terça-feira, 31 de março de 2009

POR QUE DIABOS ELES INSISTEM EM COLORIR OS CARTAZES DE FILMES EM PRETO-E-BRANCO?


Eu simplesmente não vejo o sentido disto. Considerando o filme em pauta (que acabo de rever), então... Mas sigamos em frente: “Pode a Dialética Quebrar Tijolos?” (1973, de René Vienet) é um dos filmes vinculados ao radical movimento Situacionista francês que seguem a fórmula do “desvio ideológico dos meios de comunicação de massa”. Ou seja, o filme, na verdade, é a simples redublagem de um filme barato de ‘kung fu’ chinês [“Tang Shou Tai Quan Dao” (1972, de Tu Kuang-chi)] em que, no lugar dos inimigos comuns, entram em cena os burocratas estatais franceses, que ameaçam o proletariado com foucaults, lacans e entidades do gênero.

A proposta do filme é demonstrar que as armas do inimigo podem ser utilizadas em prol da misteriosa revolução pretendida pelos situacionistas (dos quais, o mais famoso e teorético é Guy Debord) e, para tanto, eles sobrepõem falas panfletárias sobre os diálogos medíocres do filme original, de maneira que, ainda durante os créditos iniciais, quando o protagonista realiza acrobacias marciais, a narradora do filme desviado pede que desculpemo-lo, pois ele é apenas “mais um proletário que não sabe o que está fazendo, em virtude da coação extrema sob suas forcas de trabalho”. Daí por diante, o filme segue como se fosse uma trama de lendários heróis chineses convencionais, com o detalhe de que propagandas de livros são adicionados ao texto original, um garotinho que reclama das supostas falácias trotskistas briga com sua amada adolescente porque esta se filia ideologicamente ao movimento castrista e, quando perguntado se está namorando um adolescente, o protagonista apenas responde: “e o que é que tem isso de mais? Não possuo os seus tabus capitalistas”. Em seguida, ele recita um texto orgástico de Wilhelm Reich a fim de justificar a normalidade revolucionária de sua tara.

Evidentemente, o filme é muito engraçado, mas, para além de ele obter êxito ou não em seu denuncismo político, o que mais me incomoda no discurso dos situacionistas é que eles não apresentam uma clara proposta substitutiva para a Arte, visto que eles se revoltam até mesmo contra gênios de esquerda como Agnés Varda, Jean-Luc Godard e Pier Paolo Pasolini. Outro problema crasso do filme são suas contradições economicistas (já que as lojas situacionistas, como, por exemplo, a produtora do filme, Coruja de Minerva, são divulgadas durante a projeção desviada do filme) e discursivas (visto que o modo como a luta armada é defendida no filme desconsidera que, ao pé da letra, os inimigos do proletariado também são proletários contratados).

Mas, não se enganem ao pensar que este sobejo de contradições macula a qualidade do filme. O mesmo é genial e, por cima de todos os erros, pratica um acerto valorativo quando propõe que “qualquer pessoa que intente discursar sobre a luta de classes sem realçar os aspectos revolucionários do amor estão, em verdade, carregando um cadáver em suas bocas”. Só por isso, o filme já vale muito a pena!

Wesley PC>

Nenhum comentário: