sábado, 19 de fevereiro de 2011

MULHERES...? (SOB A PERSPECTIVA INCONCLUSIVA DE MINHA INDISCIPLINA)

Por volta das 17h de ontem, eu e alguns rapazes do trabalho conversávamos sobre nossas experiências com filmes pornográficos. Como sempre, eu aproveitei a oportunidade para relatar as minhas insatisfações morais e políticas com o gênero e para elencar os filmes comerciais mais significativos de sexo explícito, em minha opinião. Em dado momento da conversa, a muçulmana que trabalha conosco pediu licença para atravessar o cômodo e pegar a sua bolsa. Afastamos uma cadeira para que ela pudesse passar e continuamos a conversar empolgadamente, quando, de repente, ouvimos um grito ensandecido por parte dela: “dá para falar sobre outro assunto?! Respeitem-me, por favor!”.

De imediato, não entendi o porquê da reclamação dela: não estávamos utilizando termos chulos ao falar dos filmes, mas apenas comentando superficialmente sobre os mesmos e eventualmente resumindo trechos de uma ou outra sinopse mais interessante. Como eu sou ignorante acerca dos brios de mulheres islâmicas que vivem em Sergipe, senti-me culpado por alguns instantes e fiquei temeroso que a moça em pauta ficasse com raiva de mim. Sendo assim, exultei discretamente por dentro quando, mais tarde, ela me chamou para mostrar a foto de seu marido paquistanês que vive em Londres no MSN. Ela não estava mais brava. Menos mal...

A experiência, portanto, me fez perceber que tenho que ser mais cuidadoso acerca daquilo que falo: por mais banal que um dado assunto pareça para mim, pode ser ofensivo para outrem. Fiquei pensando nisso enquanto caminhava em direção a minha casa, sem ouvir música, pois havia descarregado a bateria do meu aparelho reprodutor de MP4, sem perceber. Ao chegar em casa, vi um filme cultuado em que várias tramas se sucedem anarquicamente: “Heavy Metal – Universo em Fantasia” (1981, de Gerald Potterton).

Em dado momento do longa-metragem animado, uma bela mulher veste-se com imponência um uniforme de guerreira. Monta num pássaro gigantesco e corta os céus de seu planeta, disposta a se vingar dos malévolos invasores do local em que vive, que empalaram e/ou estupraram os seus patrícios. Em dado momento, ela será atingida por uma arma pontiaguda, de maneira que o sangue que escorre de seu peito é mais sensual do que necessariamente enternecedor. Uma mulher seminua e moribunda é algo sexualmente excitante? Com certeza, minha colega de trabalho muçulmana abominaria este filme, mas achei-o ótimo, entendendo plenamente por que ele é tão cultuado. E que ótima trilha sonora de Elmer Bernstein, com as colaborações valiosas de Black Sabbath, Journey, Nazareth, Blue Öyster Cult e Devo, entre outras bandas de renome. Os machos devem ter delirado no cinema!

Wesley PC>

HOMENS...!


“ - [...] Como posso dizer? Eram movimentos tão seguros, e tão elegantes, e tão suaves, e tão de homem ao mesmo tempo.
- Que significa para você ser homem?
- É muita coisa, mas para mim... Bem, o mais bonito do homem é isso, ser bonito, forte, mas sem fazer alarde da força, e que vai avançando com segurança. Que caminhe com segurança como meu garçom, que fale sem medo, que saiba o que quer, aonde vai, sem medo de nada.
- É uma idealização, não existe nenhum sujeito assim.
- Existe, ele é assim.
- Bem, dará essa impressão, mas por dentro, nesta sociedade, sem o poder ninguém pode ir avançando com segurança, como você diz.
- Não seja ciumento, não se pode falar com um homem sobre outro homem, nisso vocês são iguais às mulheres.”
(“O Beijo da Mulher Aranha” – 1976 – Manuel Puig – Capítulo Três da Primeira Parte - página 57 da edição lançado no Brasil em 1981, pela editora Codecri)

Em dado momento desta manhã de sábado, minha chefa discutiu com seu marido ao celular. Irritada que estava com ele, mas sem poder demonstrar esta raiva particular diante de nós, empregados públicos, ela apenas comentou, sardonicamente: homens, quem os entende?”. Todos nós rimos, a fim de evitar um desconforto maior, sendo que, na sala, havia dois homens no momento em pauta, eu e um colega casado. Entreolhamo-nos, ainda rindo, e conversamos sobre o ocorrido quando íamos para casa. Homens...

Quando estou prestes a subir a ladeira da rua em que moro, deparo-me com um amigo de infância sensual, que há muito tempo não via. Ele comenta algo comigo, elogiando as minhas fotos de Orkut, e eu respondo brincando: “se tu quiseres conferir o original, moro ali em cima” (risos). Ele riu também, mas ficou meio desconfortável com esta cantada em público. E eu fiquei pensando no que faria se ele tivesse aceitado o convite... Homens!

Telefonei para casa e perguntei a minha mãe como meu irmão estava. Depois de passar a madrugada bebendo e quebrando garrafas em frente a nossa casa, ele já estava se embebedando de novo. Tinha um encontro marcado com um amigo, mas achei perigoso deixar minha mãe sozinha com o caçula de nossa família. Vim para casa e, ao abrir o portão, deparei-me ainda com o choro de nosso cachorro, que está separado de nossa cadela no cio. Pus uma música masculina para tocar no rádio (algo do OutKast) e pensei no que almoçar, antes de voltar a ler o maravilhoso livro de Manuel Puig, cuja versão filmada eu revi há alguns dias. Os dois, livro e filme, me fizeram lembrar um menino que gosto. Um menino que não vejo faz tempo. Gosto de homens (e não só)!

“- Continuemos conversando e você vai ver que te provo o contrário.
- Vamos falar sobre quê?
- Bem... Fala o que é ser homem para você.
- Me apanhaste.
- Vai... Responde, o que é ser homem para você.
- Hum... Não me deixar diminuir por ninguém, nem pelo poder... Não, é mais ainda. Isso de não me deixar diminuir é outra coisa, não é o mais importante. Ser homem é muito mais ainda, é não humilhar ninguém com uma ordem, com uma gorjeta. É mais, é... Não permitir que ninguém ateu lado se sinta diminuído, que ninguém a teu lado se sinta mal.
- Isso é ser santo.
- Não, não é tão impossível como você pensa.
- Não entendo direito... Explica mais.”

(“O Beijo da Mulher Aranha” - página 58)

Wesley PC>

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

“CORPO E ALMA DE MULHER” (1983, DE DAVID CARDOSO)

Recentemente, tive a honra de utilizar o espaço deste ‘blog’ para manifestar meu espanto e adesão positiva aos clássicos da pornochanchada brasileira e, particularmente, às incursões directivas do canastrão David Cardoso (vide textos elogiosos 1 e 2). Na madrugada de ontem para hoje, graças às majestosas exibições do programa "Como Era Gostoso o Nosso Cinema", no Canal Brasil, vi mais um de seus filmes - este que cognomina esta postagem - e desgostei do mesmo. Por que desgostei? Primeiro, porque as situações dramáticas que saciam a necessidade de sexo constante são menos cômicas e/ou eróticas que o habitual, estando subsumidas ao clichê da mulher paralítica que não mais consegue excitar o marido adúltero; segundo, porque David Cardoso atua de forma ainda mais insossa do que noutros filmes anteriores, em que sua insipidez interpretativa era compensava por seu vigor peniano; e, terceiro, porque o roteiro de Ody Fraga é defeituoso mesmo, desperdiçando boas chances de ser um filme mais interessante se valorizasse prioritariamente os desmazelos morais da enfermeira embrutecida pelo tempo e pela profissão que é interpretada por Helena Ramos. Num momento mais tenso do filme, a esposa do protagonista pede que a enfermeira a envenene, acabando com a sua “vida de inválida incapaz de saciar os desejos carnais do marido”. As reações frias e emocionalmente clínicas da enfermeira tem muito a ver com o tipo de embrutecimento pessoal que me acomete enquanto trabalhador burocrático sujeito diuturnamente às mentiras e caprichos dos alunos da UFS. Mas nada que me impeça de gemer de gozo diante do excerto literário de Clarice Lispector que serve de epígrafe ao filme. Não consigo encontrar aqui a citação completo, mas, ao final, o corpo era tudo o que nos restava...

Wesley PC>

O TRUQUE DE CAIR NA ROTINA E, DENTRO DELA, SAIR DELA (OU FAZER DE CONTA)!

Minha mãe despertou a mim e a meu irmão, na manhã de hoje, com a programação de uma emissora de rádio especializada em horóscopos e música sertaneja. Por mais que eu evitasse ouvir as admoestações a cada um dos signos (por motivos já evidenciados aqui), ouvi algum comentário sobre a necessidade de se ter uma boa rotina de vida, a fim de dormir-se bem à noite. E, nesse sentido, eu fiquei contente: sou um homem que cumpre rotinas. Cada vez mais, meus horários de dormir, acordar, comer e defecar estão equiparados de um dia para o outro!

No caminho para o trabalho (outro componente com horário fico em minha rotina diuturna), ouvi novamente um disco que descobri na semana passada: “...Maravilhosa” (1972), da “ternurinha” Wanderléa. Como se pode antever a partir da maquiagem da fotografia de capa, neste disco ela se despe dos clichês femininos da Jovem Guarda que lhe tornaram famosa: abre o disco com a regravação de um belo lamento ‘hippie’-brega (“Mate-me Depressa”, de Rossini Pinto), segue com a citação de uma famosa versão de “Banho de Lua”, na voz de Celly Campello, como metáfora para as conotações sinonímicas das palavras falta, fossa, ausência e saudade quando se está exilado (“Back in Bahia”), e obtém êxito cômico na sua versão para “Uva de Caminhão”, de Assis Valente, em que repete várias e várias vezes, cada vez mais rápido e com a voz mais aguda, o trecho abaixo:

“Já me disseram que você andou pintando o sete
Andou chupando muita uva e até de caminhão
Agora anda dizendo que está de apendicite
Vai entrar no canivete, vai fazer operação
Oi que tem a Florisbela nas cadeiras dela
Andou dizendo que ganhou a flauta de bambu
Abandonou a batucada lá na Praça Onze
E foi dançar o pirolito lá no Grajaú”


Impossível não emitir risadinhas marotas com esta boa imitação de Carmen Miranda (risos). Segui em frente no disco e, apesar de a cantora ser exitosa nas versões das canções que fazem parte deste disco significativo (e infelizmente obscurecido) de sua carreira, fica a dúvida sobre este ser um trabalho rotineiro ou não. Mas faz bem ouvi-lo enquanto se caminha em direção a mais um árdua rotina, desta vez, a trabalhista. Vou ouvi-lo mais vezes, portanto!

Wesley PC>

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

“AMOR? DE ONDE EU VENHO, NÃO EXISTE ISSO. EU QUERO UM PARA MIM!”

Na madrugada de hoje, tive um pesadelo tão intenso que me levantei assustado – como se estivesse com medo de avantesmas, pasmem! – para apagar a luz do banheiro, por volta das 2h. Meu cachorro Bogdanovich não pára de gemer, pois minha cadela Zhang-Ke está no cio. E aquele zumbido de macho canino assusta um pouco...

No referido pesadelo, eu me sentia atraído por um grui qualquer. Descobri que ele se interessava por vermes e, a fim de chamar a sua atenção, retirei alguns ancilóstomos do cocô de meu cachorro e os pus sobre meu lábio inferior. O rapaz desdenhou de meu estratagema bizarro de chamar a sua atenção e os ancilóstomos se liquefizeram sobre meus lábios, deixando uma mancha branca permanente em minha boca, que, no dia seguinte, conseguiu, sim, chamar a atenção de outro rapaz bonito, o qual eu não percebera de imediato, mas aceitou conversar comigo. Foi o bastante dentro da carência onírica manifesta, mas, apesar de esta sinopse deixar entrever um final feliz, era um pesadelo: enquanto eu conversava com o rapaz, situações estranhas e incômodas nos cercavam, sendo que alguns espectros de pessoas conhecidas que faleceram há alguns anos me perseguiam, a fim de lamberem os restos de ancilóstomos que estavam sobre minha boca. E isto me apavorou. Acordei assustado! Minha mãe perguntou por que eu fora dormir na cama dela, no meio da noite, mas eu respondi com uma evasiva. Fiquei com vergonha de entrar em detalhes sobre o que penso que este sonho significava...

Desperto, já na manhã de hoje, ajudei-a a desfazer uma casa de cupins que se estendia sobre minha cama e vi um filme boboca na TV: “Aquamarine” (2006, de Elizabeth Allen). É mais um daqueles filmes românticos adolescentes, sobre duas amigas que gastavam seus dias praianos a admirarem a beleza de um salva-vidas juvenil que balançava os cabelos loiros e esticava os braços musculosos sempre que se interessava por alguma garota. Muito bonito ele. Aí, de repente, aparece uma sereia numa piscina de água salgada e os clichês fantasiosos deste tipo de filme são postos em prática. E eu fiquei comparando a estória com o meu sonho...

O mote tramático para que a sereia aparecesse na piscina é que ela estava fugindo de um casamento forçado no fundo do mar. Ela queria provar ao seu pai autoritário que o amor existe, que não é um mito levado a cabo pelos seres humanos. E ela calha de se apaixonar logo pelo moço galego que as duas amigas veneravam. E o resto é um conto de fadas juvenil... Acho que vou para a praia neste fim de semana!

Wesley PC>

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SÓ A SURRA DE BOCETA QUE NÃO FUNCIONOU MUITO BEM, EM MINHA OPINIÃO!

Em dúvida acerca do que assistir na noite de ontem, optei por “A Noite das Taras (1980), clássico brasileiro da pornochanchada, em que as aventuras sexuais de três marinheiros eram narradas e apresentadas sexualmente ao público. No primeiro episódio, “A Carta de Érico” (dirigido por John Doo), um recruta maroto precisa entregar uma carta a uma mulher que tenta insistentemente se matar; no segundo “Um Peixe Fora D’Água” (de David Cardoso), uma bela mulher oferece-se sexualmente a um grumete, a fim de que ele cometa um crime por ela; e, no terceiro, “Júlio no Paraíso” (de Ody Fraga, roteirista principal do filme como um todo), um grupo de meninas hipongas atira-se sobre um marinheiro mais velho, com o intuito de matá-lo de tanto fazer sexo, a fim de roubar os seus pertences. Com exceção deste último episódio, apreciei deveras o modo como o sexo é coerentemente apresentado enquanto ferramenta tramática nos episódios, excitando-nos ao mesmo tempo em que nos enternece (vide a beleza composicional das tentativas de suicídio no 1º episódio) ou nos faz rir (vide o título desta postagem, que faz menção à prática corrente das hipongas assassinas). Muito bom mesmo!

À medida que vou conhecendo mais exemplares desta fase pouco apreciada, infelizmente, de nossa cinematografia nacional, mais vou percebendo o quanto o pretensioso David Cardoso é talentoso em suas obsessões erotógenas, de maneira que já estou particularmente interessado na continuação deste filme, que será exibido no final de semana, no Canal Brasil. Na década em que nasci, este era o tipo de filme que fazia a alegria dos masturbadores de plantão. Considerando-se a qualidade elevada destas produções eróticas, não tem como não se sentir tomado pela mais ferrenha nostalgia, em comparação com as más produções pornográficas de hoje em dia. Gostei muito! Se bem que, talvez por estar sonolento, não curti por completo a surra de bocetas do episódio final. Acho que sou demasiado moralista e me incomodei com a associação do sexo à criminalização justificada (risos). Mas recomendo o filme mesmo assim!

Wesley PC>

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

“TENTAR É IGUAL A QUERER FALHAR DELIBERADAMENTE. RETIRE ESTA PALAVRA DO TEU VOCABULÁRIO!”

Meninos e meninas comportam-se e divertem-se de maneiras diferentes desde que eu me entendo por gente. Posteriormente, vim a descobrir que meninos que gostam de meninos e meninos que gostam de meninas (como se esta dicotomia ainda fosse facilmente distinguível hoje em dia) comportam-se e divertem-se de maneiras ainda mais diferentes, beirando a oposição belicosa em muitas situações. Vendo o inspiradíssimo filme ‘pop’ “Eu Te Amo, Cara” (2009, de John Hamburg) na tarde de hoje, diversos dilemas sobre minhas mal-sucedidas inserções sociais de caráter comportamental vieram à tona. Ou seja, mais do que me identificar pura e simplesmente com o ótimo roteiro do filme, eu gargalhei durante a sessão e fui lancinado por minhas típicas e recorrentes frustrações relacionais...

Como todos sabem, minhas experiências com arremedos de namoros são exíguas. Porém, acho que já disponho de um mínimo conhecimento de causa no quesito distintivo entre “coisas que fazemos com nossos amigos” X “coisas que fazemos com nossos namorados”, incluindo no meio desta distinção, inclusive, a intersecção benfazeja que corresponde à categoria “coisas que fazemos com nossos amigos-namorados”. Quantas e quantas vezes já deixei de sair com amigos por causa de promessas (não-cumpridas) de bem-estar pré- ou proto-namoratório. Ai, ai...

E, neste ponto, o filme é mais do funcional em seu mote enredístico: os personagens de Paul Rudd e Rashida Jones vão se casar. Ela possui várias melhores amigas, a quem chega a revelar até mesmo detalhes de suas transas, mas ele vive confinado em seu escritório imobiliário, divertindo-se no tempo livre somente com sua noiva. Como tal, seus filmes favoritos são as comédias românticas que ela aprecia e as pessoas com quem ele trava mais contato são justamente as amigas dela. Até que alguém põe em pauta a necessidade de ele ter um melhor amigo para ser seu padrinho de casamento. E ele percebe que não tem ninguém...

As situações que se seguem à percepção de que o protagonista não possui amigos são hilárias: ele se encontra com um velho de 89 anos que publicou um anúncio na Internet com uma fotografia de perfil cinqüenta anos mais novo; os inconvenientes osculares causados pelos homens com quem sai sem maiores pretensões e que o agarram ao final dos jantares; as dicas de seu irmão ‘gay’ no que tange aos padrões societais dos machos da espécie humana; e, principalmente, todo o incremento realista que entra em cena quando Peter, o tal protagonista, conhece Sydney, com quem passa a travar uma súbita e intensa amizade. Ao lado de Sydney, Peter ousa confessar que se masturba pensando em sua noiva, consegue liberar um pouco de suas tensões ao tocar canções do Rush no baixo, e se diverte de maneiras diferentes daquelas a que estava habituado ao lado de sua constante noiva. E, nalguns momentos, ela sente ciúme dele, pois acha que o está perdendo para outra pessoa. Mas não estava. Foi este novo amigo, inclusive, quem pronuncia a frase-título desta postagem, aconselhando Peter a ser mais confiante em si mesmo, mas as pretensas dicotomias citadas nos parágrafos iniciais realmente afetam pessoas apaixonadas. Por mais derrotado que eu seja no plano afetivo, sou obrigado a dizer que já aconteceram muito comigo!

Quanto ao filme enquanto filme, creio que o recomendaria mesmo que não tivesse me identificado tanto. É o tipo de comédia certeira, que atinge pleno êxito ao diagnosticar tipos contemporâneos, tecnologizados, pós-‘yuppies’, solitários até mesmo quando imersos na multidão. Lembra as ótimas produções de Judd Apatow e Greg Mottola, diretores ‘pop’ de primeira estirpe, que, volta e meia, eu elogio por aqui... Ah, se eu tivesse alguém ao meu lado agora (se é que vocês entendem o que este “lado” quer dizer). Pelo sim, pelo não, sou obrigado a dedicar o filme e este texto a meus melhores amigos Jadson Teles e Américo Nascimento. Amo vocês, caras!

PS: a cena mostrada na imagem é, desde já, metonímica e antológica!

Wesley PC>

“MAS NÃO SE MATAM CAVALOS?”

O título acima é a tradução editorial para “They Shoot Horses, Don’t They?”, romance curto que o norte-americano Horace McCoy publicou em 1945 e que eu tive a honra de ler de anteontem para hoje. Conheci a trama deste romance através da sinopse do filme “A Noite dos Desesperados” (1969, de Sydney Pollack), baseado nela, cuja trama é basicamente a mesma: o protagonista, condenado por assassinado entre um e outro capítulo, rebola por semanas a fio ao lado de uma rapariga autodestrutiva numa maratona de dança, cuja crueldade espetaculosa revela bastante sobre os meandros da sociedade estadunidense em momentos de crise, que supostamente justificam com maior vigor as mazelas criminais de uma sociedade em que a competitividade é legada aos cidadãos na mais tenra idade. Enquanto os personagens dançam (ou fingem dançar) por mais de 870 horas, mulheres desmaiam, patrocinadores ganham dinheiro, pessoas se apaixonam e celebridades posam para as fotos. Até que uma eutanásia moral é cometida e o título faz pleno sentido para qualquer leitor: “eles matam cavalos, não matam?”.

Apesar de não ser um romance de todo avassalador – alguns detalhes do enredo funcionam melhor para quem experimentou por dentro as mazelas estadunidenses descritas pelo autor – tornamo-nos cúmplices por completo do protagonista-narrador, cumplicidade esta que anseia para ser verificada por mim no filme de Sydney Pollack dele derivado, em que Jane Fonda faz o papel da violentamente depressiva personagem Gloria. Porém, o que mais me surpreendeu durante a leitura do livro, para além da inteligente divisão dos capítulos, entrecortada pela sentença de pena capital atribuída contra o protagonista, foi a minha completa ignorância em relação ao diretor hollywoodiano Robert Boleslawski, realizador de “O Jardim de Allah” (1936), filme este que eu anseio para ver o quanto antes, mas não tanto quanto anseio para ver “A Noite dos Desesperados”. Depois eu adiciono um porquê...

Wesley PC>

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SEGUNDA(S) TENTATIVA(S) DE OUVIR O DISCO SOLO DE MARCELO CAMELO [“É DE IMAGINAR BOBAGEM”...]

Uma vez, eu até tentei ouvir “Sou” (2008) até o final, mas cansei antes mesmo da quinta música, a preferida de muita gente que conheço, “Janta”, dueto com Mallu Magalhães que aparece na trilha sonora do extraordinário curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (2010, de Daniel Ribeiro). Ontem e hoje, eu tentei novamente. E não consegui chegar até o final, mas o problema agora foi tempo – se bem que, por dentro, eu já estava cansado...

Ciente de que gozava de suficiente prestígio “alternativista” por causa do sucesso ‘pimba’ de sua banda de ‘rock’ Los Hermanos, Marcelo Camelo soa preguiçoso neste disco de estréia, cujo logotipo titular invertido forma o pronome “Nós”. Com exceção do dueto da faixa 5, as demais canções demoram a engrenar, são enfadonhas, possuem letras pouco inspiradas e, por outro lado, soam muito pretensiosas em suas pesquisas de fusões genéricas nem sempre bem-sucedidas. Ouso dizer, após esta(s) segunda(s) tentativa(s) que o disco é chato mesmo, muitíssimo menos recomendado que qualquer coisa que Los Hermanos tenham feito. Mas eu tentarei ouvi-lo por terceiras vezes. Quem sabe sua sonoridade mimada não me ganhe pelo cansaço... Já aconteceu antes!

“Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade”


Wesley PC>

domingo, 13 de fevereiro de 2011

PALMAS DE LAS MANOS AL DISCURSO EMOCIONAL DE ALEX DE LA IGLESIA – Y OTRAS OBSERVACIONES SOBRE LA PRESENTACIÓN DE LOS PREMIOS GOYA 2011

A TVE – Televisión Española – exibiu este ano, ao vivo, a transmissão da 25ª cerimônia dos prêmios Goya. Nunca havia tido a oportunidade de assistir a esta premiação, mas gostei muito do que vi nesta noite de domingo. Concordo que me incomodei com o tom excessivamente chistoso (nem sempre de bom gosto) de algumas situações, como nos casos das paródias sexualizadas de filmes carregados de dramaticidade e reivindicação social, mas achei deveras apreciável conhecer as minúcias empresariais e laudatórias de um cinema nacional de qualidade média bastante qualitativa.

Obviamente, não tive ainda a chance de ver os filmes indicados, mas me interessei pela maioria deles, destacando-se os multi-indicados “También la Lluvia” (2010, de Icíar Bollaín), cujo enredo muitíssimo original, pelo que entendi, mescla os dissabores de um diretor de cinema (vivido por Gael García Bernal) que deseja refilmar a saga de Cristóvão Colombo num território boliviano marcado por uma violenta guerra civil contra a privatização da água regional e sua venda oportunista a uma multinacional; e “Pa Negre” (2010, de Agustí Villaronga), sobre as cruéis desilusões de um garoto que amadurece sua consciência moral depois que encontra dois cadáveres na região rural pós-guerra da Catalunha em que vive.

Entretanto, o filme mais indicado e um dos mais citados da noite foi “Balada Triste de Trompeta” (2010), dirigido justamente pelo atual presidente da Academia Espanhola de Cinema, Alex de la Iglesia. Isso não torna demasiado suspeito que o filme estivesse indicado a 15 prêmios? Se o diretor fosse menos competente e autoral em seu anarquismo ‘pop’ fílmico, quiçá. Num dos momentos mais interessantes da cerimônia, o presidente fez um pronunciamento em que declarou não ter medo da Internet, que reduziu sobremaneira as platéias fílmicas e instaurou uma grave crise cinematográfica ao redor do mundo. Disse ele uma frase que eu prontamente corri para escrever em minha agenda pessoal: “um filme não é um filme até que haja alguém diante de uma tela, disposto a assisti-lo”. Faço minhas as suas palavras emocionadas, ainda que eu talvez discorde de alguns aspectos mais ciberneticamente entusiásticos de seu discurso. Com certeza, este foi o mais belo momento de uma cerimônia que também foi marcada pela invasão de um militante reprimido pela segurança do evento, antes que eu entendesse por qual causa ele estava gritando.

Quanto à justiça ou injustiça dos prêmios concedidos, não posso opinar muito – em razão de, como disse antes, não ter visto a maioria absoluta dos indicados – mas chateei-me deveras quando o superestimado “O Discurso do Rei” (2010, de Tom Hooper) recebeu o Goya de Melhor Filme Europeu frente a três candidatos muito melhores do que ele, e exultei sempre que “Pa Negre” ou “También la Lluvia” ganhava algum prêmio (9 no primeiro caso – inclusive Melhor Filme, 3 no segundo), o que eu achava demasiado merecido, pelo menos com base nos clipes mostrados durante a festa. Que conste dos autos, porém, que também tenho gana de ver o anglofílico “Enterrado Vivo” (2010, de Rodrigo Cortés) e o exuberante “Balada Triste de Trompeta”. En espera, desde entonces...

Wesley PC>

“OH, ME TIRE DESTE PEDESTAL”...

Hoje eu sonhei com alguém que eu pus num pedestal. Nunca me arrependi disso, mas já entrei em crise mais de uma vez por tê-lo posto neste espaço que sempre lhe pareceu tão incômodo. O mesmo acontecia com a personagem de Grace Kelly no magistral “Alta Sociedade” (1956, de Charles Walters), último filme que ela protagonizou antes de se converter na Princesa de Mônaco e falecer num terrível acidente automobilístico. No filme em pauta, ela é uma riquíssima divorciada, que tenciona casar-se novamente, Porém, o seu ex-marido (Bing Crosby) instala-se em sua casa, com o pretexto de organizar um festival de ‘jazz’ onde Louis Armstrong é convidado, e um jornalista e uma fotógrafa são convocados para realizar a cobertura sensacionalista do evento, sendo que, num momento de bebedeira, ela se deixa ser beijada pelo tal jornalista (Frank Sinatra), desencadeando uma série de eventos cômicos que a levam a pronunciar a súplica que intitula a postagem. A resposta vem através de seu pai adúltero e recém-perdoado: cuidado com o primeiro passo. É quase um tombo”! E, por dentro, eu me senti desculpado depois disso... Não tenho culpa de sonhar. Ou tenho?

Wesley PC>