sábado, 22 de novembro de 2008

A Noite Chuvosa

A noite chuvosa


Bebendo cerveja com Jack Kerouac
Nesta noite chuvosa
Percebi o quanto são conflitantes e parceiras
A dor e a beleza de existir
Agora tudo vira poesia
A flor e o lixo
A minha alma
E a porcaria do meu fígado.

26 de setembro de 2008

Leno de Andrade

ANTES O CELIBATO À BANALIZAÇÃO DO SEXO...



...e é tão comum falar sobre sexo. Tão banal. Tão desgastado. Ah, eu estou cansado!

Na foto, poderosa imagem de “Um Canto de Amor” (1950, de Jean Genet), pois a corda sempre arrebenta do lado do mais fraco – e nem sempre isso é o pior que pode nos acontecer!

Wesley PC>

PARA QUEM SERÁ QUE EU DEDICO ESTE POEMA ALHEIO?



"Entre areia, sol e grama
o que se esquiva se dá,
enquanto a falta que ama
procura alguém que não há.

Está coberto de terra,
forrado de esquecimento.
Onde a vista mais se aferra,
a dália é toda cimento.

A transparência da hora
corrói ângulos obscuros:
cantiga que não implora
nem ri, patinando muros.

Já nem se escuta a poeira
que o gesto espalha no chão.
A vida conta-se, inteira,
em letras de conclusão.

Por que é que revoa à toa
o pensamento, na luz?
E por que nunca se escoa
o tempo, chaga sem pus?

O inseto petrificado
na concha ardente do dia
une o tédio do passado
a uma futura energia.

No solo vira semente?
Vai tudo recomeçar?
É a falta ou ele que sente
o sonho do verbo amar?"


Carlos Drummond de Andrade - "A Falta que Ama" (1968)

TALVEZ, “O MELHOR FILME DE/DA MINHA VIDA”!


Desde muito pequeno que sonhava em ver “A História de Adèle H.” (1975), obra máxima de François Truffaut, o “cineasta dos amores difíceis”, que são possíveis, que são mútuos, que são óbvios, mas que nunca se realizam, nunca se concretizam...

Em “A História de Adèle H.”, acompanhamos a personagem-título, filha legítima do grande escritor francês Victor Hugo, perseguir o tenente por quem é loucamente apaixonada. Ela é uma mulher jovem, rica, famosa, inteligente, culta, cheia de boas possibilidades de um futuro promissor, mas abandona tudo isso para seguí-lo, ao que ele retruca: “não admito este tipo de chantagem emocional sobre mim”. Rejeita o seu amor, mas aceita o seu dinheiro, alimentando as fantasias da louca...

Numa das cenas com a qual mais me identifiquei, ela pede: “mesmo que tu não me ames, deixe ao menos eu te amar”. Ele fica calado. Mesmo que ele dissesse não, ela assim o faria, ela o amaria indiscriminadamente, por mais que ela se dissesse extremamente obediente a toda e qualquer ordem que ele desse. Ela amava, logo mentia. Seriam verbos correlatos? Nos dolorosos romances truffautianos, sim!

Não é preciso dizer o porquê de eu ter gostado tanto deste filme. Vi-o duas vezes de ontem para hoje e não estou hesitando em revê-lo uma terceira vez o quanto antes. Não somente eu sou daquele jeito, como o narrador do filme faz questão de repetir que “a história é completamente real. Os personagens citados realmente existiram”, tudo o que foi mostrado foi retirado do diário (real) da personagem.

O que é interessante é que a obsessão sem fronteiras da personagem por um mesmo homem tornaria a mesma uma suicida em potencial. Ela enlouquece obviamente, mas, ao contrário do que seria facilmente imaginado, ela não morre. “Sobrevive a todos de sua família” e, doida, velha, ainda chorando por amor, morre em 1915, aos 85 anos de idade, obscurecida pelos impactos da I Guerra Mundial na França.

Fiquei obcecado pela história, fiquei pensando se eu acabarei que nem ela, fiquei imaginando tudo isso após a sessão, quando estava ouvindo e repetindo os versos da canção “De Mais Ninguém”, da Marisa Monte, e pensando em quem eu persigo, crente de que é somente assim que me dou ao luxo de amar:

“É o meu lençol, é o cobertor
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor”


Wesley PC>

AGENOR DE MIRANDA ARAÚJO NETO? AH, EU GOSTO!


Lembro que, quando foi lançado, o filme “Cazuza – O Tempo Não Pára” (2004, de Sandra Werneck & Walter Carvalho), muitas polêmicas acompanharam-no. Lá em meu trabalho, por exemplo, as velhas funcionárias desestimulavam-me a gostar deste menestrel da solidão, no sentido de que, segundo elas, “ele só era assim porque tinha dinheiro. É fácil ser rebelde quando se é rico e viciado em drogas”. Enquanto isso, na mídia, o boato que rolava era que a homossexualidade do artista tinha sido amenizada por demais nas telas. Segundo as entrevistas divulgadas nos meios de comunicação de massa, Cazuza era mostrado fodendo mais homens do que mulheres. Em meio a estas duas correntes de mal-agouros contra o filme, fui vê-lo, sem esperar muita coisa, apenas para passar o tempo, talvez.

Façamos de conta que eu não tenha gostado do filme. As paranóias acusadoras do primeiro parágrafo fizeram sentido? Acho que não. O que mais me incomodou nesta produção foi o tempo excessivo dedicado a sua mãe. Em verdade, o filme é mais uma biografia de Lucinha Araújo (mãe do artista, vivida com a competência habitual da iracunda Marieta Severo) do que necessariamente do personagem citado no título do filme. Tudo é mostrado sob o prisma dela, é a dor dela que querem que sintamos, é ao lado dela que os roteiristas desejam que estejamos quando ela joga toda a maconha do filho pela privada, onde a câmera se esconde, faminta por atenção...

Quando o filme passou na TV aberta, minha mãe não quis ver. Ela tem medo de homens se beijando! É sempre assim... Ela até admite que homossexuais façam sexo, mas que eles se beijem... “Ah, isso é demais pra mim!”. Minha mãe faz parte de um grupo muito grande de pessoas, ao qual é destinada a biografia filmada da Lucinha Araújo. “Só as mães são felizes”, diz o título de um livro biográfico, no qual o filme se baseou, enquanto eu fico aqui me contorcendo ao som de um cara que inicia uma música dizendo “o meu partido é um coração partido”. O meu também...

Wesley PC>

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Coroa de Flores




Enquanto o sol girar em torno da existência
Existirá calor e luz entre os nossos corpos nus.
Era o que eu acreditava
Até que me imobilizaram com essas flores
E logo, os que eu mais amava.
Todos os meus amigos, irmãos, pais e filhos
Numa sala escura, não por falta de luz,
Mas por falta de cor, refletida de suas vestes.
E todos aos prantos como se eu estivesse preso numa cruz
Velas acesas e a coroa, que nunca tive, ao meu lado.
E a música que eu não ouvia, eles abraçados
Ouviam com os olhares encharcados
A união estava de mãos dadas com a compaixão
Carregando-me para minha nova residência.
A chuva caia e eu não sentia
E sete palmos mais tarde o que sobrou foi areia
Aumentando a escuridão que envolvia o meu inexplicável coração
Já que os que estavam ao meu lado, logo, se afastaram.
E não os tinha mais ao meu redor.
Abrem-se as portas do além
E descobre-se que a gravidade já não é tão grave,
Pelo menos, quanto diziam ser.
As nuvens tentavam esconder minha visão
Enquanto organizavam os papéis
Fique certo de que:
-Foram-se os dedos e ficaram-se os anéis.

Marcos Vicente Miranda Santos, 2006

“IMPERFEITO” (PATO FU)


E, no meio disso tudo, Rafael Torres pediu que eu chegasse em casa, pegasse o álbum “Isopor” (1999), do Pato Fu, e pensar em alguém quando estivesse ouvindo a faixa 05 do referido álbum. Em quem pensar? Em qual dos dois? Como um deles é “perfeito”, tive que lamentar o passado mesmo:

“Eu sei o mal que fiz
Já está feito
Mas lhe pedi perdão, por ser assim
E o coração que tenho no peito
Não quer acreditar
Já nem estou mais aqui
Nem em qualquer lugar
Lá vai se embora meu mundo sem mim...
O que há de errado em ser tão errado assim?
Já vou saindo, não precisa empurrar...
Pois meu maior defeito é insistir
Que ele é perfeito,
Que é pura crueldade pedir pra ele mudar”


Sou incapaz de desamar!
Sou incapaz de aprender com erros recentes!
Sou incapaz (e nem sei se é melhor ou pior não ser o único a ser assim)!

Wesley PC>

“VOLTANDO À INTROSPECÇÃO, QUE TANTO AGRADA QUANDO AGRIDE!”


Aproveitando a deixa charlissoniana, venho aqui terapeutizar-me da falta dos habitantes de Gomorra com uma reflexão: lembram daqueles cachorros que nasceram numa cidade do interior de Sergipe com um formato que a mídia alegou que seria quase humano? Ai, caramba, eu fiquei tanto tempo pensando em como seria a vida daqueles bichinhos, nas acusações enfrentadas pelo dono da cadela parida, acusado de ter feito sexo bestial... Puxa, aquelas reportagens sensacionalistas marcaram parte de minha vida este ano!

Tinha salvado todas as fotos dos cachorrinhos em casa, ficava pensando se eles estavam a sentir dor, ficava chateado com a facilidade em se fazer sensacionalismo com qualquer coisa, QUALQUER COISA! Lembro até das vezes em que eu ouvia aquela canção do Edson Gomes que diz algo como “eu também sou a ovelha negra da família”... Em casa, eu sou a “ovelha branca” e isto é tão (ou mais) problemático quanto!

Fiquei imaginando se eu tivesse viajado com o pessoal, na minha paralisia hipotética vinculada à proximidade territorial com o moço da Bahia... Ia ficar paralisado, da mesma forma que fiquei quando fui à casa dele sozinho... Aquele guri me paralisa, é impressionante! E parece que o cachorrinho diferente já morreu... Mataram-no de tanta exposição!

Wesley PC>

Eu guardião




O ouro? O guardião da caverna não quer entregar, só pode entregar quando roubado. E isto lhe causaria um misto de alegria e tristeza. Finalmente descobririam o que ele guardava de mais valor, mas o que mais ele teria pra esconder?

Leno de Andrade - Voltando à introspecção, que tanto agrada quanto agride.

minha confusão como oferenda




"gosto de muitas coisas ao mesmo tempo, e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de um destino falido para outro, até desisitir. Assim é a noite, é isso o que ela faz com você; eu não tinha nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão." On The Road. pág. 136-137.

na foto, eu e meu irmão na noite de Itabaiana, aguardando nossa vez de fazer o show com os leprechauns.

Leno de Andrade

O destino...




Não Discuto


não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

(Paulo Leminski)


Leno de Andrade

DESDE QUE ELE PARTIU...


Quase às 6 horas da noite de um sábado, ele voltou para Salvador, terra onde nasceu e que lhe serve de capital antonomásica. Já faz quase uma semana que não o vejo pessoalmente a saudade começou a apertar. As coisas até que não são tão diferentes sem ele aqui, mas, puxa, como tudo seria melhor se ele estivesse por perto!

Outras pessoas é que são felizes: quase às 6 horas da manhã de hoje, meus amigos de Gomorra também viajaram em direção à terra do Baiano. Vão comer em sua casa, vão passear pelos lugares que ele recomendar, vão estar em contato com aquele cuja falta dilacera meu coração. Comerão feijão (sem carne) na casa em que seus pais moram e, se tudo der certo, no domingo, trarão ele de volta para nós... Boa viagem para todos eles, portanto!

E, lá no fundo da foto, podemos vê-lo carregando sua maleta...
Chega logo, domingo!

Wesley PC>

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

AS PECHAS BURGUESAS DO CINEMA E DA VIDA


Ontem eu precisei esperar uma amiga no ‘shopping center’ e fiquei irritado com a algazarra dum grupo de meninas desmioladas que se sentaram a meu lado. Fiquei tão impaciente com aquela gritaria, com aquele festival de atrocidades acéfalas, que me pus a ler desesperadamente qualquer coisa que encontrasse dentro de meu bornal rasgado (cujo zíper, as mãos fortes de Marcos Miranda tentaram consertar!). Entrei em contato, portanto, com o mesmo tipo de informação histórica que havia adquirido horas antes, na fila de espera de um banco, em que li sobre a conotação de classe indissociável aos primeiros filmes da História, quase todos eles vinculados a experiências pessoais da família Lumiére: a viagem de trem em que chegariam seus parentes, a saída dos funcionários explorados em sua fábrica, burgueses jogando cartas, etc..

Um de meus preferidos é este que mostro: “O Almoço do Bebê” (1895), obra-prima dramática de menos de 1 minuto de duração, em que o filho do diretor Louis Lumiére enche a barriga de comida enquanto observadores posteriores e atentos como Jean-Luc Godard e Ismail Xavier iriam notar que, para além do bebê em primeiríssimo plano, as folhas das árvores lá atrás estão se movendo. As folhas da árvore se movem com o vento. Há movimento! Cinema é movimento!

Enquanto leio um pequeno livro do sociólogo Stuart Hall sobre a localização cultural do sujeito nesta mixórdia de influências e referências que é a era pós-moderna (quiçá, já superada pela hiper-modernidade), relembro que passei a madrugada de hoje acordado na casa de uma grande amiga longeva, que sempre bebeu muito, fez muito sexo e hoje encontra-se casada com um requintado consumidor de vinho e fazedor de pastéis, com um gracioso filho loiro para criar e um salário gordo proveniente de seu trabalho numa emissora de televisão. As folhas da árvore se movem com o vento. Há movimento. Vida é movimento também. Logo, vida é cinema?

Wesley PC>

TÊM COISAS QUE FUNCIONAM E TÊM AQUELAS QUE NÃO...


São quase 4 horas da manhã e acabo de ver “Hated: GG Allin & the Murder Junkies” (1994), documentário de Todd Phillips sobre o lendário artista ‘punk’ norte-americano. Morto de overdose, que se cortava com cacos de vidro nos ‘shows’, fazia cocô em pleno palco, comia merda, atirava na platéia, pediam para bater nele, para mijar nele, enfiava salsichas no cu, etc., etc., etc.. É um cara que realmente conseguiu chamar a atenção da mídia e, dentro do paroxismo ‘yuppie’ no início da década de 1990, admito que teve muito êxito enquanto contestador, mas... Sei lá, não gostei do modo como ele se portava em relação aos meios de comunicação de massa. Até no programa de entrevistas do Geraldo ele foi! Não gostei não...

Sem contar que a forma do documentário é muito “quadrada”, convencional, respeitosa... O diretor hoje realiza comédias inteligentes [vide o engraçado e tardio “Dias Incríveis” (2003)], mas não sei se ele conseguiu biografar o tal GG Allin de maneira respeitosa, digo, fiel ao espírito do que ele se propunha (“a diversão sem limites”). Até gostei de algumas músicas e, admito, a ‘perfomance’ final é espantosa, mas... Não curto esta libertinagem com hora marcada não! Todo mundo achou que eu fosse gostar do filme, que ia virar fã do artista... Sei não, ainda estou assimilando o que acho dele, mas, no geral, acho que está mais para não gostar de muitas coisas do que para defendê-lo irrestritamente.

Deixa em aberto, antes que saibam que, na escuridão de meu quarto, de vez em quando eu ouço o “Anti-Christ Superstar” (1996), do Marilyn Manson – e gosto! (risos)

Wesley PC>

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Final Feliz ainda bem...



[b] Até que enfim um filme onde um casal gay tem final feliz...O enredo do filme "Chouchou" tem como base um imigrante argelino que chega a França se passando por um chileno.Pede então abrigo a um padre que acaba tornando-se um amigo seu, além da psicoterapeuta que lhe arranja um emprego,e o incetiva a se travestir.No fim conhece a boite onde seu sobrinho,também travesti,trabalha e lá ele encontra o amor de sua vida.


Ferrerinha

“PARA MIM, AMOR E REALIDADE SEMPRE FORAM TÃO CONTRADITÓRIOS”!


Na tarde de sábado, resolvi levar um bombom de chocolate para meu amigo Luiz Ferreira Neto. Era um daqueles Serenata de Amor, que continha uma mensagem romântica dentro. Esta perguntava: “uma pessoa que sofre de amor platônico pensa em sua paixão 24 horas por dia. Sabe por quê?”. Rafael Maurício estava lá e eu não podia perder a chance de responder a isto diante dele. Fiz-lhe a questão. Ele não soube responder. Então, li o que estava no papel: “porque o dia só tem 24 horas”. É a mais pura verdade!

Ainda conversando com Luiz Ferreira Neto, lembro que falávamos sobre nossas reações aos extraordinários filmes românticos de Richard Linklater, “Antes do Amanhecer” (1995) e “Antes do Pôr-do-Sol” (2004). Disse-me ele que, após ter visto o primeiro filme, sua vida tinha ficado “100% melhor”. “Até olhei para os lados com um sorriso ao acordar, Wesley!”, disse-me ele. Concordei. Hoje pela manhã, resolvi rever o segundo filme, pela milionésima-primeira vez. Minha mãe perguntava por que eu sorria tanto quando Celine (Julie Delpy) cantarolava uma valsa e incluía nela o nome de seu amante de uma noite Jessé (Ethan Hawke). Eu sabia o porquê. 15 minutos depois e lá estava eu, no meio da sala, com os olhos cobertos de lágrimas, às 10 horas da manhã. “Antes do Pôr-do-Sol” sempre me causa isso. Por que eu ainda me atrevo a vê-lo, hein? “Porque o filme é perfeito” seria uma boa resposta...

O filme é perfeito! Lembro que tanto Eliane Charnoski quanto Glauco pediram que eu levasse o DVD de volta à Gomorra. Faço-o com o peito cheio de orgulho. Estas duas maravilhas passionais devem ser decoradas por todo e qualquer ser humano que entenda o que a Celine quis dizer com a frase do título. Ah, como ela está coberta de razão, meu Deus!

E, no final, ainda tem Julie Delpy cantando "Je T'Aime Tant". Difícil ficar sentimentalmente incólum frente a alguém que grita e repete: "eu te amo tanto! Eu te amo tanto, portanto!". Ai, cabrunco, eu sou um destes!

Wesley PC>

POR FAVOR, NÃO ME DEIXEM FICAR ASSIM!


Em 1970, o cineasta norte-americano Michael Wadleigh realizou “Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor e Música”, um dos documentários mais fabulosos que já vi em toda a minha vida: em mais de 3 horas de duração, víamos Joan Baez externar suas canções de protesto, Ravi Shankar fazer maravilhas com sua cítara, jovens tomarem banho em rios sujos, fazendeiros reclamarem da depredação de suas propriedades, médicos reclamando da quantidade de atendimentos emergenciais que foram obrigados a fazer nos dias do evento, enfim, a maior quantidade de pontos de vista possíveis sobre este grande marco da história da contracultura mundial.

Michael Wadleigh só realizaria outro filme 9 anos depois, o longa-metragem de terror “Lobos”, que, até então, foi a última coisa de relevante que fez em vida. No filme em xeque, o ator Albert Finney interpreta um policial divorciado, cansado da vida, saturado de tantas tragédias e falta de sentido do mundo, tão anestesiado pelo horror contemporâneo, que come rosquinhas com bebidas alcoólicas até mesmo no necrotério, onde sobejam cadáveres de capitalistas dilacerados pelos dentes militantes de índios que trabalham na construção civil, consolados em regressar ao “estado de natura” levi-straussiano apenas quando transformados em lobos sanguinários. Pergunto: muita coisa mudou entre o primeiro e o último filme do Michael Wadleigh?

Apenas 9 anos foram suficientes para causar tal alteração comportamental, tal assunção da falta de perspectivas. Lembro que, ontem à noite, eu e Luiz Ferreira fomos ao cinema. Assistimos a um filme sobre um imigrante argelino que se disfarça de chileno, até que é acolhido por um padre liberal francês e pode exercer livremente a sua homossexualidade, depois que arruma emprego na clínica de uma psicanalista iugoslava e se apaixona por um grego milionário que o corresponde. No escurinho do cinema, Ferreirinha comentava: “ah, se na vida real também fosse assim”... Temi por ele, que só precisava de um final feliz, posteriormente atendido. Temi por mim, que temo justamente por um final feliz. Por melhor que ele seja, é sempre um final – e é isso que mais me apavora!

Wesley PC>

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Eu, Júpiter Maçã e George Harrison




Beatle George
Composição: Jupiter Maçã

Eu deveria parar de beber
Porque ah, eu não estou
Fazendo bem a quem me ama

Devia me converter ao induismo
Comida vegetariana, mantras e krishna
ah, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o Beatle George?
Aleluia, hare krishna,
Krishna, krishna, aleluia

ah, aonde foi parar aquele menino
Que ha, queria cantar como o Beatle George?
Aleluia, hare krishna,
Krishna, krishna, hare hare
Hare hama, hare ha
Hama hama, aleluia.

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Me comparando com a música do Júpiter Maçã:
1. Eu não acho que eu deveria parar de beber.
2. Nem sempre minha bebedeira faz mal a quem me ama.
3. Não quero me converter ao induísmo, a relação mística que mais tive contato foi com o candomblé.
4. Comida vegetariana sim, já parei de comer carne.
5. Aonde foi parar aquele menino que queria cantar como Beatle George?????????


Nas fotos, o próprio Harrison.

Leno de Andrade - aquele que queria cantar como Beatle George

EU SOU AQUELE QUE REZA!


Enquanto isso, eu levanto as mãos para o Céu e imploro para que dê tudo certo.

Tomara que dê tudo certo...

Wesley PC>

DE TODOS OS LADOS DE GOMORRA, DESEJO, DESEJO...




“Para aquele que a sente, a paixão pode ter um sentido mais violento que o desejo dos corpos. Nunca devemos esquecer que, apesar das promessas de felicidade que a acompanham, ela introduz inicialmente a confusão e a desordem. A paixão venturosa acarreta uma desordem tão violenta que a felicidade em questão, antes de ser uma felicidade cujo gozo é possível, é tão grande que é comparável ao seu oposto, o sofrimento”

BATAILLE, Georges. O erotismo – 2ª edição. Porto Alegre: L & PM, 1987 (pp 18-19).


CARALHO, PÔRRA, CABRUNCO DA PESTE!


Não sei se xingar resolve, mas é doloroso se perceber tão submisso a Hollywood, tão nu diante de um filme que poderia ser ruim, diante de um cineasta que, quando estou com os olhos aberto, considero um dos meus principais arquiinimigos talentosos. É doloroso, mas gostei de “Tudo Acontece em Elizabethtown” (2005, de Cameron Crowe). Gostei mesmo, apesar do final interminável e chato. Gostei ("fui hipnotizado" talvez seja a expressão mais correta)!

Por que gostei se abomino todo o contexto neoburguês vinculado ao reencontro de um ‘yuppie’ projetista de tênis com a família de seu pai militar recém-falecido que, antes de optar pela cremação do cadáver, resolve preparar uma larga festa de despedida, em que será executa “Moon River” (canção de Henry Mancini), a preferida do morto? Por que gostei?

Talvez porque Kirsten Dunst esteja no elenco, talvez porque uma ou duas canções da trilha sonora funcionem, talvez porque eu tenha me identificado deveras com a cena em que eles passam mais de 2 horas falando ao celular, talvez porque eu antevisse que não conseguiria dormir naquele dia, talvez porque eu seja humano...

Não vou recomendar o filme. Não vou. Aí já seria demais!
Portanto, se vocês quiserem ver uma estória de amor convencional, em que os personagens não percebam que são meras “pessoas substitutas” e que não saibam o que fazer com os momentos de tristeza e fracasso, NÃO vejam este filme. Repito: não vejam! (risos)

Wesley PC>

O "SEGREDO" DE CHARLISSON!


Antes de ligar o computador, comi um pouco de cuscuz com chuchu assistindo a um programa televisivo no canal E!, que só passa fofocas. Estava sendo exibida uma reportagem sobre comerciais bizarros ao longo do mundo, sendo que um deles se destacou: uma propaganda queniana das camisinhas Trust.

Vejamos do que se trata: uma mulher bonita vem passeando pela rua, carregando seu guarda-chuva num dia nublado. De repente, um vento forte faz com que a cobertura de seu guarda-chuva seja carregada. Um homem viril se oferece para ajudá-la. A troca de olhares não nega: vai rolar sexo. Ele, então, tira um pacote de camisinhas Trust do bolso e cobre o guarda-chuva com a mesma. Vai desenrolando, desenrolando, desenrolando... Suponhamos que um guarda-chuva tenha no mínimo 50 centímetros. Imaginem a satisfação da mulher durante a cena (risos)

Juro que quase me deu curiosidade de ver um filme pornográfico africano!
Wesley PC>

domingo, 16 de novembro de 2008

DEFINIÇÃO DE METONÍMIA


Sou obcecado por fotografias. Gosto muito de ficar me olhando, de ficar me comparando, de ficar pensando se a pessoa reproduzida nas imagens passa pelas mesmas sensações que eu, se sente o que eu sinto... Olhando para esta foto, datada das 2h da madrugada de 8 de junho de 2008, eu percebo que SIM. Neste dia, eu fiz uma prova que seria importante para o meu futuro, segundo os outros. Fui a um ‘shopping center’ encontrar uma pessoa que seria importante para o meu presente, segundo eu. Ambos os planos deram errados. Devo ter um parafuso quebrado no cérebro, que não consegue esquecer as pessoas...

Quando estou desse jeito, sem saber o porquê de qualquer coisa (e sabendo que “devo ter um parafuso quebrado no cérebro, que não consegue esquecer as pessoas”), apelo para a televisão. Foi o que fiz nesta tarde de domingo, 16 de novembro de 2008. Liguei a televisão e passei 2 horas e meia diante de seriados norte-americanos. Tempo recorde.

Comecei com “One Tree Hill”, da Fox, no qual uma babá nadava nua na piscina do casal para o qual cuidava do bebê, o que deixou o pai de família louco por ele, criando uma crise no casamento, que se estenderia até um bar, onde outras pessoas brigavam, incluindo uma mulher loira que recusa o pedido de casamento do homem de sua vida e, quando se arrepende e vai atrás dele, outra loira (falsa) havia recebido o mesmo convite, e aceito. Termina o episódio. Música triste. Tentei dormir. Mas garotas pulavam corda em frente a minha casa (o que me deixou feliz e nostálgico) e meu irmão gritava na sala, pois o time para o qual torce, Flamengo (do Rio de Janeiro) estava vencendo um jogo de futebol contra o Palmeiras, se não me engano (5 X 2 foi o placar). O sonho aidético de mais cedo ainda me atormentava... Os abraços imaginados do dia anterior também.

Voltei a ligar a televisão, agora no canal Warner. No primeiro seriado que vi, “The Big Bang Theory”, um ‘nerd’ entristecia-se porque seu melhor amigo estava apaixonado por uma cientista cuja teoria acerca do formato da matéria no subespaço diferia da sua, até que eles terminam o namoro. No seriado seguinte, “Two and a Half Man”, um pai solteiro abobado infecciona a sua orelha direita ao fazer um furo equivocado apenas para agradar a filha de sua empregada, pro quem cria estar apaixonado, até que o namorado mexicano da mesma consegue atravessar novamente a fronteira com os EUA e acabar com seu dilema.

Fim de episódio, mudei de canal. Fox de novo. “Os Simpsons”. Os pais de Millhouse, o amigo de Bart com o cabelo azul, resolvem se casar novamente e saem em lua-de-mel num cruzeiro marítimo. Caem do navio, todos pensam que eles haviam morrido. Millhouse entristece-se deveras e torna-se autoconfiante, logo, o menino mais legal do colégio, deixando o outrora popular Bartholomew J. Simpson bastante enciumado. A tristeza dá fama a Millhouse, que consegue até mesmo a atenção de sua amada Lisa. Pena que ele estava impotente quando ela finalmente cede. Pena. Mas o final do episódio é feliz. Não estava preparado para aquilo. Liguei o rádio e encontrei a salvação na voz do Júpiter Maçã:

“Nós gostamos das mesmas coisas
Nas pessoas os seus amores
Apreciamos nas flores as cores
Mas, meu amor, a gente junto não rola
E você sabe, meu amor, não rola”


Wesley PC> (pensativo e longe de Gomorra, às 19h57’)

TODA FORMA DE AMOR VALE A PENA


Assim diziam as campanhas políticas do PT (Partido dos Trabalhadores) na década de 1980, quando a moral canhestra do atual presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, ainda não era manifesta. Na época, o espancamento de travestis por policiais era denunciado pelos candidatos à prefeitura das cidades brasileiras. Hoje, a violência é por eles financiada, em virtude de uma infernal higiene demográfica, que tanto se coaduna às limitações do moralismo socialista, que, neste ponto específico (a homofobia), se mescla ao capitalismo como irmãos gêmeos univitelinos, separados na maternidade por puro capricho de seus executores...

Poderia falar horas sobre o assunto, contar histórias pessoais de incoerência, mas, ao invés disso, prefiro louvar a coragem metafórica de Rafael Torres e Luiz Ferreira Neto, que, nesta bela foto, neste belo gesto, dizem mais do que 412.000 de minhas palavras poderiam fazer agora. Amo-vos, amigos de Gomorra!

Wesley PC>

SE EU FOSSE OBRIGADO A SALVAR APENAS UM CD DE MINHA CASA EM CHAMAS NESTE EXATO MOMENTO, QUAL ESCOLHERIA?


Ah, seria difícil escolher, mas não me consolaria jamais se deixasse o fogo consumir “Homogenic” (1997), da Björk, uma das obras de arte musical mais coerentes que já pousaram diante de mim. Se eu fosse escolher agora, seria este.

“Homogenic” inicia-se com “Hunter”, em cujo videoclipe a islandesa Björk traveste-se de urso polar e fica contorcendo-se de amor, dizendo que “vai transmitir as boas notícias, mas não sabe quando”. Assim me disse um garoto homônimo, com quem compartilhei três semanas dedicadas de minha vida antes do abandono. Assim, esta música penetrou em meu corpo e jamais saiu!

Segue-se a magistral “Joga”, que versa sobre a solidão como “estado de emergência” no plano a geografia emocional. O videoclipe do surrealista Michel Gondry é demasiado sucinto, mas cumpre à risca o que a canção quer dizer. Contorço-me sempre que ouço e tento reproduzir os gritos do refrão.

A terceira faixa é “Unravel”, divina, perfeita, sublime, sobre o Diabo que insiste em sorrir enquanto enrola o amor da protagonista num novelo de lã. Até mesmo o sofrido Thom Yorke já se rendeu à grandiosidade desta canção agonizante, minha preferida, que repito, repito, repito... e revivo...

...Até desembocar em “Bacherolette”, cujos versos finais dizem: “Eu sou a árvore na qual crescem corações/ Um para cada qual que tu tiraste/ Tu és a mão intrusa/ Eu sou o galho que tu quebraste”. Marcos Vicente, gosto muito de ti – ainda e sempre!

Seguem-se mais 6 músicas, que desembocam na eloqüência tecnológico-gritante de “Pluto” (uma das canções que minha mãe mais detesta!) e “All is Full of Love” (cujo título dispensa maiores explicações).

Sou fã da Björk! Parece que ela escreve diretamente para mim!
Wesley PC>

RECOMENDAÇÃO LITERÁRIA


Na Comunidade Gomorra, existe um tópico sugerindo que os participantes recomendem livros, músicas, filmes, peças de teatro, qualquer coisa que lhe despertem interesses e que possam agradar às pessoas que nos circundam. Eu próprio já fiz algumas recomendações lá (inclusive, algumas de caráter bastante pessoal), mas não podia falar de meu “pai literário” Jean Genet (1910-1986) sem escrever uma apaixonada indicação particular.

Quem me conhece ou não, sabe que amo demais e que possuo um diário, onde registro todas as minhas angústias e paixões. A obra mais famosa de Jean Genet chama-se precisamente “Diário de um Ladrão”, na qual ele relata a extrema ciranda de amores e crimes que balizou sua vida inteira, ciranda esta que seus detratores repudiam por crerem que a mesma impõe um estilo demasiado repetitivo a seus livros, todos obras-primas, em minha opinião. Recentemente, li “O Milagre da Rosa”, que ele escreveu em 1943, e, sinceramente, posso emprestar a minha cópia a quem quiser, de maneira que assim possa ser entendível porque envio tantas mensagens apaixonadas a quem amo – da mesma forma que possa ser ainda mais compreensível por que falo no plural quando me refiro a quem amo. Afinal de contas, amor é plural!

A fim de justificar a minha tese, uma tese que vivencio diariamente – na pele, cérebro e ações –, prefiro usar não as santificadoras palavras do Jean Genet (que já acompanharam fotografias de Rafael Maurício, aqui mesmo, neste ‘blog’), mas uma das brilhantes conclusões do filófoso/sociólogo Terry Eagleton em “A Ideologia da Estética” (1990):

“O exemplo mais completo de auto-satisfação livre e recíproca é aquele que se conhece tradicionalmente como o amor; e muitos indivíduos, na dimensão de sua vida pessoal, não terão dúvida em dizer que este representa o valor humano mais alto. A questão é que eles não vêem a necessidade, o meio ou a possibilidade de estender esse valor a toda uma forma de vida social. (...) Reconhecer alguém como um sujeito é colocar a ele ou ela no mesmo plano hierárquico que a si mesmo, e reconhecer sua alteridade e autonomia” (pp 298-299 da edição da Jorge Zahar Editora).

Marcos Vicente, Juliana Aguiar e Luiz Ferreira Neto, dedico este texto confessional a vocês três.

Porque sou indigno de merecer o perdão por um crime do qual orgulho-me tanto de ser culpado: sou um ser que ama!
Wesley PC>

“ACHO QUE EU NUNCA DEIXEI DE AMÁ-LO”...


Nunca duvidei que, diante de qualquer filme de Woody Allen, eu ia pensar mais em minhas feridas não-cicatrizadas que em meus sorrisos vindouros. Por mais que suas comédias sejam violentamente efetivas na difícil arte de nos fazer gargalhar, seus personagens sempre perseguidos por divórcios fazem com que nos sintamos tão inseguros na impossível tarefa de se entender o amor quanto os protagonistas. Ontem à noite, revi “Poderosa Afrodite” (1995). Hoje pela manhã, vi “Dirigindo no Escuro” (2002). Em ambos os filmes, gargalhei deveras. Por causa de ambos os filmes, tive um pesadelo horrível nesta madrugada. Às 4h, estava de pé, sobre a cama de minha mãe, nervoso.

No pesadelo que tive, o primeiro amigo a se casar e ter filhos dentre o meu círculo de conhecidos de adolescência pré-universitária contraía AIDS e lidava humoristicamente com o assunto. Na vida real, ele é uma das pessoas mais maritalmente fiéis e submissas que existem no mundo. Ainda assim, sua esposa acha que nós temos/tivemos um caso. Quem me dera que isso fosse verdade (risos). O que importa é que acordei muito assustado e enviei uma mensagem de celular desejando um “ótimo domingo” para ele, visto que seu irmão mais novo acaba de ter um filho, aos 18 anos de idade, mesma idade em que ele gerou sua filha.

A fim de sair de meu transe e temor, recorri à triste cantora norte-americana Cat Power e seu álbum “You Are Free”, de 2003. Vendo o filme de Woody Allen, escutei uma das melhores declarações de amor conformista que já ouvi nestes 27 anos de existência terrena:

“o melhor da masturbação é depois, quando podemos dormir abraçadinhos”

Antes que eu revele os nomes que verdadeiramente mantêm a minha angústia hodierna, termino aqui esta crônica, advertindo que ambos os filmes citados neste texto podem ser encontrados em Gomorra esta semana. Recomendo-os a qualquer pessoa que já tenha encerrado um relacionamento e que até hoje se arrependa de tal feito, visto que, se “dois terços dos relacionamentos são constituídos por inércia”, o terceiro terço é definitivamente o amor, conforme atesta o gênio Woody Allen.

Wesley PC>

VOZES DA GUERRA FRIA

Palavras discriminativas inibem pessoas ingênuas
Em alojamentos abarrotados de soldados
Graças à ditadura intelectual
Perigo racial destacado no jornal.

Com cartazes aliados a educação
O mundo destruído por uma nação
Guerrilheiros desanimados no porão
Mortes amargam-se sem perdão.

Eu faço guerra, guerra, guerra com as palavras.
Eu faço guerra, guerra, guerra sem as armas.

Tentando se mobilizar
Os soldados armados querem lutar
Lutar com sua psicologia, literatura e filosofia
Para que tenhamos uma junta militar

A paz está ameaçada
Pois o conflito está pra começar
Só que os guerrilheiros não querem aparecer
Assim não tem a quem combater

Se sobrevivermos à terceira guerra mundial
A quarta será a pedra e pau
E a quinta será apenas com as palavras

Eu faço guerra, guerra, guerra com as palavras.
Eu faço guerra, guerra, guerra sem as armas.

O mundo todo se aquece
E os Estados estão prontos para agir
Contra as manifestações da juventude
Que do passado não se esquece
De quando eram governados por cretinos
Nos conflitos contra a sociedade democrática nos países latinos

Eu faço guerra, guerra, guerra com as palavras.
Eu faço guerra, guerra, guerra sem as armas.

O ódio se alastra por cartas, livros e redações
E os remanescentes apreensivos nas bibliotecas
Dividem-se entre as estações

Agora estamos bem armados
E o mercado em crise financeira
Os discursos já foram firmados
Enquanto brigamos por poeira

Eu faço guerra, guerra, guerra com as palavras.
Eu faço guerra, guerra, guerra sem as armas.

Guerreiros guerreando pela paz
Já que a paz e a guerra estão em debate
Só depende de nós decidimos
Entre o futuro e o combate

Eu faço guerra, guerra, guerra com as palavras.
Eu faço guerra, guerra, guerra sem as armas.

. Marcos Vicente Miranda Santos, Aracaju, 2006.