sábado, 27 de agosto de 2011

UM FILME CANADENSE, CURTINHO: OFICIALMENTE, ESTE ERA O PONTO DE PARTIDA!

Às 9h deste sábado, eu tive aula. Deveria chegar às 9h, melhor dizendo, mas cheguei uma hora e meia atrasado. Pouco me lixei com isso. Mal acabei de sentar e um colega de classe com o qual não tenho lá muita intimidade perguntou como estava o meu “coraçãozinho”. Não entendi o porquê da pergunta e respondi qualquer coisa. O professor era bonito. Normal. Por falta de quorum, entretanto, não houve aula. Ao meio-dia, já estava de volta em casa.

Li alguma coisa, escutei algumas canções tristes e escolhi um filme curto para ver no quarto de meu irmão, enquanto esperava a televisão da sala desocupar. O filme curto em pauta tinha por nome “Sugar” (2004), canadense, dirigido por um tal de John Palmer e com roteiro baseado em contos de Bruce LaBruce. Um filme eminentemente ‘gay’, como não poderia deixar de ser.

Na trama, um rapazote completa 18 anos e, entediado, depara-se com um belo prostituto juvenil urinando na rua. Este o convite para passar a noite com ele, “mas sem sexo”. Eles dormem juntos e, enquanto comiam o cereal matinal, masturbam-se por debaixo da mesa. À medida que a trama avança, um deles chafurda no uso abundante e desmesurado de drogas, enquanto o outro adere à promiscuidade anti-emocional. Ao final da sessão, eu me perguntava o que leva alguém a gravar um filme destes, a difundi-lo. Não é apenas uma coleção de clichês homossexuais pseudo-‘underground’: havia algo de muito estranho naquele filme curto em que uma dupla de carecas ricos contemplavas adolescentes que banhavam-se, inocentemente, numa piscina pública. Era um ponto de partida...

Wesley PC>

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

GRAZYNA SZAPOLOWSKA EXALA AMOR!

E amor é algo de que eu preciso sempre.

Assisti a “Sem Fim” (1985, de Krzysztof Kieslowski) ciente de que seria um ótimo filme. Foi mais do que isso: vi-me diante de um belíssimo elogio à vida, ainda que a morte e o suicídio se manifestassem como estranhas ferramentas de comunhão humanista. Porém, como era de se esperar, uma das cenas que mais me encantaram no filme foi quando a protagonista recém-convertida em viúva recebe a proposta de fazer sexo com um turista estrangeiro por US$ 50,00. Ela não precisava do dinheiro, mas transa com ele mesmo assim. Momentos depois, quando o seu filho desperta de um pesadelo, ela explica que, quando as pessoas se abraçam forte, isto é amor. E é amor o que sai de cada poro actancial da Grazyna Szapolowska. Amo esta atriz polonesa. Ela põe nas telas o que eu desejo pôr na vida. Em “Sem Fim”, ela pôs para fora o que me forçaram a pôr para dentro. Aí eu pus o amor novamente para fora – e depois para dentro e depois novamente para fora – e tudo se converteu em vida. Tanto que, num daqueles momentos mágicos que só o acaso teológico explica, me vi um tantinho emocionado diante do documentário convencional “Ainda Vivo: Um Filme Sobre Krzysztof Kieslowski” (2006, de Maria Zmarz-Koczanowicz), visto na Universidade algumas horas depois do magnífico filme oitentista. Amo, meu Deus, amo demais!

E, noutro ponto da cidade, horas antes, alguém se suicidava...

Wesley PC>

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O PERIGO DE SE APAIXONAR À PRIMEIRA VISTA (UM POUCO SOBRE O FILME DO XAVIER DOLAN, AINDA):

Recentemente, numa cerimônia de formatura, deparei-me com dois rapazes muito bonitos, que circulavam com formandos do curso de Letras. Descobri que um deles era irmão de uma grande amiga alter-ego e que o outro se parecia muito com o ator francês Johan Liberéau. Ambos eram francamente inacessíveis, portanto. Vendo “Amores Imaginários” (2010, de Xavier Dolan), ontem à noite, não pude deixar de pensar nestes dois rapazes na bela cena em que menino e menina apaixonados pelo mesmo rapazola loiro frustram-se por não estarem ao lado dele, enquanto este dança com uma rapariga de cabelos azuis. E a canção escolhida para emoldurar esta frustração foi “Pass This On”, constante do álbum “Deep Cuts” (2003), da dupla sueca The Knife:

“I'm in love with your brother
What's his name?
I thought I'd come by
To see him again
When you two danced
Oh what a dance
When you two laughed
Oh what a laugh
Has he mentioned my age love?
Or is he more into young girls with dyed black hair?
I'm in love with your brother
I thought I'd come by”


A lembrança emulada e inacessível destes rapazes bonitos fez com que eu acalmasse um pouco a sensação de impotência e temor passional que me tomou de assalto desde o último domingo, quando me vi diante de uma potencial sedução luciferista tenebrosamente intimidadora, destas que poderiam me causar cortes (carnais) tão profundos quanto estes da fotografia. Tenho mais é que ter cuidado: paixões à segunda vista talvez sejam mais produtivas...

Wesley PC>

O PIOR É QUE EU ACHEI O NIELS SCHNEIDER FEINHO...

Se “feinho”, de fato, for um termo irmão de ‘bonito’, como o povo diz, este é o adjetivo que melhor cabe ao ator destacado, exaltado como supra-sumo gerador da paixonite em “Amores Imaginários” (2010), primeiro filme do homossexual canadense Xavier Dolan a que eu tive acesso.

Elogiadíssimo por alguns de meus amigos e detestado fervorosamente por outros, “Amores Imaginários” causou-me bem mais irritação do que identificação. Por mais que o filme insistisse em câmeras lentas que pressupunham uma valorizam do ato de amar e não ser amado, investisse em canções belas e tristes executadas de forma altissonante, e cresse que seu elenco descolado e ‘pimba’ era bonito o suficiente para deixar qualquer um arregaçado de paixão, eu achei o filme como um todo muito irritante. Mais do que isso, o achei presunçoso, demorado, com foco fugidio e francamente inverossímil. Chateei-me mesmo durante a sessão: “quem este Xavier Dolan pensa que é para se exibir deste jeito?!” Tudo bem que a cena em que ele se masturba enquanto cheira a camisa do mocinho por quem pensava estar apaixonado é bacana, mas o filme é tão programado em seus pretensos efeitos de catarse, erca! Quando o referido personagem, inclusive, explica o que eram as marcações contábeis sob o espelho de seu banheiro, a decepção foi lancinante: fazer um tracinho sempre que um possível pretendente o rejeita é algo que deveria me deixar emocionado? Ah, sim, ta certo! Comigo não funcionou mesmo! Mas o final é (involuntariamente?) hilário, sou obrigado a admitir...

Ao final da sessão, pensei comigo mesmo que o jovem, muito jovem, Xavier Dolan é repleto de boas intenções românticas, mas desperdiça muitas das mesmas com seu exibicionismo atroz. Quem sabe, após rever o filme, eu goste dele um pouco mais, mas, por ora, ele me violentou negativamente, invasivamente, subestimou não apenas a minha inteligência referencial (será que o diretor pensa que nós não sacamos que ele plagiou Wong Kar-Wai em diversas seqüências?) como a minha adesão sentimental. Ou quem sabe não é ó pantim de minha parte, em admitir que, no caso dos protagonistas do filme, eu faria tudo igual? Fiquei com medo de mim mesmo agora (risos). Tenho que rever este filme em companhia de alguém...

Wesley PC>

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ATESTO, PARA OS DEVIDOS FINS, QUE FOI CASUALMENTE ASSIM QUE ACONTECEU:

O cinema kieslowskiano é marcado pela constância do acaso. Não um acaso casual, entretanto, mas uma acaso determinante, um acaso condicionado justamente pelas escolhas causais do indivíduo. Porém, se este acaso é facilmente detectado nos filmes derradeiros do cineasta, nos filmes mais acentuadamente comunistas da fase inicial de sua carreira na Polônia, este acaso compete com o determinismo estatal. “O Bonde” (1966), primeiríssimo curta-metragem do diretor, que, somente nesta terça-feira à noite, tive o orgulho de ver, escancararia o tal acaso determinante na cêpa: um rapaz entedia-se numa festa. Sai, bastante chateado, e sobe num bonde. Depara-se com uma moça linda, alheia aos seus desejos. Ele desce. Ela permanece no bonde, que realiza um trajeto circular e depois some da vista do rapaz. Era o que me bastava: belíssimo filme!

Era exatamente o que eu precisava, por acaso e não por coincidência. Saí do trabalho mais tarde que o habitual, por causa do sobejo de pessoas para atender. Talvez eu adie em mais um dia o consumo do sorvete de flocos que eu supliquei para que um casal de amigos me comprasse no último domingo. Sinto uma leve cefaléia, decorrente de um sono latente que insiste em me dominar. Estou com caspa na cabeça e, pelo visto, também nas sobrancelhas. Avisei a um colega de trabalho que o advertiria se eu conseguisse êxito na obtenção de sêmen alheio. E um calção cinza quedou sujo quando eu fechei a porta da casa de quem hesitava em fechar os olhos diante de mim, a fim de não deixar tão evidente que gozava. Uma sensação típica do que Krzysztof Kieslowski costuma me causar, diga-se de passagem. É o acaso...

Wesley PC>

terça-feira, 23 de agosto de 2011

“NÃO AFRONTARIA NINGUÉM SE FOSSE APENAS POR CAUSA DA FELICIDADE. MAS É DA VERDADE QUE SE TRATA – E A VERDADE É ESSENCIAL A ESTE MUNDO”!

No capítulo 4 [“Diário de Betty (I)”] de “Crônica da Casa Assassinada” (1959), obra-prima literária de Lucio Cardoso, uma governanta depara-se com um homem muitíssimo gordo que se veste como mulher. Confinado num quarto distante de uma casa imensa, evitando, assim, expor aos demais a vergonha de seu homossexualismo, este homem brada aos quatro ventos a epígrafe titular desta postagem, da qual eu me sirvo para fins pessoais, numa relação que transcende a mera identificação vocabular e desemboca num ativismo moral ferrenho. Definitivamente, eis eu acredito em que acredito: a pujança atroz de um conceito limitado por sua própria conceituação, a Verdade. E, por mais árdua que esteja me sendo a leitura deste brilhante livro com mais de 500 páginas, intuo que, em breve, poderei estar divulgando-o aqui como uma das melhores obras de toda a minha vida. A cada página que viro, intensas dores personalísticas amalgamam-se com as minhas próprias dores e lembranças. O livro é uma obra-prima, mas é difícil, ah, como é difícil!

“Então? A verdade não se inventa, nem se serve de maneira diferente, nem pode ser substituída – é a verdade. Pode ser grotesca, absurda, mortal, mas é a verdade. Talvez você não entenda, Betty, e, no entanto, aí é que se encontra o ponto central de todas as coisas”.

Wesley PC>

domingo, 21 de agosto de 2011

TERAPIA DE CHOQUE (E ÁGUA): TINHA DE SER ISTO!

Eu precisava ver algo do Andrei Tarkovsky neste final de semana: eis algo que eu repetia para mim mesmo desde antes da sexta-feira. Depois de experimentar uma das madrugadas realistas mais para-sobrenaturais de minha vida, “O Espelho” (1974) é o filme que me atingiu em cheio. Um filme sobre um homem divorciado, que só consegue lembrar de sua mãe quando projeta nela o rosto de sua ex-esposa. E, numa das cenas mais fortes do filme – justamente por ser uma cena trivial – uma mulher degola um frango e, em seguida, nos encara em ‘close-up’. Glupt!

No filme, como é praxe nestas obras européias existenciais, há rupturas entre tempo real e tempo imaginário, presente e passado e dicotomias do gênero. Mas o que mais me surpreendeu foi a (in)distinção entre o campo bucólico e o espaço urbano burocrático. Numa cena, uma mulher explica a seu ex-marido que o filho deles quer passar uns dias com o pai pois a casa deles está em reforma. Numa cena posterior, ela passeia por um bosque, como se fosse uma camponesa ancestral. O estilo tarkovskiano é caracterizado pela escultura minuciosa do tempo. Era justamente do que eu necessitava hoje: o tempo se esculpindo em mim!

Conforme anunciado, mas ainda não explicado, no raiar da manhã de hoje eu me vi tentado a aceitar o convite suspeito de um belo prostituto juvenil que deixava patente a sua filiação a um subgênero artístico e pagão que me assusta. Mas, ao mesmo tempo, ele me seduzia deveras. Eu sentia-me pressionado a aproximar-me de seu corpo, mesmo que precisasse pagar por isso e, ao mesmo tempo, tinha certeza de que não precisava pagar por isso, visto que eu experimentava uma verdadeira impressão epifânica por causa do conjunto de fortes sensações emocionais que me atingiam desde a noite do sábado, quando estava entre amigos que sabiam o que sentiam, pois “só sabe quem sente”. Andrei Tarkovsky é o cineasta ideal para estes amigos. E o mínimo que eu posso fazer é compartilhar algo deste filme: “O Espelho” é lindo demais, meu Deus. Tão lindo que dá medo. Mais ou menos que nem aquele prostituto...

Wesley PC>

ESTA COISA DE REAGIR COM MÚSICA: “O MEDO DE FICAR SÓ ME APAVORA” ‘ET ALLI.’(A JADSON TELES, ONDE QUER QUE ELE ESTEJA)

Se eu fosse continuar associando trechos de canções que me afetam pessoalmente a pequenos textos de justificação, eu tenderei à eternidade da escrita, canções que amo e me fazem amar não faltam. Mas ontem eu experimentei um conjunto de epifanias musicais que são deveras funcionais, à guisa de encerramento interruptivo: ontem eu fui a um bar de karaokê e vi a vida como ela é. Pessoas choravam enquanto cantavam, pessoas externavam lamúrias íntimas enquanto liam o que estava escrito na tela, pessoas demonstravam que Música é Arte e, por extensão, é Vida. E eu fui uma destas pessoas...

Quem me conhece, sabe que sou muito relutante no que tange à presença nalguns lugares pagos. Não bebo, não consumo comidas que hipertrofiam o valor comercial por causa da mão-de-obra empregada e não me sinto confortável com regras consensuais de educação pública. Eu sou impulsivo e, como tal, só me sinto à vontade para me soltar em locais amplos que me permitam a movimentação frenética ‘ad extremis’. Ontem eu encontrei um lugar que me contemplou neste sentido: fui a um bar de karaokê em que, dentre vários outros petardos, pude me emocionar sobremaneira enquanto gritava as letras de obras-primas musicais como “Homem com H” (Ney Matogrosso), “Like a Virgin” (Madonna) e “Zombie” (The Cranberries), para ficar apenas em algumas. Mas nenhuma delas me rasgou tanto quanto “Porque Brigamos”, da Diana, sobre a qual eu dediquei uma interpretação ‘punk’, gritada, explosiva, tanto que o proprietário do bar precisou correr para abaixar o som dos aparelhos técnicos que reproduziam e tornavam minha voz altissonante. Eu estava tão possuído pela canção e tudo o que ela representa para mim, que precisei ser segurado por alguns amigos enquanto cantava, a fim de baixar o tom, a fim de lembrar que ainda estava na Terra. Ontem, eu me emocionei de verdade num lugar em que o consumo era a tônica dominante...

Fiquei tão empolgado com o lugar que saí recomendando-o a vários outros amigos que eu encontrava. Se era de um ‘point’ digno que eles e nós precisávamos, este é o lugar. Como bem disse meu amigo Tiago Oliveira, no momento em que testemunhávamos o arrebatamento passional de um homem triste enquanto personalizava a apresentação de “Uma Noite e Meia”, a Marina Lima, só entende quem sente”. E ontem eu entendi porque senti. Foi forte, foi intenso, foi pulsante, foi lindo! Este bar de karaokê mostrou que ainda existem possibilidades pouco exploradas de minha vida pública. Que bom que eu saí de casa e fui neste lugar!

Como adendo avaliativo, o contexto da nossa presença ali: estávamos a comemorar o aniversário de nosso querido amigo Américo Nascimento. No mesmo local, um rapazola bonito e comprometido também completava anos. Oportunamente, pedi que Américo lhe oferecesse um pedaço da torta de chocolate que ele havia ganhado de presente. O rapazola aceitou e nos agradeceu. Um outro reclamou que algumas de nossas posturas comportamentais não eram adequadas para aquele local, mas apenas para guetos ‘gays’. Eu dei de ombros e continuei a ser quem eu era, num local cujo intuito maior é o lucro, mas que seria também para que puséssemos para fora o que nos afligia. E eu pus: afinal de contas, o medo de ficar só nunca deixou de me desesperar. E o que aconteceu no raiar da aurora contígua a esta noite fez com que eu fosse obrigado a rever muitos dos conceitos que eu próprio tenho sobre a minha idéia defeituosa e carente de amor. Outros textos explicativos sobre tido o que me possuiu esta noite ainda serão escritos... Mas hoje eu canto, ainda canto: “a nossa vida deve ser de alegria”. E não só a minha, pois só ama e é feliz quem tem amigos. Eu tenho-os!

Wesley PC>