sábado, 16 de julho de 2011

DANÇAR DIANTE DO TÚMULO, SER MAIS FORTE QUE A DOR QUE INSISTE EM CALEJAR...

A cena acima me emocionou deveras: apesar de “O Estrangeiro Louco” (1997, de Tony Gatlif) não ser a obra-prima que eu imaginava, meu amigo Jadson Teles Silva esteve mais do que coberto de razão e emoção ao me indicá-lo como filme urgente, como obra de arte que ajuda a me definir enquanto indivíduo coletivo. Eu sou como aquele estrangeiro louco, eu sou alguém que precisa (re)aprender sempre a dançar até mesmo nos momentos de dor, de tristeza, de melancolia, sejam estes sentimentos reais ou apenas “imaginários”...

Apesar de o filme não ser perfeito, a cena acima me emocionou particularmente por permitir que o desfecho continuasse me emocionando – e não somente por causa das interpretações perfeitas e sensuais de Romain Duris e Rona Hartner ou por causa da magnífica e contagiante trilha sonora original, mas principalmente porque, às vésperas de comprar trinta anos de idade, o amigo-irmão que me apresentou a este filme reclama de dores de garganta, de dente, de coluna, de ouvido e no peito... Pelo amor de Deus, Jadson querido: não é hora de ficar borocoxô. Tira a saia cigana do armário da alma calejada e vamos dançar:

“Ay devlah so te kelaw
Ah Roma lala lalo madalo
Ah roma roma

Ah roma roma da
Ah roma lale lale laleee
Ah roma romaya”


“Nora Luca” na veia!

Wesley PC>

REFLEXÕES A PARTIR DO DUCENTÉSIMO SEPTUAGÉSIMO OITAVO PARÁGRAFO D’ “O CÓDIGO DE HAMMURABI”:

§278 - Se um awïlum comprou um escravo ou uma escrava e antes de completar o seu mês foi acometido de epilepsia: ele (o) reconduzirá ao seu vendedor e o comprador levará consigo a prata que tiver pesado.”

Redigido no século XVII a.C., pelo mais célebre monarca babilônico, este conjunto de leis sobre punições por lesões corporais, direitos e obrigações de classes especiais (leia-se: profissionais) e regulamentos acerca da posse de escravos, entre outras sanções, foi a minha leitura matinal de sábado: havia acordado com dor de cabeça...

Antes de dormir, vi um filme de terror zoológico na casa de um vizinho. Ambos odiamos o filme, que une a imoralidade de um rapaz de 17 anos com a sobrevivência e a descoberta do verdadeiro amor. “Ah, se na vida real também fosse assim...”, brinquei com meu companheiro de sessão, que repetiu o chiste antes de nos despedirmos. Eu estava com sono. Capotei de cansaço quando cheguei em casa. Pelo menos, deu tempo de escovar os dentes e acenar para o cachorro preso na varanda, em razão do cio de minha cadela ‘poodle’.

Por voltas das 19h15’ de ontem, um flato discreto e ruidoso foi emitido por meu esfíncter anal enquanto eu atendia simultaneamente a dois alunos da Universidade Federal de Sergipe. Não sei se eles ouviram o peido, mas continuei o meu trabalho informativo como se nada de biologicamente constrangedor tivesse acontecido, ao passo em que eles agiram comigo da mesma forma. Era como se um código tácito de conduta pública e burocrática fosse previamente estabelecido. Todos nós sorrimos ao final das perguntas e respostas que compartilhamos. E meus colegas de trabalho nada falaram sobre o ‘pum’.

Sábado novamente: o último filme dirigido por Joseph L. Mankiewicz estava sendo exibido na TV. Achei que fosse de bom tom aproveitar esta oportunidade, apesar da dor de cabeça que sentia. Minha mãe saíra para comprar maçãs. Numa dada cena, o personagem de Michael Caine se veste de palhaço e finge que é um assaltante. Eu achei a trama geral um tanto pueril, mas o modo como a mesma é conduzida é magistral. A direção é ótima, o elenco idem (dois atores em cena, praticamente). “Sexo é o jogo, casamento é a penalidade”: algo me deixou com dor de barriga. É comum peidar durante o ato de micção. Pelo menos, é comum entre homens. Gosto de homens: dá nisso!

Wesley PC>

sexta-feira, 15 de julho de 2011

POIS AGORA EU SEI O QUE É “DAR BOM-DIA A CAVALO”...

E, por não ter problemas (nem práticos nem teóricos) com esta expressão que ouvi bastante na semana passada, hoje estou de resguardo. Por enquanto, darei a mim mesmo o dúbio direito por algumas horas... É fase: daqui a pouco estou de volta!

Dormi demais: estou cansado, acho.

Wesley PC>

quinta-feira, 14 de julho de 2011

SOBRE A BELEZA DAS MATÉRIAS-PRIMAS DO ESPORTE...

Nesta noite de quarta-feira, dediquei - me a uma análise acadêmica de dois suplementos esportivos de jornais, um deles local (Jornal da Cidade) e outro nacional (Folha de São Paulo). O objetivo do trabalho era comparar o que ambos os suplementos tinham em comum, como eram abordados os assuntos e, logicamente, a predominância dos enfoques sobre futebol em detrimento de vários outros campeonatos esportivos em vigor no mundo. Apesar de experimentar uma forte crise produtiva na concepção do trabalho, dada a minha evidente inaptidão diante do tema, deliciei-me aos poucos ao perceber o quanto é rico em observações humanas o subestimado (por mim) e superestimado (pelos outros) cotidiano desportivo.

Numa das reportagens da Folha de São Paulo, por exemplo, fui apresentado a uma interessante análise histórica sobre as variantes políticas, bélicas e econômicas que circundam a cidade rural de Pyeongchang, na Coréia do Sul, como sede para os Jogos de Inverno em 2018. Dentre algumas observações do colunista Choe Sang-Hun, pareceu-me importante ressaltar a passagem textual em que ele afirma que estes jogos de inverno localizados na cidade cujo nome é propenso à confusão com a capital da Coréia do Norte, Pyongyang, ajuda a afastar a imagem de antiquada relacionada à mesma, que seria “reforçada pelas minas de carvão abandonadas e pelas colinas íngremes que ostentam arame farpado, casamatas e campos minados posicionados para proteger o país da invasão norte-coreana”. Caramba, que texto emocionante! E que foto linda de Jeon Heon-Kyun sobre os testes militares de sobrevivência realizados no local! Se eu não tivesse esta obrigação acadêmica de ler sobre esporte, talvez eu nunca tivesse acesso a esta bela reportagem...

Pelo sim, pelo não, consegui redigir as duas páginas de análise exigidas pelo professor da disciplina, há mais de um mês. Dizendo de outra forma: consegui terminar o trabalho na noite da véspera do prazo final para a entrega do mesmo. Acho que, de fato, eu funciono melhor sobre pressão. Não somente resolvi mais este característico bloqueio criativo como fiquei muito satisfeito com o resultado de minha labuta escrita. Concluí em meu texto: como se vê, portanto, o jornalismo esportivo é muito mais rico e inteligente do que pensam eventuais detratores que se incomodam sobremaneira com o clima de competitividade emulado pelos torcedores, que não são o púnico público-alvo das reportagens analisadas em ambos os veículos”. Concordo comigo mesmo!

Wesley PC>

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SEXO É PODER, FALTA DE SEXO TAMBÉM?

Na noite de ontem, assisti por acaso a um capítulo da telenovela “Insensato Coração”. Na cena em pauta, a personagem de Glória Pires, agora muito rica, chantageava e ameaçava um antigo amante, vivido por Gabriel Braga Nunes, responsável por sua prisão, num passado recente. Chateada com ele, ela o mantém cativo em sua casa, comendo restos de comida e servindo de empregado. No capítulo de ontem, ele a agarra com força, dizendo que o forte desejo sexual que ela ainda nutre por ele impedirá que a mesma leve em frente sua pretendida vingança. De fato, eles transam, mas, ao final da cópula, ela o põe para fora, como se ele fosse um mero prostituto... Conclusão: sexo é poder?

No instante em que a telenovela estava sendo exibida, eu alisava e lambia as pernas de um rapaz, o qual me proporcionara um delicioso orgasmo na noite de domingo. Fora um orgasmo deveras recente e, de fato, era cedo para eu exigisse mais uma ejaculação de sua parte, mas eu sou compulsivo: quando Amo alguém, preciso demonstrar isto segundo após segundo. Tentava me controlar, mas eventualmente minha mão tocava no pênis do rapaz, que o protegia veementemente, visto que se masturbara algumas horas antes. Mas sorrimos bastante antes que nos despedíssemos. Ele estava de bom humor ontem: falta de sexo é também poder?

Como se fosse coincidência, quando chego ao trabalho, na manhã de hoje, uma novata me pergunta se eu costumo assistir à “novela das 8”. Digo-lhe que não, mas comentei por alto sobre a cena acima descrita, enquanto que, num setor contíguo ao que eu estava, um colega de trabalho discutia com outro rapaz a cena em que uma mãe que possui um bar ‘gay’ descobre – e se irrita muito com isso! – que seu filho namora outro homem. Achei engraçada a situação, visto que, na cena em que o tal filho se revela homossexual para a mãe, eu estava dirimindo um comentário homofóbico defensivo que fora proferido por meu caro “fornecedor de sêmen” Conclusão: sexo...

Wesley PC>

terça-feira, 12 de julho de 2011

A CULTURA MORIBUNDA, O COLUNISMO SOCIAL COMO AGENTE FUNERÁRIO...

Quem ainda não tiver visto “O Príncipe” (2002, de Ugo Giorgetti) e que, como eu, não sabe o quanto este filme é genial, talvez não deva ler esta crônica agora: começarei o texto pela magnífica dose de sarcasmo emulada na seqüência final. Aguardando placidamente a sua vez de embarcar para Paris, onde vive há mais de 20 anos, o intelectual que protagoniza este filme é interpelado por uma ‘socialite’, que começa a se gabar da viagem. Quando ela descobre que ele passou apenas a última semana de passagem pelo Brasil, tasca uma pergunta providencial: “vieste por causa de negócios ou prazer?”. Ele, seco: como a senhora classificaria um funeral?”.Glupt!”: eis a resposta, em uníssono, da platéia!

Tinha esquecido que este filme seria exibido na TV hoje à tarde. Era um plano secundário ou terciário, aliás. Divertir-me-ia com amigos, mas um atraso de meu irmão impediu a minha sápida. Eu estava sem dinheiro para a passagem de ônibus e ele estava com a minha careteirinha de passes. Comentei o assunto com um dos amigos que planejava encontrar, pedindo para protelar o nosso encontro. Ele: “estou feliz pelas escolhas que tu fizeste”. Respondi-lhe com uma paráfrase do teórico búlgaro Tzvetan Todorov, que comentou que considera a disseminação “democrática” do não-racismo uma imposição contra o livre-arbítrio dos indivíduos. Não fui cínico: de fato, eu havia me identificado deveras com o que havia lido horas antes desta resposta. Numa das cenas do filme, o intelectual, especializado em exegeses sobre Maquiavel, reencontra, depois de muito tempo, a mulher que tanto amou. Antes, “ela interrompia qualquer reunião de grêmio estudantil com a mais leve cruzada de suas belas pernas socialistas” e gostava de poesia. Hoje, ele é uma burocrática promotora cultural. Quando eles se vêem na mesma sala, falta energia. Ela: “não há perguntas?”. Ele: “até porque não existem respostas”... Glupt, mais uma vez!

Numa cena anterior, o intelectual conversa com um escroque numa academia de ginástica. Ele alega que, para entender de cultura, a atividade física deve também ser valorizada. Roçam de roupa e, momentos depois, o primeiro encontrará um amigo outrora escritor servindo sopa para mendigos. Entre um e outro reencontro de amigos, um jornalista agora paraplégico se embebeda ao comentar que no estado em que ele se encontra, uma trepada com ele “não seria uma trepada, mas sim uma aula de Zoologia”. E eu exultava e gritava a cada seqüência, enviava dezenas de mensagens de celular a meus amigos, identificava-me por completo com este ótimo filme. “Como eu pude não ter visto isto antes?!”, pensava eu comigo mesmo. Apesar de não haverem respostas, muitas perguntas essenciais estão espalhadas por este filme. Quem diria? Tornei-me mais do que fã da racionalidade crítica (acerca da própria racionalidade crítica, inclusive) de Ugo Giorgetti agora!

Observação: como se todo o cinismo e, quiçá, pessimismo do filme não fossem suficientes, ainda me deparo com uma reportagem ridícula (na revista Caras, logicamente, uma das maiores inimigas midiáticas do próprio filme), deturpando – de propósito? – tudo aquilo que o filme apregoa, filmes este que, nas páginas da revista, é vendido como “uma história de amor que não chegou a se concretizar”. Deus do céu, que obra voluntária e involuntariamente urgente! Se já fazia sentido antes, agora é uma obrigação moral inalienável!

Wesley PC>

COMIGO É O CONTRÁRIO: A CADA DIA, EU TE AMO MAIS E MAIS!

Hoje pela manhã, eu revi o ótimo videoclipe desta canção na TV e, enquanto o vocalista do Kaiser Chiefs repetia o refrão que intitula a canção (“Everyday, I Love You Less and Less”), eu pensava e tinha certeza de que, comigo, costuma acontecer justamente o contrário...

O videoclipe é muito bom, muito expressivo, muito variado: explica o sentido do decréscimo do amor em diversas situações (familiares, artísticas, namorativas, vitais, etc., etc.), de maneira que ele consegue ser muito elucidativo até mesmo para quem não entende o rico jogo de palavras anglofílicas entre os versos. Não sei por que eu não baixei este álbum – “Employment” (2005) – ainda! Vou logo corrigir esta mazela: Kaiser Chiefs é uma banda, de fato, muito boa! Seus integrantes não são despolitizados, sabem fazer boas rimas (em especial, as tautológicas) e são bonitinhos também, o que só adiciona um agrado extra e bem-vindo à mistura. Recomendo deveras! (risos) Entretanto, eu friso: a cada dia, eu te amo mais e mais!

Wesley PC>

segunda-feira, 11 de julho de 2011

NÃO CUSTA REPETIR: PARA MIM, PORNOGRAFIA É A VENDA DO ESTUPRO, NÃO O EROTISMO COMPARTILHADO!

Na noite de ontem, enviei uma mensagem de celular a vários amigos íntimos, dizendo que estava com “a boca cheia”. Quem recebeu a mensagem, soube de pronto o que isto quis dizer: eu estava contente! Estou ainda, aliás. Chegando ao trabalho, na manhã de hoje, fui interpelado por um amigo, que quer que eu baixe “Homens de Israel” (2009, de Michael Lucas), filme pornográfico que se vangloria de ter todo o seu belo elenco composto por judeus israelenses. Segundo o diretor, isto é militância, é uma bravata. Eu, definitivamente, não confio muito nisso não, nem tampouco creia que o filme seja sequer bom, mas atendi ao pedido de meu amigo: estou baixando-o. Em breve, talvez eu comente algo sobre ele – se, de fato, ele merecer. Por ora, ainda sigo contente: arrotar esperma me faz muito bem!

PS: a quem interessar possa, o diretor Michael Lucas é este de camiseta regata preta, sob o microfone. Bonitinho ele, não é?

Wesley PC>

domingo, 10 de julho de 2011

“O CINEMA EXPERIMENTAL BRASILEIRO PEDE ANISTIA”...

Graças ao Canal Brasil, pude assistir ao aguardado documentário em longa-metragem “Belair” (2011, de Bruno Safadi & Noa Bressane), na tarde de hoje. Trata-se, conforme deixam bem claro o título e a imagem do cartaz, da produtora homônima de Julio Bressane, Rogério Sganzerla e Helena Ignez que, no início da década de 1970, realizou sete produções inovadoras, dirigidas ora por um ora pelo outro gênio e protagonizados pela diva tresloucada que compunha seus personagens a partir do próprio corpo, conforme explica a própria numa entrevista em ‘off’. Entretanto, enquanto filme independente, “Belair” acrescenta pouco a quem já conhecia os meandros e empecilhos da trajetória da produtora. E isso me decepcionou um pouco...

Grosso modo, “Belair” assemelha-se a uma daquelas faixas especiais de DVD, em que diretores comentam os filmes enquanto imagens dos mesmos são projetadas na tela. Ou seja: além de cenas dos setes filmes produzidos entre fevereiro e maio de 1970, pouco aparece na tela. Este pouco que aparece emociona assim mesmo, mas ficou aquela impressão de faltou algo, de que o tema poderia ser explorado ainda mais intimamente, visto que a equipe técnica é quase integralmente filiada a alguns dos dois diretores da produtora. Mas, conforme disse antes, o pouco que aparece emociona: e, quando a personagem de helena Ignez cospe sangue diante de nós em “A Família do Barulho” (1970, de Julio Bressane), uau, que coisa linda!

Ainda não vi “Cuidado, Madame” (1970) nem “Barão Olavo, o Horrível” (1970), ambos de Julio Bressane, nem o perdido “Carnaval na Lama” (1970), de Rogério Sganzerla, do qual são mostrados apenas fragmentos recuperados. Da mesma forma, ninguém viu o inacabado “A Miss e o Dinossauro” (1970 - cujos fragmentos foram reaproveitados num curta-metragem homônimo, dirigido por Helena Ignez, em 2005), dirigido por ambos os cineastas. Mas vi com gosto “Copacabana, Mon Amour” (1970) e “Sem Essa, Aranha” (1970), clássicos do Rogério Sganzerla cujas cenas-chave foram muitíssimo bem-exploradas pelo filme “Belair”. Minha mãe estava na sala e riu deveras com o frenesi político da serelepe e nada ingênua Helena Ignez. Numa das brilhantes cenas finais do documentário, o ator Grande Otelo aparece conversando com o jovem diretor destes filmes, dizendo que não entende nada das “loucuras” que ele faz, ao passo que ele logo se apressa em explicar que “no futuro, elas será compreendidas. Ah, serão!”. Será mesmo?

Pelo sim, pelo não, valem alguns acréscimos à minha apreciação: gosto muito mais do velho Julio Bressane que do jovem, da mesma forma que o jovem Rogério Sganzerla é mais genial que o velho. E, graças ao mesmo Canal Brasil em que este documentário foi exibido, daqui a alguns minutos, estarei vendo um clássico recente do Julio Bressane: “O Mandarim” (1995), com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Hollanda, Renata Sorrah, Gal Costa, Costinha e muitos outros artistas de que sou fã no elenco. Estou, desde já, mais do que ansioso: por mim, este cinema experimental brasileiro de primeira categoria está mais do que anistiado!

Wesley PC>

“NÃO EXISTE AMOR FELIZ”? (NÃO) SOU EM QUEM RESPONDE...

Na noite de ontem, visitei um casal amigo, que expôs motivos diversos para ciúmes (e, paralelamente, também para a abolição destes), um de cada lado. Depois, abracei uma amiga de infância e supliquei que ela visse “8 Mulheres” (2002), ótimo musical ‘kitsch’ do François Ozon que seria exibido num canal fechado dedicado prioritariamente ao mundo da moda. Revi o filme ao lado de minha mãe, mas esta estava impaciente com a bebedeira características dos finais de semana de meu irmão mais novo. Eu, por minha vez, simplesmente me deliciei ao rever o filme. Tanto é que, durante a sessão, enviei mensagens de celulares sempre que alguma das personagens cantava uma canção: quando Fanny Ardant reclama que de nada adiante ser livre sem ter alguém para amar; quando a cozinheira lésbica vivida por Firmine Richard entoa que “para não viverem sós, os homens constroem catedrais, onde as pessoas solitárias se penduram nas estrelas”; quando Isabelle Huppert frustra-se por ainda ser virgem e não dispor de alguns encantos femininos essenciais, enquanto Emmanuelle Béart canta justamente o oposto; quando as duas filhas jovens (Virginie Ledoyen e Ludivine Sagnier) do pai supostamente esfaqueado cantarolam sobre os limites entre amor infantil e amor romântico; e quando Catherine Deneuve enceta um beijo sensual em sua cunhada vestida de rubro. Juro que eu tinha esquecido a canção interpretada pela matriarca pseudoparalítica vivida por Danielle Darriuex, até que ela se senta numa escada, com sua neta mais jovem nos braços, e despacha “Il n'y a pas d'amour heureux", do poeta Louis Aragon. Emocionei-me no ato. Pensei nos amigos com quem interagi, através do telefone celular durante a sessão e, obviamente, enxerguei Deus. Este filme é uma obra de arte. Pena que seja tão pouco conhecido ainda...

“Rien n'est jamais acquis à l'homme
Ni sa force, ni sa faiblesse, ni son cœur
Et quand il croit ouvrir ses bras
Son ombre est celle d'une croix
Et quand il croit serrer son bonheur
Il le broie
Sa vie est un étrange et douloureux divorce
Il n'y a pas d'amour heureux


Sa vie, elle ressemble à ces soldats sans armes
Qu'on avait habillés pour un autre destin
A quoi peut leur servir de se lever matin
Eux qu'on retrouve au soir désarmés incertains
Dites ces mots ma vie et retenez vos larmes
Il n'y a pas d'amour heureux

Mon bel amour, mon cher amour, ma déchirure
Je te porte dans moi comme un oiseau blessé
Et ceux-là sans savoir nous regardent passer
Répétant après moi les mots que j'ai tressés
Et qui pour tes grands yeux tout aussitôt moururent
Il n'y a pas d'amour heureux

Le temps d'apprendre à vivre
Il est déjà trop tard
Que pleurent dans la nuit nos cœurs à l'unisson
Ce qu'il faut de malheur pour la moindre chanson
Ce qu'il faut de regrets pour payer un frisson
Ce qu'il faut de sanglots pour un air de guitare
Il n'y a pas d'amour heureux

Il n'y a pas d'amour qui ne soit à douleur
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit meurtri
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit flétri
Et pas plus que de toi l'amour de la patrie
Il n'y a pas d'amour qui ne vive de pleurs

Il n'y a pas d'amour heureux
Mais c'est notre amour à tous deux


Amo particularmente esta canção na voz do senegalês Youssou N’Dour. E quem me dera um dia apertar a mão de qualquer uma das oito maravilhosas mulheres deste elenco... Filmaço!

Wesley PC>