sábado, 2 de julho de 2011

“SOMENTE AS PARTES MAIS RIDÍCULAS DESTA HISTÓRIA SÃO VERDADEIRAS”!

“A Caçada” (2007, de Richard Shepard), título brasileiro para “The Hunting Party”, é um daqueles filmes que todo jornalista e/ou estudante de Jornalismo deve ver. Incomodou-me muito por confundir-se formalmente com o desdém que critica, mas, ainda assim, chama a atenção (vide o ótimo estratagema sarcástico apresentado logo no início – vide título desta postagem). Tive vontade de Vê-lo muito mais por causa da presença do Jesse Eisenberg (que está apagadinho aqui) do que pelo tema em si, que é sempre muito pertinente e digno de avaliação conscienciosa.

Narrado pelo destemido operador de câmera interpretado por Terrence Howard, este filme mostra como um jornalista despedido por se emocionar/enraivecer durante uma cobertura de guerra na Bósnia-Herzegovina envolve-se pessoalmente na caçada ao homem que estuprou e matou sua namorada grávida, entre trocentas outras atrocidades resumidas pelo narrador, que se tornou um empedernido profissional, mas com seqüelas mnemônicas que jamais poderão ser apagadas pelo aumento de seu salário. Infelizmente, o desfecho da trama é deveras anticlimático, mas as promessas críticas e o anúncio derradeiro do que era ostensivamente fictício no filme fazem com que eu repita o que escrevi lá em cima: é um filme obrigatório para qualquer um que se pretenda jornalista!

Ser correspondente de guerra, aliás, não é uma área pela qual eu me interesse pessoalmente, mas concordo com o que diz o protagonista, muito bem vivido por Richard Gere: “viver em perigo é quando se vive de verdade. O resto é televisão”. Concordo, concordo... Por isso, não falarei mais sobre o filme: ele é apenas mais ou menos, mas provoca e estimula reflexões. Isso é muito, muito, muito! Por mais que a montagem estilosa queira me desmentir...

Wesley PC>

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SOMOS FILHOS DA BURGUESIA: MINHA GERAÇÃO É A DA PEQUENA-FAMÍLIA!

Nas várias oportunidades que tive para ler os prolegômenos da “Mudança Estrutural da Esfera Pública” (1962) de Jürgen Habermas, exigências avaliativas impediram de gozar o texto como ele merece. Relendo-o mais cedo por ocasião de, mais uma vez, o texto ser cobrado numa prova, gemi ao me identificar enquanto beneficiário da instituição dos ‘amateurs éclairés’, no sentido de que, graças à consolidação proto-crítica de uma esfera pública e literária apta a julgar qualitativamente músicas, peças teatrais e pintura outrora reservadas apenas às castas aristocráticas, eu posso hoje estar psicanalisando-me confessionalmente através deste ‘blog’ – e, por extensão, assumindo-me como homem político, visto que esta esfera pública literária desembocou na esfera pública política que engendrou a Revolução Francesa, em 1789, bem como a implantação do período de Terror que se seguiu: um mero efeito colateral talvez?

Diz Jürgen Habermas: “A arte, liberada de suas funções de representação social, torna-se objeto da livre escolha e de tendências oscilantes. O ‘gosto’, pelo qual, a partir de então, se orienta, expressa-se no julgamento de leigos sem competência especial, pois, no público, qualquer um pode reivindicar competência” (página 56 da edição do livro lançada em 1984 pela editora Tempo Brasileiro). Tenho como negar que este foi o contexto histórico-político que possibilitou que pessoas verborragicamente críticas como eu surgissem? Digo mais: para além das três condições democraticamente falaciosas de adesão à tal esfera pública burguesa (discursabilidade, racionalidade e acessibilidade), identifiquei-me com os três momentos das faculdades distintivas de uma suposta personalidade culta habilitante enquanto “árbitro artístico”, a saber, o livre-arbítrio, a comunhão de afeto e a formação cultural propriamente dita. Pôxa, como é que eu não percebi antes que esse texto diz tanto sobre mim?! Por isso que eu me autocriticava enquanto elitizado pequeno-burguês num momento anterior de minha vida pública, quando eu tendia a uma misantropia sociopática... Digo mais, no derradeiro parágrafo do parágrafo 6º do segundo capítulo do livro (“A família burguesa e a institucionalização de uma privacidade ligada ao público”), deparo-me com uma argumentação irrefutável: “[as camadas burguesas] constituem a esfera pública de uma argumentação literária, em que a subjetividade oriunda da intimidade pequeno-familiar se comunica consigo mesma para entender a si própria” (p.68). Prazer, meu nome é Wesley Pereira de Castro e dedico esta reflexão a minha amiga Gabriela Caldas Gouveia de Melo.

Wesley PC>

quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESCOBERTA DE MAIS UM GRANDE VANGUARDISTA BRASILEIRO (OU: ANTES TARDE DO QUE NUNCA!):

Rogério Sganzerla é positivamente inclassificável no Cinema Brasileiro. Ao contrário de outros cineastas, em que podemos identificar fases ou estágios de genialidade, em sua obra tudo já vem misturado desde o começo. Ou seja, em três de seus filmes iniciais [“Documentário” (1966), “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) e “A Mulher de Todos” (1969)], encontramos as três linhas-mestras taxonômicas que regressariam, desordenadamente e de propósito, nos filmes seguintes. A saber: a reflexão crítica para-documental, a panóplia sensacionalista e polifônica de esquerda, e a bandalheira com nuanças eróticas, que são revisitadas – respectiva, mas não exclusivamente – em “Linguagem de Orson Welles” (1990), “Nem Tudo é Verdade” (1986) e "Copacabana, Mon Amour” (1970), para ficar apenas em mais alguns exemplos de extrema genialidade. E, num desses filmes, Arrigo Barnabé interpreta Orson Welles!

Impressionado que fiquei com a ótima interpretação do cantor (e também com sua beleza física exótica), não sosseguei enquanto não ouvi um disco do artista, de maneira que, na manhã de hoje, eu e minha mãe escandalizamos diante do impressionante “Tubarões Voadores” (1984). É óbvia a conexão estilística com o estilo sganzerlaniano no disco, que parece uma conjunção de várias radionovelas, tão interessantes que eu não consegui ouvir o disco até o final. Em sua metade exata, rebobinei e ouvi tudo de novo: genial, genial!

A primeira das cinco faixas que ouvi duas vezes é aquela que batiza o disco, e homenageia (na linha política da “Estetyka da Fome”) os ‘trailers’ de horror do cinema B norte-americano. Na segunda faixa, “Crotalus terrificus”, Tetê Espíndola vivifica uma cascavel bastante sensual. A terceira, “Neide Manicure, Pedicure”, termina com uma espécie de locutor de rádio interpelando diretamente o ouvinte acerca das condições de suas unhas. A quarta, hilária, “Kid Supérfluo, o Consumidor Implacável” parece uma letra melhorada da Blitz, e narra o romance intermitente entre o personagem-título e uma estrela da TV. A quinta, “Papai Não Gostou” descreve a infância e a adolescência de um travesti perigoso que fora expulso de casa por causa de suas preferências sexuais inesperadas por seus pais. Tem como avançar dessa faixa em diante sem querer ouvir esta metade do disco de novo e de novo? Foi o que fiz: comecei tudo de novo e me rendi frente às experimentações cômicas e mui sarcásticas do genial Arrigo Barnabé: “Tubarões Voadores” é uma verdadeira jóia desconhecida no cancioneiro tupiniquim!

Wesley PC>

QUANDO “DANOS MORAIS” EQUIVALEM AOS PRECONCEITOS DA CONSCIÊNCIA...

Há algumas horas, alguém me telefonou para dizer que, a fim de encerrar um ciclo psicanalítico pendente em sua vida, precisou submeter-se a um ‘ménage à quatre’ masturbacional ao lado de pessoas com que, conscientemente, não levaria um namoro a sério. No estágio etílico e eufórico em que se encontrava, entretanto, tudo valia! Perguntei se ele havia se arrependido do que fizera e ele me disse que não, que havia se divertido. Fiquei contente que o referido ciclo pudesse se encerrar pacificamente, portanto. E o melhor: com uma bela duma gozada ao final. Aliás, uma não: quatro!

Algumas horas depois que conversei com este meu amigo, resolvi assisti a um filme erótico que seria exibido num canal fechado de TV. Tratava-se da pornochanchada “O Inseto do Amor” (1980, de Fauzi Mansur), sobre uma espécie de mosca amazônica que, ao picar suas vítimas, fazia com que estas fossem tomadas por um estado de excitação sexual extremado, de maneira que, se não fizessem sexo em um máximo de 2 horas, morreriam de inanição. “Operações manuais resolvem o problema?”, pergunta um policial, diante da ameaça zôo-patológica iminente. “Não”, responde o cientista responsável pela descoberta do inseto: “o desejo sexual aplacado só é resolvido após o contato da genitália com uma mucosa”. O ponto de partida para um hilário (e muito subestimado) filme brasileiro foi, portanto, dado!

Numa das primeiras cenas do filme, somos apresentados aos vários personagens simultâneos do mesmo enquanto um apresentador de telejornal adverte a população sobre os “danos morais” que podem se proliferar a partir do contato social com estes insetos. Dito e feito: quando picados pelas tais moscas, mulheres, homens, animais, tudo é válido para salvar-se da morte e do desejo implacável: logo no começo, um presidiário morre ao esfolar seu pênis num buraco da parede da cela em que estava detido; noutra seqüência, uma bela loira transa com o velho jardineiro nordestino que odeia depois que seu grande cachorro preto evita suas caricias eróticas; numa terceira, o candidato racista a prefeito do local praticamente estupra a camareira negra do hotel em que estava hospedado, chamando-a de “feijãozinho”. É incrível o quanto o filme serviu-se bem de uma trama sexualmente sensacionalista para criticar a baixeza dos valores burgueses, mas o que mais me surpreendeu foi o respeito ao personagem do padre vivido pelo velho Jofre Soares. Quando sabe que o tal inseto afrodisíaco está solto na ilha, ele insiste em apregoar que “o pecado está na mente” e que as pessoas buscam no tal inseto uma desculpa para cometem impropérios. Quando o padre é finalmente picado, suplica a uma freira que ela faça sexo com ele, ao que ela responde, séria: é melhor sofrer por duas horas e morrer do que sofrer por toda a eternidade. A cabrita que aparece em seguida não tem a mesma oportunidade verbal de se defender, mas o roteiro não caricaturiza negativamente o padre. Muito pelo contrário, aliás, conforme se percebe na cena em que ele reza fervorosamente ao lado de mais uma vítima do inseto.

Um parágrafo de destaque deve ser concedido ao modo igualmente respeitoso com que o roteiro de Marcos Rey e do próprio diretor Fauzi Mansur aborda as taras homossexuais, freqüentes em várias piadas, em especial no que tange à aparição recorrente de um mordomo que anda vestido com o que parece um mosquiteiro, alegando que a indumentária é para evitar contatos aproximados com mulheres, visto que, para ele, elas são “um câncer, um câncer!” (risos). Mas o aspecto mais positivo neste sentido pederástico valorativo é anterior: logo que sabe dos perigos hormonalmente explosivos que podem ser desencadeados pelo contato com o ferrão do díptero erotógeno, o seguinte diálogo se dá entre um hospede do hotel e o cientista de ascendência alemã responsável pela descoberta:

“ – E se o alvo da picadura for uma bicha?
- O quê?
- Uma bicha!
- O que é isso, em português?
- Um homossexual.
- Ah, isso depende bastante. Os efeitos podem variar se o homossexualismo do indivíduo decorrer de uma verdadeira mania ou de uma simples tendência para afrontar a sociedade”...


E eu gargalhava nesta seqüência, em pleno início da madrugada: como é que eu nunca tinha ouvido falar deste filme antes? Digo mais: estas pornochanchadas têm mais é que ser valorizadas e descobertas, em especial as da primeira e segunda fases, sendo estas equivalentes às produções quase telenovelescas da Cinedistri e àquelas protagonizadas por David Cardoso ou Matilde Mastrangi, respectivamente. Há também uma terceira fase da pornochanchada nacional, posterior a 1985, mais esta já é declinante, quando a competição com os filmes de sexo explícito esfacela o gênero, um dos mais originais e inventivos que tenho a honra de conhecer recentemente. Afinal de contas, em que outro tipo de filmes eu poderia sorrir (e me identificar por projeção erótica) tão fortemente quanto na cena em que um garçom afetado pergunta a um jornalista bonitão (o futuro intérprete brasileiro do palhaço Bozo – hoje, pastor evangélico! – Arlindo Barreto) se ele quer um "furo". Não vou explicar o contexto em que se dá esta pergunta, mas que é bem menos literal e mais profissional do que parece, ah, é! Hilário este filme: tomara que seja mais divulgado, em especial para os rapazes que passaram a madrugada masturbando-se em quarteto. Abaixo os preconceitos!

Wesley PC>

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ONTEM EU CHEIREI UMA CUECA PRETA USADA QUE ESTAVA ESTENDIDA SOBRE O VARAL DE UM VIZINHO... DEVO CULPAR O LIVRO?

Quase duas semanas testemunharam a minha luta em primeira pessoa com “O Apanhador no Campo de Centeio” (1951), livro de J. D. Salinger sobre um rapazola triste e pouco conectado com a sociedade ao redor que se tornou a obra de cabeceira de alguns dos mais famosos assassinos e suicidas estadunidenses. Antes de atirar no cantor John Lennon, por exemplo, em 8 de dezembro de 1980, o aflito Mark David Chapman lia e relia suas passagens favoritas deste livro, que estava em suas mãos quando ele foi capturado pela polícia após cometer o crime que chocou o mundo. Exegetas imediatistas apressaram-se em associar o livro ao tormento psicológico enfrentado pelo assassino, visto que o livro é pungentemente escrito num tom subjetivo e cumulativo que faz com que praticamente sintamos aquilo que o protagonista sente. Eu senti isso também, mas o detestei: achei o tal de Holden Caulfield tão mimado e aburguesado que não houve possibilidade de identificação. Conclusão: desgostei solenemente do livro!

O que se pode ser dito como equivalente a uma trama literária no livro é dividida em 26 capítulos e passa-se em poucos dias de dezembro de 1949. Holden Caulfield é expulso de sua escola por causa de seu mau desempenho acadêmico e hesita em voltar para sua casa, não obstante nutrir um afeto destacado por sua irmãzinha Phoebe. Um dos irmãos de Holden falecera de leucemia e outro trabalhava como roteirista em Hollywood. Seus pais eram ricos e, apesar de não ir bem na disciplina de Literatura, Holden gostava muito de ler. Numa de numas passagens favoritas, ele descreve o que o livro autobiográfico “A Fazenda Africana” (1937), da dinamarquesa Isak Dinesen, lhe causava um estranho prazer, mesmo tendo sido pego por engano na biblioteca. Dizia Holden, “eu sou bastante iletrado, mas leio muito”. Era o que o redimia enquanto personagem minimamente interessante para mim...

Enquanto tinha eventuais casos amorosos com namoradinhas do passado e um frustrante embate com um prostituta juvenil e um cafetão bonachão, Holden Caulfield arquitetava maneiras de encontrar-se com sua irmã sem precisar gastar tempo ao lado de seus pais. Ele queria entregar um dinheiro natalino a ela, queria compartilhar um chapéu vermelho repleto de nostalgia. A garotinha, porém, é uma criança e, como tal, reage imediatamente a qualquer gesto de Holden. E aí está o primeiro grande problema (muito verossímil) de sua composição personalística: tudo “o mata”! A garotinha vira de costas para ele num carrossel, e isto o mata; um atraente colega de quarto gasta mais tempo penteando o cabelo, e isto o mata; um professor que morava perto de sua residência familiar o desperta, no meio da madrugada, alisando a sua cabeça, e isto o mata... Sem contar que tudo é comparado ao inferno, tudo o faz sentir como se fosse um louco: definitivamente, Holden Caulfield é a epítome do tédio burguês, alguém que me incomodou bastante por ter estado tão próximo dele por quase duas semanas!

Os potenciais clímaxes do livro são, em verdade, píncaros psicológicos, relacionados à profunda depressão que Holden experimentava nalgumas situações (vide o seu desespero depois que se sente sexualmente molestado por seu professor ou um episódio anterior em que discute “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, com algumas freiras e acha-as indignas de discutir o amor romântico entre adolescentes) ou à felicidade tênue mais igualmente extremada que o toma de assalto sempre que está ao lado de sua irmãzinha. Analisando estes píncaros objetivamente, é fácil entender porque ele assume as vezes de auto-ajuda especializada para pessoas atormentadas por sua inadequação ao mundo, desde que as mesmas sejam propensas ao tédio. Não é o meu caso e, muito menos, foi o meu caso durante a leitura do livro, que se revelou o contrário de ansiosa nalguns momentos. Por mais que, volta e meia, alguma passagem do livro fosse digna de ser escrita na minha agenda pessoal (exemplo: “maldito dinheiro. Ele sempre acaba fazendo tu te sentires triste como no inferno”, ao final do capítulo 15), o momento egrégio do romance é mesmo o aforismo do psicanalista Wilhelm Stekel que o professor Antolini (casado com uma mulher bem mais velha do que ele, o que causava espanto, mais uma vez, para os constantes julgamentos valorativos de Holden sobre as vidas de outrem) lhe direciona cautelosamente no capítulo 24: “a marca registrada do homem imaturo é que ele quer morrer nobremente por uma causa, enquanto que a do homem maduro é que ele quer viver humildemente por uma”. Apesar de bonito, talvez eu não tenha recebido muito bem esta citação, ao menos no contexto dúbio e titubeante em que ela foi apresentada...

Mas, segui em frente: apesar de ter desgostado tanto do personagem principal que cri que também desgostei do livro, entre um e outro capítulo eu tentava viver. Comia, sorria, via filmes, ouvia canções, abraçava minha mãe, cheirava a cueca preta melada de sêmen alheio que estava estendida no varal de um vizinho, enviava mensagens de celular para pessoas que amo, ficava imaginando como eu transmitiria minhas reações ao grande amigo que me emprestou o livro... Numa cena potencialmente discursiva, Holden tenta apagar os vários FODA-SE escritos na parede do colégio onde estudava a sua irmã. Não consegue. Aí, num momento conclusivo posterior, ele fala algo que quase o redime: “nunca conte nada a ninguém. Se tu o fizeres, tu começas a sentir falta de todo mundo”... Foi aí que eu tive certeza de que eu e ele somos irreconciliavelmente diversos. Coisa rara: não houve identificação, eu o detestei. Talvez eu não tenha habilidade para ser um assassino atormentado... Menos mal?

Wesley PC>

terça-feira, 28 de junho de 2011

“QUE FIM LEVARAM TODAS AS FLORES?”

Surpresa: lançado em 1978 e ouvido casualmente na manhã de hoje, “Secos & Molhados (III)” funcionou como libelo pró-Orgulho Gay na manhã de hoje. Conversei sobre o disco com alguns amigos no último sábado e acabo de constatar que, de fato, Ney Matogrosso é o intérprete dalgumas canções, mesmo não mais fazendo parte do grupo, rigorosamente comandado por Sérgio Ricardo. Com a saída do vocalista, aliás, o grupo ficou muito mais progressivo e sério do que se demonstrou nos dois extraordinários discos iniciais, mas, nem por isso, menos interessante. A faixa de abertura, por exemplo, aquela que intitula esta postagem, é um primor de beleza e militância. As faixas seguintes (“Lindeza”, “De Mim Para Você” e “Minha Namorada”), idem. Mas é o brilhantismo de “Anônimo Brasileiro” que me toca com paixão sempre que reouço o disco. E, em razão da minha comemoração pessoal ao aniversário do levante de Stonewall Inn, em 1969, creio que esta letra cabe muito bem enquanto reivindicação geral:

“Da primeira vez eles se permitem
E como amigos não fazem nada
Da segunda vez já não se arriscam
Os olhos fixos prendem nossa mão
Até que chega o mocinho deles
Entra de fininho e não diz que não
Aponta-nos o dedo e conhecendo a reação
Esmaga-nos a voz do coração
E porque não se somos mais?”


Absolutamente perfeita. Viva a militância!

Wesley PC>

28/06/2011: 42 ANOS DO LEVANTE DE STONEWALL INN E... O QUE MUDOU?!



Eu não respondo hoje, mas pergunto. Pergunto, repergunto e me auto-interrogo: O QUE MUDOU?!

Wesley PC>

segunda-feira, 27 de junho de 2011

PUBLICITÁRIO DE VERDADE VENDE COMO ALGO POSITIVO ATÉ MESMO O FIM DO MUNDO!

Errrrrrrrrrrrrrrrrrrrr... Na falta de algo imediatamente inteligente e/ou combativo, eis o que concluo ao final de minha capitulação capitalista após ter visto “Eduardo & Mônica” (2011), pretenso curta-metragem do publicitário Nando Olival que não passa de um videoclipe comercial, realizado para a empresa de telefonia celular Vivo, com base numa célebre canção homônima do grupo brasiliense Legião Urbana, quiçá uma das mais apaixonantes que eles já compuseram...

Mesmo na época em que eu tinha uma ojeriza traumática ao grupo (do qual não sinto mais vergonha em admitir que hoje sou fã), nutria um carinho muito especial por esta sublime estória de amor, na qual uma estudante ‘pimba’ de Medicina apaixona-se por um ‘office-boy’ adolescente e ‘pop’. Digo mais: hoje eu enxergo este tipo de relação afetiva como um “ideal possível” de romance, de maneira que costumo brincar com um amigo de trabalho homossexual que meu tipo ideal de rapaz é aquele meio abobalhado que aparece com constância diante do balcão em que me sento profissionalmente...

“Tinha tão pouca gala naquele ralo hoje à noite. Acho que ele bateu punheta à tarde, naquela hora em que eu o ouvi tossindo, quando veio estender a toalha cor-de-rosa na varanda”...

Na canção, Eduardo e Mônica são quase antagonistas apaixonados: ela é fã dos filmes de Jean-Luc Godard; ele costuma passar horas diante de jogos eletrônicos... Ela fala alemão, enquanto ele ainda está aprendendo inglês... Eles se amam, brigam e se complementam, como deve ser em qualquer relação amoroso com possibilidades de dar certo: é uma canção que emociona, que nos faz sonhar!

No videoclipe publicitário vendido como curta-metragem, a canção é executada na íntegra, enquanto imagens bonitas de um rapaz bonito e uma moça bonita linearizam ao extremo a estrutura assaz linear e direta da canção. Ouso dizer que é um desperdício de talento? Sim, mas do compositor Renato Russo, que merecia um filme mais honesto no que tange à usurpação supra-comercial de seus motes enredísticos. Tenho coragem de dizer que o filme é ruim? Infelizmente não por completo: sou refém da canção e, como tal, por mais raiva que eu sinta do projeto demoníaco como um todo, me vi cantarolando “quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feitas pelo coração?”. Digo mais: sou cúmplice! Para mim, os telefones celulares são uma das ferramentas interativas mais funcionais que já foram inventadas... Idiota que eu sou, idiota (leia-se: apaixonado)!

Wesley PC>

PITTY – CHIAROSCOPE (2009) Direção: Ricardo Spencer

Na falta do que fazer e movido por uma leve curiosidade respeitosa, assisti a este vídeodocumentário na tarde de hoje. Trata-se de um filme com o intento de promover o mais recente disco da banda Pitty, “Chiaroscuro”, lançado em 2009. Apesar de eu admitir que gosto dos dois primeiros álbuns da cantora, achei este novo trabalho muito irregular: “Me Adora” é uma canção que gruda, mas, afora ela, o restante das canções enfada. Tanto que cochilei vendo o filme, que possui apenas 64 minutos de duração. Por sorte, minha mãe me despertou num momento providencial e pude avaliar com minúcias o melhor momento de todo o documentário musical: a execução da canção “Trapézio”, no interior de um banheiro luxuoso e apertado.

Apesar da letra banal (as reminiscências de uma noitada alcoólica prenhe de “ressaca moral”), aquilo que, isoladamente, corresponde ao videoclipe da canção tem um quê de original: enquanto a bonita cantora estende-se numa banheira com espuma, um músico cuida das unhas, enquanto outro permanece atento ao que toca em seu instrumento musical e um terceiro despe-se e banha-se no chuveiro. Não apenas finge que se banha: esfrega a bunda, a genitália, a careca, tudo. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, pois, afinal de contas, é! Eis o melhor da cena: a normalidade implantada e bem-sucedida. Bem melhor quando a banda insiste nesse tipo de abordagem, ao invés de parecerem originais e/ou ‘pimbas’ demais, como quando eles se vestem de pelúcia na canção “A Sombra” ou quando chafurdam a fotografia do vídeo com trocentos efeitos imagéticos aleatoriamente depositados.

Veredicto geral: o vídeodocumentário deixa entrever/entreouvir que “Chiaroscuro” é um disco enfadonho, mas, mesmo assim, se comandado por mãos firmes, pode render estados de espírito interessantes. Como o elemento do currículo do diretor Ricardo Spencer que mais justificou a sua escolha para a direção do filme tinha a ver com a sua intimidade longeva com os integrantes da banda e não com uma proposta estética afinada com os clamores das canções, “Pitty - Chiaroscope” é desengonçado e disfuncional. Mas, somente pelo momento mostrado em foto, merece uma indicação sincera: Américo, tenho certeza de que tu gostarás bem mais do que eu! (risos)

Wesley PC>

“O BRASIL PRODUZ O MELHOR UÍSQUE FALSIFICADO DO MUNDO!” (DA ARTE DE SE FAZER O ELOGIO CERTO)...

Passei o dia de hoje remoendo esta cena genial do anti-documentário “Nem Tudo é Verdade” (1986, de Rogério Sganzerla), em que o músico experimental Arrigo Barnabé, na pele do cineasta incompreendido Orson Welles, profere a frase aspeada acima enquanto direciona a sua câmera para um papagaio pousado em seu ombro. Uma cena simples, mas entupida de vigor protestante: por que ninguém pensou nisso antes?!

Li nalgum lugar que “o fantasma da visita de Orson Welles ao Brasil assombrou o cineasta Rogério Sganzerla até o dia de sua morte”. Se, neste filme, ele aborda esta fantasmagoria pelo prisma de uma militância nacionalista não exclusiva nem tampouco ufanista, os três filmes realizados em seguida sobre o mesmo tempo, por outro lado, me pareçam cansativos e, de fato, indicativos de que há realmente um trauma a ser extirpado. Mais: durante a feitura mesmo de “Nem Tudo é Verdade”, foi descoberto que a explicação até então corrente para o sumiço das imagens filmadas pelo cineasta estadunidense no Brasil era falaciosa: os negativos originais não foram jogados ao mar pelos dirigentes irritados da produtora RKO, mas, pelo contrário, estavam acondicionadas em segurança num vão hollywoodiano. O projeto permaneceu incompleto e não mostrado até a morte de Orson Welles, precisamente em 1985, de maneira que o menestrel cinematográfico udigrudi sentiu-se imbuído da façanha informativa de revelar ao mundo o que, de fato, aconteceu quando o cineasta norte-americano esteve em terras brasileiras. Numa cena, a câmera focaliza a suposta “carteirinha de cachaceiro” que Orson Welles havia recebido no Brasil; numa outra, a narração explica que a boa relação entre o artista estrangeiro e o povo local causava desconfiança nas autoridades e militares internacionais e nacionais; numa terceira, reconstitui-se a morte do jangadeiro Jacaré, escolhido por Orson Welles como protagonista de um dos segmentos de sua obra; num momento de “Linguagem de Orson Welles” (1990), curta-metragem posterior de Rogério Sganzerla sobre o mesmo tema, Grande Otelo atira: “temos duas principais missões perante a História: a primeira é não mentir nunca; e a segunda é mostrar a verdade, o máximo possível”. Tais missões foram adequadamente cumpridas neste filme, em que o personagem de Arrigo Barnabé grita que “em Hollywood, política é mato – lá, não se sabe nem mais sorrir”? Citando ainda o mesmo personagem: “é preciso escutar com os olhos. Escutar!”

De fato, Rogério Sganzerla ajuda o espectador a escutar com os olhos o tempo inteiro: diversas narrações mesclam-se e confundem-se no filme; imagens reais, documentais, simuladas e reconstitutivas misturam-se diante de quem tenta separar o que é ficção e o que é realidade; somos testemunhas de que um grande gênio fora traído pelo desdém e pela malevolência do sistema capitalista que pareceu financiá-lo num primeiro momento. Aconteceu algo parecido com Rogério Sganzerla, voluntariamente confinado ao segmento marginal do cinema brasileiro, não por acaso, um dos mais inventivos de nossa cultura. E, diante do filme, visto após um esfacelado preconceito, eu entendi que, na Arte, nem todo elogio faz bem: que o diga a piada contida na primeira metade do título desta postagem (risos). “Nem Tudo é Verdade” é uma aula: Cinema, História e uso refinado das possibilidades audiovisuais são os instrumentos docentes deste belíssimo filme!

Wesley PC>

O CAPITAL TUDO ATINGE!


Recado dado, hora de tirar um cochilo...
Interessados, sabem onde me encontrar: tem muito mais material interessante onde eu descobri esta tirinha...

O Capital tudo atinge!

Cabe a cada indivíduo em particular sabe como se lida com este fato, um pouco além ou aquém da inevitabilidade. Afinal de contas, como dizem meus queridos visionários do Textículos de Mary: “trepar por grana é uma bosta”, mas uma prisão de ventre pode ser fatal....

Wesley PC>

domingo, 26 de junho de 2011

UM DISCO GENIAL PARA COROAR E CELEBRAR UM DOS SONHOS MAIS GENIAIS QUE EU JÁ TIVE!

Meu primeiro contato com o disco “Tim Maia” (1971), do cantor e compositor homônimo, foi na última terça-feira, 21 de junho de 2011, quando comemorávamos o aniversário de minha amiga Ninalcira Sampaio: cantamos em voz altissonante e apaixonada as faixas 02 [“Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”] e 07 (“Você”), enquanto jurei a mim mesmo pesquisar se a faixa 09 (“I Don’t Know What to Do With Myself”) tinha ou não a ver com uma canção de mesmo título, escrita por Burt Bacharach e consgrada recentemente na extraordinária versão ‘rock’ da dupla The White Stripes. Ouvindo o disco integralmente pela primeira e segunda vezes na manhã de hoje, minhas reações diante daquela bela coleção de canções debandaram para outros lados: emocionei-me ao ver minha cantarolar algumas faixas na cozinha, enquanto eu não deixava de associar o preâmbulo de “Você” a um sonho genial e quiçá premonitório que tive mais cedo...

No sonho, dividido em duas partes, eu e um amigo afetado e mimado recém-conhecido perambulávamos pelo colégio estadual Atheneu Sergipense, onde ambos estudamos, em busca de romance. Como era dia de prova no colégio, os funcionários do local impediram a nossa peregrinação romântica. De repente, eu estava sozinho num prédio com piscina, enviando cartinhas apaixonadas para um rapaz bonito que eu sei que é comprometido há um bom tempo com outro rapaz, também bonito. Surpreendentemente, o rapaz para quem eu enviei o bilhete correspondeu-me, e veio falar comigo depois que uma amiga em comum (mais dele do que minha) convocou sua presença. Sorrindo, ele me perguntou por que eu endereçava mensagens tão apaixonadas a pessoas com as quais eu sei que não tinha nenhuma chance efetiva de engendrar um relacionamento e eu respondi, num ímpeto de genialidade, com algo que eu gostaria muito de repetir aqui, apesar de não mais lembrar as palavras exatas que utilizei: disse eu que focalizava mais a tentativa que o alcance bem-sucedido de minhas investidas românticas, de maneira que direcionava o mesmo afeto potencial a mais de uma pessoa porque me considero capaz de amar quase qualquer pessoa, desde que esta me dê uma chance, se disponha a permitir que eu a ame e seja retribuído. Se isto realmente acontecer um dia, prometo que direcionarei a esta pessoa as palavras re-ensinadas a mim e à minha mãe, pelo genial Tim Maia, na manhã de hoje:

“De repente, a dor
De esperar terminou
E o amor veio, enfim
Eu que sempre sonhei
Mas não acreditei
Muito em mim

Vi o tempo passar
O inverno chegar
Outra vez, mas desta vez
Todo pranto sumiu
Um encanto surgiu
Meu amor

Você
É mais do que sei
É mais que pensei
É mais que esperava, baby

Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava, baby


Sou feliz agora
Não, não vá embora, não!”

Juro!

Wesley PC>