sábado, 3 de novembro de 2012

TANTA COISA ACONTECENDO NO MUNDO E EU OUVINDO UM DISCO ‘POP’ DA TAYLOR SWIFT EM PLENA MADRUGADA: VAI ENTENDER...

Quando “Red” (2012), o disco mais recente da jovem norte-americana Taylor Swift começou a ser publicitariamente atrelado ao rótulo “’pop’-chiclete”, eu já estava relutante em adquiri-lo há muito tempo. Antes mesmo de ele ser lançado (oficialmente, no dia 22 de outubro deste ano), eu intuía que o novo disco não teria o mesmo vigor de renovação pós-adolescente da música ‘country’ estadunidense contido no simpaticíssimo “Speak Now” (2010). Tendo gostado do videoclipe da canção “We Are Never Ever Getting Back Together” (faixa 08 do disco mais recente), não me contive e, na madrugada de hoje, não apenas baixei o referido disco como já o estou ouvindo-o pela segunda vez, tendo repetido algumas faixas para melhor fruição emocional...

 Com exceção da faixa citada, do belo dueto com Gary Lightbody, vocalista da banda Snow Patrol, em “The Last Time” (faixa 10), e um ou outro momento mais gracioso, o disco é, de fato, muito inferior ao anterior e muito mais potencialmente “vendável” em seus refrões fáceis e feminilidade clicherosa. Mas não merece ser ignorado como eu previa: esta garota tem algo que me fascina, ela é linda!

 Para além dos problemas ideológicos atrelados à minha confissão de que gostei realmente do disco – um “gostei” moderado. Média 7,0, caso fosse necessário lhe atribuir uma nota – escuto-o com um sorriso faceiro no rosto, enquanto meu irmão e minha mãe felizmente dormem, depois de uma sexta-feira atribulada. Aliás, conversei com alguns amigos próximos há pouco – amigos estes que também estiveram melancólicos mais cedo – e eles asseguraram-me que vão tentar dormir, não obstante os temores envolvendo pesadelos sobrenaturais. De minha parte, preparo-me para tomar banho, vestir a minha cueca samba-canção e torcer para que, na manhã de amanhã (ou hoje), os sonhos bobocas emulados por algumas das letras da Taylor Swift se tornem realidade. Pois, como ela canta em “Sad Beautiful Tragic” (faixa 12):

 “In dreams, I meet you in warm conversation 
We both wake in lonely beds, and different cities
 And time is taking it's sweet time erasing you 
And you've got your demons and darling they all look like me
Cause we had a beautiful magic love there 
What a sad beautiful tragic love affair” 

 Ooooh! Eu tenho culpa de estar sempre apaixonado? Isso vende, eu sei. E o pior é que eu pareço comprar...

 Wesley PC>

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SOBRE TER MEDO DA SOLIDÃO OU ALGO PARECIDO...

Oficialmente, hoje é sexta-feira, noite de feriado fúnebre. Mas, ao mesmo tempo, parece sábado de festa, véspera de folia. Nalguns lugares, pessoas dormem; noutros, pessoas comemoram, anseiam pela presença alheiam. Em ambos os casos, pessoas vivem... E eu e minha mãe aqui em casa, esperando que meu irmão caçula não sofra nenhum acidente, visto que está conduzindo sua motocicleta com o pé torcido e inchado, em razão de uma contusão futebolística matutina. Sem contar que ele bebeu, se entupiu de 'crack' e falou sobre perspectivas futuras de morte familiar a tarde quase inteira. E eu dormi. Ao acordar, lembrei da beleza do jovem modelo paraibano Raiandrey Resende. Admiro-o, mas estou preocupado com o bem-estar de meu parente consangüíneo mais imediato (depois da nossa mãe, é claro!). Estou bem-acompanhado, oficialmente!

Wesley PC>

É DEMASIADO IRRACIONAL QUE, HOJE EM PARTICULAR, EU AME TANTO ESTE MUNDO QUE ME CERCA?

Uma das pessoas que mais admiro e amo neste mundo acordou irritado consigo mesmo na manhã de hoje e resolver descontar no mundo, desejando que ele se acabasse. Entendi que era um efeito colateral do cansaço – atrelado ao uso de substâncias farmacêuticas que desaprecio – mas, mesmo assim, precisei interceder, suplicar que ele não ficasse tão agressivo, que abrisse o coração para um mundo que, sim, assusta e fere, mas, afinal, é lindo, possui algo a ser amado, muito a ser amado, aliás!

 Em homenagem a esta pessoa – aquele que calhou de ser baseado Jadson, um amigo de longa data, um ser vivo ao qual devo muito do que sou hoje – assisti a um dos filmes que ele me emprestou: “O Rito” (1969, de Ingmar Bergman), sobre um trio de atores que é interrogado por um juiz encarregado de aprisioná-los por encenação ofensiva. Dividido em cenas rigorosamente situadas em seus cenários (uma sala de interrogatório, um camarim, um bar, etc.), o filme expõe as angústias de seus personagens para, afinal, desembocar numa encenação magistral da peça lasciva que engendrou a acusação... Por mais expectativas positivas que eu tivesse depositado sobre o filme, ele conseguiu me superar ainda mais: genial!

 Ao final do filme, saí da sessão ainda mais apaixonado pelo mundo do que antes: amo este mundo, amo este mundo, amo este mundo! E, para que este amor seja ainda mais justificado, a correlação entre a cena metonimizada na imagem e um sentimento ruim que, afinal, foi dissipado no início da noite de ontem é premente: Ingmar Bergman povoa-me de amor!

 Wesley PC>

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

“ESTOU SENTINDO O CHEIRO DE UMA COISA GOSTOSA CHAMADA DINHEIRO!”

Mais uma vez, adentro a madrugada empolgado após ter visto um filme do canastrão Francisco Cavalcanti. Produtor, diretor, roteirista e protagonista de quase todos os seus filmes, este cineasta possui um dos ‘corpus’ mais coerentes da Boca do Lixo paulistana. Tão coerente que, tamanha a semelhança entre seus enredos sobre justiceiros para-policialescos, parece até que ele está sempre a realizar o mesmo filme, eventualmente piorado. Mas, ao mesmo tempo, quanta garra, quanta vontade de filmar e contar uma história!

 O que mais me impressiona no cinema deste diretor é, obviamente, o seu senso moral(ista) deveras exacerbado e senso-comunal em sua adesão aos clichês e convenções de um arremedo de gênero melodramático-pornográfico essencialmente tupiniquim. Em “Os Violentadores de Meninas Virgens” (1983), como não muito diferente de suas obras que vi anteriormente, a trama está rigorosamente sintetizada em seu título: numa cidade interiorana, as moçoilas virgens (não necessariamente bonitas) são seqüestradas por uma gangue de criminosos para, em seguida, serem vendidas a milionários com tara por cabaços. Quando assassinam a noiva grávida e o cunhado de um tintureiro, este resolve investigar por conta própria os crimes (visto que as moças raptadas eram mortas depois de estupradas), mas é também seqüestrado e, no cativeiro, descobre que a filha de um dos milionários é raptada por engano, o que adiante e hipertrofia o tiroteio do final do filme. O detalhe: ao som de canções interpretadas por Lionel Ritchie e Giorgio Moroder, esta moça praticava sexo anal com seu namorado, a fim de conservar o hímen intacto, para poder “se casar virgem” num futuro idealizado. A derradeira imagem do filme é o justiceiro pré-viúvo diante do cadáver de um dos criminosos (interpretado pelo recorrente Satã), morto numa piscina, enquanto uma fila horizontal de moças violentamente defloradas se alinha atrás dele. Encerramento mais paradigmático em relação a esta variação ‘exploitation’ da Bica do Lixo impossível!

 Um aspecto cabal do cinema cavalcantiniano é que, por mais moralista e bem-intencionado que ele seja em suas resoluções dramáticas, o modo como ele sujeita suas vítimas a cenas de humilhação sexual fetichisticamente contempladas pela câmera beira o contraditório. Numa cena-chave, inclusive, vemos o protagonista proclamar para alguns repórteres interessados num depoimento seu, quando ele saída do funeral de seus convivas, que não vai comercializar a tragédia de seu melhor amigo e de sua noiva. Numa cena seguinte, acompanhamos o banho voyeurístico de uma das raparigas virgens que seriam seqüestradas pelos desalmados criminosos do filme. O detalhe pitoresco: levamos a sério o que o avatar personalístico de Francisco Cavalcanti fala, ao mesmo tempo em que nos deixamos confundir desejosamente com os marginais do enredo, obcecados pela concretização de seus mórbidos impulsos eróticos. Como não se sentir atraído por um filme destes? Como não admitir que ele tem muito o que ser estudado? A cada nova produção do Francisco Cavalcanti que tenho o prazer de conferir, percebo o quanto eu me equivoquei ao condená-lo negativamente nos contatos iniciais: ele é um, gênio incompreendido, no sentido mais artesanal e emergencial do termo. Sou fã!

 Wesley PC>

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

E EU TENTEI... NOSSA, COMO EU TENTEI!

E, como sói acontecer comigo, falhei mais uma vez...

Espreitei por debaixo da fresta da porta do banheiro, suportei uma discussão familiar alheia, cheirei pé com chulé, rastejei no chão, esfreguei meus dedos num cu, lambi pescoço, esfreguei os peitos com as minhas mãos, mas, no que tange à fricção fálica, não teve jeito. Pelo menos, a rejeição foi parcial: talvez o meu 'petenho' ainda não esteja completamente perdido...

"E a esperança conduz à decepção", apregoou o intérprete de Jesus Cristo (ou de Satanás, não me lembro bem) num filme do Hal Hartley... Quem vem me dizer que ele está errado?

Wesley PC>

terça-feira, 30 de outubro de 2012

... E O PROBLEMA SEGUE SENDO COMIGO!

Depois da imperativa necessidade de resgate que experimentei em relação à obra genial (e, até então, subestimada por mim) de Hal Hartley, surgida após a audiência ao interessantíssimo “As Confissões de Henry Fool” (1997 – vide descrição da experiência aqui), dedico-me intensivamente à filmografia peculiar deste cineasta nova-iorquino tão pitoresco. E, se “Confiança” (1990) fez uma de minhas melhores amigas chorar e se “Simples Desejo” (1992) me encantou pela intromissão benfazeja da problemática contida em seu título nacional, o curta-metragem “The New Math(s)” (2000), visto na manhã de hoje, fez-me entender por que eu cria que desgostava deste diretor...

 Associado ao estilo godardiano de criação de personagens, Hal Hartley se deixa levar pelas pressões “alternativistas” e às vezes força a barra. Se esta forçação funciona muito bem na metafísica discussão acerca do fim do mundo em “O Livro da Vida” (2000), ela fracassa sobremaneira em “The Girl From Monday” (2005), filme que fez ressurgir a desconfiança em sua obra, no início deste ano. Mas ele é muito melhor do que eu esperava: por mais que eu tenha desgostado muito de “The New Math(s)” – na verdade, não entendi nada da proposta pretensiosa e dançante do filme – pressinto que Hal Hartley ainda me surpreenderá bastante nos filmes dele que ainda não vi. Faltam poucos. E, sim, estou escrevendo para disfarçar a melancolia...

 Wesley PC>

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O PROBLEMA DEVE SER REALMENTE COMIGO...

Hoje eu tive um sonho recorrente – não em relação aos seus elementos (apesar de uma pessoa-chave reaparecer com freqüência em meus desejos subconscientes), mas no que diz respeito à sua temática: um atraso decorrente de uma carência sexual. No sonho, a cantora canadense Alanis Morissette apresentaria seu novo disco, “Havoc and Bright Lights” (2012, comentado aqui) num salão de espetáculos aracajuano, o Gonzagão, localizado no conjunto residencial Augusto Franco, onde mora uma de minhas melhores amigas, tornada mestra em Literatura na manhã de hoje. Um interesse particular na canção “Woman Down” fez com que eu me apressasse e comprasse dois ingressos: um para mim e outro para uma guria que estudou comigo na sexta série, Dalvani, a quem não vejo faz muito tempo. No dia do espetáculo, entretanto, fiquei ocupado: o meu “fornecedor” habitual (mas fugidio há quase dois meses) de sêmen estava sozinho em casa e queria conversar comigo, despindo-se previamente para garantir a minha aceitação de seu convite. Não relutei em estar a seu lado, mas, ao mesmo tempo, eu queria ir ao concerto da cantora, outrora uma de minhas favoritas, inclusive porque o ingresso de Dalvani estava comigo e a lotação do evento estava esgotada. Antes que eu soubesse o que fazer, fui acordado por minha mãe: uma de suas amigas seria internada contra a vontade num asilo geriátrico hoje. E, quando o telefone tocou, recebi a notícia de que teria de correr se quisesse assistir à defesa da dissertação de minha amiga. Corri, portanto!

 Ao voltar para casa, assisti ao curta-metragem de Kenneth Anger “I’ll Be Watching You” (2007), sobre um vigilante de estacionamento para automóveis que observa, através do vídeo, um colega de profissão fazendo sexo com um guarda-costas russo no ambiente que ele estava supervisionando. O filme tinha tudo para ser sensual e coerente se, de repente, o diretor não interrompesse a perspectiva da câmera para focalizar o homem musculoso que estava sendo chupado pelo outro iluminando o seu pênis molhado com uma lanterna. Qual a função deste plano? Não entendi, mas me senti incomodado quando o diretor me forçou a ser cúmplice de tal ato, até porque, desde o momento que o clássico “Every Breath You Take”, do The Police, começou a ser executado na trilha sonora do curta-metragem, eu estava emocionalmente arreganhado: estou com um incômodo problema emocional irresolvido. Isso está a me destruir...

 Wesley PC>

“O AMOR É VIDA E, COMO A VIDA ACABA RÁPIDO, O AMOR ACABA RÁPIDO TAMBÉM!”

Quando me dispus a ver “Colegiais em Sexo Coletivo” (1985, de Juan Bajon), meu interesse dominante era muito mais científico do que entretenedor: como este filme faz parte do escopo analítico de minha pesquisa de Mestrado – em termos limítrofes etários, para ser específico – tive que prestar atenção redobrada à exibição, no sentido de que cada frase, cada movimento de câmera, cada gesto actancial, cada gozada...

 De fato, por ser um filme pornográfico (logo, centrado em casais que fazem sexo), o filme não estava sendo exitoso no que tange à minha excitação sexual, visto que tenho um problema reiterado em me interessar libidinosamente pelos atos eróticos de entrosamentos penetrativos, mas me encantou sobremaneira em seu registro minucioso dos preconceitos da classe aquisitivamente dominante na década de 1980: a classe média emergente e universitária. Logo na primeira seqüência, filmada no Motel Bariloche, os três (supostos) casais de jovens que fazem sexo divergem opinativamente acerca do filme pornográfico estadunidense que estava sendo exibido num televisor do motel. Um dos rapazes, em pé e se masturbando – com um pênis tão grande quanto um jegue, segundo um comentário de seus colegas – confessa que prefere os filmes pornográficos estrangeiros, visto que, segundo ele, no Brasil, os atores atuam com “os paus moles”, o que é inadmissível para ele. Uma das moças acrescenta que acha um absurdo a falta de profissionalismo das atrizes no País, visto que, segundo ela, algumas até mesmo cometem o disparate de tentarem ser estrelas de telenovelas, mas logo são despachadas por falta de talento. Está claro que o produtor, roteirista e diretor Juan Bajon estava alfinetando os colegas da Boca do Lixo paulistana que abandonaram a produção de filmes eróticos depois que estes sucumbiram ao sexo explícito, problema-chave de minha futura dissertação de mestrado. Mal conversaram e (não) chegaram a um consenso, e o elenco já estava fodendo e gemendo...

 Mais tarde, um dos casais é priorizado pela câmera e pelos microfones: ele estuda engenharia e recusa-se a trabalhar para o pai, visto que este é muito rigoroso até mesmo na hora de dar a mesada. Ela é formanda em Letras, mas, segundo ele, teria mais sucesso financeiro se fosse prostituta, por causa de sua “cara de gueixa ninfomaníaca”. Numa seqüência seguinte, uma estudante de Enfermagem recusa-se a conversar sobre a morte com seu parceiro sexual, que estuda Ciências Econômicas e também se recusa a trabalhar na indústria do pai rico, preferindo, fazer carreira no exterior. Apesar de ela concordar que ele tem cara de grã-fino, ela nota que suas mãos parecem de operário. Deixa estar que, sem que eu imaginasse, tanto as moças quanto os rapazes estavam mentindo acerca de suas condições sociais: elas não são filhinhas-de-pai e eles trabalham numa oficina mecânica. Fiquei absolutamente impressionado e satisfeito com esta brilhante mudança de tom no enredo, que, afinal, demonstra-se crítico e não apenas reiterativo (ainda que documentalmente) como nas seqüências anteriores...

 Seguindo em frente na descrição narrativa da trama do filme, os três casais juvenis resolvem passar na casa de um casal de michês que promovem bacanais orgiáticas, enquanto cuidam de seu filho pequeno. O detalhe: apesar do clima de suruba, cada um continua transando com quem já estava transando antes, salvo por uma briga manifesta quando a prostituta se recusa a participar de uma penetração dupla que não envolva o seu marido. Mais: se eu estava a reclamar que o filme não me excitava, isso deixou de ser verdade quando a referida prostituta atendeu ao telefone chupando o pau de seu marido e comentando que “Deus incentiva a sacanagem”, visto que, freqüentemente, bispos e madres superiores buscavam-nos para foder. Um escândalo a coragem denuncista do filme, considerando-se o ano em que fora produzido...

 Apesar de não ser tão interessante quanto os produtos congêneres de Fauzi Mansur, Ody Fraga ou Jean Garrett, que inserem o sexo explícito num contexto muito mais autoral, o diretor Juan Bajon (de quem, até então, não vi nenhum filme além desse) merece créditos encomiásticos mais pela surpreendente inversão de perspectiva roteirística do que pela condução do filme em si. Mas, tenho que confessar, o garotinho mimado que transa com a garota oriental atraiu a minha atenção muito mais do que a sua ejaculação abundante na câmera faz pressupor. Ou seja, assistir a este filme fez com que eu me sentisse um pouco mais inteligente e sagaz, ainda que não necessariamente "erétil" diante deste tipo de produto audiovisual!

 Wesley PC>

domingo, 28 de outubro de 2012

“OS VERDADEIROS GÊNIOS COSTUMAM DEIXAR MAIS DE UM TIPO DE VIÚVAS”...

Nunca tinha ouvido falar de “Para Não Falar de Todas Essas Mulheres” (1964), filme que o genial cineasta sueco Ingmar Bergman realizou entre a sua famosa “Trilogia do Silêncio” [composta por “Através de um Espelho” (1961), “Luz de Inverno” (1962) e “O Silêncio” (1963)] e a obra-prima “Persona – Quando Duas Mulheres Pecam” (1966). Tive acesso a esta produção inusitada casualmente, vasculhando a programação de TV, enquanto tentava aplacar uma agonia que me asfixiava: não ter com quem conversar ‘in loco’. E, para meu espanto e pretenso conforto, o filme era uma comédia colorida e não um angustiante e maravilhoso filme experimental, conforme eu esperava...

 Na verdade, rejeitar a chancela de experimental a qualquer produção bergmaniana é uma injustiça: o filme é muitíssimo diverso de qualquer coisa que ele tenha realizado (ou que, pelo menos, eu tenha visto até então), sendo uma mistura de “As Mulheres” (1939, de George Cukor) com o estilo paródico em relação ao cinema mudo contido nalgumas ‘gags’ da primeira fase do cinema de Woody Allen. Admitirei de antemão: não estava apreciando muito o filme durante a sua projeção (até porque estava sonolento), mas, assim que a sessão findou e eu comecei a juntar as peças do enredo, constatei não apenas que o filme era genial como me contemplava pessoalmente, em razão dos chistes percucientes acerca da função do crítico de arte e, por extensão, do gênio artístico.

 Logo no início, uma citação goetheniana genial: “gênio é aquele que faz o crítico mudar de idéia”. Assim comenta alguém durante o funeral de uma grande violoncelista, que recebe o vaticínio “a mesma pessoa, porém diferente” das várias mulheres que o amaram em vida e que ainda sentem a sua falta após a morte. Subitamente, um intertítulo aparece na tela e passa a narrar o que houve quatro dias antes da morte do artista, quando o crítico e pretendido biógrafo acabara de chegar à sua residência, e o confunde com seu mordomo, visto que “ambos são muito parecidos”. Tal qual o filme cukoriano citado, o rosto do músico não aparecerá em nenhum momento do filme, mas, ainda assim, ele será perfeitamente compreendido a partir das várias mulheres que o cercam, todas com temperamentos fortíssimos e rebatizadas com nomes de personagens de óperas: há a esposa compreensiva com o arremedo de poligamia do marido, a empregada encantada, a mulher mais velha que o aceitara como gigolô, etc., e as piadas (visuais) se amontoam enquanto isso...

 Interpretado afetadamente por Jarl Kulle, o crítico Cornelius incomoda por seu histrionismo, mas, gradualmente, conquista o meu afeto, por realmente acreditar na função que desempenha, ou seja, a perpetuação da fama de um artista após a sua permanência física na Terra. Falar mais sobre o filme, por ora, não me é possível, visto que adormeci durante a sessão (em algumas cenas pontuais, para ser preciso), mas, como sei que ele será reapresentado no dia seguinte a esta sessão que tive o prazer (pouco compreendido, de início) de conferir, já estou ansioso pela segunda e definitiva sessão. Definitivamente, Ingmar Bergman é um destes seres geniais, que tornam verídicas tanto a piada que intitula esta postagem quando a citação goetheniana que me tomou particularmente de assalto. E, como diz a advertência inicial do filme, “qualquer semelhança entre este filme e aquilo que chamam de vida real não passa de mero absurdo”. E viva os absurdos!

 Wesley PC>

O MESMO ASSUNTO, A IDÉIA FIXA...


"Estar mal não é desculpa para fazer o mal ou despejar a cólera em outrem... 'Colhe-se o que se planta!'. De minha parte, estou colhendo o fel, a fúria, a ingratidão, a malevolência e a pusilanimidade que tu deixaste em meu caminho. Tudo isto fede a vergonha! Tu estás se demonstrando como o maior fracasso de minha vida miserável, a mais incurável ferida que já se atravessou diante de mim... TU ESTÁS ME DESTRUINDO! Espero que estejas orgulhoso disto".

E, ao contrário do que sugere o título nacional do filme do Jack Arnold, a ameaça não veio do espaço, ela sempre esteve aqui: a culpa é nossa, é humana. Sobretudo - e abaixo de tudo - humana!

Wesley PC>