sábado, 8 de maio de 2010

O QUE ACONTECE EM GOMORRA, FICA EM GOMORRA!

Longe de querer defender a obliteração mnemônica, mas... Madruguei em Gomorra depois de quase 3 meses longe do local e percebi que o ambiente é extremamente coeso em relação ao que nos faz sentir, mesmo que fiquemos longe ou que deixemos de ver aquelas pessoas encantadoras por algum tempo...

Encontramo-nos ontem em razão da passagem aracajuana de nossa mais nova e adorada baiana, Débora Cruz. Dançou-se, bebeu-se, comeu-se (muito, visto que a visitante é agora um gastrônoma em ascensão), abraçou-se, fumou-se, fez-se tudo o que tornou Gomorra notável. Rafael Coelho concebeu, num de seus vários momentos de lombra, a metáfora que considero perfeita para a liberdade no contexto hodierno (“liberdade equipara-se a um passarinho que voa carregando consigo a gaiola em que está preso”) e Max Vieira permitiu que eu entrasse em contato mais do que nostálgico com o magnífico seriado televiso “O Fantástico Jaspion” (datado de 1985), ao qual eu não assistia desde que tinha 11 anos de idade! Ouvimos músicas brega e pimba, contemplamos os efeitos psicodélicos de uma lâmpada roxa no meio da sala, e ficamos mostrando uns para os outros que tipo de situação artística nos fazia chorar. Foi lindo!

Em dado momento, percebi que, apesar de estar com a câmera fotográfica na bolsa, não queria fotografar o que estava acontecendo ali. Era uma revivificação passional tão intensiva que precisava guardar aquelas lembranças no cérebro, apenas no cérebro, tal qual os diversos maridos norte-americanos que, antes de cederem às tentações matrimoniais impositivas pela sociedade ‘yuppie’, promovem despedidas de solteiro para-criminais em Las Vegas. E esta imagem não é à toa: não somente descobri que já tinha ouvido “Poker Face”, canção da diva Lady Gaga, em mais de uma situação e que a mesma não me punge como acontece com seus admiradores contumazes (alguns deles, presentes no reencontro) como também aconteceu de eu retirar a carta de 4 de ouros num tufo de cartas de baralho que estava sobre a mesa. Seria um sinal de algo? Eu e Rafael Torres não soubemos responder, mas foi encantador passar uma madrugada ao redor de tantos amigos – no sentido mais concomitantemente quanti/qualitativo do termo!

Wesley PC>

sexta-feira, 7 de maio de 2010

“ONCE UPON A TIME, I WAS FALLING IN LOVE/ BUT NOW, I'M ONLY FALLING APART”...

Por uma agradável coincidência, tive acesso ao aguardadíssimo primeiro longa-metragem de Buster Keaton enquanto trabalhava. Dirigido por ele e por Edward F. Cline, “Três Eras” (1923) pretende analisar o que há de similar ou de diferente em relação a como as sociedades dedicam importância relacional ao amor. Assim sendo, o filme divide seu roteiro em três épocas distintas: a Idade da Pedra, a Roma Antiga e a Era Contemporânea (ao menos, em relação à produção do filme). Sem querer dar muitos detalhes sobre seu excelente roteiro e estragar as surpresas decorrentes de cada belo filme keatoniano, preciso declarar minha paixão irrefreada pela seqüência final, que investiga as reformas morais atreladas ao casamento, à medida que os anos se passam... Mostrei a uma amiga minha, que se recusava a me acompanhar na sessão em razão de o filme ser mudo e em preto-e-branco, e ela sorriu cúmplice. Buster Keaton encanta e o filme pode ser gratuitamente assistido aqui.

Wesley PC>

O QUE FIZERAM COM MEU SERIADO FAVORITO?!

Qualquer que eventualmente leia este ‘blog’ sabe que sou um fã (in)condicional do seriado musical norte-americano “Glee”. Porém, o 17º episódio, “Bad Reputation”, encheu-me de vergonha justamente por fazer jus ao título. Foi ainda pior em sua subsunção pré-vendável que o décimo-quinto, que homenageava Madonna de forma precipitada. Quase ruim!

Em primeiro lugar, não entendi (ou pouco me lixei para) a lista de quocientes de sensualidade cuja publicação causa polêmica no colégio em que se passa a estória, de maneira que achei igualmente dispensável qualquer variação sobre o tema (a líder de torcida grávida, uma de minhas atrizes e personagens favoritas do seriado, chorou rápido demais, em minha opinião) bem como a ridícula intenção de alguns membros co coral que nomeia o seriado em se tornarem infames. Para que aquilo?

Em segundo lugar, a participação da australiana Olivia Newton-John foi redundante, a nova personagem da professora reabilitada de seu vício em álcool e drogas (vide fotografia, com Jane Lynch) é patética, e as reviravoltas dramáticas da trama soam artificiais, seja quando a treinadora rude mostra-se terna ao ler uma historieta infantil com sua irmã portadora de síndrome de Down, seja quando a terapeuta virgem resolve dar uma lição de moral em seu namorado depois que imagina que ele tenha feito sexo com outras mulheres.

E, por último, é patente a intenção dos produtores em vender mais e mais com base no aspecto de auto-ajuda que agora percebo como inerente a cada cena, o que descamba para números musicais crescentemente videoclipescos e sem autenticidade e para uma escolha malfadada de canções a serem “reabilitadas” pelas novas gerações. Se me serve de consolo, a execução de “Total Eclipse of the Heart”, ao final, deixou-me completamente excitado, tanto que só pude dormir após baixar o disco da Bonnie Tyler em que esta canção egrégia está contida, mas... O que fizeram com meu seriado favorito? Por que estão desperdiçando o talento nascente do Cory Monteith? Por que o que se pretendia como uma inteligente resposta ao esvaziamento romântico de muitos seriados enlatados precisa estar tão subsumida a padrões deletérios de comércio espectatorial? Por quê?

Haja o que houver, supondo que o décimo-oitavo episódio seja ainda pior do que este, fica-me a lembrança perene de quanto estes personagens me foram críveis enquanto representação de uma ciranda adolescente que eu bem que poderia ter vivido... Ou vivi... Ou fui proibido de viver. Mas nada me levará a concordar com o uso supostamente defensivo do preconceito contra arme para quem oprime. Isto não funciona. Isto é mau! E, como disse o idiotizado professor Will Schuester (Mathew Morrisson), nada é mais ridículo do que imitar quem mais se despreza. Em outras palavras: alguém relacionado a “Glee” conseguiu atingir a má reputação pela qual ansiava!

Wesley PC>

“TODO DIA, ELE FAZ TUDO SEMPRE IGUAL”...

Todo mundo sabe que eu caminho muito rápido. Tanto que, quando existe alguém mais lento diante de mim num espaço pequeno, um conflito é inevitável. Hoje aconteceu um desses conflitos. Tencionava chegar cedo ao trabalho, visto que precisava imprimir um artigo acadêmico. Havia um aluno caminhando pausadamente diante de mim, de maneira que houve um momento em que pisei sem querer no seu chinelo. O contato foi tão violento que ele quase leva uma queda no chão. Como eu estava ouvindo música alta e estava apressado, nem tive como me desculpar. Mas, por dentro, eu fiquei preocupado: vai que este homem corre atrás de mim e me espanca (com razão)? Resignei enquanto adiantava o passo, já aguardando o soco. Não é que, duas horas depois, justamente ele aparece no DAA pedindo-me uma declaração?! Olhou-me como se nada tivesse acontecido. “Não deve ser rancoroso”, pensei.

Fui dormir muito tarde ontem, justamente preocupado com a confecção do artigo que precisava entregar. Motivo: parecia fácil demais e tinha tempo de sobra, o que fez com que questionasse largamente a minha capacidade de redigi-o. Agora que está pronto, evito pensar muito em seus defeitos, em virtude do prazo de entrega para a manhã de hoje. Qual não foi a minha surpresa ao correr para a sala de aula e encontrar um pedido de desculpas pela ausência da professora escrito na lousa? Grrrrrr... E agora? Como superar a tentação de futucar o artigo? Meu pseudo-perfeccionismo anárquico me extenua!

Além do trabalho, outros fatores me extenuam: o afã (por enquanto, irrealizável) de ver a obra integral do canadense Michael Snow; as conseqüências negativas do opressivo horário de trabalho de pessoas cujo convício me faz bem; a minha patológica necessidade de agradecer a quem me faz bem pelo simples fato de me fazer bem; a lembrança de que utilizei uma revista Playboy para descobrir a masturbação... Ai, ai.

Wesley PC>

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O LOMBROSISMO RECHAÇADO PELA IDEALIZAÇÃO DAS PAIXÕES PLATÔNICAS E OS PLEONASMOS JUSTIFICADOS DO DIA-A-DIA

Não é de hoje que as teorias sobre criminalidade nata patenteadas pelo criminologista italiano Cesare Lombroso (1835-1909) causam polêmica. Analisando os crânios de delinqüentes mortos, esta conturbada personalidade policialesca alegava encontrar padrões justificativos das práticas criminosas vitalícias. Mais ou menos isto!

Por pura causalidade avaliativa, posso utilizar fac-símiles das teorias lombrosianas para tentar entender como determinadas configurações tipológicas causam em mim efeitos atrativos largamente extensos, a ponto de eu subsumir-me a uma conformação poli-informativa do que se entende por amor platônico. Entretanto, não são poucas as situações em que meus esquemas sinápticos passionais fugiram às determinações previamente compreendidas, o que me deixou subconsciente apaziguado: ainda sou capaz de escolher!

Sendo capaz de escolher, submeti-me recentemente ao que se pode chamar de encontro pela Internet. Não sei se já relatei esta anedota aqui, mas, ao encontrar o talzinho relacionado, e renegar de imediato qualquer possibilidade de adequá-lo às minhas tipificações mentais concessivas do que seria um parceiro romântico (em outras palavras: por melhor que hipoteticamente fosse o seu caráter, ele NÃO era o meu tipo!), não quis desperdiçar o encontro e pensei na possibilidade consoladora de acrescentar mais um amigo ao meu rol de pessoas queridas. O talzinho, porém, era indomável: não obstante ele se descrever como cinéfilo em seu perfil de Orkut, o mesmo não parou de tagarelar durante a sessão do filme escolhido e, pior, ficou me intimado a sair da sala de cinema antes dos créditos finais. Fiquei com vontade de espancar o desgraçado ali mesmo (e deixei esta vontade bastante clara), mas, para ele, não era suficiente: convidou-me para acompanhá-lo até a praça de alimentação do ‘shopping center’ e praticamente suplicou para que eu aguardasse ele terminar de comer. OK, o fiz pela última vez em minha vida! Engraçado é que, avaliando situações similares cinematográficas, o contrário é que costuma acontecer: dá tudo certo. A realidade é bem diferente, pelo visto.

Pois bem, no penúltimo fim de semana, um parceiro para-sexual outrora freqüente (chuif) convidou-me para assistir a um filme espanhol ‘pop’ contemporâneo que um amigo seu havia emprestado. Tratava-se de “Diário Proibido” (2008, de Christian Molina), sobre uma ninfomaníaca que pelos bordéis e pela alta sociedade espanhola (há muita diferença?) em busca de um namorado perfeito, mas só descobre mais e mais situações de afobamento erótico. Pior: sob o ponto de vista oportunista de um capitalista masculino que explorava as divagações existenciais da moça apenas para erotizar a platéia acrítica. Não conseguiu comigo, pois fiquei particularmente interessado em investigar as particularidades comportamentais da melhor amiga da protagonista afoita, que é justamente uma solitária celibatária e masturbatória. Ao final, como ela termina? Muitíssimo bem casada em razão de um encontro cibernético. Ah, se a vida real fosse assim...

Voltando à realidade igualmente evasiva, é por isso que eu insisto em levar à frente minhas paixonites, por mais que às vezes elas me saturem de crises, conforme aconteceu ontem e conforme acontece durante a própria feitura desse texto.

Wesley PC>

quarta-feira, 5 de maio de 2010

MILITÂNCIA DOLOSA PREFIXAL

Na última de Jornalismo Ambiental que freqüentei, a professora solicitou que resenhássemos um curta-metragem chamado “A História das Coisas” (2007, de Louis Fox). Duas semanas se passaram desde este período e eu cometi a besteira de só assistir ao filme anteontem. Grifo aqui o termo besteira porque uma crise de personalidade me assolou durante a audiência ao curta-metragem, por dois motivos paradoxais: 1 – em virtude de minha prática costumeira na produção de resenhas, creio-me perfeitamente capaz de escrever um bom texto sobre o filme; 2- justamente pelo costume produtivo desta prática, enfrento problemas em relação à adequação formal do texto, visto que meus intentos avaliativos pessoais talvez difiram daquilo que será exigido pela professora.

Crise autoral à parte, minha relação com o curta-metragem, de cunho extremamente militante e elogiosamente contaminador, não foi tão positiva ou direta quanto a ótima professora sugeria: incomodou-me o tom demasiado elementar da apresentadora Annie Leonard, ambientalista apaixonada que, durante os 21 minutos de duração, discursa contra os malefícios atrozes e crescentes do capitalismo devastador que caracteriza a era em que vivemos agora – e que só tende a piorar. O pretexto enredístico do documentário é fazer com que questionemo-nos acerca de quais processos um dado produto seja às nossas mãos, pondo em xeque, inclusive, o porquê de eles serem eventualmente tão monetariamente acessíveis.

Fui à Biblioteca, busquei novamente o livro-mor do padrinho Karl Marx, dediquei o meu horário de almoço ao entendimento desejado do conceito de mais-valia e li alguns artigos sobre o filme, mas algo me bloqueia em relação à apreciação do curta-metragem. Por mais que as denúncias do mesmo sejam óbvias (no sentido mais redundante do termo) e eu concorde em gênero, número e grau com as admoestações da ambientalista acerca da importância da reciclagem, algo me perturba em relação a ele, algo faz com que eu não goste tanto quanto outras pessoas em que confio politicamente. Para descobri a origem do problema, preciso reavaliar alguns prefixos!

Wesley PC>

terça-feira, 4 de maio de 2010

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK MUSICAL

“O menino perfeito
Tinha um trejeito
De quebrar um pouco a mão
Ele era o eleito
Tinha no peito
Uma condecoração
O menino perfeito
Tinha um conceito
Para tudo explicação
Se algo desse defeito
Ele dava um jeito
Arrumava uma solução
Mas eu Não

O menino perfeito
Fazia direito
Sempre quis decoração
Mas com todo respeito
Esse sujeito
Só queria meu irmão
O menino perfeito
Tão satisfeito
E sua convicção
Só tirava proveito
Frases de efeito
Em qualquer situação
Mas eu Não”


Então, conheci a mineira Érika Machado por acidente. Nunca escutei o álbum anterior dela, “No Cimento” (2006), que contém a encantadora faixa “As Coisas”, sucesso do YouTube, mas “Bem Me Quer, Mal Me Quer”, lançado no final de 2009, é facilmente encontrável para ser baixado pela Internet e, segundo os críticos, está mais triste e reflexivo que o álbum anterior. A cantora tem 32 anos de idade, uma voz dulcíssima e contou com a produção do músico John Ulhoa neste disco mais recente, que contém faixas encantadoras sobre amores desencantados. Como só o escutei uma vez, enquanto caminhava para o trabalho, não me darei ao precipitado trabalho de resenhá-lo, mas admiro a simpatia um tanto pueril da capa, ilustrada pela própria compositora e, logicamente, os chistes contidos na faixa 10 do álbum, “O Menino Perfeito”, transcrita acima por motivos nostálgicos muito óbvios. Quem quiser tirar as dúvidas, que escute o álbum.

Wesley PC>

segunda-feira, 3 de maio de 2010

AMOR A DEUS (E À VIDA) VERSUS INVEJA DE CRISTO

Direto ao ponto: vi hoje o polêmico documentário “Jesus Camp” (2006, de Heidi Ewing & Rachel Grady) e, para além de todas as qualidades técnico-discursivas do filme, o que mais me chocou foi a constatação amedrontada de que eu posso ficar daquele jeito. Pode acontecer a qualquer instante! Deu medo!

“Jesus Camp” é conduzido como se fosse o registro imparcial de uma comunidade de fundamentalistas evangélicos, mas é tendenciosamente pré-conceitual em sua abordagem: escancara as técnicas de lavagem cerebral infantil perpetradas por uma seita que promove acampamentos de veraneio a fim de manter as crianças em estado perpétuo de transe teológico. Utilizando músicas de ‘heavy metal’ ou ‘techno’ gospel para fisgar as necessidades catárticas dos meninos, a líder religiosa Becky Fischer explica como conduz o seu programa de catequese extremada, em que os pupilos são educados em casa (a fim de que não se pervertam pelas “aberturas democráticas falaciosas”), repetem o nome de Jesus Cristo e palavras de ordem como “amém” e “aleluia” de 10 em 10 segundos e, gradualmente, introduzem termos e atitudes bélicas em seus rituais de consagração religiosa. Duas crianças fanáticas e eloqüentes chamam particularmente a nossa atenção: a garotinha Tory, que enumera vitupérios contra cantoras ‘pop’ como Lindsay Lohan e Britney Spears, que desperdiçam seu tempo falando sobre “rapazes e moças” em suas canções; e o estiloso Levi, que ostenta uma longa mecha na parte traseira de seu cabelo curto. Vi-me em potência nostálgica regressiva naquelas duas crianças. Talvez eu tenha tido sorte de ser renegado pela Igreja quando tentei ingressar num grupo de jovens, em virtude de minhas ostensivas práticas sexuais da tenra idade.

Enquanto via este filme quase ótimo, percebi que um amigo adventista se incomodava bastante com o que ele chamava de “perspectiva unilateralmente destrutiva” no roteiro do filme. Eu, de minha parte, questionava a omissão da câmera no registro dos eventos, ao passo em que comparava os chocantes rituais de aliciamento pedofílico com o que vi numa auto-apelidada Igreja Inclusiva em Belo Horizonte - Minas Gerais, em que um pastor ‘gay’ casado com outro homem estimulava a proeminente platéia homossexual de seu culto a entregar qualquer soma de dinheiro no afã por construir um templo em que “Deus não se importa com quem tu dormes”. Aqui, todos têm direito ao perdão, de maneira que eu não me surpreenderei quando chegar ao Céu e encontrar Adolf Hitler me esperando lá”, continuava a pregação do pastor. E eu seguia impressionado. Não conhecia o fanatismo oportunista neo-pentecostal tão a fundo quanto os companheiros que me acompanharam a este arremedo de missa. As barbaridades mostradas no filme acontecem na vida real, é tudo verossímil. E eu fiquei com medo que pudesse ser eu fazendo aquilo...

Por mais que eu me considere intelectualmente capaz de enfrentar as tentações do obscurantismo religioso, a inveja que sinto (admito) do transe proporcionado – e, ao mesmo tempo, voluntariamente renegado – por jogos eletrônicos, maconha e sexo penetrativo me deixa exposto e fragilizado diante da aceitação grupal ilusória que este tipo de prática comunal deixa entrever. Minha sorte: a) crer num Deus definido magistralmente pelo mártir iconoclasta Blaise Pascal; e b) apaixonar-me por seres humanos que agem como tais e permitem, cada qual a sua maneira, que eu faça o mesmo. Mas que dá medo dá. Eu tenho medo!

E, por uma coincidência espantosa, olha só o que eu estava ouvindo enquanto escrevia isto:

“Talvez o tempo possa me livrar da culpa
Que eu não sei se vem de mim ou da cruz de Jesus
Mas eu tenho ainda um grande amor pra te dar
Quero saber se você aceita ele como for
My love is your Love”
(“Eu Menti Pra Você” – Karina Buhr)

Será mais um sinal, meu Deus? SOCORRO!

Wesley PC>

MODINHA SOBRE A ORFANDADE ANTITÉTICA

Na sexta-feira passada, encontrei um amigo pretensamente “independente” vestindo uma camiseta da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Não lembrava de ter ouvido sequer uma canção completa da banda até então, mas o álbum mais recente da mesma (“C_ompl_te”, datado de 2009) foi largamente elogiado pelos redatores de meu guia de TV por assinatura, algumas de suas faixas são largamente executadas na TV Cultura e uma cúmplice recifense de 13 anos de idade põe algumas das canções da banda como sendo suas favoritas, ao lado de baladas adolescentes interpretadas por artistas como Miley Cyrus, McFly ou Paramore. Na manhã de hoje, tive os primeiros contatos sonoros com esta banda e, ainda no primeiro acorde, percebi porque ela faz sucesso para aqueles que se sentem órfãos de Los Hermanos. Entretanto, logo constatei que quase todas as canções do disco faziam uso insistente de antíteses, o que causou um certo enfado durante a audição. “Adeus” prima pelo uso romântico das rimas, “Lista de Casamento” tem algo que emula o Roberto Frejat feliz e “O Tempo” é um tanto pedante, apesar de parecer bem-intencionada (contendo o afetado questionamento “Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?” num de seus versos finais). A faixa 04, “Cão Guia”, foi, portanto, a primeira que conseguiu me fisgar efetivamente, seja pelo caráter de odisséia perdedora que associa o azar contumaz do eu-lírico no amor à sua sorte periclitante nos jogos, seja pelo endossamento dramático do animal altruísta contido no título (“Andava cego de amor e o meu cão guia não sabia se seguia minha dor”). Daí por diante, constatei que as demais canções insitiam em fazer brincadeiras vocabulares envolvendo expressões de sentidos opostos [exemplos: “Sempre que eu tento acabar, já desisto antes do fim/ Sempre que eu tento entender, nada explica muito bem”, na faixa 07, “Para Manter ou Mudar (A Do Piano)” e “Já não sabia se era o inicio ou fim/ Vivia imersa numa infância de festim/ Era a criança menos infantil/ Infelizmente, namoradinha do Bra...”, na faixa 10, “Cheia de Manha”). Posso não ter me tornado fã, como muitos fazem acompanhando a “modinha pimba” e confesso ter me decepcionado um pouco com o deslumbramento pueril da banda, mas... Ainda estou em estado de averiguação avaliativa. Quem sabe em breve, eu não consiga emitir um parecer subjetivo acima (ou abaixo) da mediania?

Wesley PC>

domingo, 2 de maio de 2010

FAZ-SE CONCURSO PARA SER IGNORANTE?

Minha primeira experiência como fiscal de certames deu-se em 2002, num concurso vestibular. Lembro que, à época, fiquei muito tenso em ser convocado para ser fiscal volante (aqueles que têm a responsabilidade de conduzir as pessoas até o banheiro), com medo de não controlar as minhas taras urinárias bastante eminentes. A fim de evitar esta tensão, chegava cedíssimo às reuniões de equipe e suplicava para ficar no interior das salas de aula em que se faziam as provas. Não tive a mesma sorte na manhã de hoje...

Depois dos inúmeros problemas que cercearam a aplicação das provas para provimento de cargos administrativos na UFS em 2010 (largamente divulgados na mídia e que causaram até mesmo a exoneração de funcionários), foi cancelada a primeira etapa do processo e, hoje, 02 de maio, uma nova chance foi dada a quem se sentiu prejudicado pro regras de hermenêutica fotográfica no primeiro edital. Fui convocado como fiscal-reserva após uma concorrida seleção e, mesmo tendo chegado cedo, fui eleito para ser volante. Não mais me preocupava com a possível evocação de taras (visto que, para além da beleza hipotética dos candidatos, meus pensamentos agora estão diuturnamente centrados numa pessoa bem específica), mas, ao invés disso, fui apresentado a um inconveniente bem maior: minha função consistia em ficar sentado numa cadeira, ao lado de quatro outras pessoas, aguardando a oportunidade em que alguém porventura necessitasse de meus auxílios para-logísticos. Enquanto este tipo de oportunidade não chegava, ouvia as conversas das pessoas que trabalhavam ao meu lado, todos funcionários longevos da UFS, e... Que tristeza! Naquelas 5 horas de fiscalização, entendi o porquê de tantos preconceitos contra funcionários públicos serem disseminados ao longo de anos e anos e anos...

No entretempo trabalhista que compartilhei com aquelas pessoas, elas ficaram apenas comparando gastos com imposto de renda e reclamando de absolutamente tudo o que acontecia ao seu redor. Reclamavam que eram providos com água “torneiral”, reclamavam que é difícil fazer sexo com o salário baixo que recebem, depreciavam o serviço médico particular do Estado, zombavam da atitude de um grupo de proto-ambientalistas universitários que depositaram uma cruz no local onde havia uma árvore derrubada por pedreiros... Pouparei de falar sobre a brutalidade contida em seus tons de vozes, mas tenho que dizer que nada se compara em mal-estar avaliativo ao momento em que um dos chefes de vigilância aproximou-se de nós e começou a elencar todos os seus vitupérios contra o projeto de legalização da maconha, contra a porra-louquice dos estudantes, contra tudo o que passasse por diante dele, em suma. Fiz o possível para fingir invisibilidade, ostensivamente de costas, temendo que qualquer uma daquelas pessoas me convocações para anuir com qualquer uma de suas opiniões deploráveis. Por sorte, eventualmente me chamavam para substituir alguém na vigilância da sala de aula enquanto outro contratado precisava beber água ou ir ao banheiro. Fortalecia-me ao lembrar de Oscarito dançando fantasiado de rumbeira cubana em “Aviso aos Navegantes” (1950, de Watson Macedo), divertidíssimo filme que vi antes de dormir e que, não obstante sua popularidade e acessibilidade carnavalesca, talvez não seja conhecido por nenhuma daquelas pessoas imotivadamente reclamantes. Pena... Por isso, os estereótipos continuam, agora bem mais consolidados do que antes!

Wesley PC>