sábado, 30 de outubro de 2010

“ – UM SODOMITA É UM SODOMITA. VOCÊ NÃO SABIA? É UM ‘DANSHOKUKA’”.

“Alguma diversão era essencial. Comecei a aparecer freqüentemente nas reuniões que aconteciam na casa de um velho amigo, sabendo que não deixariam nada em minha mente senão a lembrança de conversa ociosa e um gosto vazio”.

Duas confissões dominantes perpassavam minha mente durante a leitura das páginas finais do soberbo romance japonês “Confissões de uma Máscara” (1948), do mestre Yukio Mishima, que, desde já, é um dos meus escritores favoritos, um dos mais célebres autores com o qual tive orgulho de entrar em contato, um autor brilhantemente recorrente, tanto que, em sua única experiência como diretor cinematográfico, “Rito de Amor e de Morte” (1966), realizado quatro anos antes de seu suicídio ultra-romântico e político (ou melhor, ultra-romântico. Logo, político), tudo o que eu lera sobre ele e a partir dele estava lá, verborrágico e simbólico como somente um filme mudo japonês poderia ser... E esta é a minha segunda confissão!

No filme, um militar atormentado por um dilema ativista após um golpe de estado, recusa-se terminantemente a assassinar amigos considerados traidores da pátria agora tomada por um novo poderio dominante e, como tal, resolve cometer suicídio. Sua esposa, devota e submissa por vontade própria a seu amor, resolve matar-se também, não antes sem abdicar de qualquer resquício de timidez e amar cada detalhe minúsculo do corpo de seu esposo e de seu próprio, ambos tendentes a uma união perpétua que atravessa a vida. E, mesmo preferindo associar o amor à vida, e não à morte, eu não pude deixar de exultar diante deste filme soberbo. Mesmo que eu não consiga crer que dirimir a própria existência possa ser uma solução ideal para problemas éticos irresolvíveis, eu entendi claramente o que se passava ali: Yakio Mishima vai direto ao ponto: ele nos cativa, ele é genial!

O que me leva à primeira confissão, que tem muito a ver com o excerto destacado no início desta postagem, que se explica na prática com algo me aconteceu na madrugada de ontem para hoje: por alguns minutos, estive presente numa sessão em que pessoas que gosto viam um filme bobo e dublado num equipamento avançadíssimo de ‘home theater’. Por mais que eu gostasse deles, não poderia me submeter a este tipo de oxímoro tecnológico. Isto eu não podia. Por isso, eu dormi cedo enquanto meus companheiros celebravam o que, para eles, era divertido. E eu não tenho o menor direito de julgá-los. Eles são eles, eu sou eu, e Yukio Mishima é um pouquinho eu também – e/ou vice-versa!

“De repente, fui atingido pela dor aguda que provém de se ficar olhando demais para alguma coisa. A dor anunciou: você não é humano. Você é um ser incapaz de relacionamento social. Você não é mais que uma criatura, não-humana e de algum modo estranhamente patética”.

Wesley PC>

E, POR FALAR EM MASTURBAÇÃO E RESQUÍCIOS MNEMÔNICOS DA ADOLESCÊNCIA ...

Uma das cenas favoritas de minha infância: solitários numa ilha, Richard (Christopher Atkins) e Emmeline (Boorke Shields) se apaixonam. Um dia, depois de uma briga, ele se isola e fica à beira-mar, realizando movimentos repetitivos com uma das mãos. Ela pergunta o que acontece depois que ele faz aquilo muitas vezes. Ele se irrita, tachando-a de bisbilhoteira. Momentos depois, eles estão nadando juntos, nus. E quem vier me dizer que “A Lagoa Azul” (1980, de Randal Kleiser) não aculturou sexualmente 9/8 dos rapazes de minha geração, definitivamente não tem noção de História (risos). Comprei o DVD. Estou precisando revê-lo...

Wesley PC>

“MENINOS DE 12 ANOS NÃO FAZEM SEXO”...

Assim foi contestado um personagem do seriado “House” quando especulou que os sintomas de uma lepra ainda não detectada pudesse ser uma doença de origem sexual. O mentor-título do seriado contra-argumenta e diz que sim, eles fazem sexo, e, num momento posterior, um médico jovem e chateado com seu pai também médico, pergunta a um guri repleto de pústulas em seu corpo se ele é sexualmente ativo. A resposta: “bem que eu queria ser”... E eu lembrei de mim mesmo aos 12 anos neste episódio.

Ao contrário dos personagens, eu já era sexualmente ativo aos 7 anos de idade. Um pouco antes, aliás, mas, aos 7, eu cria que já tivesse um mínimo de consciência acerca de minha promiscuidade. Aos 12, eu resolvi abandonar os meus parceiros múltiplos e de ambos os sexos e foi mais ou menos nesta época que surgiram meus pêlos púbicos e que eu descobri a masturbação, dois indícios que minha mãe entendia erroneamente como sendo diluidores de meu homossexualismo infantil. Por isso, era tão difícil me ver nu nesta época. Por isso, eu fiquei tão envergonhado de meu próprio corpo. Por isso, eu questiono agora que estranha força me impele a uma forma diferente de exibicionismo corpóreo nos dias de hoje.

Explico com um exemplo prático: na noite de ontem, urinei num banheiro deveras espaçoso e iluminado. Achei que seria uma excelente oportunidade de realizar mais um auto-ensaio pornográfico e fotografei a mim mesmo em diversas posições, inclusive com o pênis ereto. Em breve, creio que estas fotografias serão discursivamente exibidas neste ‘blog’ ou em outros, mas, para além de minhas intenções protestantes com as mesmas, eu pergunto: até onde minha necessidade de exibir-me midiaticamente nu é um protesto traumático contra minhas rejeições de outrora? Será que, aos poucos, sentir-me-ei apto para tomar banho em público?

Aí me surge outro problema “contextual”: em razão de uma adequação modista típica da década de 1980, da qual reluto terminantemente em me esquivar, sinto orgulho em cultivar pêlos pubianos com tamanho e cor consideravelmente chamativos. Estes pêlos eram o indício mais precioso de nudez androfílica que me era ofertado nos programas eróticos da época em que fui adolescente e, como tal, sinto orgulho deles, preciso dos mesmos para me sentir (olha só que palavra forte) “macho”! E agora?

Voltando ao seriado: aos poucos, a vida sexual do garoto doente é tematicamente suprimida por uma competição de opiniões médicas conflitantes entre o médico jovem e rebelde e o médico mais velho, arrependido e moribundo. Fiquei chateado, inclusive, com o esquematismo dos roteiristas do seriado, visto que os problemas abordados com tanta precisão num episódio não têm seqüelas nos episódios posteriores. Acho isso um desperdício. E, por mais que eu apare os pêlos púbicos de vez em quando, eles são bem maiores em mim do que em qualquer outra pessoa que eu tenha visto nua nos últimos 5 anos. Seria isso um sinal de desleixo anti-higiênico, revolta modista ou nada mais do que pura imaturidade de caráter sexual?

Wesley PC>

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DUAS SITUAÇÕES REAIS SOBRE CASAMENTO:

1 - Eu e um colega de trabalho caminhávamos pelo bairro Rosa Elze, quando fomos interpelados por sua esposa e sua sogra. Como ele anda enfrentando dores lombares por causa do colchão novo, brinquei com sua esposa: “está na hora de trocar este colchão, né? Senão, tu podes ficar sem marido, visse?”. Ela: “eu tenho que garantir o que é meu”. Eu: “pois saiba que, se ele ficar aleijado, a parte de baixo da cintura vai junto”. Ela: “é mesmo, é? A pinta dele para de funcionar? Só assim, ele me chupa”. Eu, ele e ela começamos a gargalhar, até sermos surpreendidos pela sogra dele, sem dentadura e com a boca em formato anal: ôxe, meu filho, chupar é mais gostoso”! Eu que não diga nada (risos);

2 – Telefonei para uma amiga bem-casada às 14h de hoje, a fim de convidá-la para uma festa de trabalho e ela aceitou com a seguinte afirmação: “eu vou, Wesley, mas sozinha”. Eu: “como assim, teu marido não vai, não?”. Ela: “não, Wesley, eu estou solteira, separada, desquitada, abandona, como tu quiseres chamar...”. Eu: “como assim? Depois destes anos todos de cumplicidade?!”. Ela: “pois é, Wesley, ele me largou para morar com outra mulher, como se nada tivesse acontecido, mas eu vou à festa assim mesmo. Precisamos conversar”. Eu: “glupt!” (lágrimas)

Até que a morte os separe, diz a lenda...

Wesley PC>

“UM FILM D’ANGER” OU A PREVISIBILIDADE BENFAZEJA

Asfixia pós-tarkovskiana ainda!
Asfixia começa com A.
Amor começa com A.
Alemanha começa com A.
Assepsia com A.
Albinismo começa com A.
Rispidez começa com R.
Rinoplastia começa com R.
Kenneth Anger começa, termina e é também meio!
Kenneth Anger depois de Andrei Tarkovsky alivia!
Alívio começa com A.
A de amor, que começa com A, mas termina com R.


Todo este preâmbulo é para avisar que eu finalmente gozei ao lado do marginal Kenneth Anger em “Eaux d’Artifice” (1953), um dos filmes mais previsíveis que já vi, uma daqueles em que, desde o primeiro segundo de exibição, eu sabia o que acharia ao final. Por isso, escrevo do jeito que escrevo: porque “Eaux d’Artifice” é o que eu chamaria de filme ‘underground’ legitimamente ‘queer’. Afetado ao extremo, mas ótimo em sua combinação azulada, aristocrática e vivaldiana. Tudo para provar que a ejaculação e as metáforas aquosas são belíssimas quando filmadas. Eu que nunca duvidei disso!

Por isso, A de amor.
B de amor.
C de amor.
D de amor.
K de amor.
R de amor.
W de amor.
X de amor.
Y de amor.
Z de amor.
∞ de amor.


Wesley PC>

NÃO É NECESSÁRIO ENTENDER PARA SENTIR OU SOFRER...

E não somente eu acredito piamente nisto como, antes de ser submetido ao completo desamparo diante do filme “Nostalgia” (1983) de Andrei Tarkovsky, na noite de hoje, eu realizara uma experiência comigo mesmo na terça-feira: 24 horas de jejum pleno, a fim de verificar se, sentindo fome, a fome que, segundo Glauber Rocha, “sendo sentida, não é compreendida”, eu ignoraria por um tempo minhas doces aflições sentimentais recorrentes: não funciona! Agora eu estou ainda mais magro do que antes, e tudo o que eu sentia outrora, ainda reina. Despertei reinado e despertei reinante pelas mesmas configurações emocionais que, sob as mãos de outros cineastas, seriam clicherosas, mas, nas mãos de Andrei Tarkovsky, é arte. Por mais que eu pessoalmente não me atreva a interpretar o que aquilo ali quer dizer. Mesmo sabendo!

Definitivamente, “Nostalgia” é um dos filmes mais difíceis que já vi na vida e, como tal, não vou hipertrofiar minha apreciação, dizendo que gostei dele do início ao fim. Por mais que eu admita que cada imagem do filme é deslumbrante, que o uso da trilha sonora é dilacerador, que aquele bando de gente sofredoras me atacou diretamente, não soube o que sentir, pensar, agir, diante da projeção. O filme me incomodava, me perturbava, me afligia, me dilacerava... Até que, depois de quase 100 minutos de duração, um velho louco (logo, sensato) subia numa estatua e tacava fogo em si mesmo, exigindo música, clamando pela racionalidade alheia, obrigando os transeuntes a quedarem-se extáticos, forçando-nos a emitir um parecer sobre o mundo ao nosso redor, sobre a paixão reinante neste mundo reinado pelo silêncio. E o protagonista deitava-se no chão, sua vela apagava e ele morria. E, naquela que é uma das melhores cenas deste bizarro filme, uma belíssima intérprete loira questiona sua fecundidade diante de uma aldeã que reza diante de uma santa, clamando por um filho, exigindo de si mesma a dignidade do sofrimento, porque é mulher e, como tal, sabe o que é ser mulher. As tautologias explodiam e eu me magoava de segundo em segundo, mas eu não conseguia abrir a boca para dizer que estava apreciando positivamente o filme. Lógico que estava, mas parecia que eu não conseguia entender nada, por mais que soubesse o que se passava ali. Gente louca, gente apaixonada, gente em progressivo desaparecimento. Por que paixão = loucura = desaparecimento? Eu não sei a resposta. Mas serei seu alvo quando esta se estabelecer neste mundo reinante e reinado pela premência da partida. Vá em paz e que o Senhor te acompanhe”...

Wesley PC>

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

COMO DIZEM AS ENCICLOPÉDIAS: EIS “O PRIMEIRO PÊNIS ERETO EM UM FILME NÃO-PORNOGRÁFICO” !

Trata-se do admirável (e progressivamente viciado) Joe D’Alessandro no filme “Flesh” (1968), primeiro da trilogia protagonizada por ele, dirigida por Paul Morrisey, e produzida por Amdy Warhol que compreende também “Trash” (1970) e “Heat” (1972). Até então, vi apenas o filme do meio e, definitivamente, é um dos meus favoritos. Na trama, um dilema banal: o protagonista precisa de heroína, mas não tem dinheiro. Vive no lixo e, surpreendentemente, a miséria não abala a sua beleza física, de maneira que ele exerce atividades enquanto gigolô e prostituto para arrecadar dinheiro e pagar seu vício. O problema: as renitentes crises de abstinência impedem que ele consiga manter uma ereção, o que, conforme podemos perceber, não acontece no primeiro dos três filmes, cujo tema sub-reptício é a necessidade de pagar o aborto que sua namorada lésbica deseja realizar. Mais do que isso, eu não posso contar porque não sei. Mas estou baixando “Flesh” e “Heat” neste exato momento, enquanto me preparo para rever o excelente “Trash”. É só esperar agora... E, para meu espanto, Joe D’Alessandro ainda está vivo! Uau!

Wesley PC>

“KRIG-HA, BANDOLO!” (1973) E TUDO O QUE VEM INCLUÍDO...

Como muitas outras crianças periféricas, fui apresentado à magistral (e, admitamos, religiosamente irregular) de Raul Seixas através de coletâneas. Somente no passado, 2009, pude ter a honra de escutar os álbuns integrais deste célebre artista baiano, que tanto me chamava a atenção por ser, coincidentemente, um dos artistas que minha mãe mais gosta de ouvir. Desde que eu era pequeno, aliás, o que sempre me instigou: como é que pode que minha mãe seja contemporânea deste artista tão bem-humorado (apesar do pessimismo reinante em algumas canções mais esotéricas) e seja tão ríspida (porque, sim, minha mãe era muito ríspida em minha infância)? Nunca soube a resposta, mas fiquei contente em ouvir ao lado dela o álbum em pauta nesta postagem, por três vezes seguidas, na manhã nublada de hoje. “Krig-Ha, Bandolo!” é um álbum tão bom e repleto de sucessos que até parece uma daquelas coletâneas a que me acostumei...

Na introdução, o pequeno Raul Seixas, numa gravação realizada aos 9 anos de idade, interpreta “Good Rockin’ Tonight”. Não é muito interessante no plano musical (minha mãe até pensou que fosse uma homenagem onomatopaica à nossa cabrita!), mas exala nostalgia. E isto me valeu enquanto expressão. Em seguida, uma das 10 melhores canções brasileiras de todos os tempos, em minha modesta opinião: a egrégia “Mosca na Sopa”, brilhante exercício poli-rítmico e discursivo. Genial! Depois vem o clássico “Metamorfose Ambulante”, quiçá a canção mais famosa do artista, depois de “Maluco Beleza”. As demais faixas são eclipsadas por estas preciosidades iniciais, salvo o último petardo, “Ouro de Tolos”, com o famoso adágio “esperando a morte chegar...” e a faixa 08, dramática ao extremo, mesmo sendo interpretada em inglês: “How Could I Know”. Como me identifico com esta letra, com a impaciência descrente no retorno de Cristo, com as variações de crescimento capilares, com a solidão titubeante, com tudo o que isto implica. E, na aula de hoje, a professora diferenciava expressão de comunicação. São situações diferentes. E eu bem sabia disso!

Wesley PC>

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PORQUE SER EFETIVAMENTE JAPONÊS É O DE MENOS!

Quando eu saí de casa, meu irmão lavava a sala e minha mãe adormecia. Achei de bom tom, portanto, tomar banho ao som de “Kishunraku No Jo”, melodia de quase 15 minutos que corresponde à faixa 04 do maravilhoso álbum de música tradicional japonesa “Gagaku”, de Kunaicho Gakubu. Horas antes, eu li mais alguns trechos emocionantes de “Confissões de uma Máscara” (1948), obra-prima de Yukio Mishima em que o narrador transita entre a paixão que sentia pelo sovaco de um colega de classe e as impressões de amor que demonstra frente às pernas da irmã pianista de um colega de classe. Já participei de inúmeros debates polêmicos acerca da competição qualitativa entre Akira Kurosawa e Kenji Mizoguchi. Minha resposta: Yasujiro Ozu é ‘hors concours’. Nagisa Oshima é diferente. E eu tenho um amigo virtual nipônico de nome Hideyuki. Se ele me ajuda nesta questão? De jeito nenhum. Ele entende mesmo é da cinematografia de Andy Warhol e das canções do Coldplay. E eu já tive tesão por um praticante de ‘aikido’ que dormia numa cama com formato de ‘yin/yang’, ao lado de uma espada samurai. Mas não sou japonês. Por mais que eu venere o cosmopolitismo violento do Takashi Miike, eu não sou japonês. E, definitivamente, isso é o de menos!

Wesley PC>

“OLHA SÓ QUE MARAVILHOSO: ESTAMOS RESPIRANDO! É AR! TUDO GRAÇAS A ESTAS FOLHAS VERDES”!

Assisti a “A Última Mulher Sobre a Terra” (1960, de Roger Corman) numa cópia colorida e, ao que me consta enciclopedicamente, o filme é colorido mesmo. Mas... Porque as imagens mais contundentes desta produção são divulgadas em preto-e-branco? Economia?

Que palavra bonita: economia. Segundo Michel Foucault, as origens desta palavra remontam à organização grega do senso doméstico de família – e é sobre isto que o genialmente econômico filme citado versa: economia + família em contexto de catástrofe. Trama básica do filme: um estranho envenenamento faz com que apenas um casal rico e um advogado permaneçam vivos na Terra. Típica situação “dois homens e apenas uma mulher. Como vamos lidar com isso?” que surpreendeu-me ainda mais quando descobri o contexto de produção: o diretor só foi convencido a filmar esta pequena jóia B norte-americana porque a equipe já estava em Porto Rico. Como o roteiro do filme ainda não estava pronto quando começaram as filmagens, o que foi que ele fez? Contratou o roteirista Robert Towne como ator e este improvisou duplamente, engendrando uma das mais subestimadas produções sub-hollywoodianas que já vi. Sinto-me obrigado a divulgar este filme. Quase uma obra-prima. Rosseaunismo em estado bruto! E é tudo tão verde...

Wesley PC>

terça-feira, 26 de outubro de 2010

“TU JÁ FODESTE COM TEU PAI? JÁ BATESTE EM TUA MÃE? JÁ LEVASTE UMA PEDRADA NA CABEÇA?”

Se tu disseste “sim” ou “não” a qualquer uma das perguntas acima, tu tomaste partido e, como tal, tu deves conhecer “Visitante Q” (2001), mais um absurdo e genial filme do mais hiper-moderno dos cineastas japoneses: o arrebatador Takashi Miike. A cada novo filme dele que vejo, sou deslumbrado com sua inventividade pervertida, mas o que encontrei aqui não tem precedentes: é simples e puramente genial! E, pior: poderia ser mais pessoal do que parece...

O cinema hollywoodiano clássico acostumou-nos a entender que a família nuclear tradicional é composta por quatro membros: mãe, pai, filho e filha. Este japonês em particular desvirtua esta fórmula, mesmo obedecendo-a quantitativamente. Na primeira cena do filme, a filha chupa o pênis do seu pai, enquanto fotografa-o repetidas vezes. Na cena seguinte, a mãe da família é mostrada injetando heroína em sua coxa esquerda. Em seguida, o filho espanca sua mãe repetidas vezes e depois coloca uma máscara anti-gás na cabeça e deita-se no quarto, logo incendiado por um ataque de fogos de artifício proveniente dos vizinhos. Quando o pai chega em casa, cansado de tanto ejacular no interior da vagina de sua filha, descobrimos que ele é um jornalista traumatizado pela cena mostrada em foto: quando realizava uma enquete com adolescentes locais sobre violência urbana, estes derrubam-no no chão e enfiam o microfone em seu ânus. E é nesse contexto que o visitante do título [inspirado no personagem de Terence Stamp em “Teorema” (1968), de Pier Paolo Pasolini] entra em cena, provando que minha família disfuncional vai muito bem, obrigado!

Minutos antes de eu começar a ver este filme – e me chocar, escandalizar e admirar cada fotograma de película – meu irmão chega em casa contando que um traficante fora assassinado num campo de futebol improvisado, próximo a nossa residência. É o terceiro assassinato semelhante que ele presencia e, como tal, sua maior interjeição foi a seguinte: “o cara estava com o rosto tão diferente. Não sabia que a gente mudava tanto quando leva quatro tiros, não!”. E, por alguns instantes, eu pensei que o filme era pornográfico. A cena de sexo incestuoso do início demorou tanto, que minha mãe ficou incomodada e saiu da sala. Imagina só se ela estivesse presente quando o pai de família assassina uma colega de trabalho e seu pênis fica preso na vagina cadavérica dela, sendo necessário jarros de vinagre e uma seringa com heroína para sair. Ou quando o visitante precisa de uma sacola de lixo para recolher órgãos humanos posteriormente decapitados e depara-se com a mãe de família vestindo plástico e derramando litros e mais litros de leite humano de seus seios. Por outro lado, a cena final é um primor de redenção. Queria que ela se dispusesse a ver o filme comigo. Iria nos fazer bem. Genial, pura e simplesmente!

Wesley PC>

QUERIA APROVEITAR ESTE GANCHO PARA FALAR SOBRE OUTRO ASSUNTO, MAS... CADÊ CORAGEM?

Em outras palavras: estou desesperado! Mas não é um desespero meu. Eu poderia estar bem – ou, no máximo, surtando! – mas enfrento com relativa dignidade exibicionista meus arroubos de infelicidade, o que me deixa inane quando os arroubos de infelicidade estão relacionados a pessoas que amo e que me impedem de ajudar. Sincera e definitivamente, não sei o que fazer!

Já comentei nalgumas oportunidades recentes que minha mãe anda a desandar em crises de choro pela casa. E, por mais que eu me preocupe com ela, lágrimas silenciosas não me comovem. Perguntei-lhe insistentemente por que ela chorava, mas ela não me respondia. Irritava-se e chorava mais e mais. E, em resposta à irritação dela, irritei-me também. Disse-lhe: quer chorar, chore! Exploda de chorar, mas fique sabendo que isto ao me comove”. Mas comove. Ou acho que comove, não sei. Fico preocupado. Amo-a!

Absolutamente perturbado pelo inusitado entretecimento desta mulher, escrevi alguns lamentos em minha agenda pessoal e especulei sobre algumas hipóteses justificativas de sua tristeza, mas não posso revelar aqui. Não ainda, por enquanto, o que me leva a refletir mais detidamente sobre que direitos ou deveres justificam que um comunicólogo revele ou não revele um aspecto essencial sobre algo, que pode ou não pode ser notícia. Sou formado em Comunicação Social, com Habilitação em Rádio e Televisão. Poderia muito bem ser um repórter, se minhas idiossincrasias ideologicamente consolidadas não me fizessem entrar em conflito estridente com os detentores do poder midiático em Sergipe. Não me arrependo disso. Como diria Luis Buñuel: “antes morrer de fome do que favorecer a prostituição da arte”.

Vasculhando algumas fitas VHS antigas, quase em completa decomposição por fungos, encontrei algumas reportagens que eu apresentei, escrevi e pesquisei, no intuito de ser aprovado em algumas disciplinas laboratoriais. Numa delas, eu elogiava a funcionalidade do setor em que trabalho (o Departamento de Administração Acadêmica da UFS). Noutra, eu comentava a satisfação dos estudantes sobre as reformas espaciais da Biblioteca Central da mesma universidade. Numa terceira, esta vista em fotografia, eu posicionava-me diante do Auditório da Reitoria e entrevistava alguns alunos sobre o que eles acham dos filmes exibidos semanalmente no projeto Cinema do Campus, ao qual estou agora anonimamente vinculado. Num momento, posterior da mesma reportagem, eu entrevisto a mim mesmo enquanto contraponto exibidor de filmes alternativos na UFS. Falo muito sobre mim mesmo! Entrevisto a mim mesmo, pesquiso sobre mim mesmo, mostro demasiadamente a mim mesmo e, neste processo, não raro eu arrasto outras pessoas comigo. Na noite de ontem, por exemplo, fiz alarde acerca do odor de pomada que exalava do peito de uma amiga querida, que padece de alergia dérmica. Enquanto escrevo estas linhas, penso ainda em minha mãe, no que eu poderia fazer para consolá-la e, neste exato segundo, ela deixa uma manga-rosa grande e uma faca pequena, ambas delicadamente pousadas num prato de vidro transparente, aqui do lado do computador no qual escrevo. Ela se preocupa comigo. Eu me preocupo com ela. Isto é notícia? Para mim, é!

Wesley PC>

SEGUNDA POSTAGEM SOBRE “HARAKIRI” (1919, DE FRITZ LANG), AGORA DEPOIS DE VISTO!

Eu estava pensando em apagar a fotografia anterior e pôr esta no lugar, mas achei melhor escrever novamente sobre este filme, visto que, depois de visto, ele me fez pensar em aspectos diferentes daqueles que eu antevia por ser fã da ópera de Giacomo Puccini. A versão de Fritz Lang não é baseada na ópera, mas numa peça germânica, com algumas diferenças significativas em relação à trama original. Poucas, mas significativas. Substituir o militar norte-americano por um oficial europeu, por exemplo, e adicionar a esta substituição o fato de que o pai da protagonista era um visitante contumaz dos países ocidentais redimensiona o caráter da tragédia, fez com que eu enxergasse o filme mais pelo parâmetro global pós-moderno(o que não deixa de ser um julgamento deveras anacrônico) do que por aquilo que o filme tem de essencial: a tragédia. A cena que agora anexo como comentário imagético a esta postagem que o diga: a cena da vã espera. Quando sabem que o amado Olaf está de volta ao Japão, a graciosa O-Take-san, uma serviçal solícita e seu filho pequeno quedam-se à janela, ansiando pelo momento em que o pai deste último atravessará a porta. Mas, quando o faz, a mãe do garotinho já estará morta, e o pai estará casado com outra mulher. Talvez ele não tenha alimentado esperanças, mas apenas aberto espaço para a projeção romântica, através da qual ela mergulhou num poço infindo de depressão e espera, que redunda em belíssimos planos com a protagonista de pé diante do mar, aguardando a chegada de navios alemães ao porto japonês. Para ela, talvez fosse melhor que ele não retornasse... Realidade e ilusão passional podem ser coisas tão diferentes! Queria aproveitar este gancho para falar sobre outro assunto (na pior das hipóteses, até mesmo sobre o amadurecimento estilístico do diretor em obras posteriores), mas... Cadê coragem?

Wesley PC>

“ICH LIEBE DICH. ALSO ICH BIN EIN IDIOT!” OU AS COINCIDÊNCIAS INTELECTUAIS DO MEU DIA-A-DIA GLOBALIZADO:

Apesar de já ter estudado bastante sobre o cineasta teutônico Fritz Lang – “cineasta da vingança”, um daqueles que fugiu da Alemanha para Hollywood, a fim de não ser convertido em colaborador nazista, tal qual aconteceu com sua ex-esposa e longeva colaboradora Thea von Harbou – somente recentemente descobri (e tive acesso a) sua versão da estória da japonesa apaixonada que se entrega a um oficial fugidio do exército e, desonrada pela culpa, se mata num ritual típico de sua cultura nacional. Dizendo de outra forma, “Harakiri” (1919) é um filme alemão sobre uma tragédia japonesa envolvendo a penetração e disrupção por estrangeiros de aspectos milenares da cultura japonesa, conforme fora amplamente divulgada através de uma ópera italiana que conta estória semelhante e que se tornara conhecida no Brasil graças a um inspirado seriado mexicano de TV que realizou uma versão cômica da mesma. Eis a globalização!

Por meras coincidências, estou a ler alguns livros demasiado “acessíveis” (e isto é uma crítica negativa) sobre globalização, deslumbro-me segundo a segundo com a leitura em primeira pessoa de “Confissões de uma Máscara” (1948), obra-prima de Yukio Mishima sobre a descoberta da sexualidade pederástica e fortemente sadomasoquista de seu autor, e disponho de vários filmes em que o suicídio ritual nipônico é convocado como solução para determinante para se preservar a honra corroída de alguém. Tentei, inclusive, ver o filme de Fritz Lang que engendrou esta postagem na noite de ontem, mas a lentidão muda do filme incomodou as pessoas que transitavam pela sala. Tive que protelar. Penso em fazê-lo agora. Penso em aprender alemão através de um curso por correspondência que uma amiga emprestou-me faz tempo. Tenho que manter minha mente ocupada! Gotta halten meiner Meinung nach auf Trab!
Wesley PC>

“O QUE É, O QUE É: TEM UM OLHO SÓ, FALA FRANCÊS E GOSTA MUITO DE BISCOITOS?”

O pai do menino faz que não sabe. O garoto, então, tapa o olho esquerdo com uma das mãos e responde: ‘moi’! Era, ao mesmo tempo, um chiste e uma exigência: eu quero biscoitos! E o pai, prontamente, vai buscá-los. Alguns dias depois, ele estará morto em decorrência de um câncer pulmonar. E isto é, oficialmente, o que menos me interessa no desinteressante filme “A Última Música” (2010, de Julie Anne Robinson), que, ao final, pareceu-me minimamente simpático. Estaria eu apenas frágil e sujeito a este tipo de manipulação emotiva barata?

Por motivos diversos, o clima familiar aqui em casa está denso, pesado, desagradável. Minha mãe chora o tempo inteiro, sem motivos, e não me conta o porquê, enquanto meu irmão fica confinado o dia quase inteiro em seu quarto, desempregado e sem ter dinheiro para pagar suas altissonantes dívidas de drogas. E eu achei que ver este filme tolo, numa cópia dublada, iria alegrar minha mãe. E funcionou! Quem é que vai me dizer que agi mal?

Roteirizado pelo oportunista Nicholas Sparks, que já faturou bastante em cima do chororô adolescente em filmes como o ruim “Um Amor Para Recordar” ( 2002, de Adam Shankman) e o maravilhoso “Diário de uma Paixão” (2004, de Nick Cassavetes), este filme é protagonizado pela musa da Disney Miley Cyrus, que interpreta uma menina cheia de pantins, presa por ter roubado algo numa loja, deprimida desde que seus pais se separaram. Quando é obrigada a passar férias numa zona praiana, apaixona-se por um rapaz rico e loiro e seus dilemas existenciais assumem formas inusitadas enquanto ela tenta ler um famoso romance de Leon Tolstoi. Se, por um lado, o exemplar literário de “Anna Karenina” que ela tem em mãos faz com que ele se aproxime dela demonstrando sua capacidade citacional (“todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”), por outro, ela parece não aprender muito com o que lê e mergulha num verdadeiro mar de agonia quando não sabe o que vestir no casamento de sua cunhada, por exemplo. É evasão demais para mim, mas minha mãe parecia entretida. E eu fiz força para ver o filme até o final...

Quando dei por mim, estava achando os personagens convincentes, a trilha sonora ‘pop’ engraçadinha (“I Fell It All”, minha canção favorita da canadense Feist é executada em alto e bom som!) e o drama ‘água-com-açúcar’ me pareceu inofensivo. Pareceu, apenas. Não o era! Mas deu para entender porque tanta gente cai nesta conversinha borocoxô: quando tudo está desmoronando ao nosso redor, sonhar com um romance ideal faz a gente suspirar e esquecer os problemas por algum tempo. Minha mãe de quase 70 anos, já avançada na menopausa, talvez discorde, mas ela ficou caladinha durante quase toda a sessão, levemente emocionada com o que se passava diante da tela. E eu com fome. Fome, palavra forte, com a qual rebato através de uma citação de Knut Hamsun que eu cria lembrar, mas... Esqueci. Esqueci! Deve ser a fome...

“Assim é o amor: por ela, que não me quis, eu trocaria todas as pessoas que me quiseram sem restrições”. Não é esta a citação, mas talvez sirva!

Wesley PC>

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

das toRRentes de paixão aRRebatadoRa ao evangelismo (ou poR que só os R’s estão maiúsculos hoje)

no filme antRioRmente comentado na postagem sobre “a gaRRa das bichas velhas”, esqueci de dizeR que, na última cena, a tRavesti Real que pRotagoniza o filme é mostRada desfocada na cena final, choRando ao som de uma canção bRega que eu não conhecia Racionalmente, mas que já flagaRa o meu inconsciente (em especial, o infantil) váRias e váRias vezes na toRRente de platonismo e tendência ao óbvio suicídio que me acompanham desde a infância. e a voz fiRme e solitáRia desta cantoRa, mesmo quando se despede da solidão, estava lá comigo. hoje ela dedica-se à evangelização dos fiéis de uma dada congRegação Religiosa. sua voz potente é um instRumento eclesiástico institucional. E, assim sendo, é fácil entendeR por que só os R’s estão maiúsculos hoje!

a música mais famosa desta egRégia cantoRa com doR de cotovelo diz o seguinte:

“eu já sofRi e até choRei, sozinho sem ninguém
mas, de Repente, apaReceu. o amoR em mim nasceu
queRo bem alto ao mundo gRitaR
que sou feliz e tenho alguém para amaR
agoRa eu posso dizeR: ‘adeus solidão’
pois sei que amoR tomou conta do meu coRação”


mas o que Realmente sai de mim é isto, agoRa Re-executado em meu apaRelho de som, enquanto minha mãe choRa na cozinha e meu iRmão se dopa na varanda: “eu posso não pRestaR, mas eu te amo”, logo seguida por um lamento que Repete váRias e vàRias vezes um mesmo veRbo: “peRdoa, peRdoa, peRdoa”... peRdoa – com R maiúsculo!


tia safada, te Recomendo de coRação. pRepara-te!

wesley pc>

domingo, 24 de outubro de 2010

“...TINHA QUE SER VIADO DE VERDADE, NÃO DEITAR NO CHÃO PRÁ NINGUÉM!”

Assim a personagem real acima explica o que era ter garra na "zona" (área de prostituição) antigamente. Comparada aos famosos travestis Madame Satã e Cintura Fina, a protagonista de “Tomba Homem” (2008, de Gibi Cardoso) se emociona, no auge de seus 73 anos de idade, ao comparar a malandragem de outrora (conceito positivo) com a bandidagem de hoje em dia (constatação negativa). E, como se não fosse suficiente, assisti a este filme, na manhã de hoje, depois de ter visto um esboço de entrevista, realizado por um amigo meu enquanto exigência disciplinar para sua formatura no curso de História, sobre um personagem característico de Aracaju. Ele escolheu o homossexual Magnólia, que pode ser visto vendendo meias e calcinhas no Mercado Municipal e que, às vésperas de completar 65 anos, me mostrou que futuro é um espaço-tempo possível.

Salvo pelas celebridades marginais citadas nas primeiras linhas deste texto, nunca havia me deparado com uma bicha velha contando estórias de sua própria vida e, ao escutar Magnólia destacando o envolvimento de políticos influentes de hoje em dia no baixo meretrício, explicando como seu nariz quebrado em um ato de violência preconceituosa e ressaltando que ama o “macho” com quem vive há mais de 29 anos, projetei alguns de meus medos pessoais em sua trajetória pública. Se fosse comigo, será que eu teria sobrevivido?

No pungente esboço de entrevista que foi exposto diante de mim, Magnólia pede R$ 20,00 para dar seu depoimento, diz que não sente mais vontade de transar hoje em dia, escancara a nostalgia sentida pela cidade de Santos SP, de onde veio, e se confessa como uma devota de Elizabeth Taylor. “Tem mulher neste mundo mais linda do que ela, menino? Me diga”. Tem não. Quem sou eu para contestá-la?

Enquanto a meia-hora paga de depoimento avançada, Magnólia entupia a tela com interjeições fáticas, explicava para uma interlocutora o que era “uma pica meio dura meio mole”, declarava amor ao seu homem, mesmo quando frisava que ele costuma se embebedar e que a relação dos dois não é bem-vista pela família dele, e reclamava insistentemente que Aracaju é um lugar péssimo para vender suas roupas, “pois aqui é cheio de gente pobre”. E eu quedava-me extasiado diante da baixa resolução daquelas imagens ferinas, diante daquelas palavras humanas, demasiado humanas, que me ensinavam o significado de expressões como “Mamãe tá chegando” (gíria para ejaculação vindoura) ou “lavar o furico na beira do rio” (mais do que literal). Magnólia falava da família, Magnólia falava de si mesmo em terceira pessoa, Magnólia perguntava se ela tinha cara de velha, Magnólia dizia que era “bela e loira”, Magnólia tinha certeza interrogativa de que seu homem a amava (vive com ela desde os 17 anos de idade. Hoje tem 45!), Magnólia pedia mais dinheiro, Magnólia era gente, era pessoa, era ser vivo. Magnólia era alguém como eu, como tu, como ela mesma. Viado velho é foda!

Wesley PC>

A GRANDE MERDA SUBESTIMADA! (PRIMEIRA TENTATIVA DE REFLEXÃO)

Quando eu gosto de uma pessoa e, por conseguinte, desejo passar o máximo possível de tempo ao lado dela, sirvo-me de todos os recursos cotidianos disponíveis enquanto assuntos que possam engendrar o mínimo de interesse dialogístico. Na manhã de hoje, tomei café ao lado de uma pessoa que comemorava o fato de ter sido amparada amistosamente por um orientador monográfico tachado como pessoalmente monstruoso por quase todos aqueles que com ele se deparam e, como o mesmo é chefe de Departamento do curso de alguém que venero, comentei o contentamento de minha amiga com ele, que, ingenuamente, respondeu-me com uma mensagem de celular deveras sujeita a interpretações morais equivocadas: “como diria um grande sábio: grande merda!”.

Sei que ele não teve más intenções ao comentar isso (era apenas um chiste, conforme eu tinha certeza e o mesmo me confirmou logo em seguida), mas dediquei-me, a partir dali, a refletir sobre o papel da merda em nossa sociedade de consumo e julgamentos precipitados. Quando desgostamos e/ou desdenhamos de algo, é fácil dizer: “é uma merda!”, mas... Será que esta é uma metáfora condizente?

Vejamos: a merda (ou bolo fecal) é o resultado decorrente de uma boa digestão e o principal indício de um funcionalmente saudável de uma dada configuração corpórea. Ou seja: caga bem quem come bem (e vice-versa)! Logo, uma “grande merda”, por mais fedorenta e incômoda que pareça, é, em meu parecer, algo positivo, o que pode ser facilmente contrastado pelos depoimentos dolorosos de quem sofre prisão de ventre. Se merda fosse ruim, a indústria de laxantes não lucraria tanto ao redor do mundo!

A fim de atenuar o mau clima que poderia se instaurar entre eu e o meu inocente interlocutor, comentei com ele sobre os tolocos quase liquefeitos e mui fedorentos com que nos deparamos quando tentávamos lavar um prato no banheiro dos homens da Reitoria da UFS, na última sexta-feira. Aquilo sim era uma grande (e podre) merda! E não tinha nada a ver com o tipo de observação empolgada que eu tentara lhe transmitir através de meu comentário inicial. Aí eu tive certeza de que, nalguns casos, quando tachamos algo de “grande merda”, na verdade assumimos que não temos afinidade, interesse ou propensão analítica sobre aquele assunto, o que não é necessariamente bom ou ruim, apenas uma tomada precipitada de partido. E, como isto me incomoda pessoalmente, este assunto voltará ainda à tona neste ‘blog’...

Wesley PC>