sábado, 6 de junho de 2009

Taras Bulba


O compositor que eu escutando no momento é um theco que a muito tempo tenho curiosidade de conhecer. Leoš Janáček(1854-1928) é muito conhecido pelas suas óperas(das quais se destaca Jenůfa, estreada em 1904), pois da mesma forma que o Mussorgsky(e eu esqueci de fala isso) compôs óperas muito originais com forte influencia das suas culturas(theca e russa respectivamente).
Nao sei se eu notei isso porque estou escutando o Janáček logo após o Mussorgsky mas o fato é que os dois tem muita coisa em comum, pois além da originalidade e sabor regional da suas óperas, ambos tinham uma obra bem melodiosa e tinham preferencia por temas épicos(mesmo que regionais), que é o tema da obra que eu estou escutando, Taras Bulba, que é baseado em um livro do Gogol que conta a história de uma família cossaca ucraniana tendo como pano de fundo a luta contra os poloneses. Nao é uma ópera(eu tenho dificuldades em escutar óperas, mas isso depois eu comento) mas sim uma rapsódia, que da mesma forma que o estilo literario é uma composiçao narrativa que se ultiliza de temas populares. Música grandiosa e de uma melodia muito marcante, pricipalmente no primeiro movimento que tem o som do oboé como protagonista(eu sei que essa preferencia tem inconsciente ligaçao com o fato de Gabriela tocar oboé). Ta aí o link também do blog do PQP: http://pqpbach.opensadorselvagem.org/leos-janacek-1854-1928-taras-bulba-rapsodia/
O único ponto de corte entre os dois é a vida pessoal, enquanto o Mussorgsky foi rico aristocrata quando criança mas acabou sozinho e pobre afogado na vodka, o Janáček teve uma vidinha bem comportada, emprego a vida toda e uma aparencia de cientista como podemos ver na foto. Mesmo assim deve ter tido algumas crises existenciais pois sua obra só foi reconhecida no final de sua vida, se bem que alguns nem essa sorte tem.
Num sei o que eu vou escutar agora mas espero voltar a postar logo pois estou me viciando nisso.
Um abraçao(me perdoem a falta de ~, mas é que meu teclado esta com problemas) e tudo de bom sempre.
Fagote da Batalha Lopes

NÃO PODE SER DITO EM PALAVRAS!


(...)

Wesley PC>

O FIM (EM RUSSO)


Terminei de ler “A Laranja Mecânica” (1962), do Anthony Burgess, e encontrei uma diferença significa, finalmente. O final do livro dá um passo avante (no sentido narrativo do termo) em relação ao filme. Não vou explicar do que se trata, mas é algo que me deixou melancólico, que confirmou algumas de minhas desilusões sobre a djísene (“vida” em gíria ‘nadsat’). De todas as palavras derivadas do russo que o protagonista vocifera, ‘nagói’ (“nu”) talvez tenha sido a que mais tenha ficado gravada em minha mente. Primeiro, porque nudez é algo básico em minha vida. Segundo, porque sonoramente me remeteu ao título original (“Staroye i Novoye”) do filme “A Linha Geral/O Velho e o Novo” (1929), obra menos conhecida de Sergei Eisenstein, co-dirigida por Grigori Aleksandrov, em que a persuasão acerca das novidades industriais que supostamente melhorariam a vida dos comunistas é a tônica dominante. As cenas mais famosas deste filme são o casamento idealizado entre uma vaca e um touro coletivo, a comparação entre o funcionamento de uma manteigueira mecânica e um orgasmo, e a execrável demonstração os passos de defumação de um suíno. Ideologicamente, por ser vegetariano e proto-anarquista, tive muitos problemas com o filme, mas ele é uma das obras mais geniais do artista letão. Quanto ao livro que serviu de base ao clássico kubrickiano, é triste, muito mais triste que o filme em sua conclusão. É o fim!

Wesley PC>

“TUDO O QUE SOBRE, TEM QUE DESCER!”


Coincidentemente ou não, numa das primeiras vezes em que me lembro de ter me masturbado na vida, o ator David Carradine estava lá. Era um filme bobo, histórico-revisionista, exibido no SBT. Deitei no quarto, enquanto a TV ficou ligada na sala, eu ouvindo a voz do dublador do sensual ator. Minha irmã entra em casa e pergunta por que a TV da sala está ligada se eu estava dormindo no quarto. Por sorte, era tarde demais (risos)...

Que seja, tal qual aconteceu com o vocalista da banda australiana INXS, Michael Hutchence, David Carradine parece ter morrido enquanto se masturbava. Sufocou-se antes do processo ejaculatório, uma morte que, em meus delírios futurológicos, talvez possa muito bem me alcançar, visto que eu curto deveras este tipo de prática. O que importa aqui, porém, é que David Carradine não era somente um astro tardio de ‘kung fu’. Ele realemnte um bom ator, quando tinha chances de provar isto. O filme na imagem é a prova cabal.

Trata-se de “O Ovo da Serpente” (1977), filme anglófono e obviamente dilacerador do gênio sueco Ingmar Bergman. Na trama, David Carradine interpreta Aron Rosenfeld, um personagem melancólico que investiga o desaparecimento e morte de seu irmão na Alemanha pré-nazista ainda da década de 1920. Interage com sua bela e igualmente melancólica cunhada Manuela (Liv Ullmann), ambos sendo personagens que, em virtude da degenerescência dos valores morais na era em que viviam, trocaram os espetáculos artísticos e circenses pela vulgaridade dos cabarés da época. O clima é de tristeza lancinante, tristeza esta que vai sendo mais e mais diegetizada à medida que o roteiro se desenvolve, dado que descobrimos que alguns cientistas estão “fabricando” depressão, a fim de investigar até que ponto um homem consegue agir no limiar do desespero. Na prisão, um estouvado Adolf Hitler escrevia o seu plano de luta...

Mesmo sendo um filme menos conhecido de Ingmar Bergman, “O Ovo da Serpente” é um dos mais brilhantes testemunhos de como o Mal se serve do mal para imperar, de como as condições depauperadas de uma sociedade favorecem o depauperamento de outras. E, em meio a tudo isso, percebemos a silhueta fálica do desiludido personagem do sensual David Carradine (1936-2009). Não me masturbei vendo este filme. A dor que ele transmite (e questiona etimologicamente) não abre espaço para tal prática de gozo, mas é um ótimo registro da vida deste saudoso ator. Ficam as imagens, os sons e as lembranças...

Wesley PC>

sexta-feira, 5 de junho de 2009

SEMI-MENTOS

"Tudo o que você deseja nessa vida independe do que existe." - ele ouviu o seu semi-amigo dizer.
"Cara, eu até concordaria com você se eu não achasse que as duas coisas não são desgarradas" - imediatamente retrucou.

Ao passar pela rua anteontem atravessada em meio a carros desgovernados dirigidos por motoristas febris (todos eles, sem excessões), ele dispunha de uma auto-confiança que por vezes era súbita, menos vezes do que era constante. Naquela hora, a imprevisibilidade desse sentimento não serviu de nada, mas durante uma sessão com sua psicóloga de anos, situação essa que costumava ser comportadora de sua auto-confiança em seu caráter constante, ele percebeu o quão positivamente disruptivo pode-se ser ao sentirmos coisas novas.

Dentro de casa, 2 dias antes de sua consulta, sua semi-amiga justificou o seu desgarro. A culpa foi da cama quebrada há meses ou da repentina decisão de conserto? Ela respondeu.




Fábio Barros

“POR QUE TODO DIA TU CHEGAS DESANIMADO AQUI?”


Assim me perguntou o estagiário do setor em que trabalho quando eu cheguei hoje. Logo hoje que eu parecia tão animado... Que seja, ignorei o comentário, não respondi e entreguei-me à modorra profissional. Carimbei 55 folhas de papel, enquanto acompanhava duas colegas duas colegas de trabalho discutindo. Uma delas disse que não gostava do tom autoritário com que a mesma se referia a ela. A reclamante disse, em tom austero: “não posso fazer nada. Sempre fui assim!”. Dei de ombros.

Dei de ombros.

Antes de dormir, vi um filme musical sobre música ‘country’. No elenco, Willie Nelson (um dos mais simpáticos defensores da legalização da maconha no mundo, intérprete da bela canção de Bob Dylan, “He Was a Friend of Mine”) e Kris Kristofferson (com um sorriso em metade de rosto e um olhar de fúria na outra metade, consagrado como compositor da obra-prima interpretada por Janis Joplin, “Me & Bob McGee”). A trama era tola: um músico consagrado é obrigado contratualmente a vender todos os direitos autorais de suas composições para um inescrupuloso agente. A fim de driblar tal cláusula, ele repassa suas composições para um amigo e para uma estrela em ascensão, que, ao se recuperar do vício em álcool e anfetaminas, entra para a Igreja Pentecostal e frustra seus fãs. O nome do filme é “Escrevendo Músicas” (1984) e é dirigido pelo refinado Alan Rudolph, responsável por um belo filme sobre a ‘belle epoque’, chamado “Moderns” (1988), mas achei o filme aqui destacado ruim. Desgostei da trilha sonora e não consegui prestar atenção ao que se passava em frente à tela. Talvez a culpa tenha sido minha, que não seja o maior admirador de música caipira estrangeira e, por isso, não entendi muitas das situações desenroladas no roteiro bobo de Bud Shrake. Nem mesmo da trilha sonora eu gostei. Desperdício de tempo!

E agora, pouco depois do meio-dia, outras colegas de trabalho sorriem enquanto falam sobre bundas masculinas. Não me interesso pelo assunto (pelo menos, não do modo como elas estão tratando) e me calo. Dou de ombros!

Wesley PC>

EU ME RENDO – III


O italiano marxista, aristocrático e pederasta Luchino Visconti (1906-1976) é elogiado sobremaneira pelos críticos e amantes do verdadeiro Cinema por causa de sua verve lucaksiana, em que a História em larga transformação é mostrada como paralela a aspectos particulares das vidas de pessoas influentes. Em seus filmes, portanto, a Beleza enquanto entidade isolada é mostrada como um estratagema para obliterar transformações dilacerantes no contexto histórico mundial. Assim é também em “Os Deuses Malditos” (1969), um de seus filmes mais perfeitos, que marcaram e atormentaram a minha infância, dado que o vi por acaso, na TV, quando ainda sequer tinha 15 anos. Na duração épica do filme, o belíssimo Helmut Berger veste-se de mulher e imita Marlene Dietrich cantando que deseja “um homem de verdade”, quando não está seduzindo eroticamente as crianças de sua família ou dormindo com sua mãe. Explode Beleza (com B maiúsculo) em cada fotograma germânico do filme, enquanto, na trama, percebemos a adesão cada vez mais pungente de uma família de riquíssimos industriais aos planos de dominação nazistas. E, dentre as magníficas seqüências do filme, destaca-se a demorada e preciosa reconstituição da Noite das Facas Longas (entre 30 de junho e 1º de julho de 1934), quando diversos membros da organização paramilitar Sturmabteilung (SA) foram executados, entre outros motivos, por práticas homossexuais, minuciosamente mostradas no filme. Obra-prima!

Wesley PC>

EU ME RENDO! – II


E talvez eu devesse perguntar o que ele acha de tamanha exposição. Faço-o, aliás, mas ele sempre responde com evasivas. Talvez não seja um assunto que ele goste muito de falar, mas o fato é que Rafael Maurício Silva está sempre em evidência. E, ultimamente, ele aprendeu a fazer estes gestos caros a “tribos urbanas” nas fotografias que súbita e insistentemente tiro, o que talvez ajude a provocar o pretendido efeito de equalização imagética. Tipo: “Wesley, tu já possui suficientes imagens dele!”. Mas, não. Nunca é suficiente! “Eu Quero Sempre Mais”, como diz a canção do Ira! Que Wendell Bigato sugeriu que eu ouvisse nesta madrugada...

Por mais que sejam apenas pálidas reproduções de seu encanto, as fotografias do Perfeito ajudam a manter acesa a chama de seu brilho, que não está contido somente na singularidade de sua composição física, mas na vivacidade de suas expressões oculares, na beleza ímpar de órgãos de seu corpo (como, por exemplo, suas orelhas esculturadas com o mais encantatório dos exotismos formais e suas grossas sobrancelhas de empedernido reprodutor), na disparidade sentimentalmente avaliativa entre o que sentimos quando o vemos e quando desejamos vê-lo... Talvez por isso seja entendível que eu tenha ido dormir, há cinco horas, com o pensamento rememorando sua existência redentora, e tenha acordado agora ansioso para divulgar novamente o que todos já sabem à exaustão que eu sinto por ele... “De que adianta este exagero exibitório?”, poderia perguntar, mas não obtenho resposta. Elogiar Rafael Maurício, louvar a sua existência, tornar pública a admiração suprema que sinto por ele são missões que me tocam tão repetida e intimamente que até parecem uma função fisiológica de meu corpo cansado. Ele me faz bem, tanto quanto o ar que impregna meus pulmões envenenados pela contemporaneidade, tanto quanto a água que alisa a minha bexiga, tanto quanto a comida que agora ingiro e que proporciona os nutrientes essenciais para a minha sobrevivência e o meu comprometimento em fazer o que creio que seja o Bem para quem eu conheço, não conheço e sei ou não sei que precisa... Ele me faz bem! E, por isso, eu me rendo, mesmo que ele não tenha respondido até então o que acha de tamanha exposição...

Wesley PC>

EU ME RENDO! – I


Recentemente, comuniquei que havia sonhado em mais de uma ocasião com a banda ‘punk’ inglesa Siouxsie and the Banshees, famosa por seu flerte bem-sucedido com o gótico. Num sonho, o Perfeito pedia que eu baixasse a discografia da mesma. Noutro, as músicas deste grupo serviam de trilha sonora para um reencontro onírico com meu amado cãozinho falecido. No mínimo desconfiado com tal insistência onírica, não mais suportei a tensão positiva e obtive dois álbuns da banda: a compilação de ‘singles’ “Once Upon a Time” (1981) e o clássico “Through the Looking Glass” (1987). No primeiro, encontramos, entre outras maravilhas, “Hong Kong Garden”, que é uma das belezas anacrônicas que encantam a trilha sonora do mal-compreendido filme “Maria Antonieta” (2006, de Sofia Coppola), e a barulhenta e cativante “Love in a Void”. No segundo, deparamo-nos com belas e ruidosas versões para “The Passenger” (de Iggy Pop) e “Strange Fruit”, libelo anti-racista consagrado anteriormente na voz de Billie Holiday. Mas a canção que ouço agora chama-se “Trust in Me”. Eis o apelo:

“Trust in me, just in me
Shut your eyes and trust in me
You can sleep safe and sound
Knowing I am around”


Confie em mim!

Wesley PC>

POR POUCO, NÃO VI “APENAS UMA VEZ” PELA TERCEIRA VEZ!


Apesar de ter desgostado deste filme irlandês (ou, se não desgostado, discordado da hipertrofia elogiosa que ele recebeu dos críticos e de alguns amigos meus), sou um fã irrestrito da trilha sonora de “Apenas uma Vez” (2006, de John Carney), página 934 do Guia “1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer”. Acho o filme tolo em sua historieta breve sobre um músico ambulante e lamentoso que se apaixona por uma imigrante tcheca com pendengas mal-acertadas com um ex-marido. Tudo acontece muito rápido e creio que, por não entender suficientemente de como se conduz uma banda, não me sinto alcançado pelas reviravoltas enredísticas envolvendo a decisão para-romântica dos protagonistas Glen Hansard e Markéta Irglová em gravar um CD. Acho a direção fútil, mas sou obrigado a admitir que o uso da música no filme é extraordinário e que a canção principal, “Falling Slowly”, é merecedora de todos os prêmios que recebeu em festivais ao redor do mundo. A trilha sonora inteira é perfeita e, ao merecer este adjetivo, não posso esquivar-me de dedicar uma das canções ao filho egrégio do Sr. Vivaldo Mercês Silva. E é por isso que traduzo aqui a letra da faixa 08, “Fallen From The Sky”, interpretada pela banda do protagonista masculino, The Frames:

“Tu deves ter caído do Céu
Tu deves ter te despedaçado na estrada
Tu trouxeste tantos para a Luz
E, no entanto, tu estás tão solitário

Existe um ponto em cada luta
Em que desistir parecer ser a única saída
Quando todos disseram adeus
E tu estás por sua própria conta

E, se tu precisares de alguém para desmoronar…”


Vim escutando este disco no caminho para casa e fui tão fortemente tocado pela trilha sonora que quase vejo o filme pela terceira vez, mesmo sabendo que ele não funciona tão bem em imagens e diálogos. Ao invés disso, optei por ver um musical interpretado pelos astros ‘country’ Willie Nelson e Kris Kristofferson. Fiz bobagem! O filme que vi era ainda pior. Darei uma nova chance ao filme do John Carney em breve. Quem sabe, bem-acompanhado, a situação não mude de figura...

Wesley PC>

INTERRUPÇÃO DAS ATIVIDADES DO G-4 DE GOMORRA


Nunca soube ao certo o que era o G-4, mas tinha certeza de que eu era fã deste grupo. Sou ainda. Afinal de contas, li em algum lugar que seus integrantes precisarão interromper suas atividades por um tempo, mas tal interrupção não será derradeira. Eles voltam! E, com esta volta, seremos nós os maiores privilegiados.

Por outro lado, esse pode ser apenas um aspecto da questão, “o lado bom de se olhar a vida”, como diria os crucificados num famoso filme do Terry Jones. O melhor lado de se olhar a vida! Ah, mas esta opção delimitadora por um modo de olhar a vida suprime outros questionamentos, violentamente importantes em suas especificidades? OK, traga-os à tona e os mesmos serão postos em discussão. Por ora, desejamos boa viagem aos Rafaéis Coelho e Torres (que, neste momento, já devem estar na Bahia), reafirmamos as saudades de nosso tio Charlão (cuja monografia de conclusão de curso está nos privando de sua estimada presença) e veneramos as discretas manifestações do Perfeito, que, mesmo “disponível”, sabe se esconder como ninguém. Eis o G-4!

Wesley PC>

quinta-feira, 4 de junho de 2009

EVOCANDO O ATIRAMENTO DE DANIEL À COVA DOS LEÕES:


De vez em quando, é bom deixar que os truísmos falem por nós!

Wesley PC>

SERIA GERALDO VANDRÉ O MAIOR COMPOSITOR BRASILEIRO DE CANÇÕES COM A PALAVRA “TRISTEZA”?


Se não for ele, está bem perto. Dediquei-me hoje à audição de uma preciosidade em disco nomeada “Convite Para Ouvir” (1967) e, em pelo menos metade do disco, lá estava a famigerada palavra, quando não contida nos próprios títulos das canções. As 20 faixas contidas no álbum são tão preciosas que é até difícil escolher quais são as melhores. Senão, vejamos: o álbum se inicia com a antológica “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, hino literal de uma geração. Avança com a amargura nordestina do “Réquiem Para Matraga”, segue nos apunhalando com canções dilacerantes como “Canção do Breve Amor”, “Só Por Amor”, “O Menino das Laranjas”, “Depois é só Chorar”, “Tristeza de Amar” e congêneres. Na faixa 10, uma verdadeira epifania de vozes simultâneas, em que ele divide a locução amargurada com Ana Lúcia na perfeita “Samba em Prelúdio” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes). Mas ele não desiste: “Quem Quiser Encontrar o Amor”, “Você que Não Vem” e “Se a Tristeza Chegar” são algumas das faixas magnânimas que encerram o disco. Até lá, já estamos tão arrasados, que prefiro mostrar a capa de outro álbum do artista, o posterior “Canto Geral”, de 1968, pois, acima de tudo, Geraldo Vandré é um artífice político. Mas nada substitui a grandiosidade dos versos sobrepostos da supracitada faixa 10:

“Eu sem você não tenho porque,
porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz, jardim sem luar
luar sem amor, amor sem se dar
E eu sem você, sou só desamor
um barco sem mar, um campo sem flor
Tristeza que vai, tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

Ah que saudade,
que vontade de ver renascer nossa vida
Volta querido,
os meus braços precisam dos teus,
Teus abraços precisam dos meus.
Estou tão sozinha,
tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida,
Sem você meu amor eu não sou ninguém”


No fim dos lamentos, a confluência. Pois a dor é também algo divino!

Wesley PC>

O CINEASTA MAIS SISUDO DA ATUALIDADE

Para quem não conhece, este é Michael Haneke, autor dos melhores petardos anti-capitalismo e anti-vacuidade pós-moderna da contemporaneidade. Recém-laureado no Festival Internacional de Cinema de Cannes, graças ao filme “A Fita Branca” (2009), este verdadeiro autor de cinema já nos chocou sobremaneira com grandes obras de Arte, Política e Estética (todas com letras maiúsculas) como “O Sétimo Continente” (1989), “Código Desconhecido” (2000) e “A Professora de Piano” (2001, minha alo-biografia). Não darei detalhes, por enquanto, sobre suas obras-primas, pois voltarei a falar sobre elas mais e mais vezes, mas não poderia deixar passar esta oportunidade para mostrá-lo num raro momento sorridente. Aproveitem, pois se há um gênio sádico (mas inerentemente realista), este se chama Michael Haneke – e está “vivo e ativo no planetaTerra”, conforme já foi dito sobre Satanás em propagandas religiosas sub-literárias.

Wesley PC>

PARA QUEM ACREDITA QUE OS ANOS (E OS FATOS) SE SUCEDEM...


• Data e local: 5 de junho de 1989, Praça da Paz Celestial (Tian’anmen), China.

• Fotógrafo: Jeff Widener.

• Motivo da pendenga, que se transformou em massacre: protestos estudantis contra as medidas impositivas do Governo Comunista.

• Pessoa que enfrenta os tanques blindados na foto: quem sabe? Como diz o senso comum, a História pode ser escrita pelos grandes homens, mas quem a vive e a faz pulsar são mesmo os ilustres desconhecidos!

Wesley PC>

Я ТЕБЯ ЛЮБЛЮ (YA TEBYA LYUBLYU)


Não é surpresa para ninguém que eu possua 412.000 fotos do Perfeito em meu computador. Surpresa, porém, é constatar que pelo menos 12% destas fotografias flagram-no jogando a versão para celular do famoso Tétris, desenvolvido entre os anos de 1985 e 1986 pelos russos Alexey Pajitnov, Dmitry Pavlovsky e Vadim Gerasimov, este último com apenas 16 anos de idade, à época. Por mais que eu desgoste de jogos e de competitividade, admito que o Tétris é muito divertido, ficando ainda mais agradável quando manuseado pelas mãos esbeltas, morenas e lambíveis do Perfeito...

Wesley PC>

POR FIM, O VERDE!


“Começou-se por separar o homem da natureza, e por fazer com que ele constituísse um reino soberano; acreditou-se assim encobrir seu caráter irrecusável, a saber, que ele é, primeiro, um ser vivo. E, permanecendo-se cego para esta propriedade comum, deu-se total liberdade a todos os abusos. Nunca melhor que ao termo dos quatro últimos séculos de sua história, o homem ocidental pôde compreender senão arrogando-se o direito de separar radicalmente a humanidade da animalidade. Concedendo a tudo o que retirava da outra, ele abria um ciclo maldito, cuja própria fronteira, constantemente recuada, serviria para desviar os homens dos outros homens, e para reivindicar, em proveito de minorias sempre mais restritas, o privilégio de um humanismo, corrompido logo ao nascer, por ter buscado no amor-próprio seu princípio e sua noção”

(Claude Lévi-Strauss – “Antropologia Estrutural Dois” – Capítulo II: “Jean-Jacques Rosseau, Fundador das Ciências do Homem”)

Na foto, um instante em Malhador, para onde eu e meus amigos de Gomorra seremos reconduzidos em breve, para mais um intenso e proveitoso contato com a Natureza...

Wesley PC>

...E CADELAS ENGRAVIDAM!


Enquanto entope minha boca com azeitonas, minha mãe comenta que a cadela mais nova da casa de meu irmão mais velho está grávida. “Chega dá gosto de ver: a barriga durinha, os peitos cheios de leite...”. No mesmo momento, sei que um vizinho querido está a se masturbar. No céu, as nuvens ameaçam chuva. No quintal, um mico come queijo. No rádio, Joan Baez canta “Love is Just a Four-Letter Word”. E eu sinto falta e penso: por que gosto tanto de ejaculações? Por que suco de jenipapo dá azia? Por que alguns homossexuais passivos insistem em atrelar o sexo anal á idéia de plenitude bicarnal? Por que eu tenho que trabalhar mediante horário e não quota de serviço? Por que Bong Joon-Ho é um cineasta melhor que Roland Emmerich? Gozemos e algumas destas perguntas serão respondidas. Pois até mesmo o fio de macarrão que cai é um detalhe subjetivo!

Wesley PC>

A TARTARUGA NINJA QUE FALTAVA!


A imagem acima é apenas um pequeno recorte da obra “O Triunfo de Galatea”, afresco pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) em 1512, seguindo encomenda de um banqueiro que desejava laurear a propriedade de sua família com algo que lhe respaldasse beleza eterna. Mesmo sendo uma obra de encomenda, o pintor ficara deveras satisfeito com o resultado, a ponto de escrever sobre ele: “No que diz respeito à tela, direi que (...) para pintar uma beleza, eu sentia a necessidade de ver muitas, com a condição de escolher a mais bela. Pois, como os bons juízes e as mulheres formosas são cada vez mais raros, aproveito-me de certa idéia que me possui o espírito. Se esta idéia tem alguma excelência artística, isto eu não sei, mas tratarei de averiguar”. E quem quiser se juntar ao pintor, que busque a metade inferior da obra! Pois, em alguns casos, Rafael e Beleza são sinônimos – e eu conheço o maior caso de todos!

Wesley PC>

L’INTERNAZIONALE SOCIALISTA IN ITALIANO

Um dos principais efeitos colaterais da ingestão prolongada de drágeas de polivitamínicos é a instauração necessária de um estado soporífero que se pretende repositivo das condições ativas do indivíduo carente de substâncias orgânicas básicas e sustentaculares. Estou a ingerir uma dada marca de polivítaminico esta semana (Cobaldoze) e, portanto, talvez esteja dormindo mais do que eu deseje – e, ainda assim, abaixo da quota sugerida pelos livros escolares. Conclusão: acordei demasiado tarde (9h) nesta quinta-feira em que folgo e tenho disponibilidade temporal para ver bons filmes em minha própria casa. Pós-conclusão: tive que buscar uma película de curta duração. Pós-pós-conclusão: acabo de ver “Lutas na Itália” (1970), dirigido pelo grupo revolucionário Dziga Vertov, ou seja, Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin experimentando os virtuosismos da autoria coletiva. O que achei do filme? Vamos lá a uma breve reflexão sobre o mesmo:

Em primeiro lugar, “Lutas na Itália” não se prende ao local em que foi filmado. Falado em italiano e preocupando-se sobremaneira com as condições trabalhistas dos inúmeros operários daquele País, o filme dispõe-se a analisar conceitos libertários e ideológicos universais, ao tempo em que amplia a sua mensagem e focaliza a necessidade de transformação da vida cotidiana que irremediavelmente deve acompanhar as supostas práticas libertárias de um indivíduo pretensamente esclarecido. Como todos sabem, este filme pertence à fase desconstrutiva e contra-revisionista (leia-se: maoísta primária) daquele que talvez seja o meu cineasta favorito, fase esta em que ele rompe ostensivamente com os padrões cinematográficos tradicionalmente narrativos e investe numa luta radical contra o pólo que ele considera inferior na contradição idealismo X dialética.

Assim sendo, o filme ora comentado compõe-se de uma série de pequenos esquetes em que as noções de “realidade”, “família”, “universidade” e “sexo” são analisadas mediante o pensamento político revolucionário, em que as propostas teoréticas de Louis Althusser sobre os Aparelhos Ideológicos de Estado ocupam um lugar de destaque, em especial no que se refere à importância efetiva do processo de interpelação midiática na transmissão de ideológicas dominantes e opressivas. Sendo assim, é deveras interessante que, num capítulo que tenciona discutir sobre o conceito de “realidade”, vejamos a protagonista militante do filme a comprar uma simples camisa, que custa uma quantidade demasiada de liras. Quando perguntada sobre o porquê deste valor elevado, a vendedora responde que o mesmo está levando em consideração o trabalho embutido na fabricação da peça de roupa (cujo diferencial monetário, obviamente, nem de longe irá retornar para os bolsos dos operários responsáveis pela tessitura da mesma). No plano seguinte, a vendedora da camisa é repreendida por seu patrão, dado que estava a conversar com sua cliente sobre os interessantes livros que esta última carregava quando entrara na loja. No plano seguinte, vemos a filmagem aproximada de mãos que manipulam uma caixa registradora. Discurso mais direto e efetivo que este será difícil de igualar!

Depois de apresentados estes conceitos, a segunda parte do filme se pretende assumidamente reflexiva (tal qual fora a fase inicial das obras-primas do diretor Jean-Luc Godard) e mostra-nos situações íntimas mais complexas, como um casal que se auto-interroga sobre o que são (“a cópia de duas unidades unidas num conflito contra a cópia da ideologia burguesa”), sobre o caráter reacionário do privilégio de fazer sexo ao meio-dia (algo que é negado aos trabalhadores obrigados a passarem a maior parte de seus dias nos locais de trabalho) e sobre o quão difícil é criar um filho sem se deixar impregnar pelos preconceitos ideológico-burgueses da noção problemática de família. Daí por diante, portanto, os diretores do filme investirão num recurso que é tanto estético-militante quanto didático: a repetição contestatória. Várias e várias vezes no restante do filme, conceituações anteriormente apresentadas e cenas já vistas serão reapresentadas sob um novo prisma, sob critérios mais amplos no plano ativista, como a admissão que “a teoria em si já é uma prática militante (que não se basta quando chafurda na inatividade)”, que as ciências e práticas humanas mais amplas são regidas pela contradição (ou seja, “Mecânica = contradição entre ação e reação”, “Física = contradição entre eletricidade negativa e positiva”, “Química = contradição entre aglutinamento e separação de átomos”, etc.) e que a consciência da luta de classes e a necessidade de autotransformação são condições essenciais para a posta em cena do aprendizado revolucionário, em que a importância discursiva dos espaços negros na tela é de vital importância. Mais do que um filme, portanto, “Lutas na Itália” é uma aula de verdadeiro ativismo. Recomendadíssimo!

Wesley PC>

QUEM NUNCA TEVE UMA DOR-DE-COTOVELO? (PÁGINA 593 DO GUIA “1001 DISCOS PARA OUVIR ANTES DE MORRER”)


“Sorry!
Is all that you can't say?
Years gone by and still
Words don't come easily
Like sorry
Like sorry

Forgive me!
Is all that you can't say?
Years gone by and still
Words don't come easily
Like forgive me
Forgive me

But you can say, baby...
Baby, can I hold you tonight?
Maybe if I'd told you the right words
At the right time
You'd be mine”


Dia desses, vinha eu a cantar esta belíssima canção romântica, numa das demonstrações mais básicas de como idiomas estrangeiros não são barreiras quando queremos falar de amor. Encontrei com uma das ex-freqüentadoras de Gomorra, um tanto ressentida ou magoada, ponho os fones de ouvido em seu aparelho auditivo e pergunto o que ela acha da canção que eu ouvia. Ela grita, sem sobreaviso: “erca! Música internacional romântica! Tu andas a ouvir isto agora?”. “Eu sou assim”, respondo. A música em questão era “Baby, Can I Hold You”, verdadeiro clássico de minha infância, que, junto a canções de Diana, Sandro Becker, Amado Batista e a trilha sonora da telenovela “A Gata Comeu” (1985) foi o que mais ouvi quando era garoto, quando não possuía aparelho de rádio e era obrigado a ouvir o que os vizinhos ouviam. Quantas lembranças maravilhosas tenho desta canção, lançada em 1988, num álbum homônimo da cantora, que hoje possuo graças a uma antologia de seus maiores sucessos! Como foi emocionante ouvir novamente esta canção na manhã de hoje, quando eu a executei várias e várias vezes. Lindo demais! Segue tradução oportuna do trecho final da letra:

“Eu te amo
É tudo o que você não pode dizer.
Anos se passam e mesmo assim
Palavras não vem tão facilmente
Como eu te amo, como eu te amo

Mas você pode dizer: querido
Querido, posso te abraçar esta noite?
Talvez se eu lhe dissesse as palavras certas
Na hora certa, você seria meu”


Ah, se a vida fosse assim...

Wesley PC>

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A MÚSICA PERFEITA PARA SE OUVIR AO SAIR DA CASA DO PERFEITO…


“Eu posso ver que tu estás a deslizar para longe de mim
E tens medo que eu não consiga te agradar, já que tu ficaste
Então, eu serei forte e deixarei que tu sigas o teu caminho

O amor se foi
Não existe sentido em continuar
E tua piedade agora é maior do que eu possa suportar
Então, eu serei forte e fingirei que não me importo

Eu vou ser forte
E permanecerei tão alto quanto eu consiga
Eu vou ser forte
E te deixarei seguir em frente e agir como um homem

E quando tu me disseres que é o fim,
Eu te direcionarei algumas palavras, sorrirei e direi:
‘não te preocupes, está tudo bem’,
Mas tu nunca saberás, querido,
Que depois que tu te despedires,
O quanto eu despencarei e chorarei”


E foi assim. Mal eu disse “tchau” e liguei o pequeno aparelho de som que carrego no bolso, fui contagiado pelas palavras chorosas de Cyndi Lauper na canção “I’m Gonna Be Strong”. Fiquei imaginando um monte de bobagens, pensando que, apesar de tudo, tudo o que eu faço agora e as pessoas que opto para estarem comigo são frutos de escolhas: eu escolho estar em Gomorra – e, juro, não me arrependo!

Na foto, o Perfeito, num dia em que se sentia triste.
Ai, ai, que medo destas férias vindouras...

Wesley PC>

O NOVO FILME DE PARK CHAN-WOOK OU A FELICIDADE DE UM AMÁLGAMA PESSOAL


Acabo de ser visitado no trabalho por uma amiga virtual que nunca havia visto pessoalmente! Ela penetra na sala em que eu estava, me flagra conversando com uma colega, eu a cumprimento e, de repente, a surpresa: “Wesley?”, pergunta ela. “Sim”, digo eu, um tanto assustado. Ela sorriu, me abraçou, fez alguns gestos hindus e disse quem era. Fiquei emocionado. Foi bonito este encontro!

Quando ela sai do setor em que eu estava, ligo o computador e leio sobre o novo filme do sul-coreano Park Chan-Wook,, “Sedento” (2009), uma estória de vampiros envolvendo um padre que sente compaixão por suas vítimas, preferindo se alimentar do sangue de potenciais suicidas. O cartaz do filme fora proibido no país de origem em virtude da presença ostensiva das pernas do mesmo. Em outras palavras: na publicidade sul-coreana, religiosos celibatários podem fazer sexo adúltero, desde que as partes de seu corpo não sejam vistas pela platéia. Fica a mensagem.

Na foto, uma belo instante de encontro no filme. Estou ansioso!

Wesley PC>

O VIRGEM DE 28 ANOS?


Já elogiei em várias oportunidades as produções cômicas produzidas por Judd Apatow, dado que ele conseguiu instituir um padrão de humor em que a tragicidade inerente á vida sexual do ser humano é respeitada. Assim foi no equivocado e timidamente certeiro “O Pentelho” (1996, de Ben Stiller), assim foi no hilário “Superbad – É Hoje!” (2007, de Greg Mottola). Porém, sua obra mais significativa é mesmo “O Virgem de 40 Anos” (2005), uma pungente amostragem da imaturidade imposta pelo fracasso ‘yuppie’ na contemporaneidade. Os personagens do filme, incluindo o protagonista, são típicos funcionários de lojas de eletrônica, que conhecem influências seminais e recônditas da cultura ‘pop’, mas padecem de entrosamento básico no que se refere ao relacionamento interpessoal. Junto a outros filmes que compartilham a mesma equipe técnica [“Dias Incríveis” (2001, de Todd Philips), “Ligeiramente Grávidos” (2006, de Judd Apatow), “Pagando Bem, Que Mal Tem?” (2008, de Kevin Smith), etc.], este filme não zomba da condição virginal do protagonista e, ao invés disso, a insere como sintoma de um mal-estar endêmico e característicos dos dias atuais, que, não surpreendentemente, me afeta. Mais cedo ou mais tarde, contarei mais detalhes sobre minha relação pessoal com este filme, cujas cenas de disfunção sexual são impressionantemente funcionais dentro de um contexto interativo. Afinal de contas, mais 12 anos e eu chego lá...

(continua)

Wesley PC>

UMA MANHÃ NA CAPOEIRA

Talvez seja um sinal...

Como sempre acontece nas manhãs úteis, escolho um CD aleatoriamente para ouvir enquanto me banho. Hoje, recebi a graça de ser auditivamente sugado pelos maravilhosos vissungos contidos no disco “O Canto dos Escravos” (1982), interpretados por Tia Doca, Geraldo Filme e pela rainha da voz negra Clementina de Jesus. Nas 14 faixas do álbum, os três intérpretes dão vida a lamentos de trabalhadores obrigados a trabalharem no Brasil sob as chicotadas de seus patrões e subjugados pela criminalização da capoeira. Como as faixas são nomeadas apenas por números, não consegui encontrar as letras das mesmas, mas é impossível manter-se imune ao forte ‘banzo’ evocado por todas elas, que quase sempre mencionam “mia cavalo” e a morte dos companheiros de cativeiro. Este projeto inovador, portanto, é essencial para quem se interessa não somente pelo folclore (afro-)brasileiro, como pela música de qualidade em si.

“Meu irmão foi pro Céu, foi passear. Morreu pra buscar Nosso Senhor”... Lindo ouvir minha família reagindo a isso!

Wesley PC>

PERGUNTA CAPCIOSA: É POSSÍVEL CONFUNDIR CATARRO COM ESPERMA?


Não explicarei os motivos imediatos da dúvida, mas antecipo que esta é uma angústia que me corrói desde a infância. Por sorte, hoje até que consigo diferenciar bem as duas substâncias (sei, por exemplo, que catarro não faz ninguém engravidar), mas aproveito a deixa para lançar uma chama de discórdia: e se eu disser que este colóide da imagem proveio de uma vagina?

Wesley PC>

TÃO ULULANTE QUANTO A PAIXÃO!


E entramos na terceira semana!
E hoje o Sol brilha.
E os escaravelhos sorriem.
É possível ser feliz!

Por incrível que pareça, a seqüência da imagem, uma das mais maravilhosas e perfeitas do Cinema, é apenas uma vírgula narrativa dentro da obra-prima de historicidade cômica que atende pelo nome de “Cantando na Chuva” (1952, de Gene Kelly & Stanley Donen) e é com esta letra impecável que, mais uma vez, apelo á obviedade dos bons sentimentos e despeço-me (provisoriamente) de meus Rafaéis amados:

“I'm singing in the rain
Just singing in the rain
What a glorious feelin'
I'm happy again

I'm laughing at clouds
So dark up above
The sun's in my heart
And I'm ready for love

Let the stormy clouds chase
Everyone from the place
Come on with the rain
I've a smile on my face

I walk down the lane
With a happy refrain
Just singin',
Singin' in the rain”


Estou feliz novamente (vide trechos em negrito)!

Wesley PC>

terça-feira, 2 de junho de 2009

ÓBVIOS (E PRAZEROSOS) DIZERES


“Run, Rabbit, Run” é o nome de uma canção mais populares nos Estados Unidos da América em 1939, quando o País ainda não estava diretamente envolvido com a II Guerra Mundial. Seus versos são comumente utilizados como trechos incidentais de canções de outros grupos consagrados, como, por exemplo, Pink Floyd, em “Breathe”. Como o cozinheiro da foto partirá definitivamente nesta manhã de quinta-feira, são para ele estes versos:

“Naquela fazenda, toda sexta-feira, é dia de torta de coelho.
Então, a cada sexta-feira, ele precisa correr.
Eu, então, acordei bem cedo e cantei esta canção:
“Corre, coelhinho, corre! Corre, coelhinho, corre!
Bang! Bang! Bang!: assim diz a arma do fazendeiro.
Corre, coelhinho, corre – não dê esta diversão ao fazendeiro”


E, graças ao talento do compositor Roger Waters, estes versos ganharam uma conotação político-ecológica no álbum conceitual “Dark Side of the Moon”, de 1973:

“Corre, coelhinho, corre
Cave aquele buraco, se esconda do Sol
E quando teu trabalho estiver terminado
Não te sentes que é hora de cavar outro”


Sendo assim, boa viagem!

Wesley PC>

“I LOVE YOU, PHILIP MORRIS” (2009). Direção: Glenn Ficarra & John Requa


Futucando alguns sítios eletrônicos sobre cinema e me atualizando acerca das novidades cinematográficas, descubro a existência deste filme, que periga não ser distribuído no mundo em virtude do preconceito dos distribuidores contra o tema homossexual do mesmo. Na trama, baseado em fatos reais, um estelionatário vivido por Jim Carrey apaixona-se por um colega de prisão no Estado do Texas e, daí por diante, fará de tudo para fugir e se encontrar novamente com ele, a fim de curtir as possibilidades e direitos deste amor fora-da-lei. Além do tema homossexual, o filme sofre pressões contrárias a seu lançamento por causa de uma suposta apologia ao comportamento fora-da-lei, dado que os personagens são todos presidiários. Pelo sim, pelo não, o filme é lançado sob a chancela do Festival de Cinema Independente de Sundance, o que garante que ele talvez seja futuramente exibido em canais de TV por assinatura conveniados com o referido festival, como o Cinemax, por exemplo, do qual disponho em casa. Só mesmo assim para que seja aplacada a curiosidade daqueles que estão convencidos do talento dramático de Jim Carrey e daqueles que sentem muita curiosidade para vê-lo trocando carícias ousadas com símbolos sexuais como Ewan McGregor e Rodrigo Santoro. Desde já, portanto, estou na fila preferencial de espera para assistir ao filme. Estreando por aqui...

Wesley PC>

SERÁ QUE UM DIA EU VOU SER CRISTÃO?


Talvez eu tenha sido quando criança, mas o descompasso entre as impressões de bíblias católicas e o que é ditado como pecado mortal pelos párocos aos domingos e o fato de ser obrigado a comer hóstia do chão pelo que viria a ser meu professor de Introdução à Filosofia na UFS, fez com que eu desentendesse ainda mais a prepotência de frases atribuídas a Jesus Cristo como “ninguém chega ao Pai se não for através de mim”. Que bazófia deste cara!

No local em que trabalho, porém, depois que uma garota adventista apaixonou-se por mim após repetidos contatos em noite de quinta-feira, percebi que talvez Jesus Cristo não seja tão dispensável quanto eu sempre pensei, o que veio a ser confirmado por um ótimo filme de Pier Paolo Pasolini, que escolheu o belíssimo caminhoneiro Enrique Irazóqui para viver o referido personagem.

Mais maduro acerca de minha própria religiosidade, hoje posso me dar ao luxo de cantar as músicas do grupo proto-satanista Slayer sem me sentir culpado de blasfêmia. Em foco, portanto, “Sex, Murder, Art”, brilhante faixa 02 do álbum “Divine Intervetion” (1994):

“Caught. Now You're Mine
I am the master of your whipping time
The smile on my lips
The look of horror on your face
Self-Justification, can't rid the sexual fascination
Can you deny?
My face of pleasure the gleam in my eye”


E, como complementa o refrão da canção: “somos nada! Um objeto de animação,um manequim subjetivo espancado até a submissão,sendo estuprado de novo e de novo e de novo”...
Quem diz que não?

Wesley PC>

DUAS (OU MAIS) ERAS


Acabo de ver estas imagens num ‘blog’ e não me agüentei de emoção: acima, Jean-Pierre Léaud, aos 15 anos de idade, na sessão especial do longa-metragem de estréia do gênio francês François Truffaut. Abaixo, o mesmo Jean-Pierre Léaud, em 2009, aos 65 anos de idade, na entrevista coletiva de apresentação do novo filme do taiwanês Tsai Ming-Liang. Os anos se passaram, mas a pulsação fértil do amante intelectual ainda é vivaz, o que explica a insistência do cineasta de Taiwan em fazer com que sua (por enquanto) heptalogia do personagem Hsiao-Kang (sempre vivido pelo erótico Lee Kang-Sheng) emule mais e mais a pentalogia clássica do personagem Antoine Doinel, que acompanhou pelo menos 20 anos da vida de Jean-Pierre Léaud. São trajetórias como esta que equiparam meu amor pelo cinema ao meu amor pela vida!

Wesley PC>

EXISTEM AQUELES QUE "PARTEM SEM NOS DEIXAR"...


Hoje eu sonhei com meu cãozinho Almodóvar, falecido há quase dois meses. Sonhei que fazia compras num extinto supermercado (o Prudente Filho, onde minha mãe trabalhara como recepcionista de padaria, quando eu tinha 4 anos de idade) e pequenas réplicas vivas de meu cãozinho estavam disponíveis por entre as prateleiras de detergentes. Talvez fossem brindes para quem comprasse material de limpeza. Era o meu caso: precisava comprar um sabonete, mas fiquei receoso em ver um ser vivo que amava (e amo ainda) ser entregue como um objeto secundário. Acordei antes de saber se fiz ou não a tal compra!

Evidentemente, passei o resto da manhã pensando neste sonho, no cãozinho que amei por quase 10 anos e que agora não mais está comigo e, ainda assim, me dou ao luxo de ser feliz. “Podemos ser feliz sem quem amamos”, talvez fosse uma conclusão possível da experiência. “Quando amamos de verdade, o ser amado jamais parte, pois permanecerá sempre conosco”: foi a conclusão que escolhi. Ainda hoje escuto seus latidos agudos, sinto o seu cheiro no sofá, impressiono-me com o peso ausente no local da cama em que ele dormia... Ele não está mais lá, mas, de alguma forma, é como se sempre estivesse, é como se nunca tivesse nos deixado...

Por mais que eu antecipasse mentalmente a sua morte, não estive necessariamente preparado para suportá-la quando ela chegou. Sinto saudades, sinto falta da ternura e da instabilidade iracunda de meu cãozinho pequinês, raça em progressiva extinção no legado canino da contemporaneidade. E foi pensando nisso que me flagrei antecipando mentalmente também a partida de outras pessoas que amo. Talvez não de forma tão definitiva quanto a morte, mas a partida de pessoas que amo... Pessoas que amo partirão, talvez eu nunca mais as veja, por mais que me disponha a conversas com as mesmas via carta, correio eletrônico ou outras ferramentas midiáticas do gênero. Talvez não seja a mesma coisa, talvez seja isto algo com que sejamos obrigados a nos acostumar, se quisermos envelhecer e/ou amadurecer... E, no rádio, toca “Yesterday When I Was Young”, na voz de Charles Aznavour... Sinto saudades do passado e do futuro ao mesmo tempo. Erro meu: o amor é um sentimento absolutamente presente!

“Yesterday when I was young
The taste of life was sweet as rain upon my tongue
I teased at life as if it were a foolish game
The way the evening breeze may tease a candle flame
The thousand dreams I dreamed, the splendid things I planned
I always built, alas, on weak and shifting sand
I lived by night and shunned the naked light of day
And only now I see how the years ran away”...


Wesley PC>

4 OU 5 DIFERENÇAS ENTRE LIVRO E FILME:


Não, não irei estragar o prazer de quem ainda não leu a obra-prima literária de Anthony Burgess nem cometerei a tola e espúria tarefa de comprar livro e filme a fim de saber qual dos dois é melhor (não há resposta para tal inquisição), mas exporei aqui a minha extrema satisfação em encontrar um único surrado e disponível exemplar de “A Laranja Mecânica” (1962) na Biblioteca Central da UFS. Empolgado, já li um terço do livro e descobri algumas diferenças importantes para com o filme, não obstante ambos possuírem a mesmíssima e impressionante estrutura narrativa e linear. Dentre as diferenças mais importantes, destaco: o fato de que, no livro, Alexandre o Grande é ainda um ‘nadsat’ (adolescente), tendo por volta dos 17 anos; a circunstância de que, muitas das garotas com que ele faz sexo, voluntário ou não, não têm sequer 10 anos de idade; a pletora de compositores que ele admira, e não somente Ludwig van Beethoven, como no filme; e, principalmente, uma seqüência que justifica ao novel do truísmo o título da obra. Lembram da famosa seqüência do pré-estupro ao som de “Singin’ in the Rain” no filme? Lembram que o marido da mulher cuja roupa vermelha é cortada pelos drugues está datilografando algo e, mais à frente no enredo, ele é mostrado como um subversivo que se opõe ás técnicas governamentais em fazer com que jovens agressivos sofram lavagem cerebral? Lembram que, por mais que ele seja favorável ao livre-arbítrio, ele não se abstém de vingar-se do coitado do Alexandre o Grande, levando-o a tentar o suicídio desesperado após a nauseante audição de sua antiga sinfonia favorita? Pois bem, “A Laranja Mecânica” é justamente o nome da obra que este autor metalingüístico subversivo digita no interior da narrativa e, na página 32 da edição da Artenova, encontramos a seguinte passagem:

“’Esse título é bastante glupe. Onde é que já se viu uma laranja mecânica?’. Então eu li um malenquinho, com uma golósse meio aguda, que nem de pregador: ‘...A tentativa de impor ao homem, criatura superior e capaz de doçura, a fluir suculentamente, na última fase da Criação, dos cantos dos lábios barbudos de Deus, tentar impor, digo eu, leis e condições apropriadas para uma criação mecânica, contra isto eu levanto a minha pena-espada.’”

Algo mais direto impossível! Leiam o livro, videiem o filme...

Wesley PC>

A PROBLEMATIZAÇÃO DA MEMÓRIA MUDA COM O TEMPO?


Entre o final da década de 1950 e o começo da década de 1960, o cineasta Frances Alain Resnais compôs três excelentes filmes sobre o uso e o poder reflexivo da memória no cinema: “Hiroshima, Meu Amor” (1959, com base em roteiro de Marguerite Duras), “O Ano Passado em Marienbad” (1961, com base em roteiro de Alain Robbe-Grillet), e “Muriel” (1963, com base em roteiro de Jean Cayrol). Essa trilogia de filmes mnemônicos, por si só, consolidou eternamente o nome de Alain Resnais como um dos maiores autores de cinema, daqueles que possuem marcas registradas não somente no conteúdo, como também na forma, visto que os ‘faux raccords’ (cortes falsos no eixo da montagem angular) são comuníssimos em suas obras. Com o passar dos anos, entretanto, Alain Resnais abrandou o hermetismo destas obras-primas e realizou filmes um tanto acessíveis, em que seus problemas insistentemente memoriais.

Discretamente, este parágrafo inicial prepara a oportunidade para que eu diga que acabo de ver “Smoking” (1993), obra contemporânea do diretor-autor e, por mais que eu tenha ficado surpreso com a inventividade roteirística da obra, não pude deixar de me frustrar com o teor acentuadamente burguês na composição dos personagens, em que o adjetivo pejorativo “possidônia” é o tipo de ofensa rápida de que um home se vale para criticar o comportamento fútil de sua esposa. Mas vamos antes ao elogio: por que eu disse que este filme é inventivo, mesmo admitindo e irritando-me com seu elitismo doméstico? Uma síntese do pensamento do comunicólogo Arlindo Machado sobre “as formas expressivas da contemporaneidade” é essencial em tal resposta.

Segundo este teórico, tão odiado por estudantes sérios no que diz respeito às conotações eminentemente políticas da cultura de massa, as três principais características definidoras das mídias contemporâneas são a multiplicidade, a metamorfose e a permutabilidade. As duas primeiras são fáceis de serem percebidas e compreendidas, enquanto a terceira, que diz respeito ao estimulo à “co-autoria” do espectador no que se refere à escritura das obras de arte narrativas encontra eco perfeito no filme que, junto a “No Smoking” (1993), forma um díptico palimpsesto, em que simples opções como “fumar ou não fumar um cigarro?” abre inúmeras comportas no tempo, de modo que várias ramificações possíveis para o destino das mesmas pessoas são apresentados para o espectador, que, se quiser, pode escolher o seu desfecho preferido para as tramas apresentadas.

No caso do filme que acabo de ver, “Smoking”, a protagonista Celia Teasdale (Sabine Azéma) fuma. Ao fazê-lo, conversa com o empregado da escola em que seu marido é diretor (ambos os personagens masculinos interpretados por Pierre Arditi), que se revela apaixonado por ela. Este, por sua vez, desperta a atenção de Sylvie (empregada da casa dos Teasdale, interpretada por Sabine Azéma), que se acha muito rústica e tem aulas de literatura e etiqueta com seu patrão, Toby Teasdale (também vivido por Pierre Arditi), apaixonando-se por ele a posteriori. Porém, à medida que a trama do filme se desenrola (e seus únicos dois atores desdobram-se numa dezena de personagens), novas paixões e reuniões afetivas são apresentadas. Ao final das quase duas horas e meia de projeção deste primeiro filme do díptico, o espectador está mnemonicamente chafurdado por trocentas possibilidades de condução narrativa com base num mesmo pretexto: amores nascem e são rejeitados pelas condições preconceituosas duma sociedade centrada nas exigências de classe. Por mais cansativa que a experiência possa parecer eventualmente, o intento autoral é, no mínimo, precioso.

Porém, Alain Resnais tematicamente talvez não seja o mesmo: seus questionamentos sobre a memória e sobre o quanto o amor é a força-motriz dos mesmos agora se mostram perpassados por banalidades pequeno-burguesas, conforme se pôde perceber no superestimado “Medos Privados em Lugares Públicos” (2006). Esperemos o lançamento brasileiro do recente “As Ervas Daninhas” (2009) para saber como andam a memória e a autoralidade do ainda genial Alain Resnais...

Wesley PC>

Ainda sei a senha

Oremos

Preservativos do anti-catolicismo
Me salvem e guardem de uma santa incompetência
Não deixem que me exterminem os índios
Tacape e flechas da minha consciência

Toda floresta haverá de ouvir o sino
Que desatina minha divina paciência
Preservativos me evitem comprimidos
E analgésicos de uma santa indolência


Leno de Andrade - 02 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

“EJACULARCA” NIPÔNICA


Em dado momento da festa de despedida de ontem, alguns gomorrenses bêbados descreveram em detalhes suas primeiras experiências com ejaculação. Cleidson Carlos reproduziu feliz a emoção de masturbar-se no banho e Max Vieira relembrou emocionado de quando a primeira gotícula de sêmen pessoal pousou em seu dedo largo infantil. Porém, quem mais se destacou nos relatos foi Henrique Batalha, que, dentre outras preciosidades mnemônicas, confessou que costumava alisar seus órgãos sexuais com vista ao gozo nos intervalos fecais e admitiu que sua primeira ejaculação adveio do encontro feliz entre sua imaginação e algumas páginas de ‘hentai’. Fiquei receoso em aproveitar a oportunidade para dizer que minhas primeiras experiências auto-monossexuais serviram-se do clichê heterossexual da fotografia de página central da revista masculina heterossexual Playboy e de um chão sem reboco, ao tempo em que observava o distanciamento protetoral de um certo baiano no que se refere a este assunto que tanto me interessa. Fica aqui o convite, portanto, para que novos interessados relatem, caso queiram, as suas experiências. Quem sabe isso não ativa as fantasias de alguém?

Wesley PC>

O TRABALHO QUE DIGNIFICA...


Locais de trabalho costumam ser enfadonhos. Quando estes assumem a pecha da burocracia, então, a tendência à modorra é ainda maior. Por sorte, no local em que trabalho, existem algumas pessoas que me conferem a felicidade de ser flagrado, às três horas da tarde, com uma súbita discussão sobre a genealogia do conquistador mongol Gêngis Khan (1162-1227), cujo nome de nascença é Temudjin. Pesquisando sobre o asusnto, a fim de poder participar da discussão, descubro a existência do Festival Naadam, realizado anualmente, entre os dias 11 e 13 de julho, na capital da Mongólia, Ulan Bator. No referido festival, em caráter de feriado nacional, três principais esportes mobilizam toda a população macsulina da cidade: luta livre, corrida de cavalos e arco-e-flecha. Na foto, um desfile de abertura com os competidores do festival. Vivendo, trabalhando e aprendendo...

Wesley PC>

SETE PONTOS DE INTERROGAÇÃO


Quanto tempo tem esta foto?
Quantas vezes este movimento polifásico se deu?
Quantas estórias estão contidas nesta imagem?
Quantas vidas mudaram neste segundo?
Quando será que isto acontecerá de novo?
Quando, como, onde e por quê?
(Falta um)

“Quando o amor é dirigido a um único ser e atinge grau muito elevado de intensidade, se não puder ser satisfeito, todos os bens do mundo e a própria vida perdem o valor. É uma paixão de uma força inigualável, que não pára diante de nenhum sacrifício, e, se não conseguir se realizar, pode levar à loucura ou ao suicídio.” (Arthur Schopenhauer – “Metafísica do Amor” – página 99 da edição da Martin Claret).

Com o Perfeito, dá-se exatamente o contrário: calado, inane, sorrindo e/ou reagindo timidamente, ele me impulsiona à vida, invalidando o sentido da propotente e hifenizada palavra não-realização. É irrelevante o que vem depois ou o que foi planejado anteriormente: o Perfeito dignifica o Instante! E, por mais que seja difícil acreditar nisso, juro que esta citação estava contida na primeira página que abri do livro. Juro! Nem preciso mais procurar o que dizer...

Wesley PC>

EU ACREDITO NA AMIZADE!


São 2h40’ da manhã. Tenho que me acordar em pouco menos de três horas para ir ao trabalho, mas, ainda assim, não posso me furtar de escrever algumas linhas sobre o filme paradigmático que acabo de rever: “Cova Rasa” (1994), filme de estréia do inspiradíssimo escocês Danny Boyle, obra que me tornara um paranóico em relação às pessoas que me cercavam antes de entrar para a UFS, quando eu era um misantropo longevo. Acabo de rever o filme e o efeito foi bem outro: não sou mais aquele – nem tampouco o Danny Boyle, infelizmente, que cometeu um detestável erro ao se meter com a exploração da miséria alheia num filme rodado na Índia e vencedor de inúmeros prêmios técnicos. Que saudades de sua montagem rápida, de seus diálogos sarcásticos, de suas trilhas sonoras pertinentemente escolhidas, de seu talento inédito e sobressalente...

Sobre o que é o filme: três amigos (um contador, um jornalista e uma médica) dividem um apartamento. Por razões pouco importantes, eles resolvem dividir o aluguel com mais uma pessoa. Após uma série de entrevistas frustradas, chegam a um consenso e escolhem um misterioso homem, que se faz passar por escritor. Sabemos de antemão, porém, que ele é um criminoso. Ele morre de overdose no quarto e deixa uma maleta repleta de dinheiro no quarto. Os amigos resolvem ficar com a grana e anuem em eliminar o corpo, que é mutilado, esmiuçado e posteriormente enterrado. Mas o criminoso tinha comparsas, que logo descobrem o apartamento onde ele estava vivendo. Dois dos amigos são espancados. Um terceiro, o contador, torna-se psicótico em relação ao dinheiro. Larga o trabalho, passa a se esconder permanentemente no sótão, mata os comparsas do bandido morto e... Não, não vou contar o resto da trama, que é absolutamente surpreendente. Ao invés disso, prefiro dizer que o ótimo roteiro de John Hodge não poupa nenhuma instituição consagrada: todos são culpados de tudo hoje em dia, ninguém merece crédito. “É um mundo fedorento”, diria o mendigo espancado num clássico de Stanley Kubick, recentemente citado e infinitamente elogiado, a quem Danny Boyle pretsa bastante reverencia estilística.

Não tem como não pensar em Gomorra ao ver esse tipo de filme. Não que nossos companheiros de casa possam ser igualmente corrompidos como se vê no filme, mas porque o mundo hodierno é inequivocamente cerceado pela desconfiança. Na volta para casa, hoje mais cedo, Jéssica Nascimento comemorava a existência de Gomorra enquanto local de diversão (ir)restrita. Pouco tempo depois, ela me antecipou que sua co-cunhada Eliane Charnoski pensa em morar sozinha, o que é completamente entendível, dado o seu ritmo de vida contrastante com a boemia avassaladora dos outros moradores. Rafael Coelho não mais estará lá para compartilhar as contas, afazeres e diversões. Bruno/Danilo é pouco visto em casa. Jeane é reservada em suas predileções interativas. E Luiz Ferreira Neto é instável por natureza. Haverá espaço para o Cine-Gomorra no futuro? Torço para que sim, mas um inevitável realinhamento é exigido. Comunalmente, diga-se de passagem. Anseio, desde já, por qualquer orientação.

Voltando ao filme: as conseqüências da corrupção são terrivelmente violentas. Os três amigos voltam-se letalmente uns contra os outros. A terna e nostálgica canção “Happy Heart” (na voz de Andy Williams) é executada na trilha sonora, enquanto rememoramos uma gargalhada em câmera lenta que não terá mais volta. Passo, portanto, a palavra ao narrador vilanesco do filme, interpretado pelo austero Christopher Eccleston, que trabalhará outras vezes com o diretor Danny Boyle:

Eu não me envergonho. Eu conheci o amor e conheci a rejeição. Não tenho vergonha de declarar meus sentimentos: considere a amizade, por exemplo, ou a confiança. Estas são coisas muito importantes na vida. Estas são as coisas que importam, as que fazem seguir nosso caminho. Se tu não podes confiar em teus amigos, então... O que resta? O que resta? Oh, sim, eu acredito em meus amigos. Eu acredito que preciso deles. Mas, se um dia, tu não puderes mais confiar nos amigos, o que retsa? O que resta?”. Em dado momento, percebemos que quem narra isto está morto. Portanto, o que resta? Longa vida à Gomorra!

Wesley PC>

MESMO SEM TER LIDO OS LIVROS DE QUE ELE TANTO FALA, TENHO QUE DORMIR PENSANDO NAS BOAS PALAVRAS DE TIM MAIA HOJE!


“Já virei calçada maltratada e, na virada, quase nada
Me restou a curtição
Já rodei o mundo quase mudo
No entanto, num segundo
Este livro veio à mão
Já senti saudade
Já fiz muita coisa errada
Já pedi ajuda
Já dormi na rua
Mas lendo, atingi o bom senso
A imunização racional”


Em alguns de seus melhores álbuns, Tim Maia fala insistentemente de “Universo em Desencanto”, coletânea de livros sobre a Cultura Racional, fundada em 1935 por Manuel Jacintho Coelho, em que uma nova era surge e é defendida, com base em hipóteses existenciais que envolvem desde a co-presença de extraterrestres em nosso planeta até a hipertrofia benéfica da glândula pineal. Não li os livros, nem tive acesso aos mesmos, mas já assisti a “O Mahabharata” (1989), preciosidade cinematográfica dirigida pelo britânico Peter Brook, vista e revista em minha pré-adolescência, quando fui apresentado com orgulho àquilo que, em sânscrito, quer dizer “a grande história da humanidade”. Prometo voltar a falar sobre este assunto em breve. Por ora, quero mesmo é indicar a canção, que é uma obra-prima de nossa contracultura nacional!

Wesley PC>

domingo, 31 de maio de 2009

QUAIS LEMBRANÇAS FICARÃO?


Hoje, domingo, os habitantes, visitantes, detratores e simpatizantes de Gomorra estão a celebrar a despedida do moço da fotografia acima, que partirá rumo à Bolívia, acompanhado pelo moço da fotografia abaixo, amanhã ou depois de amanhã, de carona, com a fé, a coragem, um livro de anotações, o ímpeto revolucionário primevo, um canivete doado pela “galera do IHGS” e muita sede de aventura e ecologia política nas mãos e mentes e todos os órgãos do corpo humano, incluindo, evidentemente a genitália. Pelo prazo estipuladamente mínimo de 18 meses, ficaremos sem ver estes amigos preciosos, mas ambos garantiram que nos deixarão minuciosamente informados sobre os avanços e percalços de sua trajetória deambulatória. Com a ausência atuante deles, obviamente, novos rumos serão aplicados em Gomorra. Talvez precisamos “começar de novo”, reorganizar objetivos, voltar à “prancheta inicial”, como diriam os coadjuvantes vilanescos de desenhos animados do Pica-Pau e do Papa-Léguas... Sentiremos falta, mas eles estão a cumprir um desígnio básico de suas vidas contestatórias. Que vão bem, que sigam bem, que cheguem bem e que voltem, se desejado for. Sentiremos saudades, mas jamais os esqueceremos. Jamais!

Wesley PC>

O LIVRE-ARBÍTRIO DE 655321


É absolutamente impossível escolher a melhor cena deste filme! “Laranja Mecânica” (1971, de Stanley Kubrick) é uma daquelas obras imortais que merecem sem reservas a alcunha de “mauriciana” (perfeita). Revi este filme em Gomorra nesta madrugada pela trocentésima vez, ao lado de amigos que nunca haviam visto o filme (que honra!) e, diante da seqüência reproduzida na imagem, soltei um gemido incontido: esta é uma das cenas que mais povoaram o meu imaginário infantil, quando ainda sequer sonhava em ver o filme. Como me encantava o figurino do protagonista, aquele cenário futurista, estes pirulitos fálicos nas mãos das duas jovens que, no instante seguinte, estarão fazendo sexo a três, em ritmo ultra-acelerado, ao som de uma versão sintetizada da “Abertura de Guilherme Tell”, de Giácomo Rossini, por sua vez, a cargo da tecladista Wendy Carlos, que hoje tem 69 anos de idade, mas, à época do filme, era homem e se chama Walter Carlos. Estou pensando em baixar a trilha sonora do filme, a fim de me especializar em música clássica e conhecer melhor o trabalho desta pioneira transexual da música eletrônica.

Voltando ao filme: após a sessão, o perfeito me perguntou por que eu insistia que aquele era um filme “moralista”. Respondi que o que mais me encantava no discurso favorável ao livre-arbítrio no filme é que ele não repugnava as instâncias religiosas retratadas no filme, que constatam a hipocrisia ensinada pelas instituições prisionais sustentaculares dos sistemas de Governo dominantes no mundo globalizado que o autor Anthony Burgress previra. Ou seja, a crítica kubrickiana é eminentemente política e não comete o erro crasso, típico de ‘pseudo-punks’ de beira de esquina, de confundir anti-clericalismo com ateísmo. Crenças são importantes enquanto motivadores de personalidade, diz o filme, quiçá um dos mais inspirados e frutíferos elogios à liberdade irrestrita com que já tive a oportunidade de entrar em contato. Cada pequena nota musical utilizada no filme, cada segundo de imagem, cada diálogo, cada ângulo ou movimento de câmera, tudo ali transpassa a perfeição, “a beatitude e o paraíso” que tanto possuem o protagonista quando este frui ao som das composições de Ludwig van Beethoven. Obra-prima com O maiúsculo!

Não cairei aqui na tentação de resenhar o filme. Deixo tal tarefa recompensante a qualquer outra pessoa que o tenha visto, dado que ele dispensa qualquer conjunto de elogios embasbacados que eu pudesse reproduzir. Ao invés disso, comprometo-me a ler o livro que deu origem ao filme, prometerei revê-lo mais e mais vezes, percebendo assim novos aspectos de sua magnitude, conforme se nota no testemunho do mendigo bêbado espancado no início do filme: “este é um mundo fedorento, pois não existe mais lei e ordem! É um mundo fedorento porque os jovens investem contra os mais velhos. Oh, este não é mais um local para um homem velho viver! Que tipo de mundo é este, afinal? Homens pisando na Lua, orbitando ao redor do planeta, mas sem prestar a menor atenção às leis e ordem terrenas”...

Como eu disse antes – e não me canso de repetir: OBRA-PRIMA!

Wesley PC>

REVENDO CONCEITOS SOBRE O BUDISMO (OU “WESLEY, A TELEVISÃO É DO OUTRO LADO!”)


Não explicarei por enquanto a origem da frase entre parênteses no subtítulo, mas adianto que ela tem a ver com minha inevitável sujeição ao parasitismo contemplativo. O garoto que pronunciou a tal frase talvez tenha ficado chateado com minha insistência observadora, ao passo em que eu me senti preocupado, mas incapaz de me arrepender de ansiar por sua presença incontinente. Tive que dormir “para apagar o facho”. Sonhei que o moço responsável pelo pronunciamento advertente me pedia para baixar pela Internet a discografia completa da banda Siouxsie & the Banshees. Qual não foi a minha surpresa, hoje pela manha, em, ao ouvir uma coletânea de clássicas músicas tristes do Morrissey, deparar-me justamente com a vocalista desta banda, Siouxsie Sioux, colaborando em um dueto na canção “Interlude”, que diz mais ou menos o seguinte:

“O tempo é como um sonho
E, agora, por um tempo, tu és meu
Vamos adiantar-nos para este sonho
Que é saboroso e cintilante como o vinho

Quem sabe (quem sabe?) se isto é real?
Ou se é somente um sonho que estamos vivenciando juntos?
O que parece ser um intervalo agora pode ser o começo de um amor

Te amar...
É um mundo bem mais estranho do que o meu coração pode suportar!
Te amar...
Faz meu inteiro mundo se modificar
Amando-te, eu não posso crescer

Não, ninguém sabe quando o amor irá findar
Então, caro amigo...”


E é assim mesmo que a canção/declaração se encerra: reticente. Não precisamos saber o que o eu-lírico duplicado da canção queria dizer para entendermos o que eles queriam dizer. Urge ser mais forte que o medo do “final do sonho”! “Uma hora de vida ainda é viva”, diriam os sobreviventes do Holocausto Judeu em meu auxílio...

Chegando em casa, folheei um livro de meu sociólogo favorito, o patrono Émile Durkheim. No referido livro, ele explica a presença da divindade não é uma característica essencial das religiões, visto que é possível encontrarmos “religiões atéias”. Segundo ele, o budismo é uma destas, visto que, ao invés de ser baseado na subsunção a um Deus antropomorfizado, tal religião consiste basicamente em quatro nobres verdades essenciais:

1- A existência da dor é ligada ao perpétuo fluxo das coisas;
2- O desejo é a causa da dor;
3- A supressão do desejo é o único modo de suprimir a dor;
4- A fim de se chegar a tal supressão, é mister passar por três etapas: a retidão, a meditação e, enfim, a sabedoria, a plena posse da doutrina, etapas estas que levam ao término do caminho, onde estão a libertação, a salvação, o Nirvana.


Desde muito pequeno, sempre temi o Nirvana. Sempre entendi meditação como sendo um tipo de privação negativa. Estava enganado. Talvez o Budismo reserve o tipo de conforto individual que necessito. Recebi uma advertência por estar desejando. Na terceira, posso ser suspenso e/ou expulso. Prefiro não arriscar...

Wesley PC>