sábado, 26 de fevereiro de 2011

“MEU DEUS, ATÉ MINHA SOMBRA É PEQUENA!” (OU A CONFISSÃO QUE EU NÃO DEVERIA TER FEITO? – PARTE 2)

Na noite de ontem, um dos rapazes que eu mais achava bonito em 2000 me visitou no trabalho, também perguntando-me questões de trabalho. Estava gordo, com cara de velho (apesar de ser um 5 anos mais jovem que eu), visivelmente perturbado no plano psicológico. Pedia que eu o tratasse como se não o conhecesse e depois me fazia perguntas sobre o que eu achava que ele deveria fazer com sua vida acadêmica. Perguntou-me como se faz para cancelar definitivamente o vínculo com a universidade e, segundos depois, pediu que eu encontrasse uma disciplina eletiva com vagas disponíveis, a fim de que ele não fosse desligado da UFS. Antes ele era aluno de Jornalismo e meu amigo, tendo me carregado consigo a algumas sessões espíritas ‘lato sensu’; hoje, ele é estudante de Psicologia, tem medo de mim e se sente um inútil. Definitivamente, a passagem dos anos não lhe fez bem. Fiquei com pena, tentei ajudá-lo, ofereci-lhe o número de celular, caso ele quisesse conversar comigo depois, mas ele ficou andando em círculos (literalmente!) por alguns instantes e recusou a minha oferta. Fiquei tomado pela compaixão e pela impotência: ele era um amigo, ele era um rapaz bonito, ele era tão inteligente e empolgado... E hoje... Quem sou eu para julgar?!

Dormi incomodado com este encontro, ainda que não o admitisse a mim mesmo, e, ao despertar na manhã de hoje, assisti ao longa-metragem animado “Leitão – O Filme” (2003, de Francis Glebas), sobre o reconhecimento tardio dos feitos heróicos do pequenino personagem-título, que sempre está lá para corrigir as trapalhadas de seus amigos: o desastrado e guloso Ursinho Puff, o histriônico Tigrão, o arrogante coelho Abel e o lamentoso burrico Bisonho (*observação: utilizo os nomes abrasileirados dos personagens, conforme fui acostumado a partir da dublagem da série animada a que eu assistia na infância). No filme, Leitão se sente tão diminuído pela empolgação alheia que demora a perceber que, mesmo sendo pequenino, pode ajudar muito aos outros. E, ainda que o filme não seja bom, é como se ele estivesse me enviando um sinal: ao meu redor, as pessoas estão precisando de ajuda. Estão tão tristes e enfeados por causa dos problemas que eu pergunto: o que eu posso fazer para que eles não continuem a se degradar assim? E se estiver acontecendo o mesmo processo comigo, meu Deus?! Socorro!

Wesley PC>

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

BLOQUEIO CRIATIVO (CAUSA)


Eu tô precisando. Pausa. Sou dependente da musificação alheia (ou de alheios, melhor dizendo). Pouco mais de um mês se passou. É grave: perdoem-me pelo indício de bloqueio criativo!

Wesley PC>

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A CONFISSÃO QUE EU NÃO DEVERIA TER FEITO?

Em verdade, não estou confessando, mas talvez apenas pensando na confissão: é uma confissão para mim mesmo, um desvio egocêntrico, um consolo invertido, um tapa de pelica em minha própria cara. Tudo começou há alguns anos, quando eu fui a uma boate ‘gay’ pela primeira vez. Ou poderia ter recomeçado ontem, quando um grui que me fez perceber que tenho problemas com beijos até mesmo quando estou apaixonado me visitou no trabalho, perguntando-me questões de trabalho. Há alguns meses, ele recusava-se terminantemente a falar comigo. Quando precisou de meus serviços profissionais, entretanto, o subterfúgio utilizado era o de que ele achava que era eu quem não queria falar com ele. Por que eu ousaria recusar falar com alguém de quem eu gostei tanto? Por mais ou menos três semanas, inclusive, digamos que ele foi um arremedo de proto-pseudo-semi-namorado. E, agora vem a confissão: ontem, ao revê-lo, achei-o quase feinho. Deve ser de tanto beber, de tanto faltar aula, de tanto se dopar, sei lá... Ele me reclamou que reprovou em todas as matérias em que esteve matriculado no período passado, pois não tinha ânimo para comparecer às aulas. Eu entreguei-lhe meu número de telefone, um tanto esperançosamente, como se meus julgamentos atualizados e decepcionados sobre a sua beleza física atual fossem o que de menos importasse em nosso resquício tardio e desgastado de relacionamento. Acho que sou mesmo muito besta. E quando eu gosto, não tem volta. E, se eu fosse enumerar os cinco rapazes de quem eu mais gostei, será que ele estaria nela? Uma nova confissão futura responderá...

Wesley PC>

NÃO ATENDO MAIS TELEFONEMAS DESCONHECIDOS EM DIAS DE FOLGA!

Por causa do desgosto televisivo que experimentei ontem à noite, acordei com fastio cultural na manhã de hoje. Até por volta das 10h, não queria saber de filme nenhum, de música nenhuma, de livro nenhum. Por sorte, este fastio passou depois que resolvi ligar para minha chefa e pedir o dia inteiro de folga, estava precisando. Como hoje foi o dia em que foi divulgado o resultado da primeira fase de matrícula da UFS, meu telefone celular não parava de tocar e as redes sociais de que participo ficaram entupidas de recados sobre minhas atividades como recepcionista do DAA. Dei de ombros e só atendi a quem eu realmente prezo. Estou de folga, ora bolas!

A fim de coroar esta decisão, assisti por acaso a um filme demasiado acadêmico e monarquista [“Maldito Futebol Clube” (2009, de Tom Hooper)] sobre um técnico de futebol que assume a liderança do time contra o qual mais disputou em jogos passados, quando comandava o principal rival do mesmo. O que mais me irritou no filme – para além dos adjetivos já utilizados, demeritórios em razão de meu embate direto contra a hipertrofia por parte da crítica em relação a sua apreciação directiva – foi transformar um esporte que geralmente inspira paixões acaloradas numa espécie de aula de Administração, num pasticho explicativo do que seriam organogramas narrativos em vias de embate cronológico num filme. Ao final, termina sendo um filme minimamente interessante, graças ao talento dos atores envolvidos, mas me serviu como admoestação definitiva daquilo que eu NÃO devo fazer quando estiver de folga: atender a números desconhecidos em meu celular, jamais!

E, se me serve de consolo, consegui obter deferimento em todas as disciplinas que solicitei para este período, o que, definitivamente, não tem nada a ver com o tipo de trabalho que exerço! (risos)

Wesley PC>

SABE UM FILME ÓTIMO E ASSUSTADOR? ENTÃO...

Minha mãe sonhou que minha cunhada e meu irmão mais velho estavam com os cabelos longos, estirados e pintados de loiros. Oficialmente, os cabelos de minha cunhada já são pintados de loiros, mas, como meu irmão é negro, a combinação capilar assustou a minha mãe, que acordou preocupada com o que esta emanação de seu subconsciente quis dizer.

Às 13h, quando eu me sentei no sofá para almoçar, ela me acompanhou durante a sessão de “A Maldição dos Mortos-Vivos” (1988), clássico de Wes Craven que sempre me intimidou, desde a infância. Até hoje, porém, nunca havia tido a oportunidade de vê-lo na íntegra. Como me fez bem assisti-lo!

O título original do filme pode ser literalmente traduzido como “A Serpente e o Arco-Íris”, o que denota que o roteiro do mesmo é mais imbuído de mistério do que o seu desviado título nacional faz pensar... A trama se passa em 1985, no Haiti, república centro-americana molestada pela miséria, pela magia negra e pela tirania de Baby Doc. Neste lugar, experimentos populares com pessoas falecidas são realizados, de maneira que estas ressuscitam demasiado servis, obedecendo aos comandos ditatoriais de quem lhes oprime as almas. Um antropólogo norte-americano resolve investigar o foco destes experimentos, a fim de que possa comercializá-los com intuitos mais “nobres”. Mas brancos oportunistas não são bem-vindos naquele país...

O que acontece depois que o personagem de Bill Pullman chega à cidade de Porto Príncipe só demonstra o quanto Wes Craven é genial em sua adaptação certeira de uma estória baseada em fatos reais e quanto o cinema de horror oitentista não fuçava preso a sustos baratos, mas estava atrelado a um contexto político mais amplo, em que a multiplicação de sustos diz respeito a uma tendência nata dos opressores, que sentem prazer em ver seus inimigos inferiorizados gritando por gritar... Vide a cena em que um militar aterrador empala o saco escrotal do protagonista com um pé-de-cabra, isso para ficar apenas num exemplo óbvio. Ótimo filme, recomendo!

Ah, sim: no meio da sessão, minha mãe saiu da sala, apesar de estar gostando tanto do filme quanto eu. Pedi que ela voltasse, que ficasse comigo até o final, mas ela disse que não, pois temia sonhar com aqueles zumbis mais tarde, quando dormisse. De coração, eu a entendo. Tomara que eu não tenha pesadelos também (risos)...

Wesley PC>

O TÉDIO FALSO, O TÉDIO IMPOSTO...

Às vezes, a gente escolhe propositalmente o caminho errado a se seguir numa bifurcação... Como a escolha foi ostensivamente voluntária, arrepender-se não resolve muita coisa. Como é triste falar mal dos outros, mas, de vez em quando, é necessário. Será mesmo?

Tomemos o meu exemplo e falemos mal de mim: dentre tantas opções de divertimento disponíveis para a noite de ontem (havia um livro de Johan Wolfgang Goethe em cima da mesa, um filme clássico do Hal Ashby sendo exibido na TV, uma mãe carinhosa querendo conversar após a sua telenovela noturna, etc.), encasquetei de visitar um rapaz querido, com o qual perco francamente o contato à medida que ele envelhece e se embrenha cada vez mais nos prazeres dúbios do álcool e das novas companhias a ele atreladas. Como tenho plena ciência de que “amar é fazer concessões”, desdenhei provisoriamente do livro, do filme e do carinho materno e fui ver se conseguia uma ejaculação na rua. A duras penas!

Menos de meia-hora depois, estava agoniado para voltar para casa. No local em que eu estava, três programas desagradáveis se revezavam: na mesa, garrafas em tamanho máximo de cerveja, que eram servidas por uma mãe de família sarcástica no que tange ao modo como seus convidados ingeriam o referido líquido; no computador, imagens de uma rapariga nua ao lado do namorado, moradores do bairro em que habito, cujas fotos foram ilegalmente depositadas na Internet, fazendo com que um dos convidados tachasse-nos de “paus no cu”, “Zé ruela” e outras expressões chulas demeritórias só porque momentos de intimidade do casal foram pirateados por desvirtuadores masturbacionais mal-intencionados; e, finalmente, na TV, o famigerado “Programa do Ratinho”, uma das coisas mais abomináveis que podem ser realizadas em matéria de atração televisiva. Reservo um parágrafo à parte sobre a ojeriza que a audiência a este programa me causou:

Desorganizado de propósito, falsamente bagunçado, focado no que de pior seus convidados e entrevistados têm a oferecer, o tal “Programa do Ratinho” surpreendentemente fisgava a atenção dos convidados daquela sala. Inicialmente, porque os cantores sertanejos Milionário & José Rico, admirados pelo chefe da família que me acolhera, estavam no palco do ridículo apresentador Carlos Massa, mas, em seguida, porque o programa era popularesco, exacerbava os instintos mais vulgares dos indivíduos ali presentes, mostrando mulheres gordas completamente nuas e vilipendiadas, modelos famosas fingindo constrangimento ao confessarem suas novidades românticas e empregados técnicos fingindo raiva por serem zombados por causa da suposta homossexualidade sub-reptícia. Foi demais para mim: o nojo era extremo e indescritível! Não tanto pelo que via na TV, mas por ver aquilo causando efeitos naquelas pessoas que eu tanto gosto e que, num contexto tão semelhante, me levaram a escrever, noutros tempos, uma crônica tão elogiosa às benesses da exploração comercial da cultura popular... A culpa é minha, não é possível! Minha, minha e minha!

Wesley PC>

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O VELHO RECURSO DA “MÚSICA DO DIA”:


“They will not force us
They will stop degrading us
They will not control us
We will be victorious”


Este refrão não me sai da cabeça hoje e, definitivamente, otimismo não é o meu forte. Otimismo político-reivindicativo, então, nem pensar! Fica o convite...

Wesley PC>

MEU SUBCONSCIENTE ME PREGOU UMA BOA SURPRESA NA ALVORADA DE HOJE!

Apesar de eu ser pontual e gostar de acordar cedo, minha mãe volta e meia tem dificuldades para me acordar pela manhã: quase sempre desperto sobressaltado, pois tenho que entrar no trabalho às 8h e costumo dormir com a madrugada já avançada. Antes de dormir, na madrugada de hoje, porém, incuti uma mensagem desejosa em meu subconsciente: “desejo acordar antes das 6h da manhã, pois preciso ver um filme raro que será exibido uma única vez no Canal Brasil”. E não é que, ás 5h45’, eu já estava de pé?

Pois bem, o filme em pauta era “O Padre e a Moça” (1965), de Joaquim Pedro de Andrade, filme que foi proibido pela Censura quando de seu lançamento, em razão da aridez de seu tema: numa cidadela do interior de Minas Gerais, um padre (Paulo José, bonito e jovem) se vê seduzido por uma moça triste (Helena Ignez, linda, jovem e maravilhosa!) que é obrigada a se deitar como se fosse esposa com o homem que a criou como filha (Mário Lago, já idoso). Além disso, a moça alimenta a paixão ardente de um comerciante local (Fauzi Arap), que percebe de antemão que o padre também se apaixonaria por sua amada, suspeita de conluio com o padre anterior, recém-falecido.

A evolução e conclusão do filme podem não ser de todo surpreendentes para os padrões atuais, mas, no que diz respeito ao talento de Joaquim Pedro de Andrade, surpreendeu que ele estivesse muitíssimo mais intimista do que a efusão nostálgico-documental, satírico-patriótica, político-contestatória ou erótico-existencial de seus outros filmes [“Garrincha, Alegria do Povo” (1963), “Macunaíma” (1969), “Os Inconfidentes” (1972) e o episódio de sua autoria em “Contos Eróticos” (1977), respectivamente]. Só por isso, o filme já vale muito e, como tal, agradeço deveras a meu subconsciente por ter me despertado a tempo: OBRIGADO!

Wesley PC>

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A MELANCOLIA E A INQUIETUDE, SIM, SR. WIM WENDERS, EU AS MANTEREI COMIGO!

Wim Wenders usa óculos com aros muito grossos desde a infância – e é um homem triste e agoniado. Ou, ao menos, deixa isso transparecer em seus filmes. Nos antigos, nos ótimos, principalmente. Acabo de ver “Movimento em Falso” (1975), na TV, e a trilha sonora pausada e dilacerante do Jürgen Knieper não me sai da cabeça: que filme triste! Triste mesmo, a tristeza pela tristeza, no mais apreciável sentido da expressão...

Aliás, tendo visto este filme agora, pergunto: como enfrentar um árduo expediente de trabalho depois disso? Fico cá a imaginar como se dá a organização das programações televisivas: seria realmente adequado exibir um filme destes pela manhã?! Se, por um lado, calhou de eu estar de folga na manhã em que ele foi exibido, por outro, que langor extremo me toma agora. Como erguer a cabeça depois de tanta melancolia e de tanta inquietude, ambos os sentimentos aconselhados como sendo ideais para quem deseja ser escritor, para quem deseja travar contato com as pessoas ao redor...

No filme, o protagonista (Rüdigler Vogler) vaga por cidades-dormitório germânicas depois que sua mãe, preocupada com toda a sua amargura, lhe compra uma passagem. No caminho, ele se depara com um ex-corredor nazista, com uma trapezista muda (vivida pela jovem e linda Nastassja Kinski), com uma atriz com perene expressão de sofredora (Hanna Schygulla, igualmente linda), com um poeta afetado e com um industrial solitário, que se enforca na escadaria de sua própria residência. Em mais de uma seqüência longa, os personagens caminham e conversam sobre as dores do mundo. Um louco abre a janela e pergunta aos transeuntes se eles sabem o que é a dor. Não há resposta. Ao invés disso, o velho maratonista sangra pelo nariz. “É a lembrança”, diz ele, que complementa mais tarde. “O paradoxo da solidão: ela nos preenche com a sensação da segurança”. Glupt!

Infelizmente, os filmes mais recentes do Wim Wenders não são mais exitosos em sua tristeza triste, muito triste, não obstante eu crer que seu novo “Pina” (2011) deva ser um excelente filme. Vi trechos da obra num programa de variedades espanhol anteontem. Enquanto não tenho a oportunidade de assisti-lo, lamento sozinho ao lembrar desta bela e amarga peça de cinema que me desceu (in)esperadamente pelas entranhas na manhã de hoje...

Wesley PC>

“NO MORE ‘I LOVE YOU’S”

Alimentando uma conhecida tradição pessoal de apreciação literária, li há pouco o penúltimo capítulo de “O Beijo da Mulher Aranha” (1976), romance do argentino Manuel Puig, e descobri que a explicação do título no livro é bem diferente daquela que encontramos no filme. Em mais de um sentido, aliás, a adaptação cinematográfica de Hector Babenco me pareceu mais interessante que o livro: os contornos do personagem revolucionário Valentin Arrégui estão melhor delineados pela extraordinária interpretação de Raul Julia, menos condescendentes que os traços tímidos do mesmo personagem no livro. Mas a cena da despedida é emocionante em ambas as obras:

“ – Mas não se sofre mais, depois de ter sido feliz e ficar sem nada?
- [...] Há uma coisa que temos que levar em conta. Na vida do homem, que pode ser curta e pode ser longa, tudo é provisório. Nada é para sempre.
- Sim, mas que dure um pouquinho, pelo menos.
- É preciso aceitar as coisas como elas são, e apreciar o bom que te possa acontecer, embora não dure. Porque nada é para sempre.
- Sim, isso é fácil dizer. Mas sentir é outra coisa.
- Mas você tem que raciocinar, e convencer-se.
- Sim, mas há razões que a própria razão desconhece. Foi um dos melhores filósofos franceses que falou isso. Sacou? E acho que até me lembro do nome: Pascal. Por essa você não esperava!
- Vou sentir tua falta, [...]...
- Mesmo que seja dos filmes.
- Mesmo que seja dos filmes...”


Não por coincidência, ontem mesmo eu fiz um embrulho para presente com um livro do Blaise Pascal, para dá-lo a um rapaz de que sinto falta. Mas ele não veio. E, quando utilizo a marcação “[...]” em uma citação literária, estou omitindo os nomes dos personagens. O que eles dizem aqui é universal. É o que sinto. Afinal de contas, de tantas e tantas canções que eu poderia ouvir após ler este trecho, por que calhei de me escutar logo “No More ‘I Love You’s”, na voz emocionada da Annie Lennox?!

Na foto, um fotograma do videoclipe da canção.

Wesley PC>

“DE QUE SERVE A TRISTEZA, PARA OS CAVALOS?”

Uma das primeiras leituras sociológicas que empreendi quando ingressei na Universidade foi “O Suicídio” (1897), de Émile Durkheim. Num dos capítulos, ele comenta sobre as ocorrências históricas que animais que tentaram ostensivamente acabar com suas vidas, destacando um exemplo destacado por Aristóteles em que um cavalo, traído pela égua com que mais se afeiçoava em seu bando ou algo assim, pula de um precipício, demonstrando que eqüinos são animais capazes de demonstrar tristeza.

Apesar de seu caráter prontamente especulativo, o exemplo acima sempre me impressionou e, como tal, foi nele que pensei o tempo inteiro enquanto assistia ao difícil clássico britânico “Equus” (1977, de Sidney Lumet), ao qual finalmente consegui ver na íntegra ontem à noite. Trata-se de um filme teatral, lento, difícil e perturbador, mas que merece elogios redobrados nem que seja pela bizarrice realista de seu tema: depois que dilacera os olhos de seis cavalos, um adolescente de 17 anos, psicologicamente cerceado por sua mãe religiosa e por seu pai sub-repticiamente libertino, passa a ser tratado psiquiatricamente por um profissional que enfrenta o tédio confessadamente inevitável de seu matrimônio. E este é apenas o ponto de partida para 137 minutos de muita angústia fílmica, transmitida através de solilóquios, diálogos requintados e repletos de mensagens psicologicamente subliminares e imagens fortes do rapaz protagonista, completamente nu enquanto abraça o cavalo por quem é animicamente apaixonado. Em suma, um filme que incomoda e que fascina ao mesmo tempo.

Em dado momento, o psiquiatra afirma que a ausência de idolatria encolhe o indivíduo. Ou seja, em sua concepção clínica, qualquer pessoa sente-se mais apta a assumir as suas idiossincrasias personalísticas ao amar irrestritamente outra pessoa ou entidade, ao venerar algo, conforme se demonstra no caso do adolescente tratado, que sente prazer ao lamber a espuma de suor que escorre da crina do cavalo por quem é obcecado. À medida, porém, que uma rapariga demonstra interesse por ele e chega a convidá-lo para assistir a um filme erótico noutra parte da cidade, o rapaz é vitimado por um forte sentimento de impotência, que manifesta-se não somente em sua disfunção erétil peniana, mas eclode na cena terrivelmente violenta em que ele se vale de uma lâmina para perfurar os olhos dos seis cavalos citados na sinopse. Que cena terrível, aliás. Por mais que eu tenha desviado os olhos, a descrição minuciosa da seqüência, aliada aos gritos horrendos de dor, por parte dos cavalos, doeu em mim. Doeu mesmo! E nem é preciso dizer que, em mais de um sentido, me identifiquei deveras com este filme...

Em verdade, já conhecia “Equus” devido a um conjunto de chamarizes temáticos: primeiro, porque, ao ser um fã discreto do diretor Sidney Lumet, já havia tido contato interessado com esta sinopse várias vezes; segundo, porque ao ter visto cenas deste filme no canal fechado MGM, faz tempo, fiquei fascinado pelo sobejo poético e expressivo das cenas de nudez do rapaz; terceiro, porque uma versão contemporânea da peça entupiu as páginas de jornais em razão da nudez proposital do protagonista Daniel Radcliffe, intérprete do bruxo Harry Potter nos cinemas (!); e, quarto, porque eu tinha certeza de que este filme tinha muito a ver comigo. Por isso, resisti fortemente aos lampejos de sono que me afetavam ontem à noite, quando assistia ao filme na TV. Fiz bem em resistir: depois das terríveis e bem-vindas inconclusões do desfecho, foi-me positivamente difícil pregar os olhos novamente!

Wesley PC>

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SÓ PELO BELO CARTAZ, JÁ LEVA NOTA 5,0!

“Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado”


Algo nesta canção, conforme versão interpretada pela cantora amapaense Fernanda Takai, não me sai da cabeça hoje. Falo com as pessoas, penso noutras coisas, mas esta letra de Tom Jobim e Vinicius de Moraes me toma de assalto. Logo a mim, que achei tão prepotente e demasiado óbvia a incursão em carreira solo desta delicada vocalista pelos terrenos da Bossa Nova? Quando eu ouvi “Onde Brilhem os Olhos Seus” (2007) pela primeira vez, inclusive, cheguei a pular a execução desta canção... E hoje, quantas e quantas vezes a repeti no mesmo dia. Linda na voz dela!

Se, por um lado, o oportunismo funcional da escolha do repertório solo de Fernanda Takai me surpreendeu somente ‘a posteriori’, toda o material de divulgação do filme “También la Lluvia” (2010, de Icíar Bollaím) me encanta deveras: não somente a trama rica envolvendo a reconstituição cinematográfica da colonização das Américas em conflito com as reivindicações proletárias dos bolivianos de agora me parece prenhe de urgência. A perfeita direção de fotografia do filme, a trilha sonora encantadora de Alberto Iglesias e as tomadas de impacto dos momentos fílmicos em que o conflito sinóptico se manifesta me enchem de empolgação: eu preciso ver este filme! Por enquanto, já baixei 85,75% de sua extensão pela Internet e, de coração, acho muito difícil que eu desgoste dele. Tomara que não aconteça o inverso do que aconteceu com o maravilhoso disco solo da Fernanda Takai...

“Vai meu coração ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão,
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai poque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado”


Wesley PC>

NO MEU CORAÇÃO, TINHA UMA CHAVE...

Hoje eu fui submetido a exames radiológicos. Por causa da forte dor de sobrancelha que me aflige desde o começo do ano, dispus-me a reservar algumas parcelas de hora numa clínica particular, aguardando a minha vez de ser atendido. Durante a espera, li trechos de um romance argentino em que um homem se apaixona por outro homem mas insiste em se portar como mulher diante dele. O outro homem pergunta por que ele não age como homem apaixonado, já que, de fato, é um homem apaixonado. O homem que age como mulher explica que abraço bom de homem é aquele que vem permeado por um pouco de medo. E, aos poucos, eu concordava com os dois personagens. Com o tempo, eles fodem. Ou fazem amor. Ou sexo, propriamente dito. Um deles pergunta ao outro se está arrependido. Ele diz que não se arrepende de nada, que sexo é algo inocente. E lá estava eu, deitado de bruços, recebendo lampejos radioativos no meio da cara. “Tu vens hoje, receber o teu diploma?”, perguntei. Não, não vou mais”, ouvi como resposta. E nem precisei tirar o chiclete da boca...

Na foto, o nono clímax mortífero da vingança de “O Abominável Dr. Phibes” (1971, de Robert Fuest), quando um organista apaixonado eternamente por sua esposa morta tenciona aplicar contra a equipe médica que considera responsável pela morte dele a fúria das pragas bíblicas do antigo Egito. No momento em pauta, há uma chave no coração de uma criança, que abre a fechadura que impede uma máquina de autodestruição. A fim de que se alcance esta chave, uma delicada intervenção cirúrgica é necessária, mas o desfecho do filme opera numa lógica diferente daquela pretendida pelo protagonista do título. E, no meu caso, até pode ser que a chave esteja no meu coração. Mas é preciso bem mais ou menos do que uma intervenção cirúrgica para arrancá-la de lá!

Wesley PC>

domingo, 20 de fevereiro de 2011

“EU NÃO SEI LUTAR. SÓ SEI SOBREVIVER...”!

À medida que eu fui entrando em contato com um tipo de cinema mais antenado com o conceito de autoralidade, passei a ler e a ouvir com freqüência que Steven Spielberg era um mau exemplo. Estranhava e pensava comigo mesmo: como se explica que o responsável direto ou indireto por alguns dos filmes preferidos de minha infância e adolescência seja difundido como um crápula hollywoodiano descerebrado? Como? Impregnação ferrenha de ideologia era a resposta mais precisa.

Por mais que eu teimasse em admitir que os filmes spielberguianos eram ótimos, e não somente porque dialogavam diretamente com as minhas fantasias recônditas infantis, sentia vergonha de admitir em público que gostava dele mesmo assim, que sentia orgulho de ter cabulado aula pela primeira vez na vida para assistir a “Tubarão” (1975) na TV e que “A Lista de Schindler” (1993) era uma obra-prima singular, para ficar em apenas dois exemplos. Quando eu amadureci criticamente, porém, esta vergonha foi para as cucuias: Steven Spielberg é um gênio comercial, muitíssimo coerente em seu tema persecutório familiar.

Quando assisti a “Munique” (2005) nos cinemas, fiquei chocado com uma cena de sexo consentido envolvendo uma mulher grávida. Para mim, era como se ele tivesse finalmente amadurecido e ousado abordar temas muito mais sérios do que o seu público-alvo estava acostumado. Mas era um erro crasso de julgamento de minha parte. E, revendo o maravilhoso “A Cor Púrpura” (1985), ao lado de minha emocionada mãe, na noite de hoje, ouso comentar que eu deveria ter vergonha de ter sentido vergonha: enquanto cineasta, Steven Spielberg é extraordinário. E digo mais: se eu fiquei escandalizado com a cena de sexo descrita acima, o que dizer de um filme antigo em que uma jovem negra que engravidara duas vezes daquele que pensava ser seu pai biológico descobre os prazeres do orgasmo em companhia oscular de outra mulher?!

Em mais de um sentido, “A Cor Púrpura” pode (e merece) ser acusado de academicismo: tudo no filme é planejado para ganhar prêmios e, de fato, é uma injustiça tremenda que ele não tenha recebido sequer um dos 11 Oscars a que foi indicado. A Academia hollywoodiana tinha tanta vergonha de admitir que Steven Spielberg era inteligente, sensível e genial quanto eu tinha em minha adolescência de aprendiz de crítico. Quanta tolice, quanto desperdício de reconhecimento autoral!

A exibição do filme, através do canal fechado TCM, encerrou-se há quase uma hora e eu ainda me flagro tremendamente emocionado, afetado mesmo por toda a compensação dramática do filme, que consegue destilar sua supremacia qualitativa até mesmo em seus defeitos estruturais, como, por exemplo, a desmiolada incursão de situações cômicas e/ou pretensamente vingativas (vide o momento em que a protagonista cospe no copo d’água do pai zangado de seu algoz marital). O filme é lindo! Lindo de uma forma quase traiçoeira, perigosa mesmo, mas prenhe de contestação, de valor, de poesia, de encanto, de magia dramática, de talento, de tudo o que de bom se espera de um ótimo filme. E ainda me flagro cantarolando o tema composto por Quincy Jones:

“Sister,you've been on my mind
Sister, we're two of a kind
So sister, I'm keepin' my eyes on you
I betcha think I don't know nothin'
But singin' the blues
Oh sister, have I got news for you
I'm somethin' I hope you think
that you're somethin' too”


Lindo, lindo, lindo! Poderia reclamar dos “finais felizes”, da cena em que os freqüentadores de cabaré invadem com sorrisos uma igreja, da composição caricatural da personagem de Oprah Winfrey, das facilidades comoventes, de muita coisa nesta adaptação do romance de Alice Walker que ainda não li, mas Steven Spielberg está de parabéns – por este e por pelo menos ¾ de seus quase quarenta filmes como diretor!

Wesley PC>

O ASSUNTO ‘PIMBA’ DA SEMANA!

No último dia 18 de fevereiro de 2001, anteontem, foi lançado ao escrutínio público “The King of Limbs” (2011), oitavo e mais recente disco da banda britânica Radiohead, ídolo-mor dos ‘pimbas’ mundiais. São apenas oito canções que, assim de início, não me empolgaram. Já ouvi o álbum sete vezes seguidas, mas ainda não me apaixonei especificamente por nenhuma faixa, sendo que “Little by Little” (por sugestão de uma amiga mais experiente) e “Give Up the Ghost” foram as que mais me influenciaram positivamente. Mas, por ora, insisto: o álbum não me empolgou. Está muito parecido com o que “In Rainbows” (2207) tinha de menos interessante: as obsessões progressivamente eletrônicas do vocalista Thom Yorke, que chegou a lançar um álbum solo diferente da melancolia ‘rocker’ que tornou a banda consagrada entre os solitários e inteligentes, no sentido mais forçosamente sinonímico de ambos os adjetivos.

No novo disco, não há nenhum arroubo de guitarra mais intenso como aqueles de “Creep” [do álbum de estréia da banda, “Pablo Honey” (1993)] ou “Black Star” [“The Bends” (1995)], nenhuma canção imediatamente dilacerante como “Karma Police” [“OK Computer” (1997)], “Exit Music (For a Film)” (idem), “You and Whose Army?” [“Amnesiac” (2001)] ou “We Suck Young Blood” [“Hail to the Thief” (2005)], nenhuma pungente rapsódia multi-rítmica como a obra-prima da banda “Paranoid Android”, mas, ao contrário, as faixas são muito parecidas entre si, com aqueles barulhinhos experimentais que pululam desde o elogiosamente bizarro “Kid A” (2000). Nada que seja um demérito, obviamente, mas ainda não me empolgou.

Pelo sim, pelo não, tenho certeza de que a repercussão deste disco será o assunto ‘pimba’ mais comentado da semana: alguns gostaram, acharam que o disco faz jus à evolução do Radiohead; outros, como eu, ficaram levemente desapontados, mais ainda percebem ali os ingredientes que justificam o culto aos companheiros do Thom Yorke. Que o tempo atribua o julgamento definitivo, enquanto eu me disporei a ouvir, ao longo deste domingo, aos meus clássicos favoritos da banda, como “Street Spirit (Fade Out)”, “No Surprises” e até mesmo a dançante “Idioteque”. Como diriam meus amigos ‘pimbas’: “Radiohead rules”!

Wesley PC>