sábado, 30 de maio de 2009

AS VÍRGULAS DA VIDA RELIGIOSA (EM SENTIDO LATO)


Esta imagem corresponde à cena final de um ótimo filme argentino sobre, entre outros inúmeros assuntos, uma garota que se sente perseguida por sua vocação religiosa irrestrita, mas, paralelamente a isso, é tomada por desejos sexuais cada vez mais intensos, a ponto de ela não mais perceber que está se masturbando enquanto a porta de seu quarto está aberta. Em verdade, as duas ações (a vocacional e a sexual) não são excludentes, mas os percalços divulgados por aqueles que nos circundam no plano da influência educacional insistem em nos fazer crer que uma coisa invalida a outra, quando, em minha opinião, apenas justifica. Por isso, respiro: minha religião está inequivocamente atrelada à sexualidade – e não há nada de pecaminoso em invocar um respeitado conceito de Deus enquanto anseio por entupir minha garganta com um órgão sexual alheio. Assim sou eu – e não sou o único!

Deixarei esta mensagem como sinal de alguns dos comportamentos que desejo pôr em prática neste fim de semana, em que despediremo-nos de dois grandes amigos, que seguirão uma vocação deambulatória e abraçarão a Geografia e História tentadoras da América Latina. Eles é que têm sorte! Vírgula.

Wesley PC>

sexta-feira, 29 de maio de 2009

EXTRA! EXTRA! PLANTÃO ‘PIMBA’ URGENTE!


Sabiam que a caneta esferográfica, a caixa de fósforo não-barulhenta e o cubo mágico são invenções húngaras? Que o idioma húngaro pertence à família lingüística fino-úgrica? E que o mais conhecido (e talentoso) cineasta húngaro Miklós Jancsò ainda está vivo e ativo e que planeja lançar este ano um filme de nome “Oda az Igazság”? Repassem estas informações a todos os seus amigos o quanto antes, pelo bem de suas próprias vidas. Obrigado. Budapeste agradece!
Wesley PC>

“ALLEINE ZU ZWEIT”


“Einsam, gemeinsam
Wir haben verlernt uns neu zu suchen
Die Gewohnheit vernebelt
Die Trägheit erstickt
Der Hochmut macht trunken
Und die Nähe treibt zur Flucht

Tanz, mein Leben, tanz
Tanz mit mir
Tanz mit mir noch einmal
In den puren Rausch der nackten Liebe”


Depois de sete anos de recesso, volto a ouvir compulsivamente esta mesma música desta mesma banda. Da última vez que a tinha escutado, havia acordado com os fungados insistentes de um garoto viciado em loló (droga caseira à base de cola e sacolas de supermercado), cuja mãe viajava pelo Nordeste brasileiro em busca de mulheres que pudessem compor sua quota mínima de prostitutas aptas a contribuírem para a abertura de um puteiro clandestino sergipano. Hoje não encontro mais as pessoas com quem andava em 2002: não encontro mais o garoto de cabelo rosado que me fez provar para mim mesmo que, definitivamente, tenho traumas de beijos na boca. Não encontro mais aquele menino com sorriso eqüino que ficou apaixonado pelos filmes anárquicos de Jean-Luc Godard e Luís Buñuel. Não encontro mais aquele outro rapaz eternamente vestido de preto, mas que se comprazia em contar piadas socialmente autorizadas. Meus interesses gregários são outros. As músicas mudaram, as drogas mudaram, mas o refrão permanece retumbando em minha mente:

“Sozinhos, apesar de juntos
Nós nos esquecemos de como procurar um ao outro
O hábito obscurece a visão, a letargia sufoca os sentidos
O orgulho intoxica a mente e a proximidade distancia

Dance, minha vida, dance!
Dance comigo,
Dance comigo mais uma vez nesse puro êxtase de amor despido”


Wesley PC>

PARA QUEM SENTE SAUDADES DO QUE NUNCA TEVE...


Saudades do que nunca se teve: eis um sentimento bastante comum àquela classe célebre de virgens lascivos à qual eu me filio e que serve de mote para grande parte dos filmes dirigidos pelo cineasta erótico e erudito polonês Walerian Borowczyk (1923-2006), em que freiras são tomadas pela lascívia, nobres se submetem a orgias bestiais e desenhos animados inicialmente inocentes cedem espaço para as gravuras de enormes pênis. Na foto, cena de “Atrás do Muro de um Convento” (1978), que, infelizmente, eu ainda não vi, mas que padeço de vontade desde então. Motivo: neste exato momento, talvez eu esteja a sentir saudades de algo que eu nunca tive – mas é tão forte a impressão de posse revogada. Acho que é culpa de meu platonismo desenfreado, mas, admitamos: a cena do filme é maravilhosa e com um poder de síntese cavalar!

Wesley PC>

O CLUBE DA AMIZADE PERFEITA


É uma associação que sempre existiu de forma apócrifa, mas, nesta madrugada de quinta para sexta-feira, saiu finalmente do armário: o Clube da Amizade Perfeita existe! E, melhor ainda: eu não sou mais o púnico membro (risos).

Basicamente, o Clube da Amizade Perfeita, existe para, além de cultuar Rafael Maurício Silva (vulgo: Perfeito-mungunzá), satisfazer as suas vontades básicas externalizadas e unir os perfeitólatras de todo o mundo num mesmo fã-clube organizado, onde podemos nos unir para planejarmos táticas de aproximação, de satisfação coletiva e, com sorte, de aprendizado no diz respeito ao ensino de reações emotivas por parte de nosso muso. Nesta madrugada, inclusive, foram batizados alguns novos integrantes do Clube e pronunciado alguns juramentos acompanhados pelo famoso cumprimento de dedos à Spok. Dentre os juramentos, três cláusulas se destacam:

1- Envidar todos os esforços possíveis para satisfazer até mesmo o menor capricho do Perfeito;
2- Divulgar insistentemente todas as suas características dignas de contemplação;
3- Jamais esperar por um “obrigado”, por mais agradável que isso seja. Ele existe. Isso basta!


Amamos o Perfeito – e sentimos orgulho disto!
Filie-se tu também a nossa causa.

Wesley PC>

quinta-feira, 28 de maio de 2009

SE EU FOSSE MENINA, TAMBÉM CORRERIA A 200 KM/H NA DIREÇÃO ERRADA...


Por mais que falem mal deste CD, eu não consigo deixar de ouvi-lo e, confesso, sentir uma ternura forte ao fazer isso. Por que falam mal deste álbum? Porque insistem que a relação homossexual forçada e hiper-publicizada entre as vocalistas Yulia Volkova e Lenia Katina seja puro estratagema de vendagem de discos. Aí, eu pergunto: este tipo de estratagema não é comum em músicas que se pretendam melancólicas? Lembro que comentei algo sobre este assunto quando me irritei ao criticar o eu-lírico choroso nas canções de Alex Sant’Anna quando conheço aspectos de sua vida pessoal e sei que ele é bem realizado afetivamente. Na época, alguém me rebateu com o exemplo superior do Chico Buarque, que consegue incorporar diferentes eus-líricos num mesmo álbum, sem nos confundir. Mas aí é um caso de genialidade extrema, é um caso à parte!

Voltando à dupla t.A.T.u. e seu primeiro álbum em língua inglesa (elas são russas e, apesar de eu considerar o idioma local deste país bastante dançante, parece que nem todo mundo concorda – risos), como eu me identifico com aquelas canções... Como! Mesmo sendo um “menininho que gosta doutros meninos” e as canções tendo a função primordial de fisgar “meninas que gostam de meninas” ou, na pior das hipóteses, “meninas que fingem gostar de meninas para fingirem-se de descoladas” ou, numa hipótese ainda pior que a pior das hipóteses, “meninas que fingem gostar de meninas para deixarem meninos gostosinhos com seus apetitosos paus duros”, a dupla t.A.T.u. usa muito bem suas fórmulas homoeróticas adolescentes. Senão, vejamos:

O álbum abre com “Not Gonna Get Us”, cuja letra fala sobre a promessa feita entre duas amigas, no que se refere à determinação em continuarem fugindo indefinidamente de um mal comum (pela interpretação óbvia da canção, fogem da homofobia). No mesmo álbum, elas regravam o clássico do grupo The Smiths, “How Soon is Now?” (cuja letra antológica diz: “Cale a tua boca!/ Como tu ousas dizer que eu faço as coisas de uma maneira errada?/ Eu sou humano e só preciso ser amado, tal como qualquer um precisa”). Meus amigos desgostam da versão, pois são fãs da banda original. Eu também gosto muito, mas acho a versão deveras perdoável! A letra de “Show me Love”, como o título indica, vai direto ao ponto: pede que uma interlocutora mostre o amor que ela sabe dar, mostre uma forma possível de amor, mostre que amar faz bem a todos. Porém, é mesmo “All the Things She Said”, faixa mais famosa do álbum e da dupla, a minha favorita. A letra pode ser repetitiva, mas aquelas vozinhas abafadas, aquelas demonstrações de amor incondicional, aquele videoclipe repleto de beijos lésbicos, tudo isso me motiva a continuar defendendo estas duas mocinhas oportunistas, que, para o melhor ou para o pior, ajudaram a popularizar e transformar em modinha juvenil o homossexualismo adolescente. Coisas da era pós-moderna!

“Quando eles param e ficam encarando, isso não me preocupa
Porque eu estou apaixonada por ela e ela por mim
Eu posso tentar fingir, eu posso tentar esquecer
Mas isto está me enlouquecendo, pois ela não me sai da cabeça”


Ah, pode ser tudo muito fútil, mas a música é linda!

Wesley PC>

“INDIRETAS SENTIMENTAIS”


Este é um dos mais utilizados marcadores dos textos que eu publico por aqui. Como todos sabem, tudo o que fazemos possui pelo menos duas intenções primordiais: aquela diretamente relacionada à ostensividade de nossa intenção; e outra relacionada a um desejo quiçá irresoluto de nosso subconsciente. Pelo menos, assim é comigo. E, mesmo que eu não queira utilizar o Cine-Gomorra para mandar recado para quem quer que seja, um dos filmes que planejo exibir hoje (supondo que haja tempo, supondo que o Forró do Corredor na UFS não carregue todo o meu público – risos) é uma brilhante, surpreendente e subestimada obra do tcheco Milos Forman, em que o merecedor dos mesmos adjetivos Jim Carrey interpreta um comediante real, que chocou a todos em Hollywood com sua anarquia e seu cinismo extremado.

O nome do artista biografado é Andy Kaufman, um cômico estranhíssimo que não se eximia de passar horas lendo um livro num espetáculo (somente para provocar um enfado reativo em sua platéia perplexa) ou de disfarçar-se comumente em inúmeras outras personalidades, a tal ponto que ninguém levou a sério, na vida real, quando ele comunicou estar sofrendo de uma grave doença ou que ele tivesse efetivamente morrido, em 1984. Eu, particularmente, fiquei tão impressionado com a trama deste filme, que quase desacreditei ao imaginar que ele realmente existira, ao tempo em que lamentei não tê-lo conhecido antes. Ele é absolutamente radical em seu extremismo humorista!

Para quem ainda não adivinhou o nome do filme, este é “O Mundo de Andy” (1999), o qual penso que repercutirá sobremaneira nas atitudes similares do igualmente cínico (e maravilhoso) Rafael Maurício, “cômico da História” na vida real. Tomara que ele compareça à sessão, tomara que ele não morra logo, tomara que nós acreditemos sempre nele, tomara que... Tomara, meu Deus, tomara!

Observação derradeira: a imagem refere-se ao título original do filme e a uma canção anglofilicamente homônima que Michael Stipe, patrono da banda REM, fez em homenagem ao artista, “Man on the Moon”.

Wesley PC>

LEONARD COHEN – “TEN NEW SONGS” (2001)


“Eu te vi nesta manhã
E tu te movias tão rápido
Não percebias que eu me largava no passado.
E eu sinto tanto a tua falta
E não há ninguém à vista,
De maneira que ainda estamos a fazer amor,
Em minha vida secreta.

Eu sorrio quando estou zangado.
Eu trapaceio e minto.
Eu faço o que deve ser feito para ir em frente.
Mas eu sei que estou errado
E eu sei o que é certo.
E eu morreria pela verdade,
Em minha vida secreta”


Assim canta o triste menestrel canadense Leonard Cohen, em parceria com a cantora e compositora Sharon Robinson, na melancólica e redentora canção de abertura deste álbum breve e fabuloso, que descobri depois que me apaixonei pelo cantor após ver 3 ou mais de seus petardos românticos servirem de base para o clima passional de um ótimo filme do ex-cocainômano célebre Oliver Stone. Fiquei encantado por sua voz triste, suas letras dramáticas, sua entonação dialogística... Tudo no CD parece ter o tempo certo, mas, ainda assim, ficamos querendo mais quando ele acaba. Motivo: apesar de canções como “A Thousand Kisses Deep”, “Love Itself”, “Alexandra Leaving” e “The Land of Plenty” parecerem demasiado amargas, elas são muito conscientes no que diz respeito ao louvor dos bons tempos ao lado de quem se ama. Por isso, insisto em traduzir mui livremente os versos finais da supracitada canção de abertura “In My Secret Life”. Afinal de contas, Leonard Cohen é tão amplo em seus intentos, que até mesmo minha mãe sucumbe à sua força. Escutem-no. Vale a pena!

“Olhe através do papel,
Fará-te desejar o choro
Ninguém se importa se as pessoas vivem ou morrem.
E o tipo de negociação que te faz pensar recusa dicotomias.
Pois não pense que as coisas são simples,
Em minha vida secreta.

Eu mordo meus lábios
E compro o que te disse que ia adquirir.
O último conselho da sabedoria dos mais velhos.
Mas eu estou sempre sozinho.
E meu coração é como gelo.
E tudo está tão gélido e tumultuado,
Em minha vida secreta”


Wesley PC>

PENSAMENTO Nº 233: “INFINITO. NADA”


“Examinemos, pois, esse ponto e digamos: ‘Deus existe ou não existe’. Para que lado nos inclinaremos? A razão não pode determinar: há um caos infinito que os separa. Na extremidade desta distancia infinita, joga-se cara ou coroa. Em que apostareis? Pela razão, não podereis atingir nem uma, nem outra; pela razão, não podereis defender uma ou outra. Não acuseis, pois, de falsidade os que fizeram uma escolha, já que nada sabeis”. (Blaise Pascal)

Wesley PC>

POR QUE ELE NUNCA FALA NADA, MEU DEUS?


Não, não é uma reclamação, é mais uma interrogação mesmo. Por que ele nunca fala nada, meu Deus?

Não importa o quanto citemos seu nome, falemos dele, louvemos, execremos (o que não é o meu caso), elogiemos, escarneçamos, antecipemos uma de suas hagiografias em vida, ele fica lá, caladinho, recôndito... (risos) Aí o meu inconsciente perverso sente-se na necessidade de apelar: encontrei esta fotografia entre os meus pertences ontem à noite e esta me serviu de base para uma série de reiteração de questionamentos:

a) o corpo de quem amamos não é mais belo ou mais feio do que o corpo de ninguém [salvo algumas exceções, obviamente]. É um corpo humano como qualquer outro, no qual depositamos nossos anseios e elevamos a uma categoria ilusória e totêmica;

b) para além de ser ou não bonito ou feio, o corpo de quem amamos é secundário em relação ao bem-estar que o referido ser nos causa, mas, se ainda assim insistimos em focar-nos em suas partes pudendas, é porque servimos também aos instintos básicos de sobrevivência, que, por uma incrível confusão do destino, convertem-se também no plano sexual infecundo para as pessoas de comportamento homoerótico;

c) a ausência de comentários daquele que, em minha sanha auto-destrutiva e retroalimentar eu desejo atingir é, em verdade, um traço mais do que característico de sua personalidade e eu, se fosse realmente agradecido à sua egrégia existência, deveria levantar as mãos para o Céu por ele fazer comigo o que faz com exatamente todo mundo que o circunda. Pois é isso que um ser iluminado faz com que percebamos: que o que dispomos agora é o que é relevante. “Aceite e seja feliz!”

E todo o resto é pretexto, como sempre!

Wesley PC>

Mussorgsky


Tem alguns compositores que eu tenho certeza que eu vou gostar mesmo antes de escutar. Eu acho que não acontece só comigo pois ontem Madruga me mostrou um MP3 com muita coisa que ele nunca tinha escutado, e tinha escolhido graças aos textos que tinha lido sobre estas bandas, sendo que a informação mais destacada por Madruga era a influencia de cada banda. E na maioria delas ele acertou na sua previsão, a não ser por uma que se dizia influenciada por Luiz Ginzaga e por Nação Zumbi mas que lembrava muito mais essas bandas de xote universitário.
Pois essa impressão de ter encontrado um som "do meu tipo" eu senti quando li a história pessoal do compositor russo Modest Mussorgsky(1839-1881). Tudo nele indicava que a sua música era de qualidade. Uma das informações constates em todas suas biografias era o fato de ser um cachaceiro. Eu fico até hoje imaginando a quantidade que alguém tem que tomar na Rússia pra se destacar e ganhar o título de cachaceiro. Só por isso eu me interessaria pela música desse ser. Mas o fato de sua obra se ultilizar da riqueza da música russa, sendo o mais independente (sempre foi auto-didata) e talentoso de todo um movimento que é um dos mais interessantes da história da música, que foi o nacionalismo russo do século XIX, também contriem para a sua boa imagem.
Deixo aqui o link do site PQP Bach (que não é filho da Ana Madalena Bach, sim de um prostituta alemã, como o seu nome denuncia) de um bom disco, que tem entre outras, uma obra que esta no filme Fantasia da Disney: Uma Noite no Monte Calvo. Maravilhosa composição que esta em uma versão diferente do filme, mas que mantem o clima sombrio(a versão do filme é do maestro russo Stokowsky e esta do maestro italiano Claudio Abado).
Ta aqui o link: http://pqpbach.opensadorselvagem.org/modest-petrovich-mussorgsky-1839-1881-st-johns-night-on-the-bare-mountain-khovanshchina-scherzo-in-b-flat-major-intermezzo-symphonique-in-modo-classico-festive-march-from-mlada/
Espero que gostem
Um abração pra todo e até a próxima!!!!!!!!!!
Ass: Fagote da Batalha Lopes

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Bonecas por Anne Sexton

Bonecas,
aos milhares,
estão a cair do céu
e eu olho para cima com medo
e pergunto-me quem as irá apanhar?
As folhas, segurando-as como pratos verdes?
Os charcos, abertos como copos de vinho
para as beber?
Os topos dos edifícios para se esmagarem nas suas barrigas
e deixa-las ali para ganhar fuligem?
As auto-estradas com as suas peles duras
para que sejam atropeladas como almiscareiros?
Os mares, à procura de algo que choque os peixes?
As cercas eléctricas para lhes queimar os cabelos?
Os campos de milho onde podem estar sem ser colhidas?
Os parques nacionais onde séculos mais tarde
Serão encontradas petrificadas como bebês de pedra?



Eu abro os braços
e apanho
uma,duas,três…
dez ao todo
a correr para a frente e para trás como um jogador de badmington,
apanhando as bonecas, os bebês onde eu pratico,
mas outras estilhaçam-se no telhado
e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair.
que precisam de berços e cobertores e pijamas,
com pés verdadeiros
Porque é que não há uma mãe?
Porque é que estas bonecas todas estão a cair do céu?
Houve um pai?
Ou os planetas cortaram buracos nas suas redes
e deixaram a nossa infância sair,
ou somos nós as próprias bonecas,
nascidas mas nunca alimentadas.




Anne Sexton




Publicação: Chará..sr.s

Anne Sexton


Anne Sexton ( 1928-1974), tal como Robert Lowell ou Sylvia Plath, integrou o grupo dos poetas chamados «confessionais». A poeta, que aos 46 anos se suicidou, oferece ao leitor na sua poesia a visão íntima da angústia, que parece ter caracterizado toda a sua vida de exuberância: de modelo a prémio Pulitzer, em 1967, pelo livro Live or Die. O poema que publicamos no original, e agora na tradução possível, não sendo uma experiência directa que tenha vivido, está na linha do seu inconformismo, daí não ser totalmente estranho o poema After Auschwitz, que enfileira com a observação histórica de Theodor Adorno, que afirmou ser impossível haver poesia depois de Auschwitz.



Anne Rodrigues

DICA PRECIOSA PARA O CINE-GOMORRA DE 28 DE MAIO:


Conforme antecipado, o Cine-Gomorra desta quinta tem por intenção apresentar alguns dos mais célebres momentos de comédia iconoclasta no interior da própria Hollywood. Desta maneira, exibirei “A Última Loucura de Mel Brooks” (1976), um filme absolutamente genial em que o escatológico diretor judeu Mel Brooks interpreta um alter-ego de si mesmo, um cineasta que deseja realizar um filme mudo em plena década de 1970. Trata-se, na verdade, do próprio filme que ele está realizando, que conta com as participações especialíssimas de vários astros do cinema em pequenas participações e configura uma belíssima homenagem à Sétima Arte. Porém, receando atrapalhar aqui o gozo de quem quer que compareça à sessão, apresento aqui a seqüência mais esdrúxula, súbita e extraordinária do filme, única cena falada do mesmo, em que o consagrado mímico francês Marcel Marceau (famoso por nunca pronunciar sequer uma palavra em seus espetáculos poéticos) grita um sonoro NÃO no filme. Genial e hilário! Recomendo de coração e sorriso abertos.

Wesley PC>

ARTE VERSUS ASSISTENCIALISMO


Não gosto do filme “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008). Por outro lado, sou fã do diretor Danny Boyle e, assim sendo, enterneço-me diante de uma notícia recorrente e muito propositada no que diz respeito à exploração midiática da miséria alheia a fim de ganhar dinheiro e prêmios. Pois bem, recentemente a casa de um dos atores infantis do filme, Azharuddin Ismail, foi demolida pelo Governo indiano por estar construída em local proibido. Os meios de comunicação de massa pressionaram o diretor escocês e ele comprometeu-se a custear as finanças básicas do casal protagonista infantil de seu filme até que as crianças completem 18 anos. Será que a responsabilidade é do diretor? Em minha opinião, a culpa é mesmo da vilania ideológica do filme.

Wesley PC>

INTRODUÇÃO À CULTURA HÚNGARA (VIA POLÔNIA)


Dentro do processo de transformação de Rafael Maurício em “pimba”, dediquei-me a pesquisar traços elementares da cultura húngara, idioma do qual ele já aprendeu a falar a palavra ‘branco’. Nesta pesquisa, descobri que as vídeo-instalações do artista polonês Artur Zmijewski são cultuadas neste país. A imagem em destaque faz parte da série “Radikális szolidaritás”, de cunho eminentemente político, e fará parte da primeira argüição sobre cultura húngara que farei ao Perfeito (risos). Sok szerencsét kivánok!

Observação: até 5 minutos atrás, nunca havia ouvido sequer falar de nada do que foi escrito nesta postagem (risos). Mas “pimba” que é “pimba” não pode admitir isso! Por isso, farei de conta que conheço o trabalho de Artur Zmijewski desde criança!

Wesley PC>

PALAVRA DO DIA: MENARCA


“Depois do décimo quinto baseado
Eu não respondo por mim
Eu não respondo por nada
Passo a noite
Varo a madrugada
Como cadela no cio
De uma bixinha atacada”


Esta é a canção preferida dos meus amigos de Gomorra no que se refere à banda Textículos de Mary. Com isso, portanto, aprendi uma nova gíria: denotativamente, menarca diz respeito à primeira menstruação da mulher. Conotativamente, portanto, menarca é igual ao estado de espírito e desprendimento que sentimos a partir do décimo sexto cigarro de maconha. E é isso: bem-vindo ao universo das gírias gomorrentas!

Wesley PC>

REFLEXÃO DO DIA: A IMPORTÂNCIA DE UM TÍTULO


Acordei pensando no rebaixamento de Plutão, que deixou de ser planeta em 2006. Este rebaixamento fez com que pessoas que trabalham comigo pronunciassem comentários tal como “não sei por que ele deixou de ser planeta. Eu gostava tanto dele”... (risos) Se serve de consolo, desde o ano passado, Plutão pertence a uma nova categoria, a dos plutóides, que correspondem a uma categoria trans-netuniana de astros. Olha só que honra: deixou de ser planeta (apenas 1 entre 9 no Sistema Solar) para se tornar nome de categoria astral. Conclusão: pensemos duas vezes antes de crermos que fomos rebaixados. Orgulho próprio é algo que obedece a um tipo muito diferente de hierarquia! Imagina, então, o que aconteceu com Caronte, o antigo satélite de Plutão enquanto planeta, que agora faz parte de um sistema duplo de planetas-anões (chamado precisamente Plutão-Caronte) e agora possui dois corpos circundando em sua órbita, os sub-satélites Hidra e Nix! Oh, universo que dá voltas... A propósito, sabiam que existe uma Sociedade dos Amigos de Plutão, que protesta contra a medida que desplanetizou este novo plutóide? Ah, se eles soubessem aproveitar...

Wesley PC>

NEM SEMPRE DÁ CERTO...


O problema de se fazer planos é que podemos ficar mais dependentes dos planos do que do objetivo dos mesmos. Li recentemente um livro em que tal situação se dava: um homem ficava tão obcecado em se obcecar ostensivamente por uma mulher que esqueceu que ela era uma mulher e descartou-a quando percebeu que ela não mais se encaixava na sua partitura planificadora...

Pois então, eu sou destes que comumente são afligidos por “abstinências” de ordem diversa e, a fim de saciá-las, passam por cima de prazos, necessidades prementes, promessas e projeções favorecedoras em relação a quem amamos ou dizemos amar. Esperar é criminoso – e é por isso que, mais uma vez, grito que sou fã do fotógrafo e cineasta Larry Clark, em minha opinião (e na do filósofo Gilles Lipovetsky), um dos mais egrégios demonstradores do que é o “hiper-modernismo”, dado que este artista destaca-se por incutir em suas obras uma crise irresolúvel entre o despudor e a excitação quase pornográfica e o crivo moral que parece apontar quem é o culpado pelas distopias sedutoras apresentadas.

É o que se dá nesta brilhante fotografia, talvez a minha preferida em seu acervo, na qual alguém se antecipa e faz o que tantas vezes pensei, mas sempre sucumbo aos lastros mais confortáveis do moralismo pós-moderno, abandonando a efetivação sadomasoquista extrema às vésperas de sua concretização. Sou um onanista, portanto!

Wesley PC>

terça-feira, 26 de maio de 2009

TRÍVIA: “OS 25 MOMENTOS MAIS CHOCANTES DO CINEMA”






Li esta reportagem pela manhã. Concordei com alguns. Não cheguei a discordar de outros. Uns 2 ou 3 eu não vi ainda. Estas imagens selecionadas correspondem aos meus momentos-choque favoritos. São facilmente reconhecíveis? Quem quiser ver a lista completa, acesse aqui: http://beta.premiere.com/List/The-25-Most-Shocking-Moments-in-Movie-History. Na pior das hipóteses, é divertido!

Wesley PC>

CHICLETE NA BOCA DOS OUTROS É REFRESCO! (TENTATIVA DE REPRODUZIR O TIPO DE COISA QUE EU ESCREVIA NO 2º GRAU QUANDO ME MANDAVAM REDIGIR "TEMAS LIVRES")


Nunca gostei de chicletes. Entretanto, quando eu era pequeno, gastava fortunas com este tipo de produto anti-alimentício, visto que tinha um interesse destacado em completar os álbuns de figurinhas que eram atrelados à marca Ping-Pong, de minha época. Completei 2 álbuns em menos de uma semana, o de animais de Pantanal e o de animais amazônicos. Conclusão: meus dentes apodreceram quase todos antes dos 16 anos. Hoje minha boca é recheada de amálgamas odontológicos e minha vida é repleta de lembranças traumáticas. Aos 8 anos de idade, espancadores me atiraram sobre uma poça de chiclete. Meus cabelos foram raspados pela primeira vez e eu levei uma surra quando cheguei em casa. Estou chupando um chiclete agora e, por dentro, sinto uma estranha sensação, como se tivesse pisado em algo rosado que não devia... “É a minha natureza!”, repito. Se estivesse vivo, John Wayne estaria completando hoje exatos 102 anos. Não consigo imaginá-lo mascando chicletes... Preciso ir a um dentista!

Wesley PC>

OU, EM OUTRAS PALAVRAS, HÁ UM PORQUÊ REDENTOR!


“Tudo o que eu queria era ser um mariachi como os meus ancestrais. Mas a cidade que eu pensei que me traria sorte legou-me apenas uma maldição. Eu perdi meu violão, minha mão e quem eu amava. Com todas estas feridas, suponho que jamais tocarei violão novamente. Sem ela, eu não tenho amor. Mas, com o cachorro e as armas, eu estou preparado para o futuro”...

Assim termina “El Mariachi” (1992), obra-prima de Robert Rodriguez. Vi ao lado dele nesta madrugada. É suficiente para que meu destino não seja igual! Não mais reclamo...


“Caminando por la vida voy, caminando por la vida voy
Pensando em um amor, em busca desse amor
Com la ilusion de ver mi vida florecer
El sol brilha em mi arredredor, ilumina em mi el corazón
Que vá brotando em mi, por ansias de vivir
Gritando que el mundo estoy a viver-lo
Sem problemas no meu coração, muitas vezes não temos razão
A vida muda uma vez mais,
porque o destino é tão cruel e sempre temos que aprender,
tristeza pranto e saudade
Porque assim? Porque sofrer, se só o que eu quero é triunfar?”

(“Ganas de Vivir”, música-tema do filme, em versão de Wander Wildner)

Wesley PC>

PS: que me perdoem os envolvidos nesta postagem, visto que, como sempre, nunca peço autorização para escrever sobre outrem. Mas ele me apazigua! Não falo por mal.

CENAS ANTOLÓGICAS DE MEU CINEMA PARTICULAR – IV*


(...)

Nasceu!

Não importa se o dia 28 de dezembro de 1895 é ou não o dia oficial do nascimento do cinema. Este é o dia em que os 50 segundos de “A Chegada de um Trem na Estação de Ciotat” (1895, de Louis Lumière) foi exibido pela primeira vez no mundo. E as pessoas fugiam, amedrontadas. E o moderno realismo era apresentado. E Máximo Gorki desaprovava aquele mundo de “nuvens cinzentas”, ao passo em que as condições para o meu berço passional eram postas na Terra. Eis o mistério: há cinema! ‘Eppur si muove’!

Wesley PC> !

OVINO EXPIATÓRIO


E, no momento derradeiro, o Deus cruel do Velho Testamento (em que faço questão de não acreditar) libertou Abraão de sua tarefa e, ao invés de sacrificar seu filho Isaac, sugeriu que este imolasse um cordeiro. Justiça foi feita?

Wesley PC>

“YOU KNOW I’M NO GOOD”!


Na noite de 20 de março de 2002, no fulgor de meus 21 anos de idade, enfrentei um das crises morais mais significativas de minha vida erótica. Passeava pela sala em que minha mãe via TV e deparei-me com imagens de um médico que molestava seus pacientes adolescentes. Ele dopava os garotos (entre 14 e 16 anos) e,quando estes estavam dormindo, punha seus pênis na boca com toda a avidez, sugava aqueles órgãos sexuais como se sua vida dependesse disso e gravava em vídeo todas estas sessões de moléstia hebefílica. Por algum motivo, algumas das fitas foram parar no lixo. Como sempre, alguém as encontrou e as enviou para o sensacionalista Programa do Ratinho, que exibiu o seu conteúdo com discretos borrões nas partes pudendas dos adolescentes. O tom da exibição era obviamente acusatório: um crime hediondo era exibido diante de nossos olhos. Eu, porém, experimentei uma das mais violentas ereções de toda a minha vida audiovisual! Precisei masturbar-me no mesmo momento e, ainda assim, a excitação não passava. Assustava-me com o que sentia, percebia que estava a legitimar um crime, mas meus instintos estavam em ebulição. A assimetria ostensiva das práticas sexuais do médico tarado encontrava eco imediato no tipo de conformismo erótico a que fui obrigado a me vincular. Será que terminarei meus dias da mesma forma, visto que pesa contra mim o trauma significativo de ter sido vítima de repetidos sexuais por pessoas mais velhas na infância?

Não obstante hoje, sete anos depois, eu me sentir muito mais seguro em relação à minha sexualidade desviada, jamais esquecerei aquele estopim eréctil! Queria ter gravado aquelas imagens (é uma confissão, desculpem-me), ignorando completamente o crime hebefílico que ali era praticado. O que me instigava era a assimetria relacional, que pode muito bem ser posta em prática com adultos. Evidentemente, tal restrição não diminui minha parcela de culpa e cumplicidade. Talvez eu seja um monstro por dentro! Lembro que, uma vez, uma amiga brigou severamente comigo por acusar-me de glorificar tais abominações sexuais. Mas juro que não é intencional... “É a minha natureza!”. Afinal de contas, faço o possível para boicotar minhas ereções públicas e, junto a este episódio crasso de exploração televisiva, as duas grandes ereções públicas de minha vida recente foram quando vi as fotos de um garoto acidentado no Orkut (aquela perna dilacerada por um acidente de motocicleta me fez desejar sobremaneira uma pessoa por quem não sinto nada na vida real) e durante uma secreta viagem de táxi, após uma festa (num contexto em que qualquer extrapolação de caráter sexual era dispensável). Sou um monstro! Um monstro em potência, talvez.

Após a divulgação e desgaste destas imagens sexuais, o médico hebiatra Eugênio Chipkevitch foi condenado a 124 anos de prisão, reduzidos para 114 anos. Com certeza, já deve ter sido estuprado, violentado, espancado e torturado inúmeras vezes na prisão, seja por carcereiros seja pelos próprios prisioneiros. Ele é um monstro! E é isso que deve ser feito com eles no contexto social criminalizante que nos cerca. Morte aos monstros! Dor para os monstros! Façamos os monstros sofrerem! E, enquanto isso, eu cantarolo uma canção magistral da psicótica Amy Winehouse:

“I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good”


Será que eu sou mesmo um monstro? Ou, dentro das condições hodiernas de sobrevivência, apenas humano? Pelo sim, pelo não, repito: “é a minha natureza!”.

Wesley PC>

WESLEY DE CASTRO: EFEITOS COLATERAIS


A melhor forma de explicar isso é com uma fábula célebre utilizada com louvor no filme “Traídos Pelo Desejo” (1992, de Neil Jordan). Na trama, um soldado do IRA (Exercito Republicano Irlandês) é capturado, torturado e morto. Nesse intervalo, o prisioneiro desenvolve uma estranha e imprevista relação de cumplicidade com seu algoz, que, dentre outras coisas, é obrigado a segurar o pênis de seu prisioneiro e balançá-lo, após o ato urinário. Antes de ser executado, o prisioneiro faz um derradeiro pedido ao seu executor: “cuide de minha mulher”. O algoz assente. Mata aquele que deve matar e sai em busca da mulher que seu prisioneiro amava. Encontra-a cantando canções intituladas “The Crying Game” (título original do filme) e “When a Man Loves a Woman”. Apaixona-se por ela, fica encantado e, por algum motivo, mesmo percebendo que ela retribui, não entende porque ela se recusa a fazer sexo com ele, que insiste por mais e mais intimidade. Num dia, eles estão a se beijar. Amam-se. Tiram a roupa. Ele vomita. A câmera desce e flagra o motivo: um pênis! Foi a primeira vez que vi pó órgão sexual masculino em ‘close-up’ na TV aberta!

Não sei se devo contar o que acontece a seguir – visto que já estraguei uma das brilhantes surpresas do filme, considerado “um dos 25 momentos mais chocantes do Cinema”, segundo a revista especializada Premiere, tão chocante que o travesti Jaye Davidson foi impedido de concorrer ao Oscar de ator coadjuvante, a fim de não revelar seu sexo verdadeiro –, mas adianto que o algoz do início será feito prisioneiro antes que o filme se encerre e, a fim de justificar a razão de ele passar por todo aquele constrangimento, ouve da boca de seu/sua amado/amada a fábula supra-anunciada:

“um escorpião tinha gana de atravessar um rio. Encontra uma rã no caminho e pede uma carona:

- Amiga rã, tu te incomodarias em me dar uma carona até o outro lado do rio?
- Claro que não, isto deve ser mais um de teus truques para me envenenar.
- Evidentemente que não, amiga rã. Afinal de contas, se eu cravar o meu ferrão em ti, também morrerei afogado.

Diante deste argumento, a rã anui em levar o escorpião até a outra margem do rio, carregando-o sem suas costas. Ainda no meio do trajeto, porém, a rã sente uma pontada fatal em suas costas. Percebe que o escorpião havia cravado seu ferrão peçonhento nela.

- Por que fizeste isso? Agora eu e ti morreremos afogados!
- Não pude evitar. É a minha natureza”.


Assim sou eu: por mais que saiba que devo evitar algumas práticas constitutivas de meu ser, mas que incomodam alguns de meus amigos sinceros, não posso efetivamente evitá-las. É a minha natureza. Infelizmente, vem com o pacote. E quem ler esse texto (e já tenha passado uma madrugada comigo), sabe do quê e para quem eu estou falando...

Wesley PC>

...


A muito tempo prometi a Wesley postar aqui no blog, e isso faz muito tempo mesmo.
Acredito que sou muito tímdo em relação aos meu escritos, e sofro um pouco com essa trava. Espero que esse espaço me ajude a melhorar desse mal.
Mas para além dessa confissão dramática queria indicar um outro blog(e que fique bem claro que eu não quero tirar as atenções do blog da Gomorra) relacionado a música "de concerto", "classica", "erudita", ou como vocês queiram chamar.
Indico o http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ justamente porque essa música de nomes tão chatos( sem falar que toda definição dessa tem várias incoerencias) é tratada do jeito que eu gosto, ou seja sem mistério, com muita qualidade e com espaço pra alguma baixaria, como o próprio nome denuncia. Alguns comentários como esse http://pqpbach.opensadorselvagem.org/dmitri-shostakovich-1906-1975-sinfonias-nros-1-e-12/ da sinfonia n° 1 do Shostakovich pra mim é maravilhoso, é tudo o que eu sempre procurei e por muito tempo não achei.
Além do pessoal escreverer bem eles passam em seus textos uma autoridade no assunto que até hoje me impressiona, pois muitas informações desse blog, e muitos discos, são extremamente raros. O cara que iniciou o blog( que hoje em dia tem nem sei quanto colaboradores) se auto denomina filho de Bach, e pra quem vier a gostar do estilo dele eu achei uma entrevista muito engraçada com ele nesse site:http://miltonribeiro.opsblog.org/2008/01/27/milton-ribeiro-entrevista-p-q-p-bach/
Além disso, eu já ia esquecendo, tem muito Jazz.
Eu pretendo postar minha opinião sobre algumas músicas que eu estou ouvindo e vou aproveitar pra usar os link desse blog pra quem quiser escutar também poder baixar.
Um abração a todos!

Ass: Fagote da Batalha Lopes

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O CARINHO DAS PESSOAS AMADAS É O MELHOR REMÉDIO CONTRA DORES DE CABEÇA E CHAGAS EXPOSTAS!


Há alguns dias que cometi a precipitada atitude de dopar-me com anti-helmínticos deveras potentes. Conclusão: estou sendo vitimado por fortes dores de cabeça, náuseas e sensações de perfurações no lado esquerdo da palma da mão direita. Repito: incômodos muito fortes que, segundo constam, podem ser meros efeitos colaterais do dito remédio (que talvez seja um veneno para outros animais, além dos nematelmintos que poderiam ocupar meu corpo antes de seu uso contínuo). Tais incômodos, inclusive, lançaram-me num estágio de profunda agonia nas tardes de domingo e segunda-feira, a tal ponto de eu ser obrigado a cochilar em meu local de trabalho, se quisesse me livrar dos agouros doridos. Da mesma forma, precisei ingerir outro comprimido, desta vez à base de cafeína anidra, dipirona sódica e Mucato de Isometepteno, com vistas a me livrar da terrível cefaléia que me abatia. Porém, nada me fez efeito mais curativo que conversar com os amigos que me visitaram no trabalho ou que permitiram que eu saísse deste trabalho a fim de visitá-los. Conclusão óbvia: amizade é o melhor curativo que existe!

Wesley PC>

“IN HEAVEN, EVERYTHING IS FINE!”


Agora que eu me dei conta que não havia escrito nada sobre “Eraserhead” (1977), primeira obra-prima do bizarro David Lynch, revisto recentemente numa madrugada em Gomorra. Talvez não o tenha feito ainda porque é complicado retratar em palavras a magnificência grotesca deste filme, em que um ser humano masculino deveras estranho se relaciona amorosamente com um ser humano feminino não menos estranho, sendo que esta última dá a luz a um ser não-humano de sexo indefinido (este visto na foto). Após algum tempo de convivência familiar forçada, o ser humano feminino não mais suporta o choro interminável do ser não-humano que gerara e abandona o ser humano masculino, que se atormenta em cuidar desta criatura deformada e perenemente maculada por infecções, ao passo em que tem fantasias sexuais com uma vizinha sexualmente ativa e com uma estranha mutante canora que habita seu radiador, sofrendo, por fim, alucinações terríveis em que imagina sua cabeça sendo decepada e transformada em borrachas para lápis escolares. Preciso dizer mais alguma coisa? Obra-prima 'cult'!

Wesley PC>

POR QUE É QUE EU NÃO SEI FALAR TURCO AINDA?


Em março deste ano, os integrantes do Duman, minha banda turca favorita, lançaram um álbum duplo, nomeado simplesmente como “Duman I & II”. Muitas resenhas do referido álbum apontavam para uma mudança de sonoridade no trio, que se tornou um quarteto com a entrada em cena do baterista Cengiz Baysal. Ouvindo o CD, fui fisgado logo de cara pela sonoridade melancólica da faixa de abertura “Dibine Kadar”, que, em meio a lamentos e enrolamentos de língua, o vocalista Kaan Tangöze diz:

“yazdım çizdim hayal ettim
sazla sözden ibarettim
arkamı döndüm emanet ettim
anlayamadın ya

aklım fikrim kaynayınca
söz müzikle ağlayınca
kalbimi açtım ibadet ettim
anlayamadın ya

ama o anladı
o beni anladı
dibine kadar
dibine kadar”


Estou tentando encontrar traduções para a canção, mas, como o disco é recente, estas ainda não estão disponíveis. Porém, adianto que não fiquei decepcionado com o disco, que, tal qual os álbuns anteriores, mesclam vários gêneros, desde o ‘rock’ dor-de-cotovelo (em canções como a já citada e a faixa 03, “Sor Bana Pişman mıyım?”) até proto-‘hardcores’ um tanto mais reivindicativos (vide a ótima faixa 02, “Sarhoş”), passando por odes citadinas, declarações de amor um tanto raivosas e letras sobre temas mais gerais como a paranóia e o caos urbano (com certeza, um traço marcante na cidade de Istambul).

A propósito, descobri ontem um álbum da banda ainda não tinha ouvido “Seni Kendime Sakladım (2005). Mais tarde, eu baixo e comento. Nesse interstício, procuro alguém que me ensine turco voluntariamente.

Wesley PC>

A BELEZA DESVIANTE DOS ADOLESCENTES IRANIANOS (OU DE QUANDO NOSSA ATENÇÃO É DESINTENCIONADA)


Olhando para esta foto singela, quem imaginaria que, minutos antes e depois, crianças, animais e pessoas de todas as raças e idades seriam violentamente maltratadas pelo tempo, pela guerra, pelo descaso político e pelo sadismo de um cineasta iraniano? Pois eles são e o nome do filme é “Tempo de Embebedar Cavalos” (2000, de Bahman Ghobadi), visto no cinema há alguns anos. Na trama, um garoto de menos de 14 anos é obrigado a passar horas árduas carregando mercadorias contrabandeadas pelas montanhas geladas do Curdistão a fim de conseguir provisões alimentícias para sua irmã órfã e para um irmão que sofre de uma gravíssima doença mental. É sofrimento por cima de sofrimento e o título do filme anuncia que não somente as crianças protagonistas serão vilipendiadas diante de nossos olhos... Ainda assim, um filme maravilhoso!

Lembrei deste filme hoje porque vi o filme posterior do cineasta Bahman Ghobadi, “Tartarugas Podem Voar” (2004), tematicamente inferior, mas recorrentemente pungente e particularmente perturbador por inúmeros detalhes, entre eles o tortuoso fato de que os adolescentes mutilados que protagonizam o filme são muito bonitos fisicamente e desviavam nossa atenção espectatorial para situações que em nada apaziguariam as almas atormentadas daqueles personagens reais, tão acostumados e maltratados por bombas, estupros e tentativas frustradas de suicídios potencialmente redentores. Perturbador!

E, por mera casualidade, acabo de descobrir, neste exato minuto, que o filme mais recente do diretor, “Ninguém Sabe Sobre Gatos Persas” (2009), ganhou o prêmio ‘Um Certain Regard’ no Festival de Cannes. Estou, desde já, ansioso para ver este novo e dolente filme sobre músicos obrigados a ensaiarem clandestinamente no Irã...

Wesley PC>

SÓ PORQUE EU OUVI ESTA MÚSICA NUM FILME ÍGNEO DO DAVID LYNCH...


Estava com vontade de vomitar. Saí de casa. Visitei um amigo casado que não vi faz tempo, fã de David Lynch. Peguei o DVD de “Coração Selvagem” (1990) em sua casa e telefonei para Rafael Torres, que estava em Gomorra. “Posso ir pr’aí?”. “Pode”, disse-me ele. Lá estavam os outros dois Rafaéis que tanto me fazem bem. “A família está junta mais uma vez!”, disse-me Coelhinho. Vimos o filme. Coisas estranhas na tela o tempo inteiro. “Acontece”, repetíamos para nós mesmos. Até que, de repente, Renison Souza entra na sala. No filme, uma versão instrumental do clássico erótico “Wicked Game”, do estranho e sedutor Chris Isaak, era ouvida pelos dois amantes protagonistas. Eu e ele cantamos a letra da canção. Nostalgia!

“O mundo estava pegando fogo e ninguém podia me salvar além de ti
É estranho que o desejo faça com que as pessoas cometam bobagens
Eu nunca sonhei que conheceria alguém como tu
E eu nunca pensei que perderia alguém como tu

Não, eu não quero me apaixonar
(este mundo vai apenas partir seu coração)
Não, eu não quero me apaixonar
(este mundo vai apenas partir seu coração)
Por você (este mundo vai apenas partir seu coração)

Que jogo perverso tu executas, para me fazer sentir deste jeito
Que coisa perversa tu fazes para que eu sonhe contigo
Que coisa perversa tu dizes, tu que nunca te sentiste assim
Que coisa perversa de se fazer, para que eu sonhe contigo e...

Eu quero me apaixonar (este mundo vai somente partir seu coração)
Não, eu não quero me apaixonar (este mundo vai somente partir seu coração)
Por você”


Tudo a ver com o filme (e com tudo que o circunda)!
Nas imagens, o videoclipe brega (e lindo) da canção.

Wesley PC>

CENAS ANTOLÓGICAS DE MEU CINEMA PARTICULAR – III*


“Às vezes, um favor mata muito mais rápido que uma bala”

No filme, um ex-traficante (Al Pacino) sai da cadeia, depois de perder vários anos de sua vida confinado em prisões. Estava decidido a casar com a mulher de sua vida (Penélope Ann Miller) e fugir com ela para uma ilha tropical, onde passaria seus dias à beira-mar, bebendo água de côco, dançando e ouvindo “You Are So Beautiful to Me”, do Joe Cocker. Até que seu advogado viciado em cocaína pede-lhe que ele faça um derradeiro favor criminal. Adeus, liberdade! A primeira cena do filme é também a última. Fantástico, doloroso e real como só a vida pode ser...

Fonte: “O Pagamento Final” (1993), de Brian De Palma.

Wesley PC>

domingo, 24 de maio de 2009

26 OBSERVAÇÕES SOBRE O PERFEITO:


a) Ele não gosta de ser abraçado por trás;
b) Ele passa o dia inteiro em frente à TV;
c) Ele não defeca todos os dias;
d) Ele não gosta que o observem nu;
e) Ele tomou suco de jenipapo em maio de 2009;
f) Ele definitivamente não fica sem cuecas;
g) Ele possui uma cicatriz operatória na região genital;
h) Ele se incomoda quando arrotam perto dele;
i) Ele finge ser mais esquecido que o normal;
j) Ele já chorou na vida (pelo menos, assim me disseram);
k) Ele parece não se incomodar tanto com obsessões sadias por ele;
l) Ele acostumou-se ao trabalho que temia não gostar;
m) Ele é enigmático em relação a Marisa Monte;
n) Ele escreve em linguagem incomodamente cibernética;
o) Ele respira;
p) Ele não gosta de ficar em filas de banco;
q) Ele já freqüentou uma igreja de Testemunhas de Jeová;
r) Ele possui filmes pornográficos em sua casa;
s) Ele cozinha feijão com muita carne;
t) Ele gosta muito dos filmes protagonizados por Tom Hanks;
u) Ele permite que eu tenha aventuras extraconjugais;
v) Ele consegue dormir na hora em que quiser;
w) Ele diz que não hierarquiza amizades, mas possui afinidades;
x) Ele é humano;
y) Ele NÃO sabe tocar violão;
z) Apesar de ele possuir defeitos (que, evidentemente, são completamente ignoráveis ou tratáveis) e de ser eminentemente inferior a outras pessoas de nosso convívio no que diz respeito a certas atividades (operações manuais, interpretação de textos em inglês, atitudes responsivas emocionais, entre elas), ninguém que eu tenha conhecido até então foi merecedor tão egrégio da alcunha adjetiva que eu insistentemente deposito sobre ele. Rafael Maurício Silva, em suas condições normais, é um poço de beleza, inteligência, bom-humor e tolerância. É por esses e outros motivos, que eu o venero, que eu o contemplo e que eu desejo de todo o coração que ele seja feliz, esteja ele onde estiver, com quem quiser e do jeito que for. Ave, Perfeito!

Wesley PC>

A TACITURNIDADE DITIRÂMBICA (UM COMENTÁRIO ELOGIOSO SOBRE A “SÍNDROME DA SERVIDÃO VOLUNTÁRIA”)


Dentre os filmes que vi ontem, entrei em contato com um documentário sobre o mordomo da residência de uma rica família diplomática. Pelo menos, assim eu pensava. Prestando atenção ao que sentira durante a sessão de “Santiago” (2007, de João Moreira Salles), após o encerramento da mesma, percebi o quanto algumas pessoas se enganam em relação ao que o filme realmente deseja transmitir. Por mais que o mordomo entrevistado e obcecado pelas linhagens aristocráticas do passado e do presente esteja em primeiro plano, o subtítulo elíptico do filme (“reflexão sobre o material bruto”) elimina dúvidas insistentes acerca de suas intenções: o filme é um petardo contra a dramatização espetaculosa nas representações de vidas reais.

Independente de gostarmos não das obras roteirizadas e dirigidas pelo aquisitivamente rico João Moreira Salles, somos obrigados a ficar de quatro diante de sua coragem surpreendente em desmantelar recursos complicados de concepção estética, em que até mesmo situações aparentemente simples e corriqueiras como uma folha que cai sobre uma piscina ou um velhinho terno que chora são mostradas pelo âmbito da construção proposital (leias-se artificial) de climas dramáticos. Durante os 80 minutos de duração do filme, o diretor (que passa um texto em primeira pessoa à voz narrativa de um de seus irmãos) revela uma dolorosa impossibilidade em desestabilizar relações de poder disfarçadas de relações humanas há muito constituídas. Seja por que o mordomo representado seja um idólatra longevo de tudo o que pareça aristocrático, seja porque, mesmo aposentado, ele não deixa de enxergar “Joãozinho” como sendo um patrão, “Santiago” incomoda o espectador o tempo inteiro por ser precisamente o registro daquilo que, quando as imagens foram captadas (em 1992, pouco antes da morte do entrevisatdo), tentava ser escondido a qualquer custo, sob o prisma da realidade poética. Assim, nesta versão reflexiva de um filme inacabado, vemos um mesmo plano simples ser fotografado por minutos a fio, percebemos o mordomo repetir um mesmo monólogo triste e aparentemente espontâneo trocentas vezes (vide a sua maravilhosa paráfrase bergmaniana de que “somos todos mortos insepultos sob um céu largo e cruel”) e ouvimos alguns comandos directivos bastante severos, a tal ponto que a própria instância narrativa do filme lamenta o fato de não ter captado as imagens do que seria a mais sincera demonstração afetiva de seu objeto pessoal der estudos. Enquanto Santiago insistia em falar algo, em confessar uma de suas integrações passionais mais intensas, João Moreira Salles só gritava, repetidamente: “estamos sem tempo, Santiago. Fala logo aquilo que ensaiamos para finalizarmos as filmagens!”.

Eu poderia dedicar aqui infinitas palavras à contemplação intencional do quão relevante este filme é para qualquer pessoa que já tenha enfrentado o verdadeiro e lancinante dilema moral que nos aflige quando nos prestamos a retratar a realidade (tarefa esta que prometo repetir após novas revisões deste filme precioso), mas gostaria de aproveitar a oportunidade para comentar o que o filme tem de menos relevante: a predisposição do personagem em servir, as suas crenças intrínsecas de que música clássica de qualidade deve ser executada de fraque, a fim de instaurar respeito, sua obsessão em registrar a vida de famílias nobres... Tudo isto me toca em particular, no sentido de que entendo o que se passava na mente daquele ambíguo personagem real, quando se submetia aos gritos de seu antigo patrão como se isto fosse um ato de amor recíproco. Eu sei o que é isso, eu sei o que é acreditar nisso, eu conheço os mecanismos ideológicos e minuciosos que nos levam a chegar a tais conclusões. Por isso, é tão relevante que Santiago se dedique a explicar tanto tempo as origens humildes e servis de sua família imigrante, por isso é tão compreensível seu orgulho quando fala que conhecera Juscelino Kubitschek e João Goulart em pessoa, por isso não é difícil crer que um dos melhores dias de sua vida foi justamente quando seus patrões lhe dedicaram uma comemoração surpresa de aniversário... É um filme impressionante, digo apenas isso. E, sem querer desviar demais o assunto, queria utilizar aqui mais uma canção canônica da Rita Lee, “Bwana”, a fim de explicar a mim mesmo que mecanismos vitalícios unem-me à solidão conformada do personagem, que se percebe vivendo num sepulcro. E, como sempre, dedico-a a Rafael Maurício, pois foi ele quem cunhou o termo contido no título desta postagem (ao menos, no que se refere diretamente a mim) e é a ele que me dedicarei a servir, sem interesses parcos e imediatistas, até o final perceptível de minha vida:

“Bwana, Bwana
Teu desejo é uma ordem
Te satisfazer é o meu prazer...

Que não tem jeito,
O meu defeito é não saber parar
Volúpia!...

Adeus sarjeta,
Bwana me salvou.
Não quero gorjeta,
Faço tudo por amor

(...)

Bwana Bwana,
Não sei cozinhar,
Mas sou carinhoso e tenho talento prá boemia
Corre sangria nas minhas veias
Volúpia!...

Adeus sarjeta
Bwana me salvou
Não quero gorjeta,
Faço tudo por amor”


Faço tudo por amor!

Wesley PC>