segunda-feira, 30 de março de 2009

POR QUE GOSTO TANTO DE MINHA MUSA CONTEMPORÂNEA?


Não é nenhuma surpresa que eu seja fã da Björk. Ontem à noite, depois de erguer meus pés numa cama, com um moço fugidio ao meu lado, fui interrogado acerca do porquê de eu gostar tanto dela. A voz esganiçada da islandesa, seu exotismo instrumental, suas letras amarguradas e a conjunção identificatória que advém de todos estes elementos me tornam mais do que apto a ser fã desta grande cantora. Coincidentemente, estive ouvindo “Volta” (2007), seu trabalho mais recente e não tão adorado pelos fãs, antes de ir à Gomorra. Foi bom prestar atenção em suas canções, depois de um pequeno hiato em sua apreciação (acho que fazia uns seis meses que eu não ouvia este álbum!), visto que, felizmente para mim, não me irrito tanto com as orquestrações pretensamente comerciais do produtor norte-americano Timbaland. Gosto de seu aspecto dançante um tanto convencional em 2 ou 3 faixas e fico contente ao lembrar que utilizei este álbum para apresentar a artista a um adolescente fã de Avril Lavigne por quem estive apaixonado há pouco mais de um ano e com o qual consegui esboçar três semanas de simulacro relacional. Mas isso não é o tema desta postagem, por enquanto. Falemos do álbum:

A faixa de abertura, “Earth Intruders”, cujo ótimo videoclipe foi dirigido pelo francês Michel Ocelot [responsável por um elogiado filme de animação chamado “Kirikou e a Feiticeira” (1998), o qual ainda não vi], expõe as pretensões ecológicas da compositora, que canta:

“Nós somos os invasores da Terra
Enlameados com ramos e galhos
Tumulto! Carnificina!
(...) Com nossos pés batendo
Com nossos pés marchando
Enterrando esqueletos no solo.
(...) Perdoem este ataque,
Mas somos os invasores da Terra”.


A segunda faixa, “Wanderlust”, inicia-se com o longo apito de um trem e fala sobre o percurso deambulatório da cantora, que viaja, que perdeu sua origem e não deseja mais reencontrá-la (“Eu me sinto em casa em qualquer lugar/ O desconhecido me cerca/ E eu recebo este abraço a bordo de minha casa flutuante”) e é linda, mas é na faixa 3, “Dull Flame of Desire”, cantada em parceria com Antony Hegarty, que o coração aperta. 7 minutos e meio de música sobre a “entorpecente chama do desejo”, sentimento este que volta na outra parceria com o atormentado vocalista da banda Antony and the Johnsons, a última faixa, “My Juvenile”:


“Meu juvenil,
Eu sinceramente digo que tu és meu maior amor
E desajeitadamente tentei libertá-lo de mim.
Um último abraço para atar um laço sagrado,
Esta é minha oferta para a derradeira partida”.


Eles sofrem por amor. Ambos!

A faixa 4, “Innocence”, curiosamente homônima de uma canção da Avril Lavigne, tornou-se a canção preferida de meu ex-protonamorado adolescente, que recitava sua letra em inglês enquanto estudávamos Química juntos numa praça do Conjunto Santa Lúcia:

“When I, once, was innocent
It's still here, but in different places
Neurosis only attaches itself to fertile ground
Where it can flourish”


Era o recado que ele estava tentando me passar. Como sempre, eu não percebi, apesar de ter entendido gramaticalmente o sentido das frases. Dirijo-me então às faixas seguintes: “I Seem Who You Are”, “Vertebrae by Vertebrae” e “Hope”, todas lentas, reflexivas, permeadas por sons orientais e chorosos. Todas muito lindas, ainda que um tanto obscurecidas pelo exibicionismo sonoro das demais canções do álbum, com destaque para a eletrônica faixa 9, “Declare Independence”, extremamente panfletária, no qual a cantora suplica-nos, aos gritos, para que libertemos-nos de nossos colonos, que não deixemos ninguém nos dizer o que fazer, que levantemos as nossas orgulhosas bandeiras cada vez mais e mais alto. Fantástica canção, mas é com o chororô da bela faixa 7, “Pneumonia”, que quero encerrar esse texto, ao passo que, pitorescamente, confesso que algo no álbum me fez lembrar bastante do docemente afetado Paulo Bruno. Espero que ele também curta este CD que nem eu curto!

“Mantenha-se acima da tristeza, garota
O mundo vai ser sempre feito disso
Tu podes acreditar nisto
A menos que tu respires bravamente


(...)

Manter-se calado vai ser o maior crime de todos
Tu chorarás bastante, acima de tudo
Se desejar nunca mais ver seres humanos a teu lado
Lute contra a tristeza
E, assim sendo, supere-a”.


Recomendo a audição do álbum, e, com esse texto, espero que tenha conseguido explicar ao moço arredio de ontem os motivos de minha afinidade. Fica bem, moço arredio!

Wesley PC>

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