sábado, 21 de julho de 2012

AFINAL DE CONTAS, ESTE FILME ECOA UM ASSUNTO PENDENTE!

Deve ser difícil morar comigo: tenho uma relação estranha com organização, tendo a ser controlador em todas as relações sociais e meu senso de economia doméstica é desviado para particularidades subjetivas que transcendem a aura idiossincrática. Não são novidades estas confissões, mas não me senti muito confortável em perceber que o confronto com as mesmas é o tema central de “A Viagem do Balão Vermelho” (2007, de Hou Hsiao-Hsien). Talvez eu tenha sido conduzido para uma interpretação deturpada, em razão de um assunto pendente, mas foi assim que apreendi o filme nesta primeira audiência: decepcionei-me com o diretor, aliás. Não entendi como ele quis conduzir esta alegada homenagem ao cineasta Albert Lamorisse: o balão vermelho aqui é quase um assunto terciário, estando à frente a lancinante desorganização da mãe (Juliette Binoche) do menininho Simon (Simon Iteanu) e a adaptação de uma estudante de cinema chinesa (Song Fang) ao cotidiano citadino francês. Tudo muito caótico e propositalmente confinado a um apartamento pequeno e bagunçado. Oficialmente, gostei muito da cena em que um cego afina o piano da família protagonista, enquanto a mãe discute com um (ex-)amigo que não paga o aluguel de um apartamento sublocado há vários meses, mas o filme como um todo pareceu-me muito mais sintomático do que efetivamente qualitativo. Também gostei da interpretação da graciosa Camille para “Tchin Tchin”, na seqüência final. Se não fosse dirigido por Hou Hsiao-Hsien, será que eu daria tanta trela a este filme? Esta é uma falsa pergunta: o problema aqui é outro...

Wesley PC>

quinta-feira, 19 de julho de 2012

DE UM LADO, A AMEAÇA ESPÚRIA DA PERDA DE UM AMOR; DO OUTRO, A CERTEZA INAUDITA DE QUE ESTE AMOR SEMPRE ESTARÁ LÁ!

De um lado, o filme francês contemporâneo “Adeus, Primeiro Amor” (2011, de Mia Hansen-Løve), sobre uma rapariga que se apaixona perdidamente por um moço tendente às aventuras, que a deixa para passear pela América Latina. Ela sofre, anos se passam, ela parece se recuperar, ao se envolver com um professor de Arquitetura, por quem se apaixona, mas cujo amor não consegue suplantar o que sente por seu amor de adolescência, que, afinal, regressa depois de vários anos. E, mais uma vez, a abandona, consolando-a com uma mensagem capciosa: “ontem eu sonhei contigo enquanto me deitava com outra mulher...”. Detestei o filme, mas alguns professores mais velhos que eu e meus amigos diziam que o nosso desagrado tinha a ver com o fato de não sermos da mesma geração que eles. Fiz de conta que não entendi. Fizemos, aliás. E, do outro lado da linha telefônica, eu ouvia uma voz carinhosa, sentindo-me contente por saber que o amo agora – e que isso é suficiente, não preciso me preocupar com mais detalhes.

Do outro lado, o filme francês clássico “Uma Mulher Delicada” (1969, de Robert Bresson), baseado numa obra dostoievskiana, sobre uma mulher triste que se suicida, e seu marido ainda obcecado por ela reconstitui as nuanças de sua relação matrimonial relativamente forçosa. Ele é ciumento. Ela é infeliz, apesar de gostar de cinema, de música, de literatura e de teatro. “Ela nunca me olhava diretamente nos olhos”, reclama o marido, o que me fez pensar se não foi por esta passagem que o diretor se encantou pelo enredo, visto que uma das marcas registradas do estilo bressoniano é justamente o olhar perenemente para baixo de seus “modelos” actanciais. Amei o filme, e não conheço ninguém que o tenha visto, para conversar. E, do outro lado da linha, uma voz esperançosa e sorridente, antecipando o momento em que eu fazia um jovem surpreendentemente carinhoso ejacular enquanto sua mãe se banhava e a panela do feijão fervia... O que ele fazia antes de jorrar esperma pela uretra? Dava-me preciosos conselhos sobre humilhação empregatícia, a fim de me consolar sobre as agruras odiosas que enfrentei com meu orientador de Mestrado na tarde de ontem. Houve amor ali – e ainda sinto-o agora. E, nesse caso, até mesmo os menores detalhes são relevantes!

Wesley PC>

quarta-feira, 18 de julho de 2012

“QUANDO EU PENSO NO FUTURO, NÃO ESQUEÇO O MEU PASSADO” (E VICE-VERSA)...

Caralho do cabrunco da peste! E tudo o mais que isto representa! Depois de uma madrugada de tanta paz que acordei me sentindo calejado de tanto flutuar, acordei fortemente desejoso de rever “E Sua Mãe Também” (2001, de Alfonso Cuarón), poderoso filme sobre o que é a combinação entre amizade e tempo. Tenho motivos muito pessoais para evocar ambas as palavras na manhã de hoje, mas prefiro projetar-me no infinito e viver o hoje, respirar o hoje, sonhar com o hoje. Pois o amanhã talvez seja de despertencimento...

 Wesley PC>

UM FULGOR!

Na noite de ontem, deitei-me pensando em dormir bem. Cria que, na noite posterior, ficaria acordado até o raiar do dia, por conta das comemorações vindouras de meu melhor amigo Jadson Teles. Estava tão intimidado por esta necessidade hipnofisiológica que sonhei que não estava conseguindo dormir. Repito: apesar de estar dormindo muito bem, sonhava que não estava conseguindo dormir, um pesadelo impressionante, que me fez despertar com dor de cabeça, como se, de fato, não tive conseguido dormir bem. Conclusão: entre aquilo que se é e o que se parece, há muito mais do que eu consiga lidar...

Enquanto me preparava para enfrentar as dores e alegrias do meu dia-a-dia, assisti a um maravilhoso filme holandês chamado “Fanfarra” (1958). Trata-se de uma inusitada experiência ficcional do genial documentarista Bert Haanstra (1916-1997), que só vim a conhecer bem recentemente. Dele, já havia visto os maravilhosos curtas-metragens “Espelho da Holanda” (1950), “Vidro” (1958) e “Zôo” (1962), mas a experiência com “Fanfarra” é bastante diferente: apesar de ser um filme de ficção, o que menos importa no filme é a sua trama. Talvez esta seja válida em seu impulso para a lição de moral (“ao invés de disputarem uns contra os outros, ensaiem juntos!”), mas a historieta sobre duas bandas de música que concorrem numa pequena cidade do interior chama a nossa atenção menos pelas reviravoltas em si que pelas comparações com os instintos animais, com a beleza das pequenas situações, como vacas que parecem flutuar em meio aos juncos, patas que ensinam seus filhotes a nadar e seres vivos de todas as espécies, que fulguram enquanto os homens se atacam sem necessidade. É um filmes simples, mas absolutamente encantador. Sinto-me mais feliz depois de tê-lo visto. E, oh, como eu o recomendo!

Wesley PC>

segunda-feira, 16 de julho de 2012

METONÍMIA DE MINHA GEOGRAFIA EMOCIONAL...

Moro há quase trinta anos na mesma casa. Na tarde de ontem, minha mãe comentou pela segunda vez que muitas das casas da nossa rua estão à venda. “Dos habitantes originais da rua, só vamos ficar nós!”, acrescentou ela. E, na madrugada seguinte, eu sonhei que paquerava um rapaz na frente de uma boate ‘gay’ e, de repente, em vi perseguido por espiões internacionais. A fim de me atingirem emocionalmente, eles eliminam do mapa várias paisagens naturais e artificiais de São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do País, em cuja área suburbana eu vivo. Acordei assustado!

Na verdade, apesar de a destruição da cidade ser um elemento secundário no sonho – à frente, estavam a minha inadaptação numa boate em que todos se beijavam, o relacionamento com meu amigo Rafael Maurício, e a imitação canhestra, de minha parte, do personagem MacGyver (Richard Dean Anderson), protagonista do seriado de TV “Profissão: Perigo” (1985-1992), assistido diuturnamente por minha mãe – fiquei angustiado por ser o segundo dia seguido em que sonho com uma espécie de hecatombe urbana: no dia anterior, sonhara que eu e um amigo motorista percorríamos, num carro negro, uma cidade despovoada, em que todos haviam morrido por decorrência de um vírus, ou algo assim. Encontramos, no local, uma cientista sobrevivente, fã dos piores filmes do Sylvester Stallone, por quem meu amigo/motorista se apaixona e quase me abandona do lado de fora de um carro em movimento. Por ora, não é sequer um plano terciário mudar-me de casa!

Wesley PC>

ACHO BONITO QUANDO ME VEJO DIANTE DE UM ESPELHO COM UM CIGARRO NAS MÃOS...

Não tinha muitas pretensões elogiosas quando liguei a TV, neste domingo pela manhã, para assistir ao documentário “Fumando Espero” (2008, de Adriana Dutra) no Canal Brasil. O título era tão sonoro, entretanto, que, aos poucos, fui me deixando levar pelo tom aparentemente subjetivo com que a diretora abordava o assunto: ela desejava deixar de fumar e, para tal, serviu-se de uma pesquisa histórica como sustentáculo decisório.

Para minha surpresa, a referida pesquisa é bastante rica em sua observância das diversas fases dos processos que antecedem e procedem uma simples tragada de cigarro: ela começa entrevistando artistas e personalidades famosas sobre o assunto (de Ney Latorraca a Miúcha), acrescenta as observações de médicos e especialistas , intercala os blocos temáticos com animações inteligentes sobre o assunto, filma a si mesma em sua abstinência histérica, detém-se demoradamente nos efeitos da publicidade televisiva e, principalmente, cinematográfica e, no surpreendente quartel final, entrevista agricultores que se declaram insatisfeitos com o cultivo de tabaco, mas que alegam não saberem fazer outra coisa para sobreviver economicamente. A família mostrada na foto foi a que mais chamou me chamou a atenção e recebeu minha intrigada compaixão: eles reclamam de impostos, enumeram os diversos reveses de sua atividade laboral, mas, ao final, demonstram-se resignados frente as lucrativas leis de mercado. Só por isso, faço questão de recomendar este filme a quem fuma, não fuma, quer parar de fumar ou – assim como eu – acha bonito se imaginar fumando...

Sei que parece um tanto truísta a abordagem do tema, mas Adriana Dutra realizou uma obra muitíssimo agradável de ser vista e bastante variegada em sua exposição de argumentos contra o vício em nicotina. Queria ter este filme em casa: a análise do desejo condicionado por fatores ambientais externos pode muito bem ser estendida para outras dependências... E, nestas, eu mais do que me incluo. Muito bom o filme!

Wesley PC>