sábado, 13 de junho de 2009

EU AINDA NÃO POSSO ESCREVER O NOME DELE (afinal de contas, amor platônico não é exclusividade de ninguém)!


Acabo de ver “Eros” (2004), filme em episódios sobre a aventura de amar (e, quiçá, não ser correspondido).

São três episódios: no primeiro, “O Perigoso Encadeamento das Coisas”, de Michelangelo Antonioni, vemos aquilo a que já nos acostumamos e para o qual nunca estaremos preparados: a dissolução de um casal. Ela diz que acha o lugar lindo, mas que se sente oprimida estando ao lado dele. Este, por sua vez, retruca anteriormente que ela sempre busca a pureza, mas acaba enfiada na merda. Eles se separam. Ela se deita na praia. Uma mulher dança nua. Ambas se encontram. FIM; no segundo, “Equilíbrio”, de Steven Soderbergh, um funcionário de loja de despertadores conta seus sonhos eróticos recorrentes a um psicanalista, que, por sua vez, também deseja realizar suas fantasias. Ao final, o psicanalista e o chefe do funcionário se parecem; mas é o terceiro segmento do filme que me fisgou: “A Mão”, de Wong Kar-Wai.

Em “A Mão”, Chang Chen interpreta um aprendiz de alfaiate que obedece aos mandos de seu velho chefe e vai tirar as medidas das roupas da bela cortesã vivida pela divina Gong Li. Chegando a sua casa, ele precisa esperar alguns minutos, visto que ela está ocupada numa sessão ruidosa de sexo. Ele espera, excitado. Ao se encontrar com a mulher, que percebe sua inexperiência (tanto profissional quanto da vida em si), ela diz que ele não pode se tornar um verdadeiro alfaiate se não souber como tocar numa mulher. Pede que ele se dispa, da cintura para baixo. Ele o faz. Seu pênis está ereto. A câmera soberba de Chistopher Doyle focaliza apenas a parte inferior dos personagens, como fará até o final do segmento. A mulher põe a mão no meio das pernas do aprendiz de alfaiate, alisa as suas nádegas. Ele geme de gozo, ejacula elipticamente e corre. Tornara-se um competente alfaiate, perdidamente apaixonado por aquela mulher, que, como boa prostituta, é perdidamente obcecada por um gigolô, que a explora. Os anos se passam. A cortesã permanece obcecada pelo gigolô bruto e o alfaiate mantém-se completamente apaixonado. Eles se reencontram. Ela na penúria e doente. Ele bem-sucedido, com suas roupas finas em mão. Ela pergunta se ele sentiu raiva pelo modo como se conheceram. Ele ama, basta como resposta. Algumas coisas acontecem e... FIM. Mais uma vez, Wong Kar-wai filma olhando-me diretamente nos olhos. É para mim que ele escreve, é para mim que ele deseja transmitir suas mensagens!

E não sou o único...

E ainda não posso escrever o nome dele!

Wesley PC>

sexta-feira, 12 de junho de 2009

DISCO NOVO DA IGUANA NA PRAÇA (SUJA)


Vai ser ainda lançado pro mundo oficialmente, mas a ansiedade musical de muitos ancorada nesse fruto da modernidade que eu considero ser uma liberdade anárquica interrompe o processo de espera que teria seu fim no dia 25/06/2009. Vaza na internet o novo álbum de um dos homens mais polêmicos, atrevidos, influentes e dançantes que já se propuseram a mexer nessa colméia com a alcunha de Rock 'n' Roll riscada na casca: Iggy Pop.

Como a maioria da galera deve saber, eu sou fã incondicional do velho rapazote mostrador de pentelhos e ex-auto-flagelador. Se a palavra "punk" consegue abranger alguma gama de significados e possibilidades, é em Iggy Pop que ela o consegue com maior propriedade. E fervor! Pra deixar a mistura pronta pra explodir!

Acabo de escutar esse álbum-bebê entitulado "Preliminaires" e confirmo algumas críticas que li feitas a ele. É um álbum MUITO diferente da música que Iggy sempre fez. Tá tudo num viés de calmaria e luxo, ao contrário da acidez agressiva e passional característica de anos da Iguana. Muito pouco de rock puro, e muito de jazz, música francesa, blues e até um versão em inglês pra "Insensatez" do Tom Jobim! Muito bom! Iggy já vinha vez ou outra passeando por esses caminhos jazzísticos - que logo me lembram pessoas bebendo, fumando e jogando poker em Las Vegas - há um tempo. Mas nada muito concreto. Agora parece que ele resolveu pôr todas as cartas do baralho na mesa. E joga bem o cara, viu?

Taí o link pra entrar pro grupo de usurpadores prévios da (ainda) iguaria (link provavelmente temporário sabendo-se que já já dão fim nele):

http://www.downloadingall.org/2009/05/d-download-iggy-pop-preliminaires-2009

Se joguem!



Fábio Barros

QUE A PIADA NÃO SE PERCA...


As comédias do Monty Python devem ser vistas por muita gente. São engraçadas de qualquer forma, mas, quanto mais gente tiver na sala, mais hilário será o efeito. Neste exato momento, estou com “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado” (1975, de Terry Gilliam & Terry Jones) na bolsa. Talvez veja hoje, talvez não, mas é fato de que o verei em Gomorra muitíssimo em breve....

Nem adiante contar a trama. A visão crítica do grupo é tão sarcástica em relação aos clichês narrativos da Idade Média que sua acumulação anárquica de piadas parece até deslocada da trama, que conta e reconta as aventuras dos Cavaleiros da Távola Redonda através de vieses deveras particulares. Na imagem, uma das piadas mais hilárias, quando um inofensivo coelhinho... Coelhinho... Saudades de Rafael Coelho!

Wesley PC>

MAIS UMA VEZ: SOU DESTES!


Fui à biblioteca ansioso. Precisava começar a ler “Cem Anos de Solidão”, do colombiano Gabriel García Marquez na tarde de hoje. Precisava. Não encontrei o livro. Contentei-me com uma coletânea de contos tristes do mesmo autor. Gosto de seu estilo taciturno, sempre permeado pelo realismo fantástico, que, segundo o teórico Fredric Jameson, é o grande traço militante da literatura latino-americana.

Não encontrei o livro que queria, mas, na vida real, uma estória passional me ocupava os pensamentos: no bairro onde moro, um traficante de drogas fora assassinado com um crânio de boi e teve seu pênis decepado. Pessoas se sentiram livres do pária. Eu fiquei imaginando se alguém o amava. Sempre há!

Wesley PC>

12 DE JUNHO DE 2009


Suspeito que suspeitam que eu escreveria em excesso no dia de hoje. Vivo em função de pastichos namoratórios e, como tal, por mais que eu ignore datas comerciais, o suposto Dia dos Namorados sempre me afetou negativamente. Sempre. Mas como estou proibido de escrever aqui um nome (por determinação punitiva própria, em virtude de ser consciente de meus erros), mudo de assunto e transcrevo a magnífica abertura em latim de um dos clássicos dançantes que mais me encantaram e salvaram-me da amargura da infância hiper-sexualizada:


“Laudate omnes gentes laudate
Magnificat en secula
Et anima mea laudate
Magnificat en secuala”


« Happy Nation », da banda sueca Ace of Base, que escutei no adentrar da madrugada de hoje. Se eu tenho saudades daquele tempo? Hmmmmmmmmmmmmmm... Se eu disser que “o disco é ótimo”, vale como resposta?

Wesley PC>

E AGORA, DEUS MEU? É MESMO UM MUNDO CRUEL?


Não consigo responder. Talvez eu tenha chegado ao nível esquizofrênico de resignação a que teóricos de renome como Michel Foucault, Felix Guattari ou Gilles Deleuze se referem quando analisam o comportamento estrebuchante de pessoas que insistem em manterem consciência crítica na atualidade anômica que nos circunda. Sou um destes, logo padeço de males psicológicos que, na melhor das hipóteses consoladoras, são meros sintomas dos tempos hodiernos. Se isto me prejudica? Sim, mas sobrevivo.

Por que isto me voltou à tona agora? Porque ontem vi “O Silêncio de Lorna” (2008), novo petardo dramático dos irmãos belgas Jean-Pierre & Luc Dardenne, e, ao contrário dos meus amigos presentes à sessão, interpretei equivocadamente o filme, no sentido de que substituí hermenêutica e subjetivamente a crueldade inexorável dos tempos atuais que o filme mostra por uma resignação imaginária, condizente mais com meu modo quiçá covarde ou desistente de enfrentar o mundo que com a postura psicopaticamente avançada da protagonista.

Sobre o que fala o filme? Sobre uma imigrante albanesa que se casa com um viciado em heroína a fim de conseguir a cidadania belga. Este deseja abandonar o vício, mas todos nós sabemos como isto é difícil e, nalguns casos, impossível. Ela precisa se manter indiferente ao sofrimento dele, visto que planeja um divórcio relativo ao casamento de fachada, pois terá que obter novo matrimônio falso com um imigrante russo, cujos métodos cruéis beiram a máfia. O viciado morre, de forma não explicada pelo roteiro vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Sabemos que fora vítima de uma overdose – e só. A partir de então, ela se imaginará grávida do defunto, a quem se apegara tardiamente. Terá que abortar, supondo que a gravidez fosse confirmada. Precisa fugir ou será morta. Mas, em meio a todos estes dramas, ela é obrigada a dançar uma música romântica com um homem que não ama, que a odeia, que odeia a si mesmo... É um filme cruel, é uma cena falsa esta da foto, uma das mais belas imagens do cinema contemporâneo. Maravilha!

E se o mundo é cruel? Talvez, mas... Como eu sempre digo: “oh, como é bom viver, como é bom ser virgem!”

Wesley PC>

DESAFIO: O QUE (NÃO) HÁ DE ERRADO NESTA FOTO?


Quando eu estudava Comunicação Social na UFS, uma professora passou uma propaganda impressa de vinho de mão em mão por cada um dos alunos. No anúncio, víamos apenas algumas videiras mancomunadas. A professora perguntava a cada um o que eles viam. Alguns diziam que enxergavam apenas inocentes plantas. Outros, que as plantas pareciam estar se esfregando eroticamente. Eu enxerguei a palavra SEXO e a professora me disse que eu tinha algo chamado “visão sincrética” e que, por causa disso, estaria apto a perceber mensagens subliminares nalguns anúncios. Depois eu mostro a propaganda aqui e talvez ajude a descobrir alguns “sincretistas” em Gomorra...

Wesley PC>

SERIA “BUDAPESTE” UM ROMANCE FILMÁVEL?


“Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silencio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando eu me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras húngaras”.

Assim Chico Buarque escreve na página 61 da edição da Companhia das Letras de seu romance escrito em 2003. Faltam poucas páginas para que eu termine de ler o romance e estou deveras intrigado em imaginar o que o consagrado diretor de fotografia Walter Carvalho fez com que este material enredístico em sua estréia como diretor-solo. A trama do romance é tão glotológica, tão subjetiva... Como será que ele transmitiu para a tela os questionamentos idiomático-sentimentais do protagonista? Substituindo os morfemas por diferenciações entre os sistemas de plano cinematográfico americano e europeu, por exemplo? Talvez esteja curioso, mas uma passada rápida de olho pela sinopse do filme e pelo elenco escolhido para vivificar os personagens não me encheu de encanto.

Fica a leveza da citação acima, talvez a mais bela do livro até então, numa situação que me fisgou particularmente, em virtude de um pecado [a (des)obediência instintiva] que cometi na quarta-feira, chateando alguém que admiro. Lerei o restante do livro. Entre outras coisas, arte expurga aquilo que nos faz mal...

Wesley PC>

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O DESEJO QUE MATA!


Numa das cenas-chave, no plano teórico, para o entendimento do filme “Instinto Selvagem” (1992, de Paul Verhoeven), uma psicóloga ocupacional, que, por acaso é sua ex-mulher, pergunta ao detetive estressado vivido por Michael Douglas como está sua vida sexual. Em resposta, ele apenas mostra a palma de sua mão direita e diz: “cheia de calos”. Na cena seguinte, o casal divorciado estará praticando sexo anal em cima de uma mesa. Minutos depois, o detetive estará completamente seduzido pela escritora bissexual e antológica vivida por Sharon Stone, que descreve assassinatos fetichistas com cortadores de gelo em seu livro e depois os pratica na vida real, sempre perguntando, quando é dada por suspeita: “tu achas que eu praticaria exatamente aquilo que eu descrevi em meu livro?”. Tal como eu, ela utiliza o álibi da hiper-exposição. Não consigo me proibir de sentir desejo!

Wesley PC>

SÓ PORQUE ESTOU OUVINDO AGORA (E NÃO SABIA QUE LAURA DERN E BEN HARPER ERAM CASADOS)...


“Mama, why does he treat me so cold..? so cold..so cold..
Why do I feel so old..? ..so old..so old..
How long has he treated me unkind..? unkind..unkind..
Or have I always been so blind..? so blind..so blind..

I'm a widow, I'm a widow
I'm a widow of a living man
Of a living man, of a living man”…
(Ben Harper and the Innocent Criminals)

Viúvo de um homem vivo…

Wesley PC>

quarta-feira, 10 de junho de 2009

METONÍMIA DA METONÍMIA DA CULPA


Nascido em 1931, morto em 1955, o mito rebelde juvenil James Dean participou, com êxito, de três obras-primas antes de falecer. Como tenho certeza que falarei destes filmes antes de morrer, aproveito este fotograma do filme “Vidas Amargas” (1955), em que seu personagem é vitimado por uma forte pendenga familiar, reflexo da tragédia bíblica de Caim e Abel, tentando atrair a atenção de seu pai, cuja atenção é voltada quase interiormente para seu irmão e absolutamente contrária à mãe, que agora é prostituta. Baseado num romance cultuado de John Steinback, todo o roteiro é uma metonímia da culpa que o diretor Elia Kazan carregada por ter denunciado alguns de seus companheiros cineastas durante à “caça às bruxas” que atendeu pelo nome histórico de macarthismo. E, como tal, esta postagem é também uma metonímia de minha própria culpa: culpa, culpa, desculpa...

Wesley PC>

AS MENSAGENS ELETRÔNICAS QUE RECEBO...


Na primeira, alguém justificava a sua não-fealdade caçoando deste personagem terno e cativante do filme “Monstros” (1932, de Tod Browning). No segundo, alguém me dava conselhos inócuos para o Dia dos Namorados. Entre um e outro, Juliana Aguiar me envia beijos credíveis e Débora Cruz confirmava a recepção de agradáveis convites. Conclusão: a fim de que sobrevivamos nesta pletora mundana, selecionar é fundamental!

Wesley PC>

Tocando o Terror

Uma das coisas que eu mais tenho curtido essa semana é o nosso conterrâneo e um dos arquitetos do manguebeat DJ Dolores. Tenho ouvido principalmente os álbuns "Aparelhagem" de 2005 e o mais recente "1 Real" de 2008.
Pra quem quiser mexer o corpo com música de qualidade, eu recomendo.
Deixo aqui um vídeo do DJ Dolores tocando no programa "Som na Rural" da TV Brasil, apresentado por Roger de Renor, o famoso "cadê Roger ô" da música "Macô" da Nação Zumbi.
A música em questão é "tocando o terror".



Leno de Andrade

A QUEM INTERESSAR POSSA (DE NOVO E DE NOVO E DE NOVO)...


Amanhã, feriado, 10h30’ da manhã, será exibido no Cinemark Jardins o filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes ano passado. Chama-se “Entre os Muros da Escola” (2008) e foi dirigido pelo francês Laurent Cantet, cujo filme anterior “Em Direção ao Sul” (2005), sobre turismo sexual no Haiti, eu consegui ver e achei demasiado falacioso em seu tom denuncista. O mesmo parece que não ocorre nesta nova produção, elogiada por pessoas em cuja opinião eu confio, em que choque geracional, xenofobia e plurietnias políticas são discutidas no ambiente estudantil. Não posso falar muito sobre o filme, pois nutro uma discreta antipatia pré-conceitual por ele (antipatia química, quase sobrenatural), mas a abordagem da problemática da transmissão gnosiológica a jovens como estes da foto é algo que sempre me interessa. Logo, verei o filme. Se alguém mais nutrir curiosidade...

Wesley PC>

E FOI DITO À MULHER DE LOT: “NÃO OLHE PARA TRÁS!”


... E ela olhou! Transformou-se numa estátua de sal. Ao invés de correr-se de saudades ou sentir-se parcialmente culpado pela falta de sua mulher, Lot seguiu em frente, morreu velho, fecundou as suas próprias filhas enquanto dormia (sem que o soubesse). Fico eu a imaginar: “será que ele não a amava?”. Ele me responde, imaginariamente: “a culpa foi dela!”. Agi errado há pouco. Espero não virar estátua de sal (prometi não pedir desculpas, mesmo sendo minha culpa)!

Wesley PC>

AS CHANCES QUE SE PERDE, AS CHANCES QUE AINDA SE PODEM GANHAR...


Das ditas bandas ‘punk’ brasileiras, a paulistana Cólera é, de longe, uma das minhas favoritas. Infelizmente, porém, perdi a chance de conferir um de seus espetáculos na cidade de São Cristóvão, onde vivo. Soube depois que a platéia reagiu muito violentamente ao concerto, interpretando equivocadamente as letras pacifistas, políticas e protestantes das ótimas canções do grupo. De qualquer sorte, queria ter ido, para gritar insistentemente que o vocalista Redson cantasse a letra de “Meu Igual” em grego (μου ίση). Como não consegui, vai em português mesmo, que a letra é graciosa. Tomara que o Perfeito goste (risos):

“Sozinho não dá
Eu não vo aguentar
Vem meu igual...

Sozinho não dá
Eu não vo aguetar
Vem meu igual...

Seja qualquer cor
De onde for
Vem meu igual

Quando vamos (Jah)
Para o pogo (Jah)
Somos um só
Vem meu igual!

Ah ah ah ah ah ah ah ah
Vem meu igual”


Igual em grego = ‘homo’
WPC>

SÓ O QUE ME FALTAVA: EU VICIADO EM CINEMA ANTROPOLÓGICO!


Pois então! Um amigo me passou diversos filmes do cineasta Jean Rouch, morto em 2004, vítima de um acidente automobilístico numa de suas expedições etno-cinematográficas. Como os mesmos estavam em francês sem legendas, estou sendo obrigado a consumir tais filmes sem poder conversar com ninguém no plano real, dado que as únicas pessoas que viram tais obras são virtuais. Consumo sozinho, portanto!

Ontem à noite, vi “A Caça ao Leão com Arco” (1965), que mostra os périplos da tribo dos Songhay, em Níger, únicos que têm o direito de caçar leões que sejam considerados “assassinos” depois que extravasam uma quota pré-instituída de ataque ao gado tribal. No filme, acompanhamos crianças ouvindo a saga ‘gaway gawey’, narração de uma incrível caça a este felino. Em seguida, acompanhamos todos os processos prévios da caçada (preparação das flechas, do veneno, rituais de consagração sacrificial, etc.) e a caçada em si. Vemos hienas, coiotes e leoas morrerem diante das câmeras, lenta e dolorosamente. Numa das seqüências mais impressionantes, uma leoa “vomita a própria morte” e eu acompanhando passivamente aquilo como “cultura”. O filme é ótimo, mas repercutiu em meus sonhos:

No sonho que hoje tive, acompanhei minha amiga baiana Anne Rodrigues, que levava alguns filhotes de gato doentes a um Centro de Zoonoses precário. Lá, deparo-me com vários pintos sofrendo de calazar. Irritado com a covardia zoológica de minha amiga, tento convencer minha mãe a me deixar levar para casa os tais pintos. Ela não deixa. Fico muito enraivecido. O tempo passa, minha tristeza e fúria abrandam. Viajo para uma cidade do interior sergipano (talvez Malhador, novamente). Ao entrar numa igreja, deparo-me com Anne Rodrigues, nua, me pedindo desculpas. Beijo-a, diante do Perfeito. (...) Acordo!

Senti uma estranha melancolia (e um igualmente estranho desejo erótico amistoso) o restante da manhã...

Wesley PC>

MANDARAM AVISAR... (LEMBRETE GEOGRÁFICO)


Tonga é o nome de um pequeno país insular da Oceania. Sua capital chama-se Nuku’alofa, os idiomas oficiais são o tonganês e o inglês e a banana e o turismo são os principais incrementos que o País recebe no viés econômico. Se alguém se interessar...

Wesley PC>

VAZOU O ÁLBUM NOVO DO PLACEBO!


Atendendo ao pedido de um gracioso amigo virtual alagoano, baixei o novo álbum do Placebo, “Battle for the Sun” (2009), oficialmente lançado no dia 8 deste mês (anteontem). Como fã da banda (mais precisamente, da ambigüidade sexual da banda, que vinha sendo talhada por seus produtores), o impacto inicial do novo álbum não me foi de todo agradável. Salvo a admirável e longa faixa título [em que o delicioso vocalista Brian Molko geme N vezes a palavra “I” (“eu”) que soa como “ai” (“ouch”)], ainda estou a digerir as demais canções, cuja sonoridade instrumental difere bastante do que eles vinham fazendo em seus álbuns anteriores. Na faixa 09, “Julien”, por exemplo, o susto é enorme: durante metade da canção, o tom é demasiado eletrônico, dançante até, quando, de repente, os gritos do vocalista surgem em meio à clássica guitarra distorcida do grupo (com aquele efeito sujo de boutique que tanto aprendemos a gostar!) e a letra fala sobre um “slow-motion suicide”). Assusta, mas é bacana!

A faixa que, aparentemente, o meu gracioso amigo virtual alagoano mais gostou foi a última, a foucaultiana “Kings of Medicine”, cuja letra se inicia dizendo que “eles estão tirando pedaços de mim enquanto tiram pedaços de ti”. É bacana, um tanto mais lenta. A faixa 02, “Ashtray Heart”, chama a atenção por seus versos em espanhol, no que diz respeito á tradução do título, “coração de cinzeiro”. As faixas 01 - “Kitty Litter” (cujo refrão fala sobre a necessidade urgente de uma mudança de pele), 04 – “For What’s It’s Worth” (em que ele fala “ninguém se importa quando tu estás na sarjeta”) e 05 – “Devil in the Details” (muito literal) são as que mais lembram o som habitual da banda, mas elas soaram-me muito comerciais, produzidas em excesso. Não são ruins, mas me pareceram esquecíveis... Ou talvez não, talvez dependam que eu ouça o CD mais vezes (ainda estou na segunda audição – risos). Pode não ser um álbum tão bom quanto os demais, mas merece – e muito – a minha recomendação. Ouçam-no, portanto!

“I I I I
I will battle for the sun sun sun
And I I I I
I won`t stop until I`m done done done
You you You You
You are getting in the way way way
And I I I I
I have nothing left to say say say”


Wesley PC>

terça-feira, 9 de junho de 2009

PORQUE EU NUNCA MAIS TINHA FALADO DELE(S), MAS EU NÃO ME ESQUEÇO, EU NÃO TE ESQUEÇO, EU NÃO ESQUEÇO...


“Os olhos estão caindo
Os lábios estão caindo
O cabelo está caindo no chão...
Vagarosamente, lentamente
Caindo em silêncio no chão
Todo o mundo está caindo
Toda a tristeza
De mim e de ti
Gotas lacrimais caindo no chão
Lágrimas
Estou falando de tuas lágrimas”…


(“Rapture” – Antony and the Johnsons)

Eu não me esqueço…
Eu não te esqueço…
Eu não esqueço!

Wesley PC>

EVENTO GOMORRENTO ALO-GOMORRENSE


A quem interessar possa: às 4h da madrugada do dia 14 de junho, domingo, será exibido o filme “Gomorra” (2008, de Matteo Garrone) no Cinemark, num projeto intitulado Virada Cinematográfica, em que três filmes são exibidos pela bagatela de R$ 7,50, começando a ser exibidos a partir da meia-noite. Ao final e nos intervalos, comida com intenções analépticas. Nem gostei tanto assim do polêmico filme baseado em romance investigativo do jornalista Roberto Saviano (até hoje protegido por guarda-costas), mas, no cinema, creio que o filme funcione melhor que em vídeo, visto que ele retrata bem a anomia da máfia contemporânea, em muito diferente da honra dos Corleone, que aprendemos a amar e respeitar. Garanto que vai ser uma experiência no mínimo metalingüística: levemos a Gomorra para ver “Gomorra”, portanto! Os ingressos já estão à venda: já comprei o meu e o do Perfeito (risos)!

Wesley PC>

FALTA-ME BERNARDO BERTOLUCCI!


Falta-me ainda!

Gosto de Sexo misturado à Política.
Gosto de História misturada à Vida Íntima.
Gosto de Virgindade que se confunde com Promiscuidade.
Admiro Bernardo Bertolucci profundamente!

Ainda não vi “1900” (1976), um de seus filmes mais abrangentes, elogiados e pretensiosos, com sua rebuscada e épica duração (existem versões lançadas do filme que ultrapassam as 4 horas de duração), em que acontecimentos destacáveis da História italiana (e, por extensão, do Mundo) desenrolam-se frente a nossos olhos, ouvidos e sensibilidade com base nos dramas pessoais dos personagens de Gerard Depardieu e Robert De Niro. Não posso falar mais. Nunca vi o filme, mas juro que planejo uma maratona de suas obras disponíveis para muito em breve. O Perfeito que me aguarde!

Na foto, uma prostituta realizando um de meus sonhos de infância.

Wesley PC>

APENAS MAIS UM NAS ESTATÍSTICAS?


De manhã, ouvi por acaso uma matéria jornalística sobre o alto índice de suicídios no mundo. Segundo o jornalista que apresentava a matéria, mais de uma pessoa atentava contra a própria vida por minuto e, de acordo com pesquisas, 95% destas mortes podem ser evitadas com um tratamento médico adequado contra depressão. Passei, então, a relembrar meus súbitos (e felizmente abandonados) anseios por suicídio. Desde adolescente, eu imaginava o meu suicídio ideal como sendo aquele em que eu me atirava em frente a um ônibus. A rua inteira pararia o que estava fazendo para ver meu corpo, que estaria calculadamente nu. Quando me disseram que o motorista do veiculo poderia sofrer graves processos em virtude da prática de homicídio culposo, abandonei muitos destes anseios. Os suicídios solitários, por outro lado, ou doem demais ou não garantem o nível de publicidade que eu desejaria obter com tal autoflagelo mortífero. Aliás, ser apenas mais um número nas estatísticas não me agrada (risos) e, arrisco dizer, motivos para depressão talvez possam ser evitados de outra forma nos 5% restantes dos casos, o que me leva a outra observação: quando pequeno, aos 5 anos de idade, fui sexualmente molestado por um homem de 24. Este fora assassinado durante um roubo fracasso, quando voltava de uma festa no Bairro Rosa Elze. Foi o primeiro enterro de que participei na vida. Fiquei triste não porque ele tinha morrido, mas porque seu pênis tinha isso com ele. Era uma criança pequena e, por não ter consciência do que era moléstia à época, sentia falta da manutenção de minha libido falocêntrica. Até que descobri que meus outros vizinhos vivos (alguns da mesma idade que eu) também continham pênis debaixo de suas roupas. Anos depois, aprenderia a diferenciar amor e desejo sexual. Continuo vivo!

Wesley PC>

MIJADA DE RACHADA


A tática foi descoberta por mim e Diego Bolacheira no mais recente Festival de Verão. Várias e várias meninas acocoravam-se em grupos de três e mijavam ao mesmo tempo. Bocetas e mais bocetas foram abertas (para fins não necessariamente sexuais) desta forma! E hoje, terça-feira à tarde, tive o privilégio de mijar em dois banheiros diferentes numa mesma casa burguesa: o banheiro da família e banheiro da empregada. No primeiro, tudo arrumado, perfumado, camadas e mais camadas de papel higiênico e produtos de limpeza espalhados por toda a extensão do ambiente. Mijei na pia! No segundo, um cubículo apertado, fétido e precariamente pavimentado. Mijei na privada e ainda dei descarga! A luta de classes gemia naquela residência e lá estava eu, mais uma vez perambulando entre dois mundos classistas. Fiquei imaginando minha mãe – que, até pouco tempo, era empregada doméstica – trabalhando naquela residência, sendo diariamente submetida aquele tratamento olfativamente desumano. Nem só de surpresas é feito o mundo!

Wesley PC>

A ATIPICIDADE TÍPICA


Todas as manhãs de terça-feira, eu tenho folga. Mas, na manhã de hoje, foi diferente: acordei muito cedo, comi uma papa de macaxeira com feijão e tive que visitar uma colega de trabalho, a quem estou ajudando num trabalho de conclusão de curso. Enquanto digitava, acompanhei ela chorar ao telefone, quando explicava a sua mãe que a recusa de seu pai em tomar remédios é apenas um anúncio natural da aceitação de sua morte. Ele está com câncer de próstata. Completará 80 anos no dia 21 de junho, se sobreviver. O mundo tem dessas coisas...

Na hora do almoço, enfrentei o velho problema: a mesma discussão de sempre sobre o porquê de eu não comer carne. Mas, sobrevivi. O marido dela me olhava por cima, como se me achasse estranho. Eu, estranho? Lembrei, então, de um filme que tinha tudo para marcar a minha infância: “Bem-Vindo à Casa de Bonecas” (1995, do sádico Todd Solondz) em que uma menina esquisita (vivida pela futura lésbica juvenil Heather Matarazzo) é hostilizada em casa, no colégio, nas ruas, onde quer que haja gente, por ser estranha, por ser brega, por ser feia, por ser anacrônica... Como toda idiota hostiliza, ela se apaixona por quem não deve, um talzinho popular, que a humilha, que se apropria de seu parco dinheiro, que desfila acompanhado por outras mulheres (bonitas) em frente a ela, que sonha, coitada, que espera, que se ilude...

Como o diretor não tem pena dela (típico dele, aliás), ela permanecerá para sempre sozinha (o belo e justificado desfecho cruel do filme é de uma evidencia patológica), visto que, de tanta humilhação e sofrimento, tornou-se incapaz de perceber que, ainda assim, há quem goste dela pelo que ela é, neste mundo injusto e divino em que vivemos. Bem-vindo ao meu universo!

Wesley PC>

TRÊS FOFOQUINHAS BÁSICAS SOBRE O GRUPO DE ‘BRITPOP’ ELASTICA:


- Apesar de o baterista ser homem, o Elastica é quase sempre lembrado como “uma banda ‘punk’ de meninas”. Imagina então como Justin Welch deve ter se sentido durante as gravações do videoclipe de “Connection”, em que diversos homens nus são caprichosamente espalhados pelo chão;

- A vocalista do grupo, Justine Frischmann, teve um relacionamento amoroso muito conturbado com o vocalista do Blur, Damon Albarn, e o término do relacionamento interferiu depressiva e negativamente na vida e na carreira de ambos;

- A banda só conseguiu lançar dois álbuns, entre outros problemas, por causa do vício em heroína de alguns integrantes. Possuo o álbum de estréia da banda, homônimo, que, além da já citada “Connection” e de “2:1” (presente na trilha sonora de um extraordinário filme do Danny Boyle), apresenta belas canções como “Line Up”, “S.O.F.T.”, “Stutter” e "Blue", a minha favorita. Pode ser um álbum fútil e passageiro, mas eu gosto. Ouço agora!

“Eu trabalharia duro se não fosse preguiçoso
Eu não consigo suportar a pressão, que começa a sem mostrar em meu coração
Tu sabes o quanto me dói
Um vida de prazer não é do jeito que tu pensas!”

(“Waking Up”)

Wesley PC>

SIM, EU GOSTO DE SAPOS!


Anfíbios transitam por ambientes terrestres e aquáticos, sobrevivem em ambos e ainda podem respirar pela pele. Ontem, Rafael Maurício passou por um sapo e me mostrou. Eu disse que gostava de anuros e ele estranhou. “Não é óbvio que eu goste destes animais?”, perguntei-lhe. Ele deu de ombros e sorriu, como sempre faz, em sua condição de Perfeito. A fim, portanto, de comprovar meu amor por batráquios, segue esta foto, que foi captada depois que o agora “muito feliz no plano especulativo” Max Vieira percebeu o objeto e me deu a idéia. Talvez fosse melhor corrigir o título da postagem: sim, nós gostamos de sapos. Portanto, lá vai:

SIM, NÓS GOSTAMOS DE SAPOS!

Observação: o gigantesco anuro da foto está morto. Jamais voltará a ser príncipe novamente!

Wesley PC>

O “DESCONHECIDO MERECIDO”


Foi assim que eu salvei esta foto em meu computador quando a encontrei ilicitamente numa das páginas pessoais de alguém que conheço. Trata-se do namorado de uma amiga e, em minha opinião, esta criatura retratada corresponde a uma das 3 pessoas mais bonitas que existem na UFS (supondo que eu consiga falar em Beleza quando o Perfeito não está por perto!).

Pois bem, para além de esta criatura ser realmente muito bonita (e de o restante da foto lhe fazer muito jus, seja pela combinação com o restante da paisagem, seja pelo modo como seu corpo é exibido), sempre obedeci a critérios muito próprios, no paroxismo da idiossincrasia, no que se refere aos meus julgamentos particulares de beleza física humana. Nestes critérios, uma palidez ou esqualidez inerente à pele da pessoa e a supremacia facial em relação às demais partes da anatomia sempre me foram exigências destacáveis, mas, ultimamente, até mesmo estes suportes classificativos estão a cair por terra... O que é um corpo bonito? Para que serve quando nos apaixonamos e ignoramos os defeitos de quem se torna objeto de nossa atenção? Quanto tempo dura a nossa reação a este tipo de beleza?

Situações engraçadas a este respeito me aconteceram ontem (e peço licença à minha Perfeitolatria para comentar o assunto): o moço da foto visitou-me em meu trabalho a fim de resolver um problema de nossa amiga em comum; encontrei um moço de óculos, magrelo e com cara de ‘nerd’, que eu admirava, numa academia de ginástica e isto me encheu de ojeriza; fui “paquerado” ocular e labialmente por um jovem afetado e gracioso (admito) enquanto eu o entregava uma Declaração de Matrícula. Evidentemente, todas estas situações atípicas de (re)questionamento erótico esmiuçaram-se quando enfrentei gotículas chuvosas noturnas ao lado do Perfeito. Neste último momento, não somente tudo o que acontecera até então perdera o seu sentido de afecção como parecia haver uma motivação para os momentos que se seguiriam. “A vida é mesmo como uma escada rolante de ‘shopping center’”, seria a conclusão a que eu chegaria depois disso!

Mas, voltando: antes de existir o Perfeito enquanto perfeito, eu e dois terços andromaníacos da UFS admirávamos a configuração estética do moço da foto. Alguns desgostaram dele muito rapidamente, pois o consideravam tolo e deslumbrado. Depois que eu ouvi sua voz, percebi que ele é, para além de suas condições de classe, terno e que possui bom gosto musical. E que, evidentemente, não liga para o que acham dele, visto que, dentro de suas limitações, é feliz e muito bem-relacionado. Basta! Adicionei, portanto, este adesivo sorridente em sua face, a fim de que ele, que possui um elevado conhecimento das leis penais brasileiras, não me impute um processo por divulgação não-autorizada de sua imagem. Mas fica a reflexão truísta: beleza não é tudo. Se eu me apaixonasse por Luiz Ferreira Neto ou Marcelino, talvez estes fossem também “perfeitos” para mim (será?). Ou talvez não. Ou talvez nem valha a pena pensar nisso, dado que o Perfeito real voltou a sorrir... “A vida é mesmo que nem uma escada rolante de ‘shopping center’”!

Wesley PC>

segunda-feira, 8 de junho de 2009

EVANGELHO PARA AS MASSAS!


“I have been unfaithful
I have been untrue
How?d I find the road that
Brought me back to You

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah”


Ou: por que eu fui sentar naquela cadeira?

“In this crowded city
I was so alone
Stranger to my own eyes
Heart without a home

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah”


Wesley PC>

O FETICHISMO DA MERCADORIA, por Karl Marx (OU: QUEM ME DERA SER ESTA CARTEIRA!)


“À primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise, mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano. É evidente que a atividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar” (IN: “O Capital” – Capítulo 1, Seção 4)

Ou, repito: quem me dera ser esta carteira!

Wesley PC>

ET LA VERITÉ... N’EST PAS HEUREUX!


Na cena acima, uma moça de nome Marceline caminha por uma praça e relembra o dia, num campo de concentração nazista para judeus, em que fora violentada em frente a seu pai. Ele não mais está vivo. Ela está. Vinte anos se passaram e ela faz parte de um filme que se tornaria o marco definitivo do ‘cinema-verité’: “Crônica de um Verão” (1961, de Jean Rouch & Edgar Morín). Acabo de ver o filme. Numa das seqüências finais do mesmo, as pessoas que foram filmadas quando tentavam responder à aparentemente simples questão-chave “tu és feliz?” comentam a “atuação” de Marceline. A grande maioria se considera espantada com a sua autenticidade dramática. Ela, porém, confessa que atuara, que exagerara um pouco na rememoração traumática, dado que sabia que estava sendo filmada e que isto lhe garantiria mais integridade rememorativa. Os diretores percebem que é difícil (ou, quiçá, impossível) captar a realidade sem interferir nela. Mais que um grande filme, uma experiência singular de vida nascia ali! [vide página 395 do guia “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer] E, pouco tempo depois, lá estava eu a observar como os modelos australianos de 19 anos se masturbam em frente à câmera...

Wesley PC>

UM POUQUINHO MAIS DE NOSTALGIA ANGLOFÍLICA!


Estou longe de ser o maior fã de Belle & Sebastian, banda escocesa que era a maior febre entre meus amigos ‘indies’ (leia-se: pimbas) de 2000, quando entrei para a Universidade. Lembro que, na época, eu ainda tinha medo de violão – por causa de uma ojeriza infantil à hipertrofia cantada da Legião Urbana, que hoje gosto – e sempre saía correndo quando meus amigos de classe se juntavam para tocar este louvável instrumento, que agora respeito. Quando resolvia enfrentar meu medo, porém, conhecia brilhantes baladas de bandas como The Pixies, Radiohead, Cat Power e até mesmo do Nirvana, que me eram novas naquele tempo, mas que desempenham um importante papel remodelador de minha personalidade nos dias hodiernos. E foi assim, numa madrugada em que cedi a um divertidíssimo luau na praia, que ouvi um casal em crise se resolver ao som de “Sleep the Clock Around”, faixa 02 do delicioso álbum “The Boy With the Arab Strap”, de 1998. Alguns anos depois, a banda – muito numerosa e avessa a entrevistas – apareceria no programa do Jô Soares, o que deixaria em polvorosa os meus amigos de então. Como eu ainda não dava muita trela pra banda, nem liguei. Mas hoje, ao ouvir de novo esta faixa, quantas e quantas lembranças se fundiram em minha cabeça! Assim sendo, segue a primeira estrofe da longa letra dialogística da referida canção, em inglês mesmo, para acentuar a belíssima cadência das vozes que se fundem sexualmente na melodia, linda, linda, muito, muito linda e terna, como só mesmo uma madrugada na praia poderia ser...

“And the moment will come when composure returns
Put a face on the world, turn your back to the wall
And you walk twenty yards with your head in the air
Down the Liberty Hill, where the fashion brigade
Look with curious eyes on your raggedy way
And for once in your life you have nothing to say
And could this be the time when somebody will come
To say, ‘Look at yourself, you're not much used to anyone’”


Foi um tempo que passou em minha vida. Nem melhor, nem pior que o tempo de hoje, mas um tempo que houve, um tempo em que eu estive lá e que, só por isso, já me vale para sentir saudades...

Wesley PC>

domingo, 7 de junho de 2009

O TERCEIRO ‘WUXIA-PIAN’ DE ZHANG YIMOU


O cineasta chinês Zhang Yimou tornou-se mundialmente conhecido em 1991, quando seu clássico “Lanternas Vermelhas” foi lançado. À época, ele era casado com a musa Gong Li, estrela de seus principais filmes, até meados da década de 1990. Sem ela, ele decaiu bastante no plano estilístico e pudemos conhecer verdadeiros gênios do cinema de seu país, até então obnubilados sob sua fama. Em 2002, porém, Zhang Yimou surpreendeu seus fãs, ao realizar um típico filme de ‘wuxia-pian’ (artes marciais históricas), que, não obstante ser ótimo [o filme em questão é o polivocal e multicolorido “Herói”], revelou um desespero tremático: Zhang Yimou não sabia mais o que filmar! Dois anos depois, ele dirigiu o belo, insípido e inverossímil “O Clã das Adagas Voadoras”, o que só atestou a sua falência criativa. Realizou uma co-produção com o Japão em 2005, [“Um Longo Caminho” (2005), filme tão discreto que, até dois minutos atrás, eu sequer conhecia, mas, por leituras alheias, percebo que contém o mesmo viés piegas e equivocado de trabalhos tardios como “Nenhum a Menos” ou “O Caminho Para Casa”, ambos de 1999] e, em 2006, realizou o filme que acabo de ver, “A Maldição da Flor Dourada”. É sobre ele que quero dizer algumas palavras:

Não obstante a fotografia arrebatadora de Zhao Xiaoding, o retorno da musa Gong Li e a surpreendente atuação de um envelhecido e competente Chow Yun-Fat, o filme decepciona. Não porque seja ruim, longe disso, o filme é até deveras agradável, mas porque o diretor, em sua suposta necessidade de agradar as platéias de seu país, realiza inúmeras concessões temáticas e estilísticas, de maneira que até minha mãe, que viu o filme comigo, chateou-se com o vazio enredístico que se desenrola por quase 2 horas de duração. Nesse tempo, situado no século X d.C., acompanhamos o drama da Imperatriz Fênix (a extraordinária Gong Li), que é diariamente envenenada por seu marido e mantém um caso extraconjugal com seu enteado. Quando pede que uma espiã descubra se está realmente sendo envenenada, descobre que estão pondo cogumelos negros venenosos provindos da Pérsia em seu chá e que a primeira esposa de seu marido ainda está viva. Pior: que seu amado enteado tem um caso ilícito com a própria irmã (sem o saber, obviamente). A partir de então, ela costura dez mil emblemas de crisântemos em armaduras e convence seu filho legítimo mais velho a tramar um golpe contra o pai. O resto é História!

Conforme se pode perceber, a trama deste novo filme é muito mais acessível que seus ‘wuxia-pian’ anteriores, mas não consegue atingir o mesmo furor positivo ideológico de “Herói” nem a sedução plena dos sentidas contida no falho “O Clã das Adagas Voadoras”. Vale enquanto experiência, portanto, mas nem de longe consegue extinguir as saudades extremadas que sentimos do genial, contido e apaixonante Zhang Yimou de outrora...

Wesley PC>

PIADINHA ARQUITETÔNICA AUTOBIOGRÁFICA


Todo mundo sabe que eu fui expulso do primeiro colégio em que estudei porque consumia boa parte de minhas tardes a lamber mictórios, seguindo ordens de meninos malvados que me hostilizam se eu não o fizesse [detalhe adicional na história repetida mil vezes: não foi tão voluntária assim a minha adesão infantil à tara urológica - risos]. Imagina o que me aconteceria se este tipo de mijador estivesse disponível naquela época... Tadinhos dos futuros afetados de 7 anos que estudarem em escolas públicas - ou bem-aventurados sejam estes!

Wesley PC>

OU... NÃO ME DEIXEM APRENDER A TOCAR VIOLÃO! (risos)


Recentemente, eu pedi que me ensinassem a tocar violão, pois planejava fazer uma serenata para Marcos Miranda em seu aniversário, em agosto. Por sorte, as pessoas que iam me ensinar a tocar o referido instrumento tinham outros planos e minha propensão ao sofrimento irredutível no que se refere às tentativas de contato com este menino foi substituída por sentimentos mais agradáveis. Um destes é o riso irrestrito que deixei emitir durante a sessão de “Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu” (1980, de Jim Abrahams, David Zucker & Jerry Zucker), que prestigiei, ao lado de minha mãe, na noite de ontem. Como eu gargalhei nesta seqüência da foto, em que uma enfermeira pede emprestado o violão de uma freira para entreter uma jovenzinha doente, mas finda por estragar o aparato médico que a mantinha viva (risos)! Humor negro e supra-referencial de primeira qualidade, num filme em que uma senhora idosa tenta se maquiar em plena turbulência aeronáutica, um piloto pedófilo pergunta a um jovenzinho curioso se este já visitara uma prisão turca e, num momento célebre, o personagem de Leslie Nielsen pergunta, em tom revestido de insuspeita seriedade: “precisamos encontrar alguém que possa pilotar este avião e que não tenha comido peixe no jantar”. Ótimo filme, surpreendentemente exibido no Cinema em Casa, do SBT, na semana passada.

Wesley PC>

O INÍCIO DA SINA DE JÓ, SEGUNDO A BÍBLIA:


“Havia, na terra de Hus, um homem chamado Jó, íntegro, reto, que temia a Deus e fugia do mal. (...)

Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles. O Senhor disse-lhe: De onde vens tu? Andei dando volta pelo mundo, disse Satanás, e passeando por ele. O Senhor disse-lhe: Notaste o meu servo Jó? Não há ninguém igual a ele na terra: íntegro, reto, temente a Deus, afastado do mal. Mas Satanás respondeu ao Senhor: É a troco de nada que Jó teme a Deus? Não cercaste como de uma muralha a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoas tudo quanto ele faz e seus rebanhos cobrem toda a região. Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele possui; juro-te que te amaldiçoará na tua face. 'Pois bem!', respondeu o Senhor. 'Tudo o que ele tem está em teu poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa'. E Satanás saiu da presença do Senhor.

Ora, um dia em que os filhos e filhas de Jó estavam à mesa e bebiam vinho em casa do seu irmão mais velho, um mensageiro veio dizer a Jó: Os bois lavravam e as jumentas pastavam perto deles. De repente, apareceram os sabeus e levaram tudo; e passaram à espada os escravos. Só eu consegui escapar para te trazer a notícia. Estando ele ainda a falar, veio outro e disse: O fogo de Deus caiu do céu; queimou, consumiu as ovelhas e os escravos. Só eu consegui escapar para te trazer a notícia. (...) Ainda este estava falando e eis que entrou outro, e disse: Teus filhos e filhas estavam comendo e bebendo vinho em casa do irmão mais velho, quando um furacão se levantou de repente do deserto, abalou os quatro cantos da casa e esta desabou sobre os jovens. Morreram todos. Só eu consegui escapar para te trazer a notícia. Jó então se levantou, rasgou o manto e rapou a cabeça. Depois, caindo prosternado por terra, disse:

Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isso, Jó não cometeu pecado algum, nem proferiu contra Deus blasfêmia alguma.”

Na imagem, “A Visão de Jó” (1825), de William Blake.
No texto, a Bíblia ‘ipsi literis’.
Entre um e outro: o que será que eu quero dizer com isso?

Wesley PC>

“VOU SER FELIZ E JÁ VOLTO” (2001)

No mesmo ano em que demonstrara sua estupenda capacidade actancial no clássico sociológico de Beto Brant, “O Invasor”, Paulo Miklos lança este (não tão) esquisito e muito agradável álbum, ideal para se ouvir enquanto lava pratos. Na primeira faixa, “Vai Acontecer de Novo”, um tanto decidida e alegre, o eu-lírico diz que vai sair, pois “A noite é pra se divertir/ Vou ser feliz e já volto”. Justificou o título do isco, portanto, ao passo em que compõe a balada ‘pop’ que mais se assemelha ao tipo de canção composta pelos Titãs ultimamente. A segunda faixa, “Mamãe Disse, Papai Disse” atesta que “o ideal ainda é sobreviver no final”, mas é bem cândida em sua declaração de afeto aos familiares cobertos de razão. A terceira faixa, ‘Todo o Tempo” é uma daquelas típicas declarações de amor contemplativo, ao passo que na faixa 04, “O Que Você me Diz?”, ele assume que está sempre pronto pra gostar e que está sempre feliz “por mim e por você”. É tudo muito simples, admito, mas é direto, sincero e agradável. A faixa seguinte, “Hoje”, comprova isto:

“Uma noite bem dormida,
Uma boa refeição
Abrir os olhos de novo,
Depois de tirar o sabão.
Roupa de cama brancas,
Toalha sobre a mesa.
No branco dos olhos o encanto
De um olhar da maior pureza

Hoje eu vou ficar com você
Hoje até amanhã de manhã
Hoje eu vou ficar com você
Hoje até amanhecer
Um amor prá toda vida
Uma grande afeição”


E assim, leve e declarativo, o álbum segue em frente, em faixas intituladas “Por Querer” e “Lâmina de Vidro”, mas, quando chega no paroxismo sonoro que atende pelo nome de “Orgia”, eu engancho. Não consigo parar de repetir esta canção, que está justamente contida no filme em que Paulo Miklos atua, numa cena pós-moderna de primeira grandeza, em que um japonês bêbado a interpreta num karaokê. Letra:

“Não tenho nome, eu tenho sede
Alimenta a tua fantasia

Eu tenho fome, eu tenho em mente
Uma grande orgia

Tudo o que eu mais quero, você não tem
O que você tem é só do que eu preciso
Tudo o que você sempre quis, eu não sou
Do que você precisa, é só o que eu sou

Não tenho rosto
Nada do que possa se lembrar depois”


Gosto muito desta canção e a repito várias vezes. Por isso, ainda não consegui escutar o restante do CD. Deixo a quem quiser esta tarefa. Ah, eu gosto!

Wesley PC>

DÁ PRA VER A SOLIDÃO ASSIM NA CARA?


Esta é a proposta do filme em 5 segmentos, “Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar Para Ela” (1999), estréia no cinema de Rodrigo García, filho do escritor colombiano ultra-prestigiado Gabriel García Marquez, autor de um romance que, com certeza, está na lista dos “10 mais” de todos que o leram, mas que eu ainda não consegui alcançar: “Cem Anos de Solidão”, citado no filme pela personagem cega de Cameron Diaz. Depois que eu ler “Budapeste”, do Chico Buarque, será este o romance no qual depositarei as minhas lamúrias – e/ou descobrirei novas, visto que já conheço o precioso estilo do autor, graças a uma magnífica coletânea de contos reunidos na edição de “A incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada”. O autor conhece a dor, o sexo e a dor (nesta ordem). Anseio desde já!

Mas voltemos ao filme, visto na manhã de hoje: são cinco estórias interligadas. Na primeira, uma obstetra infeliz (Glenn Close) cuida de sua mãe inválida, rouba seus brincos e se apavora quando uma jovem lésbica lê o seu destino de penúrias nas cartas de tarô; na terceira estória, uma dedicada mãe sente-se atraída por seu novo vizinho anão; na quarta, a jovenzinha que lê tarô no primeiro episódio (Calista Flockhart) lamenta a agonia terminal de sua amada (vivida pela talentosa e expressiva Valeria Golino); e, na última, duas irmãs (uma detetive, outra cega) elucubram sobre as razões que levaram uma conhecida a se suicidar, ao passo em que tentam resolver os seus problemas sentimentais. Entretanto, a estória que mais me agradou foi a segunda, discreta, em que a gerente de um banco (pungentemente interpretada por Holly Hunter) engravida de seu amante casado e, depois de ser interpelada várias vezes por uma mendiga loquaz que a tacha de “nojenta”, deixa balas da cabeceira de um homem infiel com quem faz sexo e despenca em choro (choro mesmo!) depois que pratica um aborto. Vou repetir no que ela despenca: choro, muito choro! E a cena é espetacular, perfeita, do cruel jeito que eu aprendi que acontece no mundo!

Apesar da sublimidade desta seqüência final do segundo episódio, no geral, o filme incomoda por sua pretensão dramatúrgica (vide os enquadramentos rigidamente oblíquos na primeira estória) e pela experiência feminista que o diretor insiste em demonstrar e que voltaria ainda mais aguçada em “Nove Vidas” (2005), rodado inteiramente em planos-seqüências, utilizando basicamente o mesmo elenco. A trilha sonora de Edward Shearmur (que conta com a participação relevante do trompetista típico dos filmes de Spike Lee, Terrence Blanchard) força a barra, implora por nossa adesão lacrimal e nem sempre consegue, mas que, na pior das hipóteses, o filme é uma gracinha, ah, isto é. Preciso ler o romance citado no primeiro parágrafo com urgência. Alguém tem para me emprestar?

Wesley PC>

HÁ SUFICIENTES JUSTIFICATIVAS AMOROSAS PARA O PARASITISMO DO INSTINTO?


Ampliarei o questionamento do título com uma anedota real:

Depois de ver e ouvir alguns depoimentos auto-midiáticos de meu amigo Wendell Bigato sobre a etimologia de seu apelido sobrenominal, visitei uma amiga de 17 anos, que, por estar com as narinas entupias de catarro em virtude de uma gripe, não percebera que havia um rato morto e em decomposição ao lado de sua cama. Sua mãe entra gritando no quarto e logo retira o decrépito cadáver do roedor, que deixa no chão dezenas de larvas esquizóforas. Estas encheram de nojo a minha vizinha adolescente, que, agora sim, passa a ser incomodada pelo fedor. Eu, por minha vez, fiquei a admirar a luta pela sobrevivência daqueles animais, privados de alimento e de um entendimento mais amplo (pensava eu, em minha pretensão humanóide) sobre suas missões existenciais neste mundo. Juro que eu estava admirado, juro que, por um minuto, senti vontade de afagar aqueles pequenos, indefesos e mal-aparentados seres. Encerrado o minuto, a dona da casa entra no quarto e despeja água sanitária sobre os animaizinhos. Nada pude fazer, além de, mais uma vez, contemplar a morte de inúmeras “moscas em potência”, que, naquele caso específico, jamais se realizarão como tal. Ao chegar em casa, abro um dicionário, para saber o que quer dizer herpetologia e deparo-me com uma citação de Theodor Adorno & Max Horkheimer, escrito em vermelho, com minha letra, sabe-se lá quando, na folha de rosto do referido dicionário: “a privação da liberdade é um pálido castigo comparado com a realidade social”. Senti um dorido orgulho por ser devoto de meu amor, mesmo que isso, às vezes, me equipare a um verme...

Longa vida à taciturnidade ditirâmbica!

Wesley PC>