sábado, 14 de janeiro de 2012

E-R-R-O:

“O Diário de um Mago” (1987), livro autobiográfico do bruxo Paulo Coelho, conta a saga do escritor quando este percorreu, por três meses, o Estranho Caminho de Santiago de Compostela, na Galícia. O motivo da sua peregrinação era encontrar uma espada escondida por sua esposa nalgum lugar de um santuário espanhol, mas tornou-se um lamentável livro de pouco mais de 200 páginas, em que vários rituais espalhafatosos em seu exibicionismo mágico são contrabalançados por confissões, lembranças, memórias, esforços e aprendizagens do autor/narrador/protagonista, que, ao final, conclui que a derrota é muito mais digna que a fuga e que não se arrepender é algo que faz a vida valer a pena. Não com estas palavras, claro, mas não creio que faça tanta diferença aqui destacar as frases do livro como elas foram escritas, de tanto que a edição que eu possuía em mãos estava cheia de erros de ortografia e/ou de concordância. É incrível: será que não revisaram o livro? Quem teria coragem de ler esta coleção de baboseiras mais de uma vez?

Como eu tive a tal coragem de ler este livro uma vez – o que já me tomou demasiado tempo e já foi suficientemente exasperante, no pior sentido do termo – tenho o direito e o dever de justificar sobre minhas reações diante da leitura: tive acesso ao livro depois que me desentendi com um rapaz bonito via mensagens de telefone celular. Assumi a leitura como punição por ser idiota, o que só tornou-se ainda mais verificável depois que um amigo adoeceu e me privou de sua agradável companhia numa das semanas mais cansativas (empregaticiamente falando) de minha vida. Não sei qual grau de ojeriza acompanhava a minha leitura, mas volta e meia algo me interessava, me despertava um mínimo de interesse, conforme resumi aqui. Ainda assim, era tudo infinitesimal: achei as observações de Paulo Coelho sobre a Magia tão desprovidas de significado, de interesse, de afeição... Achei o livro bem mais idiota do que eu próprio me sentia quando comecei a lê-lo, de maneira que, caso eu tenha me tornado um tanto mais estúpido durante a leitura, eu assumo esta culpa como minha, o erro foi meu. Estou tentando conservar um mínimo de distanciamento crítico em relação ao livro, mas não dá: ele é pior do que falam, é ruim, nocivo, esvaziado, imbecil mesmo!

Numa das passagens que quase me intrigaram, o mentor espiritual do protagonista, sempre bondoso ou comprometido com os desafios espirituais, irrita-se bastante com um garçom quando este derrama uma bebida em sua calça. Mais tarde, ele acrescenta: “não devia ter me exaltado. [...] Afinal de contas, ele não derrubou a xícara sobre mim, mas sobre o mundo que odeia. Sabe que existe um mundo gigantesco, além das fronteiras de sua própria imaginação, e sua participação neste mundo se restringe a acordar cedo, ir na padaria, servir quem passa, e masturbar-se de noite, sonhando com mulheres que nunca irá conhecer.” (sic). Por que eu penso que o autor queria me atingir com isso? Humpf!

Caso alguém se desventure a ler esta porcaria depois de minhas recomendações contrárias, “O Diário de um Mago” entremeia a caminhada, os desmaios, as mordidas de cachorro e os devaneios de Paulo Coelho com exercícios de meditação relacionados à ordem do RAM, que pode significar tanto Rigor-Amor-Misericórdia quanto ‘Regnum Agnus Mundi’. Num dos exercícios, Paulo Coelho finge que é uma semente desabrochando; noutro, que é um cachorro; num terceiro, que fora enterrado vivo. E eu repetindo comigo mesmo: “certo, certo”... Se eu achara absurdos os rituais ‘wicca’ de “Brida” (1990, também já lido por mim), em que atirar colheres de pau ao fogo era considerada uma atitude mágica, imagina o que eu senti quando o autor descreve que imaginou vermes penetrando a sua uretra quando ele fingia que estava num caixão...

Li pouco menos da metade do livro do domingo à sexta-feira e, na manhã de hoje, sábado, li quase 2/3 do livro de uma sentada só. Tinha que me livrar logo deste agouro! Enquanto o fazia, recebia toneladas de mensagens de uma lésbica apaixonada, que descrevia as atividades pecaminosas que desfilavam por sua mente quando uma mulher casada pede para ser beijada por ela. Aí eu folheei o livro, por ocasião desta resenha, e me deparo com a seguinte passagem: “a palavra pecado vem de pecus, que significa pé defeituoso, pé incapaz de percorrer um caminho. A maneira de se corrigir o pecado é seguir andando sempre em frente, adaptando-se às situações novas e recebendo em troca todas as milhares de bênçãos que a vida dá com generosidade aos que lhes pedem”. Acho que é o suficiente por hoje, não é? E olha que a edição que li nem é esta mostrada na foto...

Wesley PC>

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A CADA VEZ QUE TU TE BANHAS...

“Bom dia, Senhor Juiz. Estamos aqui para julgar Karina e Sheila por homicídio”...

Mais uma vez, vi um filme do Jean Garrett. Mais uma vez, me sinto arrebatado por seu estrito senso de erotismo intelectivo, por um cheiro de sexo que impregna cérebro, alma e sentidos em iguais medidas. Jean Garrett é gênio: como pude passar tanto tempo de minha vida sem conhecer este artista?!

Acabo de ver “Karina, Objeto de Prazer” (1981), filme absolutamente surpreendente e cheio de reviravoltas, em que a protagonista, vivida por uma dramática Angelina Muniz, é explorada sexualmente por seu “dono” Rufino (Luigi Picchi), que a aposta no jogo, a oferece como barganha para empréstimos com lésbicos, excita-a diante de cavalos reprodutores, obriga-a a dançar nua, vilipendia a mulher de todas as formas. Logo no início do filme, ela o assassina por legítima defesa moral. É presa e, na cadeia, apaixona-se por sua advogada, que pede antes que ela rememore todos os sofrimentos que a levaram a chegar até ali, inclusive um tórrido relacionamento com o personagem do diretor Cláudio Cunha, que aparece nu numa seqüência-chave. Tem como não se tornar fã de um diretor que conduz com mão firme uma trama como esta? Para piorar (ou melhorar), a ex-namorada de uma amiga de trabalho me empanturrou de mensagens suplicantes enquanto eu gritava que não queria mais que ela falasse sobre a outra. E o filme me estapeava: amar é um negócio que dói. Ágape é algo que nos consome?

Numa cena interessantíssima do filme, Rufino despe Karina diante de um sobrinho jovem, a quem ele gostaria de transformar em seu sucessor no crime: “tu terás que me substituir na cama e na prisão. É bom que comece logo...”. Ele aceita. Despe-se e deita-se sobre a bela mulher, mas, quando está prestes a gozar, é empurrado longe por seu tio, que o esnoba, que o destrata, o que só fica pior quando Karina geme de prazer. E era como se eu visse a mim mesmo e me perdoasse. Como se eu entendesse o que me aconteceu... Esta semana, estou antissocial. Muito trabalho, muitas aparências. Mas que não venham me dizer que não amei. Ah, sim, senhor, como eu amei. Assim sendo, Juiz, eu sou culpado!

Wesley PC>

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

“TU NÃO ÉS PERFEITINHO”...

Assim me disse um colega pernambucano de trabalho quando comentávamos sobre um chiste envolvendo um tal “relógio do apocalipse”. Não sei do que se trata, mas achei engraçado mesmo assim. Aproveitando o embalo, ele se intrometeu na conversa de outra colega, que recebera uma advertência cautelosa de sua filha: “mãe, não fique preocupada com tubarões não. Eles só ficam lá no fundo”. A garotinha aprendera isso num filme sobre uma surfista decapitada, mas o meu colega pernambucano corrigiu: “lá de onde eu venho, os tubarões nadam no raso mesmo!”. Eu achei engraçado, principalmente quando comentou sobre o seu desagrado com as plaquinhas mostradas na foto. Horas antes, ele fora cantado por um homem bastante inconveniente, que o tachara de “perfeitinho”. Só não ri porque, repito, o homem era bastante inconveniente. O resto é algo que parece com bloqueio criativo, mas deve ser batizado como cansaço: esta semana está sendo difícil para mim no trabalho. Como agourou uma mulher bruta, mais cedo: “todo o mal que tu fazes, volta em dobro para si”. O bem também?

Wesley PC>

BLOQUEIO CRIATIVO E ANÚNCIO DE ESCURIDÃO...

A gente nasce para ser mau? Esse tipo de predestinação existe? Alguém suspeitava que “Megamente” (2010, de Tom McGrath) fosse um bom filme ou que me emocionasse? Preciso dizer que, esta semana, terei pouco tempo para escrever aqui, em razão do sobejo de trabalho na repartição burocrática em que passo a maior parte de meus dias? Posso dizer que te amo? Amanhã de manhã, vai faltar energia elétrica no meu setor de trabalho. Hoje, algo dói!

Wesley PC>

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

“O QUE FOI QUE EU FIZ?!”

Não agüento mais perguntar isso e não obter resposta, mas suspeito que esta interrogação exclamativa ainda será constante por muito tempo. Parece que eu faço tudo errado, quando eu faço, quando eu suponho que faço, quando eu sei ou sinto que faço algo... Merda!

Entre a noite de ontem e a tarde de hoje, fui abordado por dois lapsos demorados de energia elétrica. Fiquei desprovido de eletrodomésticos das 19h de ontem até 0h35’ de hoje e, novamente, das 12h30’ até pouco depois das 18h45’, quando tive que ir embora. Muitas de minhas atividades empregatícias de caráter cibernético ficaram pendentes, o que renovou a oportunidade de conversar com um rapaz “evangélico e safado” (assim ele se definia) que não falava comigo há alguns meses. Gostoso, tesudo e sensual, este rapaz é também bronco, abobado, incapaz de lidar com sua sexualidade conflituosa e gritante (mais de uma vez ele foi flagrado observando material pornográfico por uma colega conservadora), mas hoje ele conversou comigo, riu de minhas piadas, se divertiu quando eu desenhei as letras de meu nome num desenho que reproduzia os seios e a vagina de uma mulher bonita. Uma amiga de trabalho percebeu que eu o encarava com tom de bravata erotógena, que, se eu tivesse metade de uma oportunidade, o deitaria no chão – ali mesmo, na escuridão – e o lamberia por completo, enquanto recitaríamos juntos os trechos da Bíblia que saberíamos de cor. Aí, eu lembrei que não estava mais no sonho erótico da madrugada: era realidade. Ele despediu-se, foi para casa de moto, e eu vim para casa a pé. Estou com fome: melhor eu comer algo. Mais tarde, eu tomo café com panetone.

Wesley PC>

domingo, 8 de janeiro de 2012

AVENTANDO A POSSIBILIDADE DE EU SER CULPADO...

Há poucas horas, eu terminei de ver o mais recente filme do polêmico diretor Roman Polanski, “Carnage” (2011). Baseado numa peça teatral de Yasmina Reza, este filme tem seu roteiro focado numa situação tão básica quanto alegórica: um menino de 11 anos espanca um colega de escola quando este recusa que ele faça parte de sua gangue. A agressão física, que custa dois dentes e uma deformação provisória no rosto do agredido, gera controvérsia entre os pais de ambos os meninos, visto que, enquanto eles discutem quem é, de fato, culpado do incidente, não apenas os papéis de agressor e agredido invertem-se várias vezes como também nódoas mal-resolvidas em ambos os matrimônios vêm à tona. Alheios a tudo isso, os meninos (um deles, interpretado à distância pelo próprio filho do cineasta) fazem as pazes da mesma maneira inocente e espontânea como brigaram. Não é um grande filme – é até chato nalgumas passagens mais “doutrinárias” – mas é merecedor de discussão e comparações, seja com a vida pessoal do cineasta (recentemente aprisionado pela polícia suíça, por um crime cometido há mais de 30 anos), seja com os desmazelos da diplomacia internacional hodierna, seja com algumas pressuposições mal-resolvidas de meus conflitos íntimos...

Na última sexta-feira, meti-me numa discussão boba, através de mensagens de celular, com um rapaz por quem serei eternamente apaixonado. Eu havia convidado-o a ver um filme do Steven Spielberg comigo, relevante não apenas por sua qualidade estilística hollywoodiana intrínseca como também por sua urgência avaliativa em época de premiações técnico-cinematográficas. Depois de uma ansiosa semana de espera, às vésperas de minha fetichista comemoração de aniversário, ele impõe sobre mim o convite para um filme-franquia dispensável no momento atual, que me deixou frustrado e triste por algumas horas. Conclusão: quanto mais amamos uma pessoa, mas estamos sujeitos à depressão diante de qualquer ato inesperado, súbito ou dissonante em relação às nossas expectativas sôfregas diante do que ela faz. A culpa pode ser minha neste caso...

Confundindo perenemente alhos e bugalhos, arrisquei-me a ler o livro oportunista “O Diário de um Mago” (1987), de Paulo Coelho. Já estou na página 40 e adianto que desgostarei sobremaneira deste engodo subliterário disfarçado de livro de memórias. A quem eu pensava que atacaria ao submeter-me a este romance? À sarcástica exortação do cronista Ruy Castro, que tacha o escritor de católico vira-casaca viciado em “toques de canastronice, como conversar com o próprio coração”? Por precaução, enquanto estiver lendo este livro, impus a mim mesmo a restrição de não acessar o Facebook em meu computador doméstico. Preciso escrever o meu projeto de mestrado até o fim de semana que vem e ainda estou desorganizado em relação à delimitação de meu objeto de pesquisa. Se alguém perguntar, faz de conta que este é o verdadeiro motivo. Tudo pode ser um recomeço, para o bem e para o mal, o filme do Roman Polanski deixa isso bem claro!

Wesley PC>