sexta-feira, 14 de junho de 2013

RECADO EXTRA-DISSERTATIVO:


A esfera da vida na qual se movem os desajustados é um mundo à parte, com suas próprias normas e convenções, suas idiossincrasias, concepções e aspirações peculiares – e onde os valores morais inerentes ao homem, por imorredouros, transfiguram-se, travestem-se, mutilam-se na adaptação aos requisitos do meio. Assim é que ali faz-se da sensualidade o simulacro do amor, da notoriedade o substitutivo do renome, da vaidade a contrafação do verdadeiro orgulho, e na associação de interesses escusos é que se vai encontrar o arremedo da amizade” (JOANIDES, 1977, p. 22).

Estou escrevendo a minha dissertação. Por isso, o sumiço. Mas eu volto, eu volto...
E eu amo!

Wesley PC>

quarta-feira, 12 de junho de 2013

NÃO TENHO O APELO SEXUAL DO CHARLTON HESTON, MAS EU SINTO FALTA, AH, EU SINTO FALTA...

Por conta de manifestações populares que resultaram no incêndio e depredação de vários ônibus, fiquei confinado por algumas horas num terminal de ônibus nesta noite de quarta-feira. Eu e diversas pessoas, que choravam e se desesperavam, preocupadas em não ter como voltar para casa: por conta dos ataques, os ônibus pararam de circular no bairro em que moro. Apesar da situação preocupante, eu parecia estar calmo, parecia não entender o que acontecia...

 O motivo dos ataques contra os ônibus foi o seqüestro e conseqüente morte de uma garota de 16 anos na redondeza. Revoltada com o crime, a população atacou os veículos de transporte público, não sei o porquê. Antes que meu irmão acidentado fosse me resgatar de motocicleta no terminal, encontrei alguns amigos, dentre ele um dos rapazes mais bonitos que já encontrei na vida, com quem bati a minha cabeça, o que causou dor física. Quando perguntaram o que eu estava a sentir, não perdi a chance de ser cínico e emocionalmente realista ao mesmo tempo: “gostei tanto desta batida cefálica que acho que minha produção de sêmen ficará interrompida por três dias, de tanto que eu gozei nesse instante!”. Todos sorriram...

 Quando eu voltava para casa, na garupa de meu irmão, senti um forte cheiro de fumaça negra, enquanto via restos de veículos queimados e muitos cacos de vidro pelo chão. Estava tudo tão deserto e visualmente caótico como se eu estivesse a circundar pelo cenário da primeira metade do ótimo e impactante filme “A Última Esperança da Terra” (1971, de Boris Sagal). Na manhã de hoje, encontrei mais destroços noutro ponto do bairro, enquanto as pessoas só comentavam sobre a revolta dos habitantes do local. E, por dentro, algo me fazia sentir solitário... A beleza, talvez!

 Wesley PC>

domingo, 9 de junho de 2013

A MINHA VAIDADE DE SANTO VERSUS “O IDIOTA SOCIAL” (UM TESTEMUNHO RELIGIOSO):

Para além de eventos emocionalmente desagradáveis que me ocorreram na noite de sábado e que tiveram a sua continuidade narrativa assegurada aqui, declaro-me vitorioso numa pendenga idiotizada entre eu mesmo, em relação interdependente com outrem, e aquilo que eu entendo como minha fé: por volta das 19h, estava no interior do automóvel de um rapaz que acho bastante bonito, porém um tanto intransigente em relação ao modo como despeja a sua inteligência no modo. Falávamos sobre a minha crença em Deus, que ele acha relativamente estapafúrdia, e eu disse-lhe que o fato de eu ser religioso não implica que eu não leve em consideração que Deus possa não existir. Ou seja: eu acredito plenamente em Deus, mas também cogito que esta crença seja prioritariamente subjetiva, formulada a partir de situações e questões que se adéquam com facilidade à minha própria realidade interior, ao meu modo de organizar receptivamente os fenômenos (sociais, inclusive) ao meu redor.

Pois bem, depois de termo-nos despedido sem resolver as nossas pendências – o que é bom, pois assegura que ainda tenhamos muito o que conversar – pensei bastante no referido rapaz quando cheguei em casa, depois de uma lancinante interrupção numa atividade divertida entre novos amigos: estava querendo reassistir ao filme “A Rede Social” (2010, de David Fincher), que encetou este novo meandro dialogístico assimétrico entre eu e o rapaz, por quem ouso me confessar tangencialmente apaixonado, quando o proprietário do quarto onde eu estava chegou, bêbado e ferido. O aparelho reprodutor de DVDs encontrava-se lá, de modo que precisei protelar a sessão. De modo um tanto chistoso, liguei a TV, pedindo, quase inconscientemente, para Deus que, se ele existisse e entendesse o quanto aquela pendenga me era psicologicamente importante, ele permitisse que o filme desejado estivesse sendo exibido nalgum canal fechado...

Apesar de constatar o tom herético deste chiste em forma de oração, vasculhei os canais coma esperança de ser atendido. Depois, desculpei-me silenciosamente para o mesmo Deus, levemente culpado e chateado pelo que me ocorrera anteriormente, quando, de supetão, deparei-me com uma paródia absolutamente genial do filme em pauta no anárquico programa animado “Mad TV”, do canal Cartoon Network. Mais: o tom crítico da paródia confirmava justamente a minha alegação acerca do filme, a de que o seu personagem biografado (o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg) estava sendo sutilmente denegrido, o que era discordante do que pensava o meu opositor, um assumido “super-egoísta” que disse que, ao término do filme, quis ser igualzinho ao protagonista. 

Não entrarei aqui em divergências morais longevas entre eu e o rapaz, mas tendi às gargalhadas enquanto via o episódio paródico, cujas situações zombavam da apatia societal do protagonista, escarnecia de sua índole questionável, fazia patuscada dos componentes técnicos do filme (inclusive comparando a verborragia do ator Jesse Eisenberg à languidez de Michael Cera, que supostamente teria se sentido inversamente imitado na atuação do primeiro) e julgou negativamente a conduta advocatícia do personagem real, tachado de sacana, de oportunista, de traiçoeiro. Senti-me quadruplamente contemplado com este programa humorístico: tanto no que diz respeito ao entretenimento legítimo que ele me proporcionou quanto à confirmação irônica de minhas impressões sobre o filme (que considero ótimo, apesar de não tê-lo compreendido adequadamente no viés formal convertido em discurso - vide crítica), passando pela justificação intelectual de meus argumentos contra o entusiasmo imitativo do rapaz com quem discutia e pela confirmação inconteste de meu amor por Deus, que pode ser uma mera hipertrofia da associação de acasos, mas, ainda assim, é sincero e interminável. Obrigado por existir em mim e através de mim, algo que eu entendo como Deus!

Wesley PC>