Para além de eventos emocionalmente desagradáveis que me
ocorreram na noite de sábado e que tiveram a sua continuidade narrativa
assegurada
aqui, declaro-me vitorioso numa pendenga idiotizada entre eu mesmo,
em relação interdependente com outrem, e aquilo que eu entendo como minha fé:
por volta das 19h, estava no interior do automóvel de um rapaz que acho
bastante bonito, porém um tanto intransigente em relação ao modo como despeja a
sua inteligência no modo. Falávamos sobre a minha crença em Deus, que ele acha
relativamente estapafúrdia, e eu disse-lhe que o fato de eu ser religioso não
implica que eu não leve em consideração que Deus possa não existir. Ou seja:
eu
acredito plenamente em Deus, mas também cogito que esta crença seja
prioritariamente subjetiva, formulada a partir de situações e questões que se
adéquam com facilidade à minha própria realidade interior, ao meu modo de
organizar receptivamente os fenômenos (sociais, inclusive) ao meu redor.
Pois bem, depois de termo-nos despedido sem resolver as
nossas pendências – o que é bom, pois assegura que ainda tenhamos muito o que
conversar – pensei bastante no referido rapaz quando cheguei em casa, depois de
uma lancinante interrupção numa atividade divertida entre novos amigos: estava
querendo reassistir ao filme “A Rede Social” (2010, de David Fincher), que
encetou este novo meandro dialogístico assimétrico entre eu e o rapaz, por quem
ouso me confessar tangencialmente apaixonado, quando o proprietário do quarto
onde eu estava chegou, bêbado e ferido. O aparelho reprodutor de DVDs
encontrava-se lá, de modo que precisei protelar a sessão. De modo um tanto
chistoso, liguei a TV, pedindo, quase inconscientemente, para Deus que, se ele
existisse e entendesse o quanto aquela pendenga me era psicologicamente
importante, ele permitisse que o filme desejado estivesse sendo exibido nalgum
canal fechado...
Apesar de constatar o tom herético deste chiste em forma de
oração, vasculhei os canais coma esperança de ser atendido. Depois,
desculpei-me silenciosamente para o mesmo Deus, levemente culpado e chateado
pelo que me ocorrera anteriormente, quando, de supetão, deparei-me com uma
paródia absolutamente genial do filme em pauta no anárquico programa animado
“Mad TV”, do canal Cartoon Network. Mais: o tom crítico da paródia confirmava
justamente a minha alegação acerca do filme, a de que o seu personagem
biografado (o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg) estava sendo sutilmente
denegrido, o que era discordante do que pensava o meu opositor, um assumido
“super-egoísta” que disse que, ao término do filme, quis ser igualzinho ao
protagonista.
Não entrarei aqui em divergências morais longevas entre eu e
o rapaz, mas tendi às gargalhadas enquanto via o episódio paródico, cujas
situações zombavam da apatia societal do protagonista, escarnecia de sua índole
questionável, fazia patuscada dos componentes técnicos do filme (inclusive
comparando a verborragia do ator Jesse Eisenberg à languidez de Michael Cera,
que supostamente teria se sentido inversamente imitado na atuação do primeiro)
e julgou negativamente a conduta advocatícia do personagem real, tachado de
sacana, de oportunista, de traiçoeiro. Senti-me quadruplamente contemplado com
este programa humorístico: tanto no que diz respeito ao entretenimento legítimo
que ele me proporcionou quanto à confirmação irônica de minhas impressões sobre
o filme (que considero ótimo, apesar de não tê-lo compreendido adequadamente no
viés formal convertido em discurso - vide
crítica), passando pela justificação intelectual de
meus argumentos contra o entusiasmo imitativo do rapaz com quem discutia e pela
confirmação inconteste de meu amor por Deus, que pode ser uma mera hipertrofia
da associação de acasos, mas, ainda assim, é sincero e interminável.
Obrigado
por existir em mim e através de mim, algo que eu entendo como Deus!
Wesley PC>