Aos poucos, minha mãe se recupera da moléstia que a
afligiu nos últimos dias. Vomitou bastante, tomou alguns comprimidos de
cinarizina (uma substância farmacológica que ajuda a controlar os efeitos da
labirintite) e, na noite deste sábado – dia da semana que gosto bastante! –
vimos juntos um filme pretensamente merencório de Todd Solondz: “A Vida Durante
a Guerra” (2009), que, supostamente, continua os eventos tragicômicos de “Felicidade”
(1998), mas com um elenco completamente diferente. Eu não lembrava direito dos
detalhes do filme original e ela não assistiu ao mesmo, mas, mesmo assim, o
filme conseguiu nos comunicar algo: perdoar é preciso!
Nas tramas entrecruzadas do filme, um garotinho de 13 anos descobre
que o pai que acreditava estar morto, na verdade, está preso por pedofilia
homossexual. Uma de suas tias, batizada com um nome que lembra alegria, lamenta
o término de um romance recente com um ex-viciado em ‘crack’ que não consegue
controlar seus impulsos pornográficos telefônicos. Ignorado por ela, ele se suicida.
Quando ela tenta restabelecer o contato, é tarde demais: ele já estava morto.
Resta a ele aparecer como avantesma para ela, e solicitar que a mesma também se
suicide. Ele quer que ela atire em sua têmpora; ela prefere ingerir pílulas com
álcool. Ao final, uma canção-tema graciosa, escrita pelo diretor, mas
interpretada por Devendra Banhart.
Não é um filme ruim de todo, mas cansa em suas pretensões
lacrimosas ridicularizantes. Entretanto, a breve aparição de Charlotte Rampling
como uma mulher abandonada pelo marido ‘gay’, que equipara ser casada a estar
sozinha. “Estar sozinha é estar sozinha”, corrige o ex-presidiário pedófilo com
quem ela faz sexo e que rouba o seu dinheiro. Antes disso, o espectro de um
personagem falecido indica que, “nalguns casos, uma traição pode salvar um casamento”.
E, mais cedo, enquanto esperava um casal de amigos e um professor querido
encerrarem o seu almoço, eu me chateava com um entalhe publicitário de madeira,
no qual, sobre o I maiúsculo da palavra TURISMO, havia um inconveniente pingo. É só o
que posso adiantar por enquanto: foi um dia feliz!
Wesley PC>