Pra mim tudo se acaba nesta dor
sem fim”.

Texto: “Distância” (Tom Zé)
Imagem: “Ganga Bruta” (1933), de Humberto Mauro.

Wesley PC>

PONTO SURPRESA PARA MIGUEL FALABELLA:

Na pesquisa sobre germes do cinema brasileiro que estou a engendrar, sou obrigado a ver filmes bons e ruins. Por causa da acessibilidade midiática, os ruins predominam. Dentre eles, fui levado a “Polaróides Urbanas” (2007), dirigido por Miguel Falabella e... Qual não foi a minha surpresa ao perceber que gostei do filme?! Gostei. Pouco, mas gostei.

Quem conhece a carreira do histriônico diretor, deve imaginar que o roteiro do filme, baseado em peça teatral cômica de sua autoria incorre nos mesmos problemas histriônicos. Por sorte, a pretensão do filme em ser um painel sobre múltiplos personagens tipicamente cariocas rendem pelo menos uma situação dramática digna de menção: a sub-trama envolvendo a fútil Vanessa (Juliana Baroni), que, mesmo sendo ostensivamente bulímica, chama a atenção invejosa da ciumenta e pré-suicida Melanie (Ana Roberta Gualda), que rouba os remédios controlados de sua mãe psicanalista. Vanessa, por sua vez, usando seu belo corpo como estratagema para ludibriar potenciais amantes com dinheiro, consegue deprimir os apaixonados Arnaldo (Alexandre Slavieiro), que não consegue autorização para usar o carro de seu pai, e Mike (Nicolas Trevijano), michê e ‘stripper’ sentimentalóide que, não por coincidência, responde pelas melhores cenas do filme, seja quando ele dança seminu e choroso para uma platéia de homossexuais indiferentes ao seu sofrimento passional, seja quando telefona para um serviço de auto-ajuda e narra seu drama urbano masculino.

Em verdade, as verdadeiras protagonistas do filme vão perdendo o interesse à medida que o filme evolui, mas o charme dos personagens coadjuvantes conserva um saldo geral minimamente aprazível. Nesse sentido, as protagonistas hiper-valorizadas são: Marília Pêra, que vive duas irmãs gêmeas, uma dona-de-casa frustrada e uma rica vulgar que viaja pelo mundo; Natália do Valle, como a psicanalista incapaz de resolver os conflitos com sua filha carente; e Arlete Salles, a melhor das três, que vive uma atriz de teatro com síndrome de pânico, em virtude dos reveses da fama e dos assaltos que freqüentemente sofre na metrópole carioca.

Sei que estou exagerando ao recomendar o filme, mas... No plano empírico, ele é digno de nota, visto que, para ficar em exemplos recentes, achei-o melhor sucedido que “Estomago” (2007, de Marcos Jorge, sobre o qual talvez precise escrever um texto pessoal) e “Divã” (2009, de José Alvarenga Jr.). Talvez não custe arriscar – e olha que emputeci de raiva com as imagens auto-contemplativas do diretor, que são mostradas durante os créditos finais (grrrrrrrr!)...

Wesley PC>